Conversa com o Presidente - Live do dia 12 de dezembro de 2023
Marcos Uchôa: Bom dia, mais um Conversa com o Presidente. Dezembro, um mês muito especial para todo mundo. Lá em Berlim, que foi o último programa, muitos ministros participaram, e hoje faltava também a ministra da Saúde, Nísia. E saúde, que aliás é uma palavra que a gente usa muito em dezembro, comemorando, brindando. Não é, presidente? E a gente tem, é um assunto muito delicado, porque quando a gente pegou no ano passado, não é ministra? A gente vinha de quatro ministros da Saúde, a pandemia, uma situação caótica. Então, presidente, eu acho que é uma área que quando você quis convidá-la era exatamente porque é uma área muito importante para o brasileiro e para a brasileira.
Presidente Lula: Entra ano e sai ano no Brasil, a saúde é sempre uma das coisas que mais mexem com os interesses do povo brasileiro. Sobretudo as pessoas mais humildes, que são pessoas que têm mais dificuldade de ter acesso a hospitais, à especialistas. E nós temos o SUS que funciona dando uma extraordinária assistência às pessoas mais humildes deste país. Eu não sei se a Nísia soube. Eu domingo estava assistindo um programa de televisão e passou um atendimento médico de um esquema de saúde do Pantanal. E eu liguei para o Berg (provável Swedenberger do Nascimento Barbosa, secretário executivo do Ministério da Saúde) para saber se a gente tinha o SUS ou não no Pantanal e ele ficou de fazer um levantamento de quais as cidades do Pantanal que a gente tem o SUS. Eu acho que a gente tem o SUS em todos os municípios desse país.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Nós temos o SUS em todos os municípios.
Presidente Lula: Então, Nísia, veja, de quando você entrou dia 1º de janeiro de 2023, até agora, o que você acha que já foi possível a gente sentir as melhoras na sua gestão como ministra da Saúde. É importante lembrar que você, acho que é a primeira ministra, não, só o Serra, no Governo Fernando Henrique Cardoso, e você no meu Governo, que não são médicos. São pessoas que não são médicas e que são ministros da Saúde e eu escolhi você exatamente por isso. Porque você é uma pessoa muito experimentada no centro de pesquisa como você... Esqueci o instituto.
Marcos Uchôa: Fiocruz.
Presidente Lula: Corta, Stuckinha e volta. É porque eu acho que o seguinte, eu acho que a Fiocruz é um exemplo de Instituto de Pesquisa no Brasil. E eu acho que, por essa razão, eu queria trazer você para o Ministério da Saúde e com a certeza de que você ia fazer muito mais do que todos nós já tínhamos feito até então. Então conta para nós, como é que você achou o Ministério da Saúde e como é que você diria que ele está hoje, no mês de dezembro, quando estamos para encerrar o nosso primeiro ano de mandato.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Presidente, primeiro, quando o senhor me convidou eu senti exatamente essa visão da missão de um país que vinha de um Governo que não só não cuidou da população e saúde é cuidado. Como, além disso, fez uma péssima gestão da pandemia de Covid-19, com efeitos que nós sentimos até hoje. Então, até é difícil fazer uma linha e comparar com ministros anteriores. Eu tenho uma dedicação de 37 anos à saúde, desde quando eu entrei na Fiocruz. É claro que a experiência do ministério é muito diferente. Parte da experiência que eu tive na Fiocruz, principalmente na pandemia, foi ver a destruição que havia, principalmente a perda de confiança na coordenação que o Ministério da Saúde tem que fazer. O Brasil é um país continental, muito desigual e precisa de ter essa coordenação. Então, eu encontrei, para dar, assim, um quadro para o senhor. Quadros técnicos totalmente desestruturados, pessoas qualificadas muitas se aposentaram, porque não viam condições de trabalhar. Nós não tínhamos o Programa Nacional de Imunização, que já fez 50 anos, que é um orgulho internacional, também nós tivemos que remontar. Muitas pessoas saíram e estava sem condições de funcionar. Não tínhamos uma área muito afetada pela pandemia, saúde mental, nós estruturamos um departamento de saúde mental agora e estamos estruturando Centros de Atenção Psicossocial em todo o Brasil. Isso significa alguns centros novos, mas, também, apoio a centros que não tinham nenhum apoio do Governo Federal. Ou seja, um Governo Federal omisso que não cuidava do que é a obrigação constitucional de cuidar da nossa população e de coordenar esse Sistema Único de Saúde. O que que eu vejo como importantes avanços deste ano. Primeiro dizer que muitas coisas nós realizamos e muitos resultados nós veremos melhor a partir do próximo ano, porque foi o ano, em todo o Governo, de reestruturação.
