Entrevista do presidente Lula às rádios Sociedade e Metrópole, da Bahia
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Então, eu quero abrir essa entrevista dizendo que você vai ter esses dois entrevistadores. Dizer da nossa imensa alegria de ver que Sua Excelência já está recuperada e escolheu a Bahia, que é a terra que nunca lhe negou nada, para fazer sua primeira viagem amanhã. Então, presidente, deixe logo, para a gente ganhar tempo, lhe fazer a primeira pergunta, e Silvana Oliveira fará a segunda.
Presidente Luiz Inácio, a gente vê coisas muito estranhas acontecendo no mundo e no Brasil também. Há poucos dias saiu uma pesquisa Quaest, que mostrava uma queda na sua popularidade. Passados alguns dias, essa mesma empresa, que eu reputo como séria, eu não estou debochando dela, de jeito nenhum, publica uma pesquisa em que Lula está imbatível como candidato à presidência.
Com o porém: bem abaixo da sua popularidade, da sua vontade dos eleitores te elegerem, aparecem duas figuras, Gusttavo Lima e Pablo Marçal. Aí a primeira pergunta, Lula, é a seguinte: você acha que está havendo uma mudança tão grande, tão grande, que os eleitores agora estão topando qualquer caminho? Como lá em São Paulo, quase Pablo Marçal vai para o segundo turno. Como é que você vê isso, querido presidente Luiz Inácio?
Presidente Lula: Meu querido Mário Kertész. É um prazer imenso, uma alegria poder conversar com você e com os ouvintes da Rádio Metrópole. Minha querida companheira Silvana Oliveira, é mais que emocional a gente fazer uma entrevista com você. E eu poderia, Mário, ousar dizer o seguinte: possivelmente, eu esteja fazendo uma entrevista com as duas figuras mais importantes do jornalismo baiano, sem demérito a nenhum outro jornalista baiano.
Olha, Mário, há um problema que é o seguinte: primeiro, é muito distante do processo eleitoral para você ficar discutindo pesquisa, se você vai ganhar, se você é presidente, se você é rejeitado, se você é aceito.
Veja, nós temos que dar tempo ao tempo, porque a pesquisa de verdade começa a fazer efeito a partir do momento em que a campanha começa, que as pessoas vão para a rua, que vão para a televisão, vão fazer debates. O restante é apenas estatística que a gente tem que respeitar, mas a gente não pode levar tão a sério, nem quando você ganha, nem quando você perde. Você tem que trabalhar.
O que é importante é que nós estamos vivendo um momento muito complicado na humanidade. A democracia está perdendo respeito para o extremismo. A democracia está perdendo espaço para o nazismo, para o fascismo, para as pessoas mais extremistas e muito irresponsáveis, porque as pessoas não falam nada com nada, as pessoas só sabem desacatar, ofender, xingar as instituições, quando, na verdade, as pessoas não têm sequer nenhum passado, nenhum presente que possa dizer que essas pessoas fizeram alguma coisa que a sociedade possa acreditar. É o negacionismo elevado à quinta potência.
E isso é uma coisa que nós vamos ter que destruir, porque não existe possibilidade de você ter um governo que atenda aos interesses da sociedade brasileira e da sociedade de qualquer país do mundo, se a gente não tiver um regime democrático. Um regime com o Executivo funcionando corretamente, o Legislativo funcionando corretamente, as instituições funcionando corretamente, a Suprema Corte e o Poder Judiciário funcionando. É o funcionamento dessas instituições fortes que dá certeza da garantia da democracia.
Ora, eu penso que, como nós estamos numa fase do negacionismo, onde negar tudo é mais importante do que afirmar as coisas boas que podem acontecer, a gente tem que saber que a gente vai ter que trabalhar muito e vai ter que trabalhar muito.
Eu estou com a minha consciência tranquila para dizer para você o seguinte, Mário. Primeiro, toda vez que eu falo com a Bahia, eu tenho certeza que eu estou falando com o estado que, em algum momento da encarnação, eu já morei na Bahia, já nasci na Bahia, em algum momento. Porque não é possível tanto o carinho que eu tenho pelo povo baiano, quanto o carinho que o povo baiano tem por mim.
A segunda coisa é que nós estamos num processo de colheita de uma plantação que nós fizemos. Nós chegamos no governo em 2023, nós tivemos que reconstruir esse país, reconstruir ministério, reconstruir as instituições, departamento que não funcionava, coisa que já não tinha mais ninguém. Ministério que não existia, nós tivemos que reconstruir. Só para você saber, nós começamos a governar com a PEC da Transição porque o orçamento que estava previsto para 2023 nem dava para a gente governar, sequer pagava a dívida do outro cidadão que era presidente da República.
