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ENTREVISTA
Lula sobre entregas de educação e habitação no Ceará: “Agora é a época da colheita”
O presidente Lula durante entrevista à Rádio Verdinha: aposta na educação como fator emancipador. Foto: Frame de Vídeo
Adaptar exemplos bem-sucedidos da educação cearense para o país. Ampliar o número de instituições de ensino técnico e superior para que os mais jovens tenham oportunidade de alcançar vagas de qualidade no mercado de trabalho. Levar o Nordeste a um patamar de crescimento compatível com o potencial da região. Apresentar ao país um orçamento que leve em conta ao mesmo tempo a necessidade de controlar despesas e a perspectiva de manter investimentos em infraestrutura, habitação e políticas sociais.
Nós passamos o primeiro ano semeando a terra, capinando, tirando tudo o que é carrapicho. A terra está pronta, adubamos, plantamos e agora é a época da colheita”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Essas foram algumas das prioridades de gestão do Governo Federal enfatizadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta (20/6), durante entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza. O presidente está no Ceará para anunciar investimentos em instituições federais de educação e saúde e para entregar unidades do Minha Casa, Minha Vida.
“Viemos anunciar um pacote tanto de hospitais universitários como de campus universitários e institutos federais. Quando cheguei à Presidência em 2003, o Ceará tinha cinco institutos técnicos. Quando eu deixar a Presidência agora, vai ter 40. Por quê? Porque queremos acreditar que somente a educação pode salvar esse país, fazer ele se tornar altamente desenvolvido, competitivo, capaz de disputar com qualquer outro do mundo em competência tecnológica”, resumiu o presidente.
Na primeira escala, o presidente anunciou R$ 778,9 milhões para a consolidação de instituições federais. Recursos que beneficiam a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal do Cariri, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. O evento marcou ainda o lançamento das pedras fundamentais do novo Hospital Universitário da UFC e do Hospital Universitário do Cariri.
Mais tarde, Lula participa da entrega de 416 apartamentos do Residencial Cidade Jardim I. As moradias do Minha Casa, Minha Vida vão beneficiar 1.664 pessoas de famílias da Faixa 1, com renda mensal de até R$ 2.640. Das 416 famílias que receberão apartamentos nesta entrega, 219 integram o Bolsa Família ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e, com isso, ficam isentas do pagamento de prestações.
Para o presidente, o momento marca o início da época da “colheita”, depois de um ano de reconstrução da estrutura do Estado e da retomada de dezenas de programas sociais. “Nós passamos o primeiro ano semeando a terra, capinando, tirando tudo o que é carrapicho. A terra está pronta, adubamos, plantamos e agora é a época da colheita”.
Presidente Lula conversa com Rádio Verdinha, de Fortaleza https://t.co/rzrYqio9lI
— Lula (@LulaOficial) June 20, 2024
Confira alguns dos trechos das respostas do presidente na entrevista
INFRAESTRUTURA – Estamos correndo atrás de duas coisas. Primeiro, fazer com que todas as obras que estavam paralisadas sejam retomadas, o que às vezes é difícil porque algumas já tinham vencido o contrato, algumas estão deterioradas, precisa fazer novo contrato, licitação. Por isso demorou um pouco mais, mas anunciamos um PAC de R$ 1,7 trilhão para o Brasil inteiro. O Ceará terá R$ 45 bilhões. Estamos começando a colher aquilo que plantamos.
RELAÇÃO COM REITORES – Todo ano convoco os reitores das universidades e institutos federais porque quero ouvir reclamação. Quero que me digam o que está acontecendo, o que está bom, o que está ruim. Na medida em que eles cobram, eu cobro deles também. É uma via de duas mãos. É assim que a gente vai fazer esse país se transformar num país altamente civilizado, moderno, em que as pessoas tenham perspectiva. A gente vai garantir que o seu filho, independentemente do lugar do país em que nasceu, vai ter a oportunidade de fazer um curso técnico, a universidade. Quero que a meninada tenha a oportunidade que não tive no passado, e que todo filho de brasileiro, independentemente da origem social, se rico ou pobre, preto ou branco, tenha o direito de ter a oportunidade de estudar, trabalhar, ter acesso à cultura, ao lazer, construir família e viver harmonicamente.
GREVES NAS UNIVERSIDADES – Eu acho que todo e qualquer movimento de trabalhadores tem direito de fazer greve e reivindicar. O que a pessoa não pode esquecer é o que já foi feito. O que já foi oferecido. Oferecemos, em média, entre 28% e 43% de reposição. Demos 9% antecipado ano passado. Eu, quando nasci no movimento sindical, era muito radical. Tinha o costume de fazer reivindicação e dizia ‘80% ou nada’, ‘100% ou nada’. Chegou um momento em que aprendi que, muitas vezes, entre 100% e 0% tem muita coisa. Eu espero que eles tenham compreensão e que saibam que, no meu governo, não falta oportunidade de conversar, de negociar.
