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Ministra Sonia Guajajara defende demarcação de terras indígenas e denuncia racismo ambiental durante a Climate Week
- Foto: Leo Otero | Ascom MPI
Na tarde desta segunda-feira, 18 de setembro, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, falou no evento Transformação Ecológica e Econômica no Brasil e a Amazônia durante a Climate Week, em Nova York. Participaram também do encontro o enviado especial do clima do governo dos Estados Unidos, John Kerry; o ministro da Economia do Brasil, Fernando Haddad; o governador do Pará, Helder Barbalho; e Jennifer Morris, CEO da The Nature Conservancy (TNC), organização não-governamental que trabalha em escala global para a conservação do meio ambiente e que promoveu o evento.
Sonia Guajajara, falando da necessidade global de transformação para um novo modelo de civilização, afirmou que qualquer nova transição ecológica, ambiental e econômica deve considerar os aspectos sociais e os direitos humanos. “A Amazônia não é só carbono estocado. Não faremos transição ecológica se pensarmos só por este lado”. Abordando o racismo ambiental, a ministra destacou que “sempre estivemos do lado daqueles setores, principalmente no sul global, que pagaram com suas vidas e cultura o preço para que o Norte, e nas elites do sul, vivesse bem.”
Segundo a ministra, os indígenas sempre denunciaram que não era possível o desenvolvimento ao custo da natureza e, especialmente, ao custo dos direitos humanos, e que a prova de que esses aspectos e a transição ecológica estão ligados é o fato de que 80% dos biomas protegidos no planeta estão em território indígena. “E é, a partir desta relação de convivência e proteção, que os povos indígenas não só avançam nos conhecimentos tradicionais, mas também em novas formas de produção e geração de renda”, disse a ministra, lembrando que a cadeia da sociobioeconomia indígena tem se desenvolvido, e que é possível produzir em larga escala respeitando o meio ambiente. “A conciliação das novas tecnologias com os conhecimentos tradicionais já superou a concepção de que produção em larga escala precisa ser aquela monocultura que suga os nutrientes do solo”.
Sonia Guajajara saudou os avanços do governo brasileiro com a demarcação de novas Terras Indígenas, a retomada do ciclo de reconhecimento dos territórios, e o desenvolvimento do Plano de Gestão Territorial Indígena com a participação de vários povos. No entanto, denunciou a violência de setores da sociedade brasileira que insistem em retroceder nos direitos humanos. “E são setores politicamente fortes e que estão com inúmeros projetos de leis que retiram a possibilidade de avançar na demarcação dos territórios indígenas e em outras conquistas, como a proposta de revogação da Convenção 169”. “Hoje, infelizmente, tivemos a notícia estarrecedoras de dois indígenas queimados vivos na região do povos Guarani Kaiowá. Região onde o agronegócio faz de tudo, inclusive assassinatos, para impedir a demarcação”.
A ministra se alinhou com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmando que o consenso e o avanço sobre as políticas ambientais no mundo não podem se dar de maneira unilateral ou por meio de sanções, e que é necessário o compromisso dos países centrais com o financiamento internacional e com a reforma das instituições.