Então, nós tivemos que construir a PEC, depois o arcabouço fiscal, depois a política tributária, e plantando tudo que a gente queria para atender o povo. Cuidando do povo trabalhador, cuidando do povo mais pobre, cuidando das pessoas da periferia, cuidando da classe média, cuidando da educação, cuidando da saúde, ou seja, lançando novos programas.
E é, por isso, que eu digo para você: 2025 é o ano da colheita. A gente está começando a colher aquilo que a gente plantou. E eu vou para a Paramirim (BA) começar a colher coisas que nós plantamos, um investimento de praticamente R$597 milhões para que a gente cuide de fazer com que as pessoas tenham água para beber. Só para você ter ideia, na Bahia eu vou fazer um monte de assinaturas de contratos, o PAC da Bahia prevê R$97 bilhões para a Bahia, dos quais R$24,6 bilhões já foram colocados em prática.
Então, eu poderia dizer para vocês, quando eu vejo uma pesquisa, que ela seja boa, seja ruim ou que seja média, eu poderia dizer para vocês: ninguém é candidato com tanto tempo de antecedência. As pessoas colocam o seu nome, as pessoas, dependendo da sua fama, dependendo do seu grau de participação, ela aparece mais ou aparece menos. Mas na hora que o povo tem que votar para governar o país, o povo não é bobo. O povo vota naquela pessoa que ele sabe que vai cuidar dos interesses dele.
É por isso que eu estou consciente disso, de que as eleições estão muito longe. É muito difícil ficar agora lançando nomes. É muito difícil ficar fazendo perspectiva de quem vai ganhar ou de quem vai perder, porque a gente só vai saber quando o time entrar em campo. A única coisa que eu quero dizer para vocês é o seguinte: se depender de mim, o negacionismo nunca mais governa esse país. Se depender de mim, o fascismo não volta. Se depender de mim, o nazismo não volta.
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Presidente Lula, avisa o pessoal seu aí, que seu áudio ficou mais baixo. Agora então, enquanto corrige aí, Silvana Oliveira vai fazer uma pergunta a você, Lula. Vamos lá, Silvana. Vamos ver se já consertaram o áudio.
Silvana Oliveira (Rádio Sociedade): Bom dia, Mário. Primeiro, quero falar do prazer de estar aqui ancorando essa entrevista com você. Presidente Lula, muito bom dia. Obrigada por falar para os baianos. Presidente, eu o entrevistei em 2 de julho do ano passado, há mais de seis meses. O cenário era: Campos Neto à frente do Banco Central, o dólar em alta, o mercado nervoso e o preço da carne alto. Hoje, o cenário é o Galípolo [Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central], que foi indicado pelo senhor à frente do Banco Central. O dólar teve alta, mas caiu. Teve uma alta ontem, mas foi muito pequena. No entanto, o preço da carne continua alto e doendo no bolso dos baianos.
Eu recebi uma série de perguntas sobre quando é que nós teremos dias de glória, presidente. Porque além da carne, café e outros itens, que fazem parte da cesta básica do brasileiro, também estão custando muito caro. O senhor tem dito que tem se encontrado com representantes de vários segmentos dessa área alimentícia, e eu gostaria de saber, na prática, efetivamente, o que é que o Governo Federal pode fazer para reduzir os preços dos alimentos nesse momento?
Presidente Lula: Olha, Silvana, esse é um problema que me persegue desde que eu trabalhava no chão de uma fábrica. Porque toda vez que a inflação cresce, que o alimento cresce, o trabalhador, que é aquele que vive de salário, é aquele que paga um preço muito alto. E por que eu estou preocupado? Eu estou preocupado porque, na medida em que a gente aumenta o salário mínimo acima da inflação, na medida em que a gente aumenta a massa salarial dos trabalhadores, nós precisamos compensar com uma redução do preço dos alimentos.
Nós temos uma inflação, que se você comparar a inflação desses dois anos de 7,6% do meu governo, comparada com os dois primeiros anos do Bolsonaro, que foi de 27,4%. Se você comparar a inflação dos últimos dois anos do Bolsonaro, foram 22%. A minha, em dois anos, é de apenas 7,6%.
