Notícias
Nos EUA, ministra Sonia Guajajara apresenta preparativos e mobilizações para a COP30
- Foto: Mré Gavião | Ascom MPI
A ministra Sonia Guajajara afirmou que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) está organizando um chamamento público de qualificação para indígenas participarem da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém, capital do Pará. A declaração foi feita no domingo (7), em Cambridge, EUA, durante a mesa denominada “Papel dos Vários Brasis para a Preservação do Meio Ambiente”. A ministra participou da 10ª edição da Brazil Conference, organizada pela comunidade brasileira da Universidade de Harvard em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Ao participar da COP28, realizada em Dubai no ano passado, Sonia Guajajara foi a primeira indígena brasileira a chefiar uma delegação brasileira. Ela foi responsável por proporcionar a maior delegação indígena já registrada em quase três décadas do evento. Em Harvard, o discurso da ministra tratou de apresentar um resumo da criação do MPI, assim como o protagonismo dos povos originários na defesa do clima.
Para a edição no Pará, a ministra intenciona que seja a maior e a melhor representação indígena da história das COPs. “Vamos chamar lideranças jovens indígenas para uma formação de diplomacia indígena que irá atuar não só nos side events [eventos paralelos], mas também com incidência direta com negociadores nos diversos temas debatidos”, disse a ministra ao acrescentar que o MPI deu início a mobilizações nacionais e internacionais, que incluem a criação de um grupo composto por articulações indígenas já existentes.
“Vamos ter um Comitê para discutir temas globais composto por representações do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas; do Caucus Indígena de Mudanças Climáticas da própria COP; da plataforma indígena criada no âmbito do Acordo de Paris; e da Alianças Global de Comunidades Territoriais [GACTC, que representa 35 milhões de indígenas em 24 países]”, elencou Guajajara, ao frisar que a COP30 exige uma aliança nacional e mundial com diferentes atores para que de fato haja um legado.
“Para nós, indígenas, está claro. Somos os maiores guardiões [da floresta e da biodiversidade], mas somos os primeiros mais impactados [pela crise climática]. O Brasil tem a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030, mas há medidas a serem adotadas para isso: avançar com a demarcação das terras indígenas, com a proteção desses territórios e fazer a desintrusão de invasores da mineração e madeireiros”, definiu a ministra.
Missão Justiça Climática
A visita à Universidade de Harvard faz parte da etapa inicial da segunda missão internacional da ministra em 2024, cuja missão é difundir a mensagem da necessidade da presença dos povos indígenas no centro do processo de enfrentamento das mudanças climáticas e da preservação da biodiversidade.
Durante a agenda no exterior, que segue até dia 16, Guajajara transmitirá que as ações de mitigação e adaptação à mudança do clima devem reduzir desigualdades sociais estruturais e históricas no lugar de acentuar a vulnerabilidade de populações específicas no caminho. A próxima etapa da viagem será na Universidade de Oxford, na Inglaterra, no Skoll Forum World. Na quarta-feira (10), a ministra volta a falar sobre a mobilização para a COP30 e faz um pronunciamento na Plenária de Abertura do evento.
“As estruturas legais ainda não estão acostumadas com nossos cocares nos espaços de poder e nossa voz opinando. Precisamos também quebrar esse pensamento colonial para que aceitem povos indígenas nos espaços como gestores capazes de contribuir”, frisou a ministra.
Floresta viva vale mais que a morta
De acordo com Rodrigo Medeiros, mediador da mesa e CEO da Re:Wild, ONG filantrópica do ator Leonado DiCaprio com enfoque na pauta ambiental, 30% da solução para o enfrentamento da crise climática está em manter a floresta em pé. Medeiros ainda destacou que o bioma amazônico abriga metade das florestas tropicais que restam no planeta, um quarto da biodiversidade global, e 120 bilhões de toneladas de carbono, o maior reservatório do mundo.
“O bioma será ainda mais importante nos próximos 18 meses porque será palco das próximas negociações climáticas na COP30. O desafio será chegar a um novo acordo global para limitar o aquecimento, já que houve uma falha na última década no cumprimento do Acordo de Paris [cuja meta era impedir que a temperatura global subisse 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais]”, pontuou o mediador.
Conforme Helder Barbalho, governador do Pará e líder do Consórcio Interestadual de Governadores da Amazônia, presente no evento, existe grande relevância em trazer o maior evento de mudanças climáticas para a floresta, uma vez que o objetivo é conciliar o modelo econômico com o ambiental e o social.
“Queremos ser solução, mas precisamos que ela seja baseada na natureza e seja financiada pelo norte global para que possamos preservar a floresta e seus povos. Não haverá momento mais estratégico na nossa geração para fazer com que a floresta seja a solução. A COP da Floresta é a arena para assegurar que o legado seja um mercado de carbono efetivo a impulsionar uma nova economia para pagar por serviços ambientais”, defendeu Barbalho.