Presidente Lula: Poderíamos dizer que você plantou uma série de coisas novas, arrumou outras coisas que já existiam, mas que não estavam funcionando e que o resultado disso começa a aparecer, efetivamente, em 2024.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Com certeza, presidente. Nós já implantamos, retornamos com o Mais Médicos, um programa tão importante na atenção básica, na atenção primária à saúde. Chegaremos ao final desse ano com 28 mil médicos em todas as áreas do Brasil, com prioridade para aquelas áreas onde há falta de médico, naturalmente.
Marcos Uchôa: Esse número é recorde, não é?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Esse número é recorde. E junto com isso, as equipes do Brasil Sorridente, a Lei que o senhor sancionou, toda a estruturação da vacinação. Só para a população ter uma ideia também, as vacinas básicas para a infância, vacina de pólio, de sarampo, essas doenças que voltaram a nos ameaçar, não havia estoques. Então, nós tivemos que organizar tudo aquilo que a população precisa para um sistema funcionar e isso também foi possível graças à emenda da Transição. Porque o orçamento também totalmente inviável. Então foi esse esforço que tornou isso possível. Então foram ações na...
Presidente Lula: Nísia, e as pessoas voltaram a tomar vacina?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Nós estamos aumentando essa cobertura, presidente. Fizemos planejamentos locais, ações locais. Vimos o que que faltava. Temos tido um aumento já consolidado em algumas vacinações. É o caso de HPV para adolescentes, que estava muito baixo no Governo passado. Tivemos um aumento de 60% nessa cobertura esse ano. É uma vacina muito importante para prevenção do câncer do colo de útero. E nós estamos organizando o sistema de informação. Também isso é, o assunto é um pouquinho árido, mas acho que é importante explicar, como o senhor sempre fala da importância de sermos claros com a população. Muitas vezes levamos dois meses até ter o dado que o município, no interior do Amazonas, mesmo interior do Rio Grande do Sul, isso não é só um problema da região Norte. A vacina é aplicada e o dado demora a chegar ao Ministério da Saúde. Por isso também nós criamos a Secretaria de Saúde Digital, para que esse sistema de informação seja organizado. Eu digo, presidente, que nós avançamos na organização do Ministério em retomar programas como Farmácia Popular, como o Mais Médicos, programas tão importantes nos seus governos, no Governo da presidenta Dilma.
Marcos Uchôa: Ministra, deixa eu te interromper só um pouquinho para a gente ir por partes, digamos assim. Essa parte de vacinação foi uma das mais atingidas por um fenômeno de fake news, de ataque à ciência, foi uma coisa que a gente não vivia isso no mundo, não só no Brasil e foi um horror. O que você sentiu, até na Fiocruz lá atrás, dessa destruição do que existia como média de vacinação para as crianças e para os adultos e que caiu tanto nos últimos anos e o que a gente tem que recuperar e o que a gente conseguiu?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Muitas vacinas nós tínhamos uma cobertura de 90%.
