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Discurso da ministra Sonia Guajajara no Global Citizen Now, em Nova Iorque
Olá, bom dia! Agradeço o convite e a oportunidade de estar aqui.
Gostaria de dizer que estamos num momento em que o mundo inteiro está buscando alternativas e soluções para conter a crise climática. Então é um momento de somar esforços que envolvem povos indígenas, sociedade, comunidades tradicionais. Que envolve governos e também empresas. O Ministério dos Povos Indígenas foi uma iniciativa dos povos indígenas, e com a decisão do presidente Lula, ao qual a gente agradece sempre, para trazer os povos indígenas para o centro das decisões políticas. Trazer os povos indígenas para o protagonismo das discussões. Então, é muito importante que qualquer iniciativa que se for implementar no Brasil, que o ministério seja contatado para tomar as decisões.
Nós temos no Brasil uma média de 30 iniciativas de contratos, por exemplo, com empresas de carbono. E muitos desses contratos estão sendo agora sendo analisados pelo ministério, pela Funai, para que esses contratos sejam cancelados. Porque são contratos abusivos, inclusive escritos em inglês, para as comunidades indígenas. Imagina, eu estou aqui falando em português e para vocês, já é difícil compreender. Imagina 274 línguas indígenas faladas no Brasil? Então o ministério se coloca de portas abertas para dialogar, para construir conjuntamente as iniciativas que serão implementadas dentro dos territórios indígenas. Respeitando os direitos dos povos indígenas, respeitando os diferentes modos de vida e garantindo a sustentabilidade dos povos e dos territórios.
Finalmente, nós realmente não temos mais muito tempo. Nem aqui, nem para chegar ao tempo de não-retorno das mudanças climáticas. Por muito tempo, a Mãe Terra denunciou por meio de sinais. Hoje, a Mãe Terra não só denuncia, mas também reage com fenômenos climáticos extremos. Então, para além de pensar e falar de preços, de quanto vale uma tonelada de carbono, é importante pensar no valor da floresta em pé e da proteção da cultura desses povos que preservam a floresta inteira. Nós, povos indígenas, somos 5% da população mundial, mas 82% da biodiversidade protegida estão dentro dos nossos territórios. Ainda assim, a pauta de demarcação de terras indígenas, ainda é defendida somente por nós, indígenas.
Então, é muito importante que a agenda do mercado de carbono esteja totalmente conectada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para erradicar a pobreza, para garantir uma saúde de qualidade, para ter uma educação diferenciada e de qualidade. Temos que começar a discutir realmente o que interessa à vida e não somente aos preços. E aqui fica esse chamado para essa nova consciência que o mundo precisa. Uma consciência política e ecológica, que chamamos de "reflorestar mentes".