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Discurso da Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante ClimateWeek em Nova Iorque
Olá, minha gente! Bom dia. Bom dia a todas, a todos e todes.
Saudar aqui minhas companheiras que compõem este painel. Me alegro muito por tantas pessoas virem aqui neste debate hoje. Estamos aqui na Semana do Clima, semana em que acontece também a Assembleia Geral da ONU. E como inicialmente podemos ver aqui, poucas pessoas têm acesso ao espaço oficial da ONU. Então acho que a começar por isso, precisamos mudar essa participação das pessoas que estão protegendo diretamente os territórios, que estão concretamente na linha de frente contra as mudanças climáticas. Então, acho que esse é o primeiro ponto que precisa ser compreendido nas estruturas legais. Abrir esse espaço para a incidência direta dos povos indígenas.
Bom, mas eu quero agradecer muito essa presença, essa participação de todos também, todos nossos apoiadores aqui, que ajudaram a articular esse painel, não pra gente iniciar um novo movimento de articulação das mulheres, porque já são muitos os movimentos, são muitas mulheres em movimento, em várias frentes. Aqui, o que nós queremos é apenas dar um direcionamento para fazer esse caminho até a COP. Então aqui juntamos mulheres de várias partes, convidando outras mulheres, para que possam somar-se a esse grupo de mulheres para liderar esse processo até a COP 30. Entendendo como um indício de uma incidência direta para a participação das mulheres. Bom, esse grupo está fazendo esse convite para que outras mulheres possam somar-se a nós e outras mulheres apoiadoras, financiadoras e parceiras possam apoiar essa participação das mulheres nesses processos de participação de tomada de decisão durante a COP. Então, nós precisamos ajudar a garantir a representação e a participação de mulheres indígenas ainda na COP 28. Sabemos que o prazo já está apertado, mas muitas mulheres aqui ainda estão reivindicando credencial, ainda estão reivindicando o financiamento para chegar até a COP 28, e nós vamos juntos coordenar os esforços de advocacy entre mulheres em posições de liderança para garantir que suas opiniões e preocupações sejam refletidas nas decisões da COP 28. Incluindo direitos à Terra, o consentimento livre, prévio e informado, e metas de conservação.
E nós já não temos mais tanto tempo. Estudiosos dizem que a gente já chegou no ponto de não retorno. Outros apontam ainda 2030 como esse ponto máximo de que podemos chegar nesse ponto irreversível. Então não temos muito tempo. Não temos muito tempo para falar aqui, além de dez minutos, mas também não temos mais muito tempo para agir. Então, nós precisamos agora focar e centralizar todos os esforços para essa mudança de atitudes, mudanças de posturas também governamentais. Por exemplo, parar a exploração de petróleo e de minério não é mais uma opção. Agora é uma obrigação. E isso precisa ser compreendido por todos os governantes. Bom, nós vamos começar a construir essa rede de apoio à participação das mulheres indígenas também na COP 30, com organizações filantrópicas, financiadoras e governos, e anunciar a primeira rodada de investimentos em ações climáticas lideradas por mulheres indígenas. Então, nós temos um caminho aí até a COP 30, onde ainda hoje pela manhã, na reunião com a presidência da COP, nós apresentamos ali a necessidade de se ter um grupo de governança, um grupo executivo, para a gente liderar esse processo, um mecanismo de apoio para essa participação. Porque às vezes a gente fala "vamos, vamos". Mas quando chega na hora, cada uma tem que buscar seus apoios próprios e buscar seus meios próprios para chegar até a COP.