Marcos Uchôa: Muito bom.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Excelente. O Brasil passou a ter uma cultura de vacinação desde a década de 70, principalmente com a campanha de varíola. Essas coisas precisam tempo. Tempo e trabalho constante. E é isso que foi destruído e nós estamos falando de um programa antigo, um programa que data, ainda, da Ditadura, mas que havia técnico, sanitaristas voltado para isso. O Brasil criou o dia D, vacinação. Então são inovações até mesmo não só da vacina, tecnicamente, mas inovações de fazer chegar.
Marcos Uchôa: É uma cultura de vacina.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Uma cultura de vacina, filas para vacinar as pessoas, o Zé Gotinha, o símbolo que nós retomamos, que foi criado na década de 80 para facilitar a vacinação infantil. Hoje existem fenômenos novos, movimentos antivacinas existem no mundo há alguns anos, mas agora nós temos uma estratégia deliberada de usar falsas informações científicas. Então, o que nós vimos, e isso é uma coisa para entristecer, são lives promovidas por uma Comissão dentro da Câmara Federal, a Comissão de Fiscalização, em que médicos falam que a vacina pode causar mortes, causar, no caso da vacina de Covid, causar miocardites graves.
Marcos Uchôa: Tudo fake news?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Tudo fake news sem base científica, mas aparecendo como se fosse informação científica. Então, isso confunde a população. Daí a importância de informações claras.
Presidente Lula: Mas me diga uma coisa, o Ministério da Saúde, quando o Ministério da Saúde descobre que tem gente que é ligada a área da Saúde fazendo essa propaganda mentirosa, que atitude nós tomamos juridicamente?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Então, o que nós fizemos foi criar um programa, que é o Saúde com a Ciência, junto com a SECOM, com a Advocacia-Geral da União, com a Controladoria-Geral da União, para que esses casos sejam investigados. Então, tudo isso é notificado. Esse é um trabalho conjunto do Governo e isso precisa ser feito. E o esperado é mesmo que órgãos, como o Conselho Federal de Medicina, que nós temos também trabalhado juntos, também tomem atitudes. Porque são formas de agir que ferem totalmente a ética médica. E o pior, geram pânico na população. Mas, presidente, há muita mobilização na sociedade para mudar isso. No último sábado, eu estive com a Academia de Medicina do Brasil, da França, de Portugal, dos Estados Unidos, em um encontro promovido aqui no Brasil pela Academia de Medicina, ministérios da Saúde do Brasil e de Portugal, juntos lançando uma declaração contra essa desinformação, a favor das vacinas. Então nós não estamos sozinhos também nessa luta, que é uma luta pela saúde.
Presidente Lula: É importante que a gente diga que é necessário criminalizar a pessoa que está contando mentiras sobre uma questão tão importante que é a gente vacinar o povo brasileiro, sobretudo as crianças. Porque depois que a criança pega a doença, ou seja, aí não tem mais cura, aí é muito mais difícil. E quando você tem um facínora qualquer, que resolve fazer propaganda contrária, nós temos que processá-lo criminalmente. Porque não tem outra saída para você lidar com gente desse tipo, negacionista. Eu conheço pessoas que eram contra as vacinas até perder a mãe. Aí quando perde a mãe, se arrepende de não ter dado a vacina na mãe. Outras que perderam o filho. Então é importante que a gente declare que a vacina é uma necessidade preventiva para evitar que coisa mais grave aconteça com os filhos da gente, com a nossa família. É só isso. O Governo dá de graça, oferece de graça. O Brasil já foi tido, durante muito tempo, como o país que tinha a maior competência de vacinação no mundo. Nós temos o sistema de saúde que é único, único país com mais de 100 milhões de habitantes que tem um programa universal, como nós temos o SUS, que foi achincalhado durante muito tempo, desde a criação. E foi na pandemia que o SUS mostrou a importância dele, a valia dele e o heroísmo dos funcionários do nosso SUS. Isso tudo agora está sendo aperfeiçoado. É contratação de mais