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CONVERSA COM O PRESIDENTE
Lula defende fortalecer o Mercosul e acordo "ganha-ganha" com europeus
Em agosto, o Brasil vai sediar encontro com países amazônicos e convidará Indonésia, Congo e República do Congo para discutir soluções conjuntas em torno do desenvolvimento sustentável de países com grandes reservas florestais. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Pouco antes de assumir a Presidência do Mercosul pelos próximos seis meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o fortalecimento do bloco econômico que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e disse que planeja fazer uma gestão exemplar, focada na conclusão do acordo comercial com a União Europeia.
Queremos discutir o acordo, mas não queremos imposição em cima de nós. É um acordo de de parceiros estratégicos. Então nada de um colocar a espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar nossas diferenças e ver o que é bom para os europeus, o que é bom para o Mercosul e o que é bom para o Brasil"
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
O acordo com o bloco europeu, destacou, deve considerar o que é bom para os europeus, para o Mercosul e para o Brasil. "Nós queremos fazer uma política de ganha-ganha. A gente não quer uma política em que eles ganhem e a gente perca", disse, durante o programa "Conversa com o Presidente", com o jornalista Marcos Uchôa, pouco antes da Cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú, no lado argentino da tríplice fronteira.
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O presidente brasileiro contou que, do encontro com os colegas sul-americanos, sairá uma contraproposta à carta do bloco europeu, que trouxe condições consideradas inaceitáveis pelo Brasil. Ele citou especificamente a vontade dos europeus de que os países do Mercosul abram as compras governamentais para fornecedores estrangeiros.
"Se a gente abrir mão de empresas brasileiras para comprar de empresas estrangeiras, a gente simplesmente vai matar pequenas e médias empresas brasileiras, pequenos e médios empreendedores e empregos no Brasil", declarou Lula, enfatizando também que num acordo entre parceiros não pode haver imposição de condições, mas negociação entre as partes.
"Queremos discutir o acordo, mas não queremos imposição em cima de nós. É um acordo de companheiros, de parceiros estratégicos. Então nada de um parceiro estratégico colocar a espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar nossas diferenças e ver o que é bom para os europeus, o que é bom para os latinoamericanos, o que é bom para o Mercosul e o que é bom para o Brasil".
MEIO AMBIENTE - Na cidade argentina, um dos acessos para o Parque Nacional do Iguaçu, Lula destacou a beleza das cataratas e voltou a mencionar o protagonismo do Brasil na questão ambiental, com a maior parte da matriz energética limpa e os compromissos de reduzir o desmatamento, respeitar indígenas e quilombolas e preservar as reservas florestais, cuidando de todos os biomas com carinho, pois disso depende o equilíbrio da temperatura na Terra.
"Tenho discutido com amigos da Europa e mostrado para eles o seguinte: o Brasil tem autoridade moral para discutir energia limpa e cuidar corretamente da preservação da nossa floresta. Assumimos o compromisso de chegar a desmatamento zero até 2030 e vamos cumprir", disse, lembrando que os países ricos não cumpriram compromissos ambientais importantes definidos em Quioto, na Rio-2012, em Copenhague e em Paris.
UNILA - No bate-papo, o presidente brasileiro também contou que vai à parte brasileira da tríplice fronteira visitar a Universidade Federal de Integração Latinoamericana (Unila), para retomada das obras do campus em Foz de Iguaçu. "Vamos dar início às obras da Unila para ter mais alunos latinoamericanos estudando na universidade latinoamericana".
Lula contou que no fim desta semana vai a Leticia, na Colômbia, para se encontrar com o presidente Petro e para debater com cientistas a questão das florestas. Em julho, o Brasil sediará encontro com todos os países amazônicos e convidará também a Indonésia, o Congo e a República do Congo para discutir soluções conjuntas para o desenvolvimento sustentável, com preservação do meio ambiente associada à geração de emprego e renda para quem vive nessas áreas.
"O que a gente pode fazer e o que os países ricos podem doar, investir de recursos para que a gente possa manter a floresta em pé, gerando emprego para milhões e milhões de pessoas que moram nessa região? Não queremos que a floresta seja transformada em santuário da humanidade, mas explorar a biodiversidade da floresta e ver como investir na indústria de fármacos, de cosméticos para gerar emprego mais qualificado para quem vive na região".