Olha, e nós estamos trabalhando, conversando com empresários, utilizando muito a competência da Fazenda [Ministério da Fazenda], a competência do ministério da Agricultura, do ministério do Desenvolvimento Agrário para que a gente encontre uma solução como reduzir o preço. O problema sério é o seguinte: nós tivemos um aumento do dólar, porque a gente teve um Banco Central totalmente irresponsável, que deixou uma arapuca que a gente não pode desmontar de uma hora para outra. Eu disse outro dia que a gente não pode dar um cavalo de pau num navio do tamanho do Brasil. É preciso que a gente tenha juízo, faça as coisas com cuidado, porque um cavalo de pau no mar revolto, a gente pode tombar o navio.
A segunda coisa é que nós abrimos, preste atenção, Silvana, nós abrimos 303 novos mercados para os produtos brasileiros, e quase todos os produtos de alimento. Significa que o Brasil virou, verdadeiramente, o celeiro do mundo. Significa que as pessoas estão comprando muito no Brasil. Significa que nós precisamos produzir mais, melhorar a qualidade, para que a gente possa baratear o preço.
Eu não posso fazer congelamento, eu não posso colocar fiscal para ir a fazendas ver se o gado está guardado ou não. O que nós precisamos é chamar os empresários, conversar com todo o setor e ver o que a gente pode fazer para garantir que a cesta básica do povo brasileiro caiba dentro do seu orçamento com uma certa flexibilidade. Na política tributária, a gente desonerou toda a cesta básica, inclusive a carne, porque eu sei o que é o preço dessas coisas para quem trabalha e vive de salário. Eu só poderia dizer para você, Silvana, nós estamos trabalhando com muito afinco.
Ainda ontem eu fiz uma reunião com o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], com o Rui Costa [ministro da Casa Civil], a semana que vem vou ter uma reunião com os produtores de carne nesse país, vou ter com os produtores de arroz, ou seja, vou ter com todo os segmentos para saber como é que a gente faz para fazer com que os preços sejam compatíveis com a necessidade de compra do povo brasileiro. Essa é uma perseguição que eu faço. Isso não é programa de governo, é quase que uma profissão de fé.
Eu vou atrás disso, porque eu já vivi no mundo da fábrica. Quando eu recebia o salário e a inflação era de 80% ao mês, eu tinha que correr em um atacadista para comprar até coisa que eu não ia precisar para poder não perder, que o salário fosse desvalorizado.
Então, comida barata na mesa do trabalhador é uma coisa que nós estamos perseguindo. E eu tenho toda a certeza do mundo que, da mesma forma que nós fizemos isso no primeiro ano, nós vamos fazer isso daqui para frente. E eu acho que o aumento do dólar começa a mostrar que as loucuras que estavam sendo feitas nos Estados Unidos, a campanha, os discursos, aquelas coisas malucas, ou seja, contribuíram muito para o dólar crescer e ele agora começa a se ajustar. Eu acho que o dólar se ajustando, eu acho que os produtos vão ficar mais aqui. Nós queremos fazer que o povo produza mais e com mais qualidade, por isso, estamos criando políticas de incentivo para o agronegócio, para a pequena e média propriedade brasileira. E eu estou convencido que a gente vai resolver esse problema logo, logo.
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Presidente, agora voltando aqui, o senhor falou aí, você falou uma coisa importante: a democracia está perdendo respeito para o extremismo. E isso a gente está vendo aí a partir da nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos. Quando a gente vê, se você não quiser entrar nesse assunto por questões de relações exteriores, tudo bem. Mas veja o seguinte, ontem a gente vê Donald Trump [presidente dos Estados Unidos] ao lado de Benjamin Netanyahu [primeiro-ministro de Israel]. E você sabe, eu sou judeu, eu considero ele um criminoso. Benjamin Netanyahu é um criminoso com o que ele fez, e faz até hoje, com a Faixa de Gaza, com os palestinos.
Então, vem o presidente dos Estados Unidos, eleito com uma folga que permite, folga inclusive no Congresso Americano, dizer que vai fazer ali a Riviera do Oriente Médio, e vai tirar aquela população e colocar no Egito, na Jordânia. O que é isso? E colocar os presos, americanos inclusive, em Guantánamo, os ilegais também em Guantánamo, e o ditador de El Salvador, Bukele [Nayib Bukele, presidente de El Salvador], já disse que ele construiu a maior penitenciária do mundo, está aberta para receber também quem Trump quiser.
Ora, é claro que isso tem um efeito em todo mundo, inclusive no Brasil, porque aí a pessoa que vive na insegurança, por conta da violência dos tempos que nós estamos vivendo, fica imaginando que a solução é uma coisa desse tipo, quando a gente sabe que não é. Mas como é que você vê isso, Lula?