gente, aumentar a equipe, melhorar hospital. Inclusive ajudar as Santas Casas, que os hospitais filantrópicos, que estão em situações difíceis, que nós temos que ajudar porque é muito importante o papel que eles têm, sobretudo, em algumas cidades mais afastados da capital. Portanto, eu acho, Nísia, que é importante. O Farmácia Popular passou de quantas para quantas pessoas, quantas famílias, quantos remédios a gente distribui hoje gratuitamente. Aquele remédio, sobretudo, aquele de uso contínuo, para as pessoas que têm diabetes, para as pessoas que são hipertensas, pessoas que têm asma. Quantos remédios a gente está distribuindo?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Nós temos, são 11 remédios no Farmácia Popular, que são distribuídos. Agora, nessa edição, todos os beneficiários do Bolsa Família recebem todos os medicamentos inteiramente gratuitos. Nós estamos com 180 novos municípios, algo desse ano, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, 80% Norte e Nordeste esse ano. É um dos programas mais queridos da população, mais apreciados. E a nossa ideia é aperfeiçoar cada vez mais. Mas os números desse ano são muito importantes. Porque havia muitas farmácias descredenciadas. Todo esse trabalho nós fizemos esse ano. Hoje a gente pode dizer que são 22 milhões de brasileiros que são atendidos pelo Farmácia Popular, presidente.
Presidente Lula: Nísia, uma coisa que poderia ser utilizada, que eu vou só dizer uma coisa aqui que eu senti. Eu, antigamente, eu tinha um filho com asma, às vezes duas horas da manhã ficava no ponto de ônibus, pegar ele, andar quase 40 minutos de ônibus para chegar lá o médico dar um negócio naquela máquina para ele ficar respirando. Aquilo não pode ter nos postos de saúde para as pessoas levarem para casa e depois devolverem? A gente não pode comprar aquele negócio de facilitar a respiração, de tomar oxigênio, a gente não pode fazer isso na UBS. A pessoa levar para casa, assina um papel, quando parar o uso devolve.
Marcos Uchôa: Em uma crise, não é?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Em crise de asma e medicamento para asma também está no Farmácia Popular, mas, sem dúvida, facilitar.
Presidente Lula: A vida das pessoas. Porque não tem sentido, às vezes as pessoas pegam um ônibus, andam horas, horas e horas. Quem está na capital, tudo bem, mas quem está em uma cidade do interior, quem trabalha em uma fazenda, quem trabalha afastado, ter que sair de casa para ir em uma farmácia. E às vezes não ter o dinheiro para comprar.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Com certeza, presidente. Eu acho que também é muito importante que as Unidades Básicas de Saúde estejam mais perto da população. E isso nós estamos ampliando, esse ano ampliamos, vamos continuar a ampliar. Também havia muitas unidades sem nenhum apoio do Governo Federal, esperando a quatro anos, um processo que chama habilitação. O Governo Federal reconhecer aquele serviço e dar um aporte, as prefeituras, as cidades no Brasil com muita dificuldade. Mas nós temos que fazer a saúde mais perto da população. Presidente, eu queria aproveitar e dizer que nós também incorporamos vários medicamentos novos esse ano. Para HIV/AIDS, fizemos isso também para doenças infecciosas, para doenças raras. Então, nós estamos avançando nisso, que é a atenção farmacêutica, ampliando, fazendo com que os melhores medicamentos possam chegar também à população. O Farmácia Popular é parte dessa assistência farmacêutica. E falando nisso, o senhor sabe, o Brasil tem um gasto muito grande, o SUS, com importações, na Saúde só 25 bilhões, que é o déficit da balança. E desde o seu Governo iniciou-se um processo para que nós tenhamos autonomia nessa produção. Então isso é uma outra agenda que nós retomamos com força agora nessa gestão, unindo setor público e setor privado em parcerias para melhorar essa condição e para que a gente possa ter esses medicamentos, vacinas, equipamentos médicos produzidos no Brasil. Isso também é parte do SUS, nem sempre é visto, mas isso é fundamental para que o SUS seja sustentável também. Que a gente garanta esse acesso de saúde.
