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MPI apresenta a diversidade das línguas indígenas do Brasil em oficinas a estudantes internacionais da OIL
- Foto: André Corrêa
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) promoveu, neste domingo (28), uma série de oficinas de linguagem como parte da programação da XXI Olimpíada Internacional de Linguística (IOL). O evento ocorreu no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, e reuniu estudantes de trinta e nove países que integram a competição e foi organizado pelo Departamento de Línguas e Memórias Indígenas (DELING), da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART).
Os competidores foram selecionados a partir dos resultados das Olimpíadas Nacionais de Linguística de seus respectivos países, cuja avaliação varia de lugar para lugar. Cada time é composto por quatro membros e um professor líder. As etapas da competição internacional são duas e demandam o uso de lógica para desafios linguísticos. A primeira fase é individual e envolve a resolução de cinco problemas linguísticos de idiomas distintos dos participantes. A segunda é em grupo e gira em torno de uma questão. Os vencedores são premiados com medalhas.
Além da disputa, a iniciativa se dedica a promover eventos paralelos, como o realizado pelo MPI, para trazer aos estudantes vivências e experiências com o intuito de aproximá-los da cultura dos países sede da competição. Na oficina realizada no Memorial, o diretor do DELING, Eliel Benites, apresentou uma canção que fala sobre a origem do idioma Guarani e incentivou os estudantes a entoá-la como parte da atividade.
De acordo com o diretor, dentro da cosmologia dos Guarani Kaiowá, que habitam o Estado do Mato Grosso do Sul, o idioma veio de pássaros sagrados para a cultura indígena, como o papagaio e a garça branca, por exemplo, e simboliza a própria linguagem de um ponto de vista espiritual.
"É uma oportunidade de aproximar as pessoas da realidade dos indígenas do Brasil para além dos idiomas europeus que aqui se instalaram e também mostrar que a língua é carregada de importância cultural e territorial. Há um sentido através da língua que traz a perspectiva da existência de um povo", explicou Benites. Ele classificou a oficina como uma forma de sensibilizar os jovens para que valorizem o próprio idioma. "Mergulhar no idioma dos outros é valorizar a própria cultura", acrescentou.
Fotos: André Corrêa
Língua é Espírito
Altaci Kokama, coordenadora-geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas do MPI, relatou que a organização do evento procurou o MPI como parceiro para a ação em maio deste ano. Ela ressaltou que a pasta, ao fazer parte das Olimpíadas, mostra como o Brasil é diverso com as línguas indígenas que povoam o país, o que contribui para que os estudantes tenham uma compreensão maior da realidade que os cerca.
Altaci apresentou uma palestra sobre a concepção de língua sob a perspectiva dos povos indígenas do Brasil, algo que ela denominou como "língua espírito" e que destoa do modo como o Ocidente categoriza e analisa os 274 idiomas indígenas do Brasil. Em seguida, realizou uma oficina sobre como retomar e revitalizar uma língua indígena com materiais e jogos.
"A língua espírito é a falada pelos povos indígenas do Brasil. Ela é repassada pelos ancestrais aos indígenas e está no barulho do vento, no estalar dos galhos das árvores, no som das cachoeiras, dos rios, no canto dos pássaros. Esses sons são vistos dentro das línguas porque ela é, em si, um espírito e por isso não morre. Está sempre à disposição para que, quando ela adormecer, o povo possa acordá-la por meio de rituais, como está acontecendo no Nordeste do Brasil", disse a coordenadora.
Já Karina Kambeba, integrante do Grupo de Trabalho Nacional de Línguas Indígenas da Unesco, trouxe uma oficina sobre grafismos indígenas como manifestação linguística. Ela estimulou os estudantes estrangeiros a criar símbolos, com significados próprios, no corpo de colegas porque a cultura dos Kambeba, que habitam o oeste do Amazonas, na região do Alto Rio Solimões, usa grafismos para se referir desde fenômenos da natureza ao status social de uma pessoa.
"Todo grafismo traz significado e eram usados como indicativo de cheias de rios e vazantes, assim como onde havia alimento ou para demonstrar quem era casado e quais cerimônias seriam feitas sem precisar falar", descreveu. "Todo grafismo nasce de um querer, de um motivo. Propus a eles que criassem grafismo iluminados pelas suas ancestralidades."
Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) visa promover os direitos dos povos indígenas. A ação também está alinhada ao cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 16, que busca ampliar o acesso público à informação, proteger liberdades fundamentais e garantir a igualdade de acesso à justiça para todos.
Fotos: André Corrêa
Edição de 2024
Segundo Bruno L'Astorina, coordenador nacional da edição 2024 da Olimpíada Internacional de Linguística, os participantes, de forma geral, já têm contato com idiomas indígenas do mundo todo para resolver problemas na competição, uma vez que alguns dos desafios envolvem construir frases e textos em línguas indígenas.
"Mas uma coisa é resolver um problema e outra é ter contato direto com as lideranças indígenas. Essa sensibilização vem no sentido de entender que cada língua é uma porta para uma maneira diferente de se relacionar com o mundo", definiu.
"Conhecer a cultura indígena do Brasil é maravilhoso. É uma oportunidade de reconhecer nossas diferenças geográficas e culturais. Além disso, vemos de onde vem as raízes espirituais e a alegria brasileira que nos cerca desde que chegamos aqui", disse Sofia Soto, estudante da equipe colombiana.
A Olimpíada será realizada ao longo de uma semana na Universidade de Brasília (UnB), de 23 e 31 de julho, com a participação de 53 delegações, que agrupam aproximadamente 200 estudantes. A ação conta com coordenação conjunta do Instituto Vertere, UnB, e Associação Brasileira de Linguística e tem patrocínio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e apoio do MPI, assim como das Secretarias de Relações Internacionais, de Educação e de Cultura do Governo do Distrito Federal.