Presidente Lula: Os Estados Unidos, a vida inteira, passou a ideia para a humanidade que era o símbolo da democracia. Passou a ideia de que os Estados Unidos eram o xerife do mundo. De repente, elege um presidente da República que faz questão de todo dia dizer uma anomalia. Ou seja, um dia ele vai ocupar o canal do Panamá, outro dia ele vai ocupar a Groenlândia, outro dia ele vai anexar o Canadá, outro dia ele vai tratar o povo palestino como se o povo palestino não fosse ninguém, ou seja, quando na verdade o que precisa fazer na Palestina é criar o Estado Palestino e dar decência àquele povo palestino que não pode ser tratado como se fosse lixo. É isso.
O que nós estamos precisando é um pouco de humanismo, é um pouco de fraternidade, é um pouco de solidariedade, é um pouco de compreensão, que somente com muita paz o mundo pode viver tranquilo. Não é possível que a gente possa dizer: “Não, nós vamos ocupar a Faixa de Gaza, vamos jogar os palestinos para qualquer lugar e vamos fazer lá o quê? Uma Riviera?” Não. O que tem que fazer na Palestina é cuidar daquele povo que merece ser cuidado como qualquer outro povo do mundo.
E você sabe que, há um ano atrás, eu disse, aquilo não era guerra, aquilo era um genocídio, porque a maioria das pessoas que morreram eram mulheres e crianças que não estavam na guerra. Então, veja, tentar normalizar essas coisas e dizer: “Olha, vamos tirar o povo palestino, vamos ocupar aquilo e fazer um lugar bonito lá”. Não. Ninguém vai fazer um lugar bonito em cima de milhares de cadáveres de mulheres e de crianças. Ninguém vai fazer. Então, é preciso que as pessoas aprendam a respeitar o ser humano.
Ora, eu, sinceramente, acho que essa anomalia que nós estamos vendo, seja nos países da América do Sul, seja na Europa, seja nos Estados Unidos, não pode continuar. É preciso voltar o bom senso, a maturidade, a responsabilidade. Você não pode governar fazendo provocação para todo mundo, todo tempo. Ninguém consegue governar.
Os Estados Unidos é um país grande, é poderoso, mas não é dono do mundo. É preciso respeitar as fronteiras de cada país. E é preciso respeitar a soberania de cada país. Então, eu sinceramente tenho dito para todo mundo aqui no Brasil: eu vou defender a democracia como a melhor forma de governança que o mundo já criou. É na democracia que a gente consegue eleger e deseleger. A gente consegue colocar e consegue tirar. A gente consegue eleger um preto e um branco. A gente consegue eleger um trabalhador e um empresário.
É na democracia que a gente tem a verdadeira alternância de poder, Mário. E é por isso que eu sou defensor da democracia em todos os momentos da minha vida e vou continuar sendo. Porque somente a democracia é que pode permitir que o mundo viva decentemente bem.
O que não pode é a gente achar que o empresário pode ser dono da comunicação do mundo e pode ficar falando mal de todo mundo a toda hora, se metendo nas eleições de cada país. Ora, cadê a soberania dos países? Cadê o respeito às decisões do povo de cada país? Então, eu digo sempre o seguinte: eu respeito a eleição do presidente Trump, ele foi eleito presidente da República pelo povo americano. Portanto, ele tem todo o meu respeito para governar os Estados Unidos, para manter relações democráticas e civilizadas com o restante do mundo.
Ele não foi eleito para mandar no mundo, ele foi eleito para governar os Estados Unidos. É essa relação que eu espero que a gente tenha, que eu acho que a gente construa, porque é isso que faz valer a pena a gente governar um país.
Silvana Oliveira (Rádio Sociedade): Presidente, o senhor está falando agora de cuidado, de cultura, de história, de complexidade, o senhor tratou do Oriente Médio, vamos vir aqui para o coração de Salvador. Ontem, a gente teve o desabamento do teto da Igreja de São Francisco, uma igreja, um dos prédios tombados aqui na nossa capital e tem um Centro Histórico, inclusive, tombado pela Unesco. Somos Patrimônio da Humanidade.
A gente sabe que o tombamento é extremamente importante, porque é o que resguarda a nossa história, o que restaura a nossa história, mas também os proprietários desses prédios, presidente, dizem que a manutenção é imensamente cara e que não há políticas públicas adequadas para que essa manutenção seja feita da forma que se deve.