Marcos Uchôa: E o próprio SUS, não é? Porque na verdade a gente sabe que você vai em uma farmácia e gasta um dinheirão. E grande parte porque tudo é importado, que a gente pode fazer aqui no Brasil.
Presidente Lula: O que é importante, Uchôa, é que tem que todo santo dia falar, porque se não falar as pessoas não sabem, se as pessoas não sabem as pessoas não usam. Então, Nísia, é muito importante. Eu morava em uma rua em São Bernardo, que tinha cinco “Aqui tem Farmácia Popular”, daquelas que era na farmácia que as pessoas compravam e só pagavam 10%. Você acredita que as pessoas que trabalhavam comigo não sabiam que aquela placa vermelha “Aqui tem Farmácia Popular” era uma coisa feita pelo Governo Federal que dava desconto de remédio? O cara que trabalhava comigo não sabia. Então todo santo dia a gente tem que falar, todo santo dia tem que divulgar. Se tem doenças especiais que tem remédios que custam mais caro, a gente tem que dizer para as pessoas: “Olha, tal remédio pode ser pego de graça”, para as pessoas poderem saber. Agora deixa eu emendar uma outra pergunta para você, e se eu perguntasse para você o que já foi feito esse ano para a saúde da mulher?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Importantíssimo, presidente. Nós fizemos esse ano coisas importantes para a saúde da mulher, no próprio Farmácia Popular, a inclusão de medicamento gratuito para osteoporose, anticoncepcionais também. Além disso, nós estamos para lançar com o senhor uma revisão de toda a área da saúde materna, porque isso piorou na pandemia. O Brasil tem alto índice de mortalidade materna e isso nós vamos trabalhar desde o pré-natal até toda a parte também da atenção hospitalar com o cuidado com essas mulheres. E a saúde da mulher também depende de toda uma promoção da saúde, de acolhimento, não só nas unidades de saúde. Então, há toda uma ação voltada, desde a saúde reprodutiva, saúde mental. As mulheres, como o senhor sabe, são as maiores vítimas de violência na nossa sociedade. Então, por isso, nós temos que ter essa visão integral da saúde. E eu também queria dizer, presidente, que à medida que melhorem as condições de emprego e da economia nós vamos ter melhor saúde para as mulheres e para toda a população. Saúde não é só ausência de doença.
Marcos Uchôa: Saúde é comida também.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Saúde é alimento, é comer bem, é viver bem, com mais segurança, com mais apoio, com mais acolhimento, com mais solidariedade.
Marcos Uchôa: Nísia, um tema que é novo, que eu acho que você é muito preocupada, que é saúde mental. Que é um problema que ficou muito forte durante a pandemia, as pessoas notaram isso, descobriram até em esporte, teve atletas que falaram em saúde mental, onde isso não existia no passado. É difícil, a quantidade de gente com ansiedade, com depressão. É um fenômeno muito sério. Mas como não é visualmente, não é que nem um braço quebrado que a pessoa fica com um gesso. Um problema na cabeça é uma coisa que às vezes a pessoa esquece ou não é tratado. Como é que a gente ajuda isso?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Até, Uchôa, nesse momento nós estamos com a 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental. Exatamente nesse momento. Ontem eu fui à abertura. A saúde mental ela precisa ser vista com uma visão também integral de cuidado. Nós precisamos ver que a nossa sociedade hoje é muito marcada por individualismo, por pressão material, por competição. Isso tudo leva a sofrimento mental. Principalmente o isolamento. Tem uma promoção da saúde mental que tem que ser política de todo o Governo nessa linha do cuidado. Mas aquelas pessoas em sofrimento maior, que precisam de um atendimento, o que o Governo está fazendo é o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial. Nós temos Centros, presidente, de Atenção Psicossocial que foram totalmente abandonados também no Governo anterior e que nós estamos investindo recursos e isso também está no PAC. Proporcionalmente, foi a demanda maior dos municípios, para ver como que esse problema é importante.
