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8 DE JANEIRO
Lula: "Ainda estamos aqui. A democracia venceu"
O presidente Lula durante evento de exaltação da democracia no Planalto. Foto: Ricardo Stuckert / R
“Se hoje estamos aqui para renovar nossa fé no diálogo entre os opostos, na harmonia entre os Três Poderes e no cumprimento da Constituição, é porque a democracia venceu. Estamos aqui porque é preciso lembrar. Para que ninguém esqueça. Para que nunca mais aconteça". Com essas palavras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sublinhou a importância do alinhamento institucional do país para preservar o Estado Democrático de Direito. O discurso na manhã desta quarta-feira, 8 de janeiro, foi durante solenidade que marcou os dois anos das invasões às sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, em 8 de janeiro de 2023.
Democracia para poucos não é plena. Por isso, a democracia será sempre uma obra em construção. Seremos intransigentes na defesa da democracia e renovaremos sempre nossa fé inabalável no diálogo, na união, na paz e no amor ao próximo"
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
» Confira a íntegra do discurso lido pelo presidente Lula
O evento reuniu representantes da cúpula dos Três Poderes, governadores, ministros, parlamentares e representantes de movimentos sociais no Palácio do Planalto. Lula reforçou que a cultura e os valores da sociedade não serão sequestrados por aqueles que não compreendem a importância da pluralidade. "Democracia para poucos não é plena. Por isso, a democracia será sempre uma obra em construção. Seremos intransigentes na defesa da democracia e renovaremos sempre nossa fé inabalável no diálogo, na união, na paz e no amor ao próximo", pontuou.
O ministro em exercício do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, leu um texto enviado pelo presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, que reiterou valores da instituição. "Nós, ministros do STF, sabemos que existimos na democracia, vivemos pela democracia e da democracia jamais desistiremos", registrou. “Precisamos lembrar do que aconteceu para que não se repita, para que as novas gerações não esqueçam das dores de uma ditadura e dos males que o autoritarismo traz”, completou.
Veneziano Vital do Rêgo, presidente em exercício do Senado, também enfatizou o caráter estratégico de recordar o 8 de janeiro de 2023 para evitar recuos autoritários. "Essa realidade precisa ser contada, reavivada às mentes, principalmente daqueles que ainda ousam dizer que prefeririam os arbítrios a conviver com democracia. Precisamos demonstrar que viver com liberdade de imprensa e conviver com a contestação é muito melhor do que sob o manto de quaisquer ditaduras", destacou o senador.
COMBATE À INTOLERÂNCIA - Representando o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a deputada federal Maria do Rosário ressaltou que a democracia exige não apenas defesa de instituições, mas combate ativo à intolerância. "Nós, no âmbito dos nossos poderes, que vivem sempre contradições pela pluralidade que os caracteriza no ambiente democrático, não podemos ser tolerantes com intolerantes. Não podemos homenagear o fascismo, o ódio político. Precisamos aprender com a história", afirmou.
O evento também foi marcado pela entrega de 21 obras do patrimônio cultural brasleiro, entre pinturas, esculturas e um relógio do Século XVII, que haviam sido vandalizadas e foram restauradas. Em outro momento, o presidente Lula assinou decreto que cria o Prêmio Eunice Paiva de defesa da democracia.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, ex-ministro do STF, declarou que a democracia é a concretização dos direitos fundamentais do ser humano. "Esse conceito evoluiu, mas sempre manteve a essência: a participação ativa do povo na gestão da coisa pública. Cada ameaça contra o regime democrático deve ser um lembrete do valor inestimável do que ele representa e da importância da luta cotidiana de todos nós para a sua preservação", disse.
DEMOCRACIA – Após a solenidade, o presidente desceu a rampa do Palácio do Planalto com autoridades para se juntar ao público que estava na Praça dos Três Poderes para o Abraço da Democracia. Eles se posicionaram ao lado de uma estrutura composta por centenas de vasos de flores que formavam a palavra democracia.
CONSCIÊNCIA - Vinda de Goiânia, a professora e funcionária pública Marta Luíza viajou com o esposo, Junior Rabelo, para a celebração. Ela destacou a difícil recuperação do país após os episódios de invasão e vandalismo. “A recuperação física já é todo um trabalho, um esforço consciente em torno do que representam esses símbolos na Praça dos Três Poderes, mas a recuperação política e social é ainda mais difícil e lenta”, disse Marta.
CARÁTER HISTÓRICO — Os irmãos Enzo Gimenez, de 18 anos, e Murilo Gimenez, 21, de São Paulo, aproveitaram a visita à capital federal para participar com a família. Coincidentemente, o evento ocorreu no dia do aniversário de Enzo. “A gente veio para conhecer a cidade, era um desejo. Como meu aniversário caiu no dia, aproveitei e vim. Esse ato é importante para relembrar o que aconteceu”, destacou Enzo. Murilo complementou a fala do irmão: “É um marco, porque fica registrado na história. Vão passar uns dez anos e vão sempre lembrar que teve aquilo no dia 8 de janeiro”, relatou.
VALORES – Dandara Macedo, enfermeira de 34 anos e trabalhadora da Fiocruz Brasília, também entrou no time dos que reforçam a importância de proteger valores democráticos. “Eu não vivenciei a época da ditadura militar, mas estudei. E hoje é importante para a gente estar aqui, mais uma vez, para defender a nossa democracia, para que a gente continue tendo o direito à voz, à fala”, disse Dandara.
CONQUISTAS — Moradoras do Distrito Federal, a cineasta Maria Maia, a psicanalista Marucia Lima e a servidora aposentada Odulia Capelo ressaltaram a necessidade de proteger as conquistas democráticas do país. “O Brasil conquistou a democracia depois de uma ditadura militar terrível e, em 8 de janeiro de 2023, essa democracia foi ameaçada por um bando de bárbaros. Estamos aqui hoje para defender essa florzinha maravilhosa que faz com que a gente viva”, enfatizou Maria Maia. Marucia completou: “Na democracia as instituições convivem em liberdade, autonomia e o povo pode se expressar.” Já para Odulia, o evento simboliza a rejeição aos atos de violência. “Estamos aqui para reafirmar que foi horrível o que ocorreu há dois anos. Para dizer: ‘não, não queremos mais isso’.”
DIREITOS – Também entre as vozes que se uniram no “Abraço à Democracia” estavam as professoras Ivonei Calado e Francilma Rodrigues. “Isso é uma resposta que a gente tem que dar a esses grupos que estão tentando dominar não só o Brasil, mas o mundo. É para mostrar que não queremos mais. Essa história já conhecemos”, afirmou Ivonei. Já Francilma destacou o papel da proteção à democracia em tempos de desinformação. “Para mim, esse dia representa a resistência da democracia num momento tão difícil como esse que a gente está vivendo, onde grupos pediram a ditadura de volta por falta de conhecimento histórico, por alienação, por fake news e uma série de coisas”, explicou.