O senhor acompanhou esse incidente que teve uma menina, uma jovem que foi morta ontem, cinco pessoas ficaram feridas. O senhor tem acompanhado as políticas públicas dessa questão ligada ao Patrimônio Histórico brasileiro?
Presidente Lula: Acompanhei o que aconteceu na igreja. Eu falei com a Margareth Menezes [ministra da Cultura], que está indo para a Bahia hoje para visitar a igreja. Eu falei com o presidente do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], eu fiz uma nota de solidariedade às vítimas do incidente que aconteceu na igreja. Eu sei que o Iphan teve um tempo atrás discutindo um projeto de um milhão e pouco de reais para poder tentar reconstruir. Eu ia fazer o projeto, dois dias atrás eu fiquei sabendo que o padre detectou que tinha uma rachadura no prédio, o Iphan ia lá visitar, mas não deu tempo, o prédio caiu.
Bem, o que eu acho, na verdade, Silvana, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, você tomba as coisas, mas quando você faz uma política que você tomba o patrimônio público, é preciso colocar dinheiro para manter as coisas. Ou seja, eu vejo um monte de prédio tombado na Bahia, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo, e o cidadão que fez o tombamento, que aprovou a lei na Câmara de Vereadores, de Deputados, ou seja, não coloca um orçamento para que isso seja conservado.
Você tomba e a coisa vai apodrecendo, a coisa vai envelhecendo, a coisa vai caindo. Ora, então, pra que tombar se não tem responsabilidade de cuidar? Então, quando há o tombamento de uma obra de arte em qualquer lugar, de um prédio qualquer, de uma praça qualquer, é importante que o tombamento seja acompanhado por um orçamento, para que a gente tenha certeza de que aquilo foi tombado de verdade e que aquilo vai ser mantido para a História.
Brasília, praticamente, é quase toda tombada. Eu estou querendo reconstruir a Praça dos Três Poderes, que foi desmontada no 8 de janeiro de 2023, e leva um ano e meio só para fazer um projeto. É tudo interminável, é tudo complicado.
Quando a gente tomba, que a gente está fazendo um gesto para a humanidade, que nós vamos preservar a História, vamos preservar a cultura, maravilhoso. Mas depois a gente constata que não tem dinheiro, que não foi colocado o dinheiro no orçamento. Não foi colocado o dinheiro no orçamento do Governo Federal, não foi colocado o orçamento no governo estadual, não foi colocado na prefeitura, ou seja, o tombamento deixa o prédio praticamente abandonado. Então, nós precisamos rever isso.
Nós precisamos rever isso, porque, senão, a gente vai ter muitas coisas tombadas no Brasil caindo, assim como caiu a igreja lá na França. Nós temos que ter responsabilidade ao fazer o tombamento de qualquer prédio público, de qualquer coisa que a gente queira tombar. É colocar dinheiro para que aquilo seja mantido e que tenha gente preparada para fazer manutenção.
Nós já vimos o que aconteceu com o Museu Nacional, lá no Rio de Janeiro. Ou seja, que até hoje não foi resolvido. Ainda ontem eu tive uma reunião com os bancos públicos, com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], para que a gente possa colocar um dinheiro para devolver ao povo brasileiro o Museu Nacional, que é onde a gente tem as coisas mais importantes do nosso país.
Por isso, Silvana, eu lamento pela queda da igreja, toda a minha solidariedade às pessoas que foram vítimas desse incidente e eu espero que sirva de lição para a gente não permitir...
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Até agora, o desemprego está no mais baixo nível. A inflação está apenas um pouquinho acima da meta. O crescimento econômico está bem acima do esperado. O reconhecimento internacional, até no período do seu antecessor, que não merece nem que a gente diga o nome dele, o Brasil era um pária.
Se você olhar, eu me lembro bem daquela reunião de Davos, onde os mangangões resolvem o problema do mundo, ele ficava ali tão acanhado. E me lembro também de um depoimento que você fez até em uma entrevista aqui comigo, na primeira reunião internacional, você teve que entrar e não podia nem levar nenhum assessor. Aí, você disse: “pô, peraí. Eu já fui isso, eu fui pedreiro, eu vim da pobreza e tal”. Entrou e fez o maior sucesso.
Isso dá uma dor de cotovelo na direita. E, agora, eles conseguem, com as tais fake news e com a máquina que têm digital, pegar, por exemplo, há um aumento real dos alimentos, no preço dos alimentos. O povo está sentindo, isso é real. Mas o positivo enorme, inclusive de consolidar a democracia, que esteve a ponto de desaparecer, isso vai lá no cantinho de um jornal ou de uma televisão. E aí, vamos ter regulação?
