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ENTREVISTA
Lula a radialistas amazônicos: “Vamos lançar um grande programa de investimentos na região”
Lula reforçou que a Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), será a primeira reunião com líderes de todos os países amazônicos em 45 anos. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Vamos fazer um grande debate e tentar convencer os nossos parceiros de que precisamos trabalhar de forma unida, de forma coesa, para que a gente possa combater o crime organizado, o narcotráfico, e que a gente possa cuidar do povo que mora nas nossas florestas. Dos nossos ribeirinhos, dos nossos indígenas, dos nossos pescadores”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Investimentos em infraestrutura nos estados amazônicos, combate ao desmatamento, transição energética para padrões ainda mais sustentáveis e abrangentes, atuação nas fronteiras para combate à violência e ao crime organizado e a preparação da região para receber a COP-30, em 2025. Esses foram alguns dos temas abordados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, numa entrevista a rádios da Amazônia na manhã desta quinta-feira (3/8). O bate-papo com veículos de Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Roraima e Rondônia foi transmitido pelos canais oficiais da Presidência nas redes sociais.
» Fotos em alta resolução (Flickr)
Lula tem uma série de agendas na região nos próximos dias, com passagens por Parintins, Santarém e Belém. Na capital paraense, vai participar de um encontro com líderes de todos os países que abrigam a floresta durante a Cúpula da Amazônia. O evento representa a primeira vez em 45 anos que países da região tentarão formular um documento conjunto para apresentar nos principais fóruns internacionais que tratam da preservação do meio ambiente e das consequências das mudanças climáticas.
“Vamos fazer um grande debate e tentar convencer os nossos parceiros de que precisamos trabalhar de forma unida, de forma coesa, para que a gente possa combater o crime organizado, o narcotráfico, e que a gente possa cuidar do povo que mora nas nossas florestas. Dos nossos ribeirinhos, dos nossos indígenas, dos nossos pescadores”, listou o presidente. “As pessoas que moram no Amazonas têm direito de trabalhar, de comer, de se vestir, de passear, de viver bem”, completou o presidente.
Confira alguns dos principais pontos das respostas do presidente:
R$ 5 BI PARA A COP-30 NO PARÁ – Só tem sentido esses investimentos se for para beneficiar o povo do Amazonas. Senão, não há sentido fazer investimento de R$ 5 bilhões. Para quê? Não é apenas para receber visitantes, é para melhorar as condições de trânsito, de transporte, de moradia, de saneamento básico. Ou seja, um processo de investimento em infraestrutura que vai servir para a COP, mas vai servir para o estado. É um grande investimento. Nós vamos lançar, no dia 11, no Rio de Janeiro, um grande programa de investimento em infraestrutura e, dentro desse programa, está o projeto da COP-30 que será no estado do Pará, em Belém, em 2025. Queremos contribuir para melhorar as condições do povo e, melhorando a condição do povo, a gente vai realizar uma COP muito mais extraordinária, porque tudo o que a gente fizer vai ficar como legado.
MEIO AMBIENTE E CUIDADO - Tratar da Amazônia não é só cuidar das florestas, da biodiversidade, do ecossistema, da água. Isso é vital e muito importante. Mas cuidar da Amazônia é cuidar do povo da Amazônia. As pessoas que moram no Amazonas tem direito de trabalhar, de comer, de se vestir, de passear, de viver bem. E é por isso que nós estamos fazendo essa reunião em Belém. É por isso que vamos trazer o encontro mundial para Belém. E é por isso que vamos fazer grandes investimentos.
SEGURANÇA NA FRONTEIRA – Queremos não apenas envolver os municípios e os estados, mas envolver os países fronteiriços. O Flávio Dino (ministro da Justiça e Segurança Pública) apresentou uma proposta que vai ter uma base da Polícia Federal em Manaus, que vai ter uma atuação em todo o território amazônico. E a gente quer combinar, inclusive, com a participação das Forças Armadas. A gente quer combinar com os ministros da Defesa dos países vizinhos fronteiriços. E a gente quer combinar com a polícia dos outros países. Porque não é apenas a questão do tráfico, é a questão do crime organizado que tem tomado conta de regiões da nossa querida Amazônia. Nós vamos, então, ser duros com isso.
CÚPULA DA AMAZÔNIA - Vamos agora ter um grande encontro com oito presidentes amazônicos, em Belém. Vamos fazer um grande debate e tentar convencer os nossos parceiros de que precisamos trabalhar de forma unida, de forma coesa, para que a gente possa combater o crime organizado, o narcotráfico, e que a gente possa cuidar do povo que mora nas nossas florestas. Dos nossos ribeirinhos, dos nossos indígenas, dos nossos pescadores. Nós temos que ter consciência de que cuidar da Amazônia não é apenas cuidar da floresta, é cuidar do povo amazônico que precisa viver com muita qualidade de vida, precisa viver bem. Esse é um trabalho muito intenso, que está começando agora.
