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COP 28
Brasil defende que cultura se integre globalmente às discussões climáticas
Ministra da Cultura, Margareth Menezes, durante a primeira reunião de Alto Nível do Diálogo Ministerial sobre Ação Climática baseada na Cultura, na COP 28 - Foto: Estevam / Audiovisual / PR
A intensa agenda de compromissos do governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas – COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, prosseguiu nesta sexta-feira, 8 de dezembro, com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, representando o país no lançamento do Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura (GFCBCA, na sigla em inglês).
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A cultura tem o potencial de elevar a consciência sobre o momento crítico que estamos vivendo e ajudar a promover a mudança de comportamento, na escala necessária, que precisamos urgentemente”
Margareth Menezes, ministra da Cultura
“Um ativo tão forte quanto a cultura não pode ficar de fora do enfrentamento à mudança climática no planeta”, afirmou a ministra brasileira, em seu discurso durante o evento. “Comunidades tradicionais, culturas urbanas, patrimônios da humanidade e nacionais estão em risco com a mudança do clima. Esta ameaça pode fazer com que não possamos transmitir às novas gerações nossas práticas socioculturais, o nosso legado de memórias e de expressões culturais, o que é também um ataque ao direito à cultura de povos e comunidades e um limitante de nossa diversidade cultural”, prosseguiu Margareth Menezes.
Para a ministra, é preciso incluir a cultura inclusive nas questões financeiras discutidas na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas. “Temos que desenvolver políticas específicas para este tema. É fundamental que o Fundo de Perdas e Danos contemple também a mitigação dos impactos nos patrimônios atingidos pela ação climática. Por outro lado, a cultura não é apenas vítima, mas também uma força que pode e deve ser mobilizada para que a mudança que precisamos seja efetivada em tempo para alcançarmos as metas do Acordo de Paris”, ressaltou a representante do Brasil.
Copresidido pelo Brasil e pelos Emirados Árabes Unidos, o grupo, formado por Estados Membros da ONU, realizou sua primeira reunião de Alto Nível do Diálogo Ministerial sobre Ação Climática baseada na Cultura. O encontro contou com a presença do ministro da Cultura e Juventude dos Emirados Árabes, Xeique Salem bin Khalid Al Qassimi, e de ministros da Cultura de diversos países, além de representantes da sociedade civil.
O objetivo da coalizão internacional é gerar impulso político para o reconhecimento da cultura como uma força poderosa no combate às mudanças climáticas. O GFCBCA pretende desenvolver intervenções, soluções e ações multilaterais que demonstrem os benefícios da integração da cultura na ação climática, ao mesmo tempo em que visa oferecer um espaço para que todas as nações e comunidades, independentemente de sua origem ou localização, compartilhem conhecimento, experiência e melhores práticas.
PAPEIS DA CULTURA – Durante seu discurso, Margareth Menezes listou três pontos principais ao do papel que a cultura pode ter como parte da solução no enfrentamento às mudanças climáticas.
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“As histórias que contamos através do cinema, da literatura, das artes têm o poder de alcançar muitas pessoas. E o campo da arte é por onde grande parte de nossas histórias são contadas. A cultura tem o potencial de elevar a consciência sobre o momento crítico que estamos vivendo e ajudar a promover a mudança de comportamento, na escala necessária, que precisamos urgentemente”.
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“A cultura tem o poder não apenas de conscientizar sobre o presente, mas também de ajudar a imaginar futuros possíveis. Modos de vida em que as nossas necessidades por uma vida melhor não aconteçam ao custo das vidas de gerações futuras”.
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“Podemos aproveitar os conhecimentos tradicionais e as tecnologias sociais existentes para inspirar as soluções que precisamos. Em 2023, o Brasil teve a honra de ganhar o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023 com um pavilhão que mostrava a força dos conhecimentos tradicionais e que exaltava as tradições, saberes e tecnologias da arquitetura de nossas populações indígenas e afro-brasileiras”.
Em um dos pontos altos de sua fala, a ministra da Cultura frisou que no processo de produção de um balanço do Acordo de Paris, em curso na COP 28, o momento é de exaltar o multilateralismo e promover ações concretas.
“Reforço aqui o que nosso presidente Lula tem dito, que precisamos nos distanciar dos muitos acordos climáticos que não foram cumpridos; das metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e da promessa de auxílio financeiro feita aos países pobres. Precisamos de atitudes concretas. É preciso resgatar a crença no multilateralismo. Precisamos pactuar e protagonizar ações concretas para além de nossas fronteiras em uma cultura de colaboração e fraternidade”, afirmou a ministra.
PARADIGMA – Segundo destacou a COP 28, o Grupo de Amigos para a Ação Climática Baseada na Cultura visa a promover uma mudança de paradigma na forma como as alterações climáticas são entendidas.
As discussões não devem se limitar a um desafio ambiental, financeiro e científico. Elas também devem envolver aspectos culturais. Portanto, o GFCBCA tem como objetivo consolidar o consenso internacional sobre a necessidade de colocar a cultura, das artes ao patrimônio, no centro da ação climática, de modo a definir valores-chave e melhores práticas para a ação climática baseada na cultura.
Além disso, é preciso estimular um maior intercâmbio internacional e um amplo acesso a sistemas de conhecimento de povos originários, estabelecer estratégias de medição de impacto e partilhar opiniões sobre como o processo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) pode ser acelerado para satisfazer a necessidade urgente de uma maior adaptação global.
REUNIÕES – Além do lançamento do Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura, a agenda da ministra Margareth Menezes nesta sexta-feira na COP 28 incluiu uma reunião com agentes da sociedade civil brasileira, representando o Instituto Clima e Sociedade (ICS), a Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a União de Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab).
“A cultura tem uma importância estratégica, porque na cultura nós temos as memórias das relações mais saudáveis com a natureza para o ser humano. E no Brasil, especialmente, onde temos um grande legado de natureza e nossas riquezas naturais são fantásticas, nós precisamos nesse momento auxiliar o mundo a fazer a retomada de uma convivência mais respeitosa com a natureza”, analisou Margareth Menezes.
“O Brasil está se colocando como um líder nessa questão, de fazer uma reflexão, e convidando a todos para a COP ser na Amazônia, para que as pessoas entendam que ambiente é esse. E a cultura é uma grande ferramenta para isso. Enquanto a gente não conseguir mobilizar a sociedade e a consciência humana para entender em que momento nós estamos vai ser muito difícil fazer essa transição. Com a cultura fica mais fácil”, concluiu a ministra.