Então, nós propusemos o Fórum Permanente da ONU como este mecanismo para centralizar essa discussão, e assim a gente contemplar todas as distintas regiões continentais para garantir a participação das mulheres na COP 28, termos outras atividades ao próximo ano e até chegar a Belém. E ali a gente já tem um grupo maior de mulheres e podemos já pensar o caminho seguinte. E aí para agora nós vamos organizar pelo menos duas reuniões virtuais desta coalizão antes da COP 28 e uma reunião presencial da liderança feminina em Dubai. Então, até a COP 28 vamos organizar essa reunião virtual, vamos chamar a todas e em Dubai vamos chamar essa reunião presencial de lideranças femininas. Vamos também, a partir dessa reunião das lideranças femininas, organizar um outro encontro com a presidência da COP, lá na COP 28. Bom, então a partir daí, a médio prazo, nós vamos continuar com reuniões virtuais trimestrais para expandir essa rede. Vamos continuar com a advocacy de lideranças femininas em fóruns especializados para a proteção do clima e da biodiversidade, além de organizar a reunião com os membros dessa coalizão e a presidência da COP 30 durante este ano ainda, de 2024. Estamos já pleiteando essa reunião para a COP 30 e para organizar a presença direta de indígenas dentro dos espaços oficiais. Um espaço muito maior na COP, que geralmente tem um espaço para povos indígenas, mas não comporta todos os povos que ali chegam. Então estamos a partir de agora já começando a discutir um espaço maior dentro da COP para comportar nossos eventos, as atividades indígenas, com nossos parceiros ali num espaço mais adequado.
Bom, então nós aqui hoje fazemos esse chamado com essas mulheres que aqui estão de diversas partes, as mulheres que estão aqui presentes, para somar-se a nós, esse grupo de mulheres que agora querem fazer essa incidência direta. E hoje, como Ministra de Estado dos Povos Indígenas do Brasil, nós estamos nos colocando à disposição junto com alguns parceiros como a Avaaz, a Amazon Watch, as nossas organizações indígenas do Brasil, para a gente liderar esse processo de participação de mulheres de todo o mundo. No próximo ano, no dia 5 de setembro, nós queremos realizar uma grande reunião com mulheres indígenas globais. Cinco de setembro é o Dia Internacional da Mulher Indígena. É um ano que não vai ter a Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil, porque a nossa marcha acontece de dois em dois anos. Então, neste ano será o momento, e isso já está conversado com outras mulheres que estiveram presente também agora na Marcha das Mulheres no Brasil, foram mais de 20 mulheres de outros países. Ali, nós definimos que vamos fazer esse encontro em setembro para a gente já começar essa rodada. Em fevereiro vai haver um levante global, onde nós vamos chamar todas as mulheres para se levantarem contra a mudança do clima. E esse chamado será onde cada uma se levanta, de onde está. As mulheres das águas, das florestas, das montanhas, dos oceanos… Organizem o seu movimento para que as mulheres possam estar realmente na linha de frente, com ações concretas, declarando mais uma vez essa emergência climática e dizendo que nós não teremos mais tempo. E é na COP 30, em Belém, que a gente consolida esse movimento aí para dar continuidade já com essa participação muito mais ampla de todas as mulheres.
Então, nesse momento, será o chamado das mulheres indígenas do mundo para todas as mulheres, também não-indígenas, somar-se e atender esse chamado. Então gente, não começamos aqui agora, mas como não temos mais tanto tempo, é importante agora intensificar essa liderança, essa participação das mulheres de forma direta nos espaços oficiais, também de enfrentamento às mudanças climáticas. E termino aqui, somando com as mulheres do Brasil, com esse grito que desde ontem está aí para a gente soltar, que foi a nossa força que destruiu o Marco Temporal. A luta dos povos indígenas do Brasil, as nossas mobilizações… Tudo que a gente faz de forma coletiva, a gente vê o resultado. E a esse resultado nós somamos também aqui a força de todos nossos aliados, aliadas e parceiros, que também colocaram ali a sua energia para derrotar o Marco Temporal. Mas certamente, se fosse somente nós, seres humanos indígenas e não-indígenas, talvez não tivéssemos essa vitória. Foi sim, a força dos Encantados. Foi sim, a força da Mãe Terra que esteve junto com nós, nos mantendo de pé, acreditando que é possível sim, quando a gente faz a luta justa, necessária, vale a pena. Então, nesse momento, essa vitória é de todas as pessoas que acreditaram que seria possível proteger os povos, os territórios indígenas no Brasil. Muito obrigada!