Marcos Uchôa: Pegou, não é?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Pegou. Não em números de estabelecimentos, mas na procura por isso.
Marcos Uchôa: E nisso, eu acho que a parte que o presidente falou de informação é muito importante porque você conversa com uma pessoa pobre e a ideia de fazer terapia, coisa psicológica, a pessoa não conhece, acha que “Ah, é maluco”, não é maluco, e são as pessoas que mais tem razão para terem problemas, porque a pobreza explode na cabeça. A violência, o crime, tudo isso.
Presidente Lula: Uma coisa que me incomoda, Nísia, é o seguinte. É que nós fazemos o lançamento de um programa de saúde lá no Palácio. Eu não sei o que acontece depois que a gente lança. Eu não sei o que acontece. Eu não sei qual é o caminho que isso toma, porque, ao anunciar um programa, eu sei que leva um tempo para ele entrar em vigor, porque precisa arrumar um monte de coisa. A minha dúvida é o seguinte: quando é que a gente vai comunicar para as pessoas para elas saberem? Porque as pessoas não sabem. Muitas vezes as pessoas não sabem, nem os agentes de saúde, nem os agentes de saúde bucal, porque na verdade é o Governo Federal que paga o salário, mas quem contrata é o prefeito. E não há um contrato entre o Governo Federal e essa gente nova que é contratada. Como é que a gente passa informação para essa gente? Como é que eles sabem que estão subordinados ao Ministério da Saúde, que a orientação é do Ministério da Saúde?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Esse é um desafio permanente, presidente, porque tem um lado bom do SUS, que é estar capilarizado em estados e municípios. Aliás, devo dizer ao senhor que nós também recuperamos essa relação com estados e municípios. Os municípios estavam se virando para tudo. Os municípios hoje gastam muito, uns 40% do seu recurso com saúde, como o senhor sabe. Então tenho trabalhado também com a Frente dos Prefeitos, além do Conselho Municipal de Saúde. Nós temos que melhorar essa comunicação e eu acho que nós temos que fazer isso, usando todos os meios que nós temos de mídia, de redes, mas também um contato direto com todos esses profissionais de saúde. Nós estamos com muitos programas na área de trabalhadores da saúde. Hoje mesmo vamos ter a formatura dos agentes comunitários de saúde. Quando eu sair daqui desse encontro nosso eu vou para lá, para essa formatura. Haverá uma nova turma, porque nem todos puderam ser atingidos por esse curso, é um curso junto com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde. E ali, em outras iniciativas, nós temos que organizar mensagens diretas. Diretas para todos esses trabalhadores da saúde. Nós estamos na área de saúde digital com aplicativos para estar em contato permanente com esse grupo, passando as mensagens de saúde, até porque nós temos que trabalhar com uma visão só. As mensagens do Governo Federal precisam passar para essa população, as pessoas saberem.
Presidente Lula: Isso eu acho que é sagrado. Ao tomar uma decisão, a ministra da Saúde precisa automaticamente se comunicar com todos os agentes que a gente tem espalhados pelo Brasil, diretamente com eles, para que não tenham intermediário entre a ação do Ministério com a ação das pessoas. Porque nem sempre a pessoa que recebe a informação vai passar corretamente. Então, é importante que nós criemos um sistema em que o Governo Federal, ao tomar uma atitude nova na área da saúde, todo mundo receba automaticamente essa mensagem para poder funcionar.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Com certeza, presidente. Além da mensagem, com esses processos de formação, e o SUS tem muitos recursos para isso, recurso que eu digo organização, não é só financeiro, nós vamos poder estar formando com os valores da saúde importantes. Então, vou dar muita atenção a esse curso. Para o senhor ter uma ideia, na nova turma são 180 mil pessoas em todo o Brasil. Então isso é uma potência, vamos trabalhar junto com os municípios.
