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Povo Jenipapo-Kanindé comemora a instalação de marcos oficiais que delimitam seu território no Ceará
Comitiva do MPI, liderada pela Ministra Sonia Guajajara, assina acordo de cooperação para demarcação de terras indígenas do Ceará em 01/11/2023 - Foto: Leo Otero - Ascom | MPI
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) iniciaram ontem (08/02), numa cerimônia festiva, a instalação dos marcos de concreto em pontos estratégicos da Terra Indígena Lagoa da Encantada que estabelecem os limites do território do povo Jenipapo-Kanindé, a cerca de 250 quilômetros de Fortaleza.
Esta etapa importante do processo de demarcação é resultante do acordo de cooperação técnica celebrado, em novembro de 2023, entre a Funai e o Governo do Ceará, por meio do Idace e com o apoio da Secretaria dos Povos Indígenas (Sepince), durante evento que reuniu a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, além da secretária de Gestão Ambiental e Territorial Indígena do MPI, a cearense Ceiça Pitaguary.
Na ocasião, a ministra Sonia Guajajara saudou a inciativa do governo do Ceará de apoiar o processo demarcatório de terras indígenas do estado, e disse que o acordo serviria de exemplo a ser colocado no diálogo do MPI com os outros governadores.
Após quase 40 anos de mobilizações reivindicando suas terras, os moradores e lideranças da TI Lagoa Encantada se reuniram com autoridades, servidores públicos e visitantes numa cerimônia na Escola Indígena do território iniciada com cantos e dança circular do toré. As mulheres da aldeia puxaram então uma marcha rápida até uma trilha que leva à Lagoa Encantada, local onde todos os anos é colocado um tronco de imburana como símbolo de autodemarcação de suas terras. Desta vez, as cacicas do povo Jenipapo-Kanindé carregaram os marcos de cimento, que indicam agora a proteção oficial contra invasores e aponta para o usufruto indígena exclusivo da terra ancestral.
“Esse é um momento histórico, não só para nós, mas também para os povos indígenas do Ceará. Receber os marcos da identificação física garante que políticas públicas sejam executadas dentro dos territórios, e também é uma afirmação de que a luta dos povos indígenas é positiva”, disse a secretária dos Povos Indígenas do Ceará, Juliana Alves, que também é a Cacica Irê e divide o cacicado do povo Jenipapo Kanindé com sua irmã, Cacica Jurema, e com sua mãe, Cacica Pequena. Tendo assumido a liderança de seu povo em 1995, Maria de Lourdes da Conceição Alves, a Cacica Pequena, é considerada a primeira mulher na função de cacique no Brasil.
O superintendente do Idace, João Alfredo, disse na cerimônia que tem muito a agradecer aos povos indígenas. “Porque os povos indígenas é quem ainda têm salvado o nosso país e mundo. O que nós estamos fazendo aqui é resgatar uma dívida de mais de quinhentos anos. São quarenta anos que vocês estão nessa luta ferrenha, e agora a gente pensa assim: 1.700 hectares é muita terra. É não, porque isso tudo era terra indígena”, disse.
De acordo com a cooperação técnica estabelecida em novembro passado, há ainda outras três terras indígenas no Ceará que irão avançar no processo de demarcação ao longo de 2024: as TIs Tremembé de Queimadas, Tapeba, e Pitaguary. Todas já passaram pela fase demarcatória de Identificação, tiveram seus relatórios aprovados pela Funai, e obtiveram suas portarias declaratórias emitidas pelo Ministério da Justiça.