Presidente Lula: [inaudível] mal está podendo comprar menos hoje do que comprava ontem, porque houve um aumento de um produto. Isso me deixa preocupado, porque eu vivi grande parte da minha vida dentro de uma fábrica e eu sei quanto isso implica para o trabalhador, para aquelas pessoas que ganham menos.
E eu estou tentando fazer aquilo que eu acho que deva ser feito. Eu quero ver esse encontro junto com os setores produtivos desse país e com os setores atacadistas desse país, com aqueles do comércio, para ver como é que a gente encontra um jeito de equilibrar o preço para que o trabalhador possa, ao ir ao supermercado, levar para casa mais alimento do que levava ontem. Então, é um trabalho que nós estamos fazendo, e eu espero que a gente possa encontrar resultados o mais rápido possível.
Nós temos preços sazonais, nós temos preços resultados das queimadas, nós temos preços resultados da chuva. Ou seja, tudo é motivo para que você tenha um desandar da carruagem na questão de preço de alimento.
Você está lembrado que ano passado o arroz estava caro, eu tomei a decisão de importar um milhão de toneladas. Depois não foi necessário, porque os preços se acomodaram. Então, eu tenho certo que nós vamos encontrar uma solução para os preços.
É verdade, a economia vive o seu melhor momento. Nós fomos um país, um dos países que mais cresceu no mundo, quando as pessoas pensavam que o Brasil ia crescer apenas 1,7%, nós vamos crescer 3,5% ou 3,7% este ano.
Quando as pessoas pensavam que a gente ia crescer 0,8%, ano passado, a gente cresceu 3,2%. A gente, dois anos consecutivos, já deu aumento do salário mínimo acima da inflação. A massa salarial, ou seja, aquilo que é o conjunto do salário pago no país cresceu mais do que em qualquer outro momento da história. O desemprego é o menor também de qualquer outro momento da história. O que nós temos queixa de muitos empresários, setores agrícolas, setores do comércio, se queixando que tem muita vaga para trabalhadores e não consegue os trabalhadores. Então, nós vivemos esse momento.
Onde é que as coisas estão ruins? O dólar está elevado, e ele foi motivo de uma especulação contra a moeda esses dias, eu acho que ele está voltando à normalidade. A inflação está totalmente controlada, ou seja, ela pode crescer meio ponto a mais e cair meio ponto, mas ela está totalmente controlada.
Então, não há nenhum problema para que as pessoas tenham dúvida de que o Brasil vai continuar crescendo, vai continuar gerando emprego, vai continuar aumentando o salário e as pessoas vão viver melhor. E a nossa tarefa é tentar fazer com que os preços das coisas que o povo compra chegue a ser compatível com aquilo que ele ganha.
Nós temos um setor de serviço que, às vezes, a gente perde o controle porque as coisas aumentam mais, você vai contratar um pedreiro, um encanador, você vai contratar uma pessoa qualquer, muitas vezes, o preço está exagerado. Você tem, muitas vezes, produto que a produção está muito, e o pessoal, ao invés de baratear, as pessoas aumentam o preço porque as pessoas estão comprando.
Eu tenho dito sempre o seguinte nas reuniões que eu tenho feito, Mário. Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Você sabe disso. Se você vai ao supermercado em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Ora, se todo mundo tivesse a consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque senão vai estragar.
Ora, esse é um processo que a gente não precisa falar porque isso é da sabedoria do ser humano. Eu não posso comprar aquilo que eu acho que está sendo exagerado o preço. Então, eu vou deixar na prateleira, não vou comprar. Eu compro amanhã, eu compro outra coisa, eu compro o similar. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro, porque é necessário que a gente faça isso, é necessário que a gente faça.
O povo não pode ser extorquido, não pode ser extorquido. As pessoas não podem tirar proveito porque o povo está comprando. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, então, aumenta o preço. A pessoa sabe que o salário mínimo aumentou, então, aumenta o preço. Não. É preciso que se tenha responsabilidade em todos os setores da cadeia produtiva.
Ninguém pode explorar ninguém. Se todo mundo for justo, nós estamos incentivando o produtor a produzir mais. Nós temos... Isso significa que vai ter mais produto. Nós estamos incentivando que o salário aumente, isso significa que vai ter mais comprador. Tudo isso é para a gente equilibrar o preço entre o produtor, o vendedor e o consumidor. Quando a gente tiver isso, a gente vai ter certeza que tudo vai ficar maravilhoso, e a minha briga é para tentar fazer com que os preços cheguem a caber dentro do salário do povo trabalhador. Essa é a primeira coisa.
