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Três perguntas para João Villaverde sobre a agenda da integração regional sul-americana
1-A integração sul-americana sempre esteve no radar de diferentes governos. Por que ela ganhou impulso em 2023?
Entendo que há quatro razões claras para explicar essa impulsão que a agenda da integração sul-americana experimentou a partir de 2023. A primeira delas é o governo de frente ampla, liderado pelo presidente Lula: ao rompermos com o isolamento auto imputado que o governo anterior cometeu, voltamos a olhar para nossos vizinhos com os olhos de parceria porque entendemos que desenvolvimento regional precisa beneficiar todas as nações e suas populações. A segunda razão é a liderança fundamental proporcionada pela ministra Simone Tebet, ela mesmo uma mulher que cresceu em Estado que faz fronteira com dois vizinhos nossos, o Paraguai e a Bolívia. Com sua visão estratégica, a ministra desde o início nos guiou para que esta agenda tivesse centralidade – tanto no MPO, quanto no governo. Em novembro e em dezembro, ambos, presidente Lula e ministra Simone Tebet, estiveram juntos em duas oportunidades públicas para apresentar a agenda e defender maior integração do Brasil com nossos vizinhos. A terceira razão para essa impulsão é o trabalho em parceria: todas as secretarias do MPO, além do Ipea e do IBGE, se envolveram nesta agenda liderada pela SEAI, o que permitiu que nossa agenda fosse desenvolvida de forma coesa e expressa. Por fim, o deslocamento da produção para o Centro-Oeste e mesmo o Norte reforçou a demanda do setor produtivo por rotas que reduzam os custos de exportação e tornem nossos produtos ainda mais competitivos no exterior.
2-Como e porque foram definidas essas cinco rotas?
Nosso trabalho foi especialmente focado na inteligência que já havia a disposição, no Brasil e na América do Sul, sobre o tema da integração. Havia, no antigo desenho da IIRSA (Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), do começo do século XXI, um conjunto de dez eixos de integração do continente. Excluímos, de partida, os três eixos que não passam pelo Brasil – afinal, nosso trabalho é focado em nosso país. Em seguida, percebemos relativa duplicidade entre dois eixos. Por fim, modernizamos, tematicamente, a agenda que vinha dos anos 2000: ela agora não está focada apenas em obras rodoviárias, mas também em infovias, ferrovias, portos e aeroportos, fibras óticas, linhas de transmissão de energia elétrica e obras culturais. Daí desenhamos as cinco rotas de integração entre o Brasil e nossos vizinhos. A rota 1, Ilha das Guianas, une Amapá, Pará e Roraima com Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; a rota 2, parte de Manaus (Amazonas) por hidrovia pela Colômbia até desembocar, por via rodoviária, no porto de Manta, no Equador; a rota 3, Quadrante Rondon, integra Acre, Rondônia e Mato Grosso, nossa potência agrícola, com os portos do Peru e do norte do Chile, passando também pela Bolívia; a rota 4, Capricórnio, parte de Campo Grande (Mato Grosso do Sul), cruza o Paraguai, passa pelo norte da Argentina e desemboca nos portos chilenos – rota essa que, a partir da Argentina, se encontram os caminhos que partem de Foz do Iguaçu (Paraná) e Dionísio Cerqueira (Santa Catarina); a rota 5, Porto Alegre-Coquimbo, é aquela mais tradicional, que contempla os pampas do Rio Grande do Sul com argentinos e uruguaios.
3- Quais os próximos passos dessa agenda?
Importante ressaltar que as entregas já começaram. Às 5 rotas de integração, que desenhamos aqui no MPO, agregamos o “PAC da Integração”: um trabalho de curadoria nossa, da SEAI, junto às 9 mil obras do Novo PAC. Verificamos que há 124 obras ali com caráter direto de integração sul-americana. Foram obras que os 11 Estados brasileiros de fronteira nos apresentaram, quando fizemos nosso exercício de escuta ativa da federação brasileira, em outro movimento de união e reconstrução do país, aliás, que temos conduzido. Ainda em dezembro, participamos das assinaturas das ordens de serviço da alça de acesso à ponte binacional Brasil-Paraguai, entre Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul) e Carmelo Peralta (Paraguai); das obras de dragagem da Lagoa Mirim (Rio Grande do Sul) e do Aeroporto Binacional Brasil-Uruguai em Rivera (Uruguai). São obras de grande impacto e consequência, econômica e social, para nosso país. Agora, a ministra iniciará uma ambiciosa agenda de viagens junto aos Estados de fronteira e aos países de nossa região, para ampliar a escuta ativa e para aprimorar esse trabalho das rotas. Por fim, em dezembro, em parceria da SEAI com a Seaid, liderada pela amiga Renata Amaral, as 5 rotas de integração serviram de carta náutica para um consórcio entre o BNDES, a CAF, o BID e o Fonplata, que emprestarão até US$ 10 bilhões para financiar projetos e obras nas cinco rotas.