Marcos Uchôa: O que faz esse agente de saúde? Ele vai a campo ou ele fica parado esperando a pessoa chegar. Como é o trabalho dessa pessoa?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: Ele é fundamental em várias frentes. Então ele vai a campo, ele verifica novos problemas de saúde que surgem, ele também verifica pessoas que não se vacinaram, para que tenha a carteira de vacinação em dia. Então, ele faz uma ponte entre a unidade de saúde e a população. O Brasil é visto como um exemplo nisso. É isso que ele faz. E é alguém da comunidade. Para você ter uma ideia, nós temos agentes comunitários de saúde indígena, que entendem, então, fazem parte da mesma cultura. E nós temos os agentes de endemias, que é aquele que vai à nossa casa e verifica se tem mosquito, criadouro de mosquito. Nós estamos agora, inclusive, com toda uma campanha em relação à Dengue, Zika e Chikungunya, que são grandes ameaças no verão. Em todo o Brasil nós estamos com essa mensagem. E esses agentes são muito importantes porque eles vão à casa das pessoas e podem, nesse sentido, ajudar nesse controle. Então, assim, eu acho que o SUS, presidente, ele tem uma coisa muito importante que é a capilaridade. Mas nós precisamos dar uma organização integral a toda essa saúde. Para o senhor ter uma ideia também do tamanho do sistema, nós vimos, fizemos levantamento, nós temos cerca, exames, consultas, sempre que é uma preocupação do senhor, essa fila, os especialistas, que nós vamos também juntos lançar um programa para mais acesso a esses especialistas, nós temos um funcionamento que nós temos 1 bilhão de procedimentos registrados no nosso sistema. Cinco vezes o tamanho da nossa população. Mas isso não quer dizer um bom atendimento, porque muitas vezes são demandas repetidas. O que nós queremos fazer, presidente, essa nossa meta? A gente fala “Saúde para todos”, tem que ser “Saúde de qualidade para todos”. Então com a saúde digital que já apresentamos ao senhor, acompanhar todo aquele percurso do cidadão, da cidadã pelo SUS. Ele foi à atenção primária, ele precisa de mais um exame, esse exame foi feito, o acesso à especialista naquelas áreas mais remotas.
Marcos Uchôa: A pessoa pega o CPF dela ali tem toda história ali dela, não é?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: O uso da telessaúde em apoio, mas sempre com a atenção primária organizando isso. Hoje nós temos recursos tecnológicos de comunicação para ajudar que esse cuidado seja melhor. E é isso que nós vamos fazer, presidente.
Presidente Lula: E o Samu, Nísia?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: O Samu, o senhor sabe que, até tem que falar isso, eu nunca tinha feito entrega de ambulâncias. Já fiz de vacinas, mas de ambulância nunca. E é uma emoção porque as prefeituras estão, de fato, esperando a renovação de uma frota que a dez anos não tinha essa reposição. Então, esse ano nós já fizemos uma entrega, temos feito uma entrega importantíssima. Vou só olhar aqui os números para não errar, que eu acho muito importante.
