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“Precisamos assumir o compromisso de exportar sustentabilidade”, diz Lula na Colômbia
Na pauta, discussões em torno da proteção à Floresta Amazônica e do fortalecimento de uma agenda ambiental conjunta e bem estruturada. Foco na importância do estabelecimento de acordo em áreas sociais e econômicas capazes de ampliar as relações bilaterais entre os dois países. E o trabalho em torno de parcerias que promovam cooperação de forças policiais e militares das duas nações.
“A vocação para unir o Caribe, o Pacífico e a Amazônia torna a Colômbia um sócio indispensável. Precisamos assumir a responsabilidade de definir que América do Sul nós queremos, que país nós queremos e que política de integração nós queremos"
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República
Ao final de uma ampla agenda, uma certeza por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “A vocação para unir o Caribe, o Pacífico e a Amazônia torna a Colômbia um sócio indispensável. Precisamos assumir a responsabilidade de definir que América do Sul nós queremos, que país nós queremos e que política de integração nós queremos”.
» Declaração do presidente após reunião bilateral com o presidente da Colômbia
» Discurso do presidente no encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Colômbia
A visita do presidente Lula a Bogotá foi marcada por uma intensa agenda, que incluiu uma reunião bilateral com o presidente colombiano Gustavo Petro, a participação no Fórum Empresarial Brasil-Colômbia e presença na abertura da 36ª Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), maior evento editorial e cultural do país vizinho.
O encontro entre os dois chefes de Estado também foi marcado pela assinatura de atos internacionais, entre eles memorandos de entendimento e termos de cooperação técnica em diversas áreas, e serviu para Brasil e Colômbia ressaltarem o compromisso de trabalharem juntos nos mais variados setores, principalmente em temas ligados à biodiversidade.
“Precisamos assumir o compromisso de exportar sustentabilidade. Quando participou da Cúpula de Chefes de Estado na América do Sul (em maio do ano passado), o presidente Petro afirmou que a América do Sul pode ser a 'Arábia Saudita da energia limpa'. E o presidente Petro tem toda a razão. A maior parte do fluxo de investimentos entre nossos países já se concentra no setor energético”, frisou Lula, ao discursar no Fórum Empresarial Brasil-Colômbia.
SEM MEDO – Ao lembrar os avanços obtidos nas relações comerciais entre os dois países nos últimos 20 anos, Lula mandou um recado aos empresários presentes no Fórum Brasil-Colômbia: “Minha proposta aos empresários colombianos e aos empresários brasileiros é: vamos parar de ter medo uns dos outros. Vamos ter em conta que Brasil e Colômbia têm condições de triplicar o nosso fluxo da balança comercial”.
Ao final da participação no encontro, já durante a conversa com os jornalistas, Lula voltou a ressaltar as potencialidades da parceria entre os dois países no campo energético. Ele inclusive listou alguns setores cruciais nesta agenda: “Temos, na transição energética, a possibilidade extraordinária de atrair o mundo inteiro para contribuir nos investimentos, no desenvolvimento de uma nova matriz energética. Seja o hidrogênio verde, seja o etanol, seja a biomassa, seja a energia solar”.
Promovido pela ApexBrasil e pela agência de promoção comercial ProColômbia, o Fórum Empresarial Brasil-Colômbia contou com painéis sobre temas importantes como tecnologia, reindustrialização e integração produtiva, segurança alimentar e infraestrutura. Cerca de 300 pessoas dos governos brasileiro e colombiano, além do setor privado e mais de 20 líderes de empresas de diferentes setores de ambos os países, participaram do Fórum.
Ao analisar a balança comercial e as perspectivas de crescimento nos negócios entre os dois países em torno de uma economia verde e descarbonizada, Gustavo Petro disse que a Amazônia deve unir Brasil e Colômbia. “A selva amazônica não deve ser vista como um abismo entre os dois países. É justamente o contrário. Tem que ser uma ponte”, declarou o presidente colombiano.
REAPROXIMAÇÃO – A visita de Lula à Colômbia marca mais uma etapa no processo de reaproximação entre os dois países, iniciado com a presença de Gustavo Petro na cerimônia de posse do líder brasileiro, em 1º de janeiro de 2023 e, depois, com a vinda do chefe de governo colombiano à reunião de presidentes da América do Sul, em Brasília, no final de maio do ano passado. Soma-se a isso a presença de Lula no encerramento da Reunião Técnico-Científica da Amazônia, em julho de 2023, em Letícia, na Colômbia, evento prévio à Cúpula de Belém.
Brasil e Colômbia estão alinhados em torno da construção de uma agenda ambiental colaborativa, uma vez que a América do Sul é hoje o coração das discussões relativas ao meio ambiente e ao combate às mudanças climáticas. As duas nações se destacam por serem os países que mais têm reduzido o desmatamento no mundo e em breve estarão no centro das discussões ambientais globais. A Colômbia sediará a Cúpula de Biodiversidade da ONU, a COP 16, em outubro deste ano, e o Brasil se prepara para receber a COP 30, em Belém, em 2025.
Além das afinidades em torno da agenda ambiental, Lula e Gustavo Petro têm opiniões convergentes sobre temas importantes, como a integração sul-americana, a valorização das comunidades tradicionais e a atenção às populações fronteiriças. Prova disso é que o Brasil voltou a participar da Mesa de Diálogos de Paz entre o governo colombiano e o Exército de Libertação Nacional.
ATOS – Brasil e Colômbia assinaram nesta quarta-feira atos internacionais, entre eles memorandos de entendimento e termos de cooperação técnica em diversas áreas, como direitos das pessoas LGBTQIA+, migrantes, idosos, pessoas com deficiência e pessoas em situação de rua; combate ao tráfico de pessoas; desenvolvimento agrário e agricultura familiar; comunicação e tecnologia e cartografia, entre outros.
FILBO – Ainda nesta quarta-feira, Lula participou da abertura da 36ª Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), que, neste ano, tem o Brasil como país convidado de honra. Na condição de homenageado, o Brasil contará com amplo pavilhão próprio, espaço que servirá para exposição de livros de autores brasileiros. O Ministério da Cultura estará presente com uma grande programação, com mais de 60 autores e autoras e, também, com programação cultural, com a curadoria da poetisa Stephany Borges. Esta será a terceira vez em que o Brasil é homenageado na feira, após as edições de 1995 e 2012. A feira, maior evento editorial e cultural da Colômbia, prossegue até o dia 2 de maio e neste ano terá como lema “Ler a Natureza”. O público está estimado em mais de 600 mil pessoas.
JORNADA EXPORTADORA – A Apex promoverá, entre esta quarta-feira até o dia 24 de abril, tanto na capital colombiana quanto em Medellín, segunda maior cidade do país, o lançamento do programa Jornada Exportadora. O objetivo é impulsionar negócios com empresários locais e a iniciativa permitirá que uma delegação de representantes de 13 empresas brasileiras de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) possam fazer uma imersão comercial na Colômbia para aprofundar os conhecimentos sobre as principais tendências do setor.
INTERCÂMBIO COMERCIAL – Os dois países mantêm um intercâmbio comercial significativo. O Brasil é o terceiro maior parceiro da Colômbia e as exportações brasileiras para o país apresentam tendência de crescimento desde 2003. No ano passado, o comércio bilateral totalizou US$ 6,1 bilhões. As exportações brasileiras alcançaram US$ 3,8 bilhões e as importações da Colômbia somaram US$ 2,3 bilhões.
O Brasil é a principal origem das importações colombianas de automóveis e suas partes (19% do total) e de papéis e cartões (19% do total); e a segunda de cereais (21% do total). Entre os produtos agropecuários brasileiros exportados para a Colômbia destacam-se as vendas de milho e de café não torrado, que respondem, respectivamente, por 12% e 5% do total exportado pelo Brasil em 2023.
Nas relações bilaterais entre os dois países, observa-se atualmente forte interesse em diferentes setores de ampliar a integração de cadeias produtivas nacionais em áreas como indústria automobilística, farmacêutica, cosmética, agroalimentar, de defesa e de produtos fitoterapêuticos. Estima-se haver grande margem para aumento das exportações brasileiras, tanto no setor industrial quanto no setor agropecuário. A estimativa é de que aproximadamente 70 empresas brasileiras operem naquele país.