A outra coisa, Mário, que eu acho extremamente à vontade, posso dizer para você, é que nós precisamos regular essa chamada imprensa digital. Não é possível que numa imprensa escrita, numa televisão normal, o cidadão falou uma bobagem ele é punido. Tem lei para isso. E no digital não tem lei. Os caras acham que pode fazer o que quiser, provocar, xingar, incentivar a morte, incentivar a promiscuidade das pessoas e não tem nada para punir.
Não é possível que um cidadão ache que ele pode interferir na cultura da China, na cultura do Brasil, na cultura da Rússia, na cultura da Venezuela, na cultura da Argentina, que ele pode entrar em qualquer lugar e falar o que ele quiser. Não pode. Então, eu vou dizer para você uma coisa: o nosso Congresso Nacional tem responsabilidade e vai ter que colocar isso para regular. Se não for o caso, a Suprema Corte vai ter que regular, porque é preciso moralizar.
Todo mundo tem direito à liberdade de expressão, mas a liberdade de expressão não é as pessoas utilizarem esses meios de comunicação para canalhice, para fazer provocação, para mentir todo santo dia. Então, não é possível, porque isso bagunça a economia, isso bagunça o varejo, isso bagunça o mercado como um todo. É preciso que haja seriedade. Então, Mário, eu sou daqueles que defendem a regulação com a participação da sociedade, porque ninguém quer proibir a liberdade de expressão. Quanto mais liberdade de expressão, mais responsabilidade de expressão.
O cidadão que está falando na televisão, como eu estou falando com você, que estou falando no rádio, que estou falando na internet, eu tenho que ter responsabilidade. Eu tenho que respeitar quem está me ouvindo: a mulher, o homem, a criança, o adolescente, eu tenho que respeitar. Por isso, eu não posso falar bobagem irresponsável.
Silvana Oliveira (Rádio Sociedade): Presidente, seguindo aí pelo Congresso Nacional, já que o senhor tocou no Congresso, o ministro Fernando Haddad [ministro da Fazenda] esteve ontem com o Hugo Motta, presidente da Câmara, apresentando 25 medidas prioritárias para a economia do país neste ano especificamente. Entre elas está a reforma do Imposto de Renda com a isenção para quem ganha até R$5 mil. Haddad disse que já tem um modelo pronto de compensação, que não falou ontem porque ainda não tem autorização do senhor, mas que o senhor já teria aprovado. Que modelo é esse, presidente?
Presidente Lula: Silvana, é simples. Veja, eu vou dizer uma coisa para você. O que nós queremos é o seguinte: todas as pessoas, homem ou mulher, aqui no Brasil, que ganham até R$5 mil, não precisam pagar imposto de renda. Pronto. É só isso. É só isso que nós queremos.
A Fazenda e a Receita Federal acham que tem que ter uma compensação. Olha, e eles estão procurando a compensação junto às pessoas que ganham mais, junto às pessoas mais ricas. Porque você sabe que, no Brasil, quando uma empresa distribui dividendos, o cara pode receber R$5, R$7, R$8 bilhões de dividendos, ele não paga imposto de renda.
As pessoas que recebem bônus das empresas no final do ano não pagam imposto de renda. Quem ganha alto salário nesse país não paga imposto de renda. Quem paga imposto de renda é quem recebe holerite no final do mês. É isso nesse país.
Então, o que nós queremos é fazer justiça social. É fazer com que as pessoas que ganham menos paguem menos, e quem ganha mais pague mais. Uma pessoa que ganha acima de R$50 mil, acima de R$100 mil, ele tem a obrigação de pagar para que as pessoas que ganham menos não pagar.
É assim no mundo inteiro. É assim na Suécia, é assim na Alemanha, é assim na Inglaterra, é em qualquer país do mundo. Portanto, o que nós queremos é apenas fazer justiça social. As pessoas que ganham até R$5 mil não precisarão pagar Imposto de Renda.
Porque, hoje, ele paga, proporcionalmente, mais do que o rico. Porque o preço do imposto no feijão, no óleo, é igual para todo mundo. Então, nós estamos tirando o preço, a inflação, o imposto desses produtos para que o povo possa comprar mais barato, mas o rico também é beneficiado com isso. Então, é isso. Nós vamos dar entrada, nós vamos fazer a coisa funcionar nesse país.