PAÍSES COM FLORESTAS UNIDOS – A organização do tratado dos países amazônicos existe há 45 anos, mas é a primeira vez em 45 anos que vamos fazer uma reunião com a presença dos oito presidentes da República desses países. Eu convidei, inclusive, o Macron para participar porque o Macron deve saber que a França faz fronteira com o Brasil e tem um pedaço amazônico (Guiana). Eu convidei os dois Congos, porque são dois países com muita floresta. E convidei o presidente da Indonésia que vai mandar ministro. Nós queremos preparar uma proposta para levar para a COP 28 que se dará no final do ano, nos Emirados Árabes.
ENERGIA E TRANSIÇÃO ENERGÉTICA – Estou indo a Parintins porque vamos dar ordem de serviço do Linhão Manaus-Boa Vista e, se isso acontecer, vamos integrar todos os estados no Sistema Único (de Energia). Depois vamos pegar a linha de Guri, na Venezuela, que funcionava e que parou. Vamos reinaugurá-la para que a gente possa interligar também com a América do Sul.
FIM DO APAGÃO NA FESTA DE PARINTINS - Quando fui ao estado do Amazonas, logo quando tomei posse, em 2003, fui à Festa de Parintins. Fui lá visitar o Caprichoso e o Garantido. E tinha um problema de apagão. E prometi que iríamos acabar com o apagão. Agora vou voltar para inaugurar a linha Parintins-Itacoatiara. Com essa inauguração estamos economizando R$ 500 milhões em óleo diesel e vamos fazer com que o país economize, praticamente, R$ 12 bilhões.
RODOVIA BR-319 AM/RO – Eu discuti muito essa BR-319. Ela foi uma rodovia que já funcionou e depois ficou em uma situação esquisita, porque ela tem um pedaço pronto de Rondônia até o meio de Manaus, e tem 400 quilômetros totalmente destruídos. Tem um problema sério porque a questão ambiental é crítica nessa parte da Amazônia. O que decidimos agora no PAC: em vez de a gente colocar, de forma precipitada, decidimos construir um grupo especial para dar a palavra definitiva: pode ou não pode fazer? Quais são os problemas que a gente vai criar de verdade e o que a gente pode evitar? E por que é delicado? Porque o mundo, hoje, está muito mais exigente, e o Brasil é um grande exportador de alimentos. Não queremos que haja qualquer veto às exportações brasileiras por conta de uma atitude precipitada nossa.
INTERLIGAÇÃO EM RORAIMA – Nós tivemos anos obscuros no país. A destruição da linha de Guri até Roraima atrapalhou muito a vida do povo de Roraima. Nós vamos não apenas dar a ordem de serviço de Manaus a Boa Vista. A gente está assumindo o compromisso de recuperar a linha que vem da Venezuela e que está hoje sem funcionar. Nós vamos reinaugurar essa linha Guri-Boa Vista para que a gente apresse a questão da energia em Boa Vista para ninguém viver em apagão. Em vez de Boa Vista ser uma cidade que fica no escuro, vai ser chamada de cidade luz, porque vai ter muita energia.
RECURSOS NO ACRE – Estou marcando uma data com o ministro da Educação. Nós temos que fazer a inauguração de escola técnica, de instituto federal e temos que fazer um projeto de recuperação da BR-364, que parece estar um pouco moribunda por falta de tratamento, de recapeamento, de manutenção. O legado que nós vamos deixar para o Acre é o legado que vamos deixar para o Brasil inteiro: vamos retomar a geração de emprego, você já percebeu que o desemprego diminuiu, já está em 8%, o menor desde 2014. Você está lembrado que o salário mínimo vai aumentar; nós já recuperamos 40 políticas públicas de inclusão social que a gente tinha e que foi desmontada pelo governo anterior e nós estamos colocando em evidência. Vamos cuidar de todos os estados em igualdade de condições. O Acre é um estado que tenho um apreço grande. Eu vou ao Acre desde 1980. Já fui muitas vezes, muitas vezes. E pretendo, ainda este ano, ir ao Acre inaugurar escolas e, ao mesmo tempo, fazer uma visita na manutenção da BR-364.
ENERGIA NO AMAPÁ – Se a gente tem hidrelétrica e a hidrelétrica já está paga, a energia pode ser mais barata. O ministro de Minas e Energia tem me dito que os empresários que compram energia no mercado livre compram mais barato do que o povo pobre paga a energia. Essa é uma coisa que a gente vai tentar corrigir. Nós vamos lançar um grande programa chamado PAC e, dentro do PAC, tem a questão da transição energética. Nós vamos anunciar muitos investimentos na questão energética, eólica, solar, biodiesel, etanol, hidrogênio verde... Tudo isso a gente vai fazer na perspectiva de produzir energia mais barata para o povo brasileiro. Não adianta tirar o povo da escuridão levando energia e depois ele não poder pagar a conta, sabe? Então nós vamos cuidar disso.