Presidente Lula: Eu vou daqui. A informação que eu tenho é que até em 2023, nós já distribuimos 239 ambulâncias, 18 estados, com o novo PAC serão mais 850 ambulâncias, 10 centrais de regulação, com investimento de mais R$ 400 milhões até 2026. O que é importante que o pessoal saiba é que o Samu, quando foi inventado, o primeiro teste que nós fizemos é a capacidade de salvar vidas, porque entre você pegar a pessoa que sofreu o acidente, chegar no hospital, esperando um táxi, um Uber, caminhão, ônibus, levava horas. Agora você caiu para 20 minutos, 25 minutos. Então a condição de salvar vidas aumentou muito. Foi um dos programas que eu mais fiquei emocionado, foi também entregar ambulâncias para as prefeituras. E você sabe que teve prefeitura que não utilizava porque não gostava do Governo e o governo do Rio de Janeiro mesmo ficou quase que oito meses com a ambulância sem utilizar. É importante Nísia que a gente tenha em conta o seguinte. Nós vamos terminar o nosso programa, mas eu queria que você soubesse o seguinte. A saúde ela é uma coisa que está no dia a dia do nosso povo. O povo, por mais que a gente fizer, por mais que a gente contratar médicos, por mais que a gente criar programas, pode ter certeza que o povo vai estar sempre exigindo mais, sempre precisando de mais. Porque tem muitas inovações, tem muitas revoluções científicas que o povo precisa modernizar o atendimento deles. Eu, quando brigo com a Nísia sobre especialistas, brigar é uma forma simpática de dizer que eu converso com ela, que é uma pessoa que eu respeito muito, é porque o povo pobre ele vai no médico e o médico pede para ele passar no oftalmologista, no otorrino, e aí ele espera nove meses, dez meses, fica com a receita em casa e não consegue chegar porque não tem. Então o que eu quero é que a gente faça um convênio, o SUS precisa de mais recursos, para que a gente possa a pessoa ao sair do atendimento básico e tiver que procurar um especialista, que ele vá aonde ele quiser, na rua dele, no bairro dele, na cidade dele, que não precise ficar esperando dez, onze meses, porque às vezes a morte chega primeiro do que a cura.
Ministra da Saúde, Nísia Trindade: O senhor tem toda razão. Isso precisa ser feito. Agora, por isso que eu falei para o senhor, a gente tem que cuidar. E isso não é feito nem no sistema público nem no privado. Isso é um grande desafio, cuidar de todo esse processo, que a pessoa seja cuidada na atenção primária, se precisa do exame que seja feito no tempo certo. O grande desafio são esses exames. Mais do que, se tiver que fazer uma cirurgia, algo assim, não é o tempo maior de espera. Então, nós vamos fazer isso. Presidente, isso leva um tempo, mas nós, com certeza, vamos avançar nisso e estamos trabalhando para fazer isso, como eu disse, de uma maneira a integrar todo o SUS. Que não seja de forma separada, o que é atenção primária, o que é atenção especializada, que a população se sinta cuidada e seja, efetivamente, cuidada como precisa.
Presidente Lula: Olha, é só Uchôa, dizer para o povo brasileiro que, o povo pode ter certeza que, ao terminar o nosso mandato, dia 31 de dezembro de 2026, a saúde vai estar em muito melhores condições do que está agora. Porque esse primeiro ano foi um processo de reconstrução das coisas que tinham sido desmontadas, das coisas que não estavam funcionando. Você vê que, no Governo passado, teve vários médicos ministros da Saúde, tinha alguns que nem entendia de nada. Não é que não era médico, é que não entendia de nada. Então, nós trouxemos uma equipe especializada, coordenada pela Nísia. Ela tem um compromisso histórico com o povo brasileiro e nós temos certeza que nós vamos integrar a saúde em um estágio muito avançado, muito melhor para o povo brasileiro. Tudo que nós queremos é que o povo, ao precisar de um médico, tenha um médico, ao precisar de um remédio, tenha remédio. Porque o povo com saúde aumenta a produção do país, aumenta a alegria do povo e aumenta, aquilo que nós sabemos fazer, que é um povo festivo, um povo que gosta de ser alegre, que gosta de coisa boa. Eu tenho certeza, companheiros e companheiras, que a Nísia vai terminar o mandato dela fazendo uma gestão exemplar no Ministério da Saúde. Eu confio nela, tenho certeza que as coisas que estão fazendo agora, que já foram anunciadas, vão começar a aparecer agora em 2024, e a cada vez nós vamos apresentar coisa nova porque o Brasil merece o melhor. E o SUS é um instrumento precioso para a gente poder garantir saúde para o povo brasileiro. Um abraço para vocês e até o nosso próximo Conversa com o Presidente.