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"Nós temos parte da solução para essa crise climática e isso ainda é ignorado por muitos setores", diz a ministra Sonia Guajajara durante evento do ClimateWeek
- Foto: Leo Otero | Ascom MPI
Com o tema “Direitos, participação e benefícios para os povos indígenas e comunidades locais no financiamento climático-florestal”, o evento da ClimateWeek desta terça-feira, 19 de setembro, em Nova York reuniu ministras de quatro diferentes países com interlocutores de fundações internacionais que militam pela mitigação das mudanças climáticas.
Participaram do encontro, além da ministra Sonia Guajajara, a ministra do Meio ambiente do Peru, Albina Ruiz; o ministro do Clima e do Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide; a Ministra de Estado e do Meio Ambiente da República Democrática do Congo, Eve Bazaiba; Darren Walker, presidente da Fundação Ford, e Lindsey Allen, diretora executiva da Climate, Land and Use Alliance, um conglomerado de fundações que oferecem recursos e financiamentos para apoiar ações de restauração de florestas e uso sustentável do solo, na busca de mitigar as mudanças climáticas.
Mediando a sessão, Walker, da Fundação Ford, apresentou a ministra como um exemplo de liderança que traz esperança, e lhe perguntou como o novo Fundo Amazônia vai ajudar avançar a agenda dos direitos dos povos indígenas sobre os seus territórios.
A ministra disse que, realmente, o fundo precisa existir e ser implementado e que os povos indígenas devem ser protagonistas nessa implementação. “Neste momento em que o mundo inteiro olha para alternativas para conter a crise climática, primeiro precisamos pensar nessa participação direta, no financiamento direto das organizações desses povos”, disse Guajajara. Para a ministra, são os povos indígenas e as comunidades tradicionais que protegem a floresta com seu próprio modo de vida. “Por muito tempo, outras pessoas falaram por nós, decidiram por nós. Mas hoje, nós estamos aqui nos propondo não só a sermos tratados como pessoas que protegem e que precisam ser protegidas, mas também é preciso escutar as soluções que a gente apresenta. Nós temos parte da solução para essa crise climática e isso ainda é ignorado por muitos setores, inclusive governamentais. Por muitos setores, inclusive industriais”, disse.
Acesse aqui o discurso da ministra Sonia Guajajara na íntegra
Segundo a ministra, este é um momento de somar forças da sociedade, dos povos de comunidades tradicionais, do setor produtivo e dos governos. “O setor produtivo precisa entender que é necessária uma mudança também no sistema de produção alimentar. E os governos precisam, para além de apresentar os discursos, ter medidas concretas”, disse, lembrando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado publicamente o financiamento para ações de combate às mudanças climáticas. “O presidente Lula tem falado muito: há quanto tempo se anuncia os bilhões, os bilhões de dólares para proteger a floresta? E onde está esse dinheiro que nunca chega?”.
Além de proteger a Amazônia, a ministra dos Povos Indígenas destacou que outros biomas brasileiros estão em risco. “Nós falamos do bioma Cerrado, nós falamos do bioma Mata Atlântica, nós falamos do bioma Pantanal, dos Pampas e da Caatinga. São seis biomas brasileiros que, se não protegidos, a Amazônia sozinha não vai conseguir o equilíbrio que a gente precisa para proteger todo o ecossistema”.
A ministra defendeu que, paralelamente à discussão do financiamento para proteger a floresta, é preciso combater a violência contra os povos indígenas e o feminicídio nos territórios. Guajajara se manifestou em relação ao assinato ocorrido ontem (18/09) de um casal de indígenas no Mato Grosso do Sul. “O casal, uma senhora rezadeira junto com seu esposo, foram queimados vivos dentro da sua casa. Então, isso ainda nos estarrece. Diante desses fatos a gente está lutando para conter a violência, lutando para conter o racismo ambiental, a intolerância religiosa”, disse.
A ministra saudou a presença na plateia de representantes da Apib e de outras organizações indígenas e fundações voltadas para o meio ambiente, como a AMAN (Aliança dos Povos Indígenas do Arquipélago), COICA (Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia do Rio Amazonas), e Aliança Global.