EXEMPLO CEARENSE – O Camilo (Santana, ministro da Educação, ex-governador do Ceará) foi ser meu ministro porque aqui, no Ceará, a educação funcionou, deu resultado, e é isso que queremos: que a educação do Brasil seja melhor do que aquela que vocês conseguiram implantar no Ceará, que continua sendo o Estado que tem os melhores indicadores do país. O Ceará está ensinando muito ao Brasil.
SEGURANÇA PÚBLICA – O ministro Lewandowski (Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública) está com uma proposta para apresentar para mim já faz 15 dias, que eu vou ouvir com a participação dos meus senadores, dos meus ministros que já foram governadores. Quero pegar essa experiência acumulada dos governadores para que a gente possa chamar os governadores atuais e fazer uma discussão ampla sobre segurança pública. Vou apresentar para o Brasil depois dessa discussão. A gente não pode construir algo que seja ineficaz, que não funcione. Só temos que anunciar uma coisa se for melhor do que o que tem, para fazer mais do que o que tem e para evitar mais violência do que temos hoje.
POLÍTICA ECONÔMICA – Foi uma pena que o Copom manteve a taxa de juros, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, o povo brasileiro, porque quanto mais a gente paga de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. E isso (juros) tem que ser tratado como gasto. Eu não vejo o mercado falar dos moradores de rua, dos catadores de papel, dos desempregados, das pessoas que necessitam do Estado. Quem é que necessita do Estado? É o povo trabalhador. É a classe média, que é quem paga imposto. É preciso que a gente tenha um pouco de sensibilidade para as pessoas perceberem que o que estamos tentando fazer nesse instante é elevar o padrão de vida das pessoas mais humildes, para que se transformem em um padrão de consumo de classe média, possam morar em uma casinha melhor, ter uma escola melhor, possam, no final de semana, levar suas família a um restaurante. Agora, isso é muito difícil porque os que estão em cima não querem que os que estão embaixo subam um degrau na escada.
ORÇAMENTO – Eu digo pra todo mundo: tive como professora de economia a dona Lindu (mãe do presidente), que era analfabeta. Ela tinha oito filhos que trabalhavam e a gente chegava todo fim de mês, todo mundo entregava o dinheiro para ela. Ela abria o envelope e ficava dizendo: esse é para a bodega, esse é para a padaria, esse é para vocês pagarem o transporte. E dizia: a gente não pode gastar o que não tem. Se a gente tiver que fazer uma dívida, é para aumentar o patrimônio, mas a gente não pode jogar dinheiro fora. É assim que governo o Brasil. Eu não quero gastar o que não tenho e não quero gastar mal. Pagar salário para o povo é um gasto necessário. Melhorar a qualidade da saúde é necessário. Melhorar a qualidade da educação é necessário. O que queremos é fazer gasto de qualidade e disso não abrimos mão.
CUSTO DE NÃO INVESTIR – O que temos que perguntar é o seguinte: quanto custa não fazer as coisas necessárias? O que temos que ter noção é que quando a gente faz alguma coisa e aquilo resulta num benefício coletivo, na melhoria da qualidade de vida, aquilo é um investimento extraordinário.
PACTO FEDERATIVO – Eu tenho orgulho de dizer em qualquer reunião de prefeitos, em qualquer reunião de governadores: nunca na história um presidente cuidou dos estados como eu cuido e das prefeituras como eu cuido. Por uma razão simples: eu não governo olhando quem é o meu adversário. Eu governo olhando quem é o povo brasileiro. E se o povo tiver necessidade e o governador for contra mim, o povo vai receber o benefício, porque não vou prejudicar o povo por conta de um governador.
NORDESTE – E eu não me conformo de ver no noticiário que tem mais mortalidade infantil no Nordeste, mais desistência de escola no Nordeste, mais analfabetismo no Nordeste, menos universidade, menos mestre, menos doutor. Será que o Nordeste nasceu pra ser castigado? Será que não somos filhos de Deus? Então, quando fui eleito presidente, assumi o compromisso: quero colocar o Nordeste em igualdade de condições com qualquer outro estado. Não quero tirar nada de São Paulo, nada do Rio e de Minas Gerais, mas quero que o Nordeste cresça, se desenvolva, gere emprego e qualidade de vida para o nosso povo.