Eu prometi isso durante a campanha, prometi durante o meu primeiro ano de mandato, estou prometendo no segundo ano, e a gente vai fazer com que a gente apresente essa proposta, e eu tenho certeza que a Câmara e o Senado aprovarão, porque todo mundo está preocupado com a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Presidente, o senhor tem dois ministros baianos. Dizem aí que pode vir até um terceiro, mas isso aí é outra história. O que eu quero saber é o seguinte: os investimentos do PAC na Bahia, comandado pelo nosso querido Rui Costa – e agora o senhor tem Sidônio [Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República] aí também, que é uma figura maravilhosa, está bem. Temos investimentos para a Bahia? Você vai anunciar alguma coisa? Vem uma gracinha aqui para a gente, Lula?
Presidente Lula: O PAC da Bahia tem investimento de R$97,2 bilhões. Só dentro do estado da Bahia são R$72 bilhões. E, até agora, nós já executamos R$24,6 bilhões no PAC da Bahia. Ora, eu acho que a Bahia é um estado que… Veja, nós temos o Jacques Wagner como líder, nós temos o Rui, chefe da Casa Civil, agora temos o Sidônio na comunicação, nós temos o Otto [senador Otto Alencar], que é um parceiro e irmão. Nós temos um conjunto de partidos que nos apoiam. Nós temos o Coronel [senador Angelo Coronel], que tem nos apoiado dentro do Senado.
Então, é o seguinte: a Bahia tem tudo, tem tudo, tem tudo. Tem gente que fala o seguinte: “a Bahia recebe mais dinheiro que outros Estados porque o Rui Costa é chefe da Casa Civil”. Não, não é verdade! O Rui Costa foi importante como sindicalista, foi importante como deputado federal, foi importante como chefe do gabinete civil do Jacques Wagner, foi importante como governador e ele é extremamente importante como ministro chefe da Casa Civil.
Então, todo mundo trabalhando pelo Brasil e pela Bahia. Eu estou dizendo que amanhã na agenda de Paramirim, nós vamos inaugurar a adutora Santa Fé, a adutora da Fé, em Bom Jesus da Lapa, que é o investimento na primeira etapa, que custou R$43,4 milhões. Depois, nós vamos autorizar a segunda etapa, que é de R$258 milhões.
Depois nós vamos assinar o programa de Água para Todos, que vai ser quase R$2 bilhões de investimento em toda a Bahia. Nós já fizemos 12 mil cisternas na Bahia, e tem tudo para acontecer na Bahia, tudo para acontecer. Você pode ficar certo que eu vou muitas vezes à Bahia esse ano, vamos inaugurar muita coisa e vamos anunciar muito mais coisa.
Só na Bahia, só para você ter ideia, na Bahia, no programa Pé-de-Meia, nós temos 411 mil jovens que iam desistir da escola. A gente criou o Pé-de-Meia para ele não desistir. A gente vai pagar R$200 por mês, durante o ano. No final do ano, vamos dar R$1 mil, se ele passar de ano. Isso, durante três anos, vai dar R$9 mil para esse jovem adolescente. Nós temos Escola de Tempo Integral, temos policlínica, ou seja, nós temos a ponte, que eu espero que saia definitivamente, a ponte que a gente vai fazer na Bahia.
E eu estou convencido de que quem tem as as pessoas que eu tenho no governo e no Congresso Nacional, da Bahia, não tem por que reclamar mais. Pode ficar certo de que a Bahia será um estado que vai ser beneficiado com o PAC como os 27 estados da Federação. Nós temos certeza do que nós estamos fazendo. O PAC todo é R$1,8 trilhão. É muita coisa.
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Agora, presidente, me diga uma coisa. No próximo ano eu vou poder trabalhar aqui com o meu trabalho para a sua reeleição?
Presidente Lula: Não posso falar isso agora, querido. Eu só posso dizer para você o seguinte: se depender de mim, se depender de mim, o negacionismo não voltará. Se depender de mim, a democracia vai derrotar o negacionismo. E, se o cidadão que foi presidente, com as bravatas que ele fala, com as mentiras que ele conta, com as provocações que ele faz, quiser ser candidato, ele sabe que eu o derrotei quando eu era oposição, e ele estava com a máquina na mão, que gastou, só para você ter ideia, deixou um déficit de 2,6% para mim. Deixou um déficit. E o nosso déficit agora foi 0,09%.
Então, se esse cidadão acha que vai voltar, ele pode tirar o cavalo da chuva, que quantas vezes ele for candidato, quantas vezes eu vou derrotá-lo.
Silvana Oliveira (Rádio Sociedