Notícias
RELAÇÕES EXTERIORES
Lula: “A retomada das negociações de paz é uma causa universal”
O presidente Lula durante discurso em sessão dos países da Liga Árabe no Cairo (Egito). Foto: Ricardo Stuckert / PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na tarde desta terça, 15 de fevereiro, durante sessão extraordinária da Liga dos Estados Árabes, no Cairo (Egito), e voltou a defender uma solução de paz para o conflito entre Israel e Hamas. Para ele, a única maneira de garantir um futuro digno para a população palestina é que ela possa ter seu território e sua autonomia reconhecidos pela comunidade internacional.
A posição do Brasil é clara. Não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como capital. A decisão sobre a existência de um Estado palestino independente foi tomada há 75 anos pelas Nações Unidas
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
» Íntegra do discurso do presidente Lula
“A posição do Brasil é clara. Não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como capital. A decisão sobre a existência de um Estado palestino independente foi tomada há 75 anos pelas Nações Unidas. Não há desculpas para impedir o ingresso da Palestina na ONU como membro pleno. A retomada das negociações de paz é uma causa universal. E é a nossa causa”, afirmou o presidente.
Lula criticou a ineficiência do sistema de governança global, que não consegue impedir a eclosão de conflitos, muitas vezes causados pelos próprios países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Integrantes que além de agir contra decisões da entidade ainda têm poder de veto para barrar sanções mais efetivas.
“É preciso repensar para que a gente aumente o número de países no Conselho de Segurança. É preciso acabar com o direito de veto. São os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU os países que produzem armas, que vendem armas e que ultimamente têm feito as guerras. Foi assim no Iraque, foi assim na Líbia. A Rússia não pediu para ninguém para invadir a Ucrânia”, destacou ele.
O secretário-geral da Liga dos Estados Árabes, o egípcio Ahmed Aboul Gheit, afirmou que os países integrantes da instituição ficaram muito felizes com o retorno do Brasil a suas relações “normais” com os países árabes, após o que qualificou como um período “turbulento”.
AUXÍLIO - Para o presidente Lula, a decisão de diversos países alinhados a Israel, de cortar o financiamento à UNRWA, a agência da ONU que presta auxílio aos refugiados da Palestina no Oriente Médio, pode ter consequências humanitárias graves. Ele anunciou que o Brasil seguirá apoiando a entidade.
“No momento em que o povo palestino mais precisa de apoio, os países ricos decidem cortar a ajuda humanitária à Agência da ONU para os Refugiados da Palestina (UNRWA). As recentes denúncias contra funcionários da agência precisam ser investigadas, mas não podem paralisá-la. Refugiados palestinos na Jordânia, na Síria e no Líbano também ficarão desamparados. É preciso pôr fim a essa desumanidade e covardia. Meu governo fará novo aporte de recursos para a UNRWA. Exortamos todos os países a manter e reforçar suas contribuições”, declarou.
ATAQUES - No discurso, o presidente Lula voltou a reforçar a posição do Brasil sobre o conflito, condenando veementemente não apenas o ataque do Hamas contra Israel, mas também destacando que a resposta israelense tem sido desproporcional e causado perdas irreparáveis com vítimas majoritariamente civis, como mulheres, crianças e idosos.
“O ataque do Hamas de 7 de outubro contra civis israelenses é indefensável e mereceu veemente condenação do Brasil. A reação desproporcional e indiscriminada de Israel é inadmissível e constitui um dos mais trágicos episódios desse longo conflito. As perdas humanas e materiais são irreparáveis. Não podemos banalizar a morte de milhares de civis como mero dano colateral”, lamentou.
O QUE É - A Liga dos Países Árabes é uma organização fundada em 1945 no Egito, com o objetivo de reforçar laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre os seus integrantes. Foi criada por seis membros: Egito, Iraque, Transjordânia, Líbano, Arábia Saudita e Síria. Atualmente, conta com 22 Estados, com uma população superior a 450 milhões de habitantes. São eles: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria (suspensa), Somália, Sudão e Tunísia.
VIAGEM - O presidente Lula passou pelo Egito para uma visita de Estado e foi recebido na manhã desta quinta pelo presidente Abdel Fattah Al-Sisi. Após a visita à sede da Liga Árabe, ele embarcou para Adis Abeba, capital da Etiópia, para participar como convidado da Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, nesta sexta-feira e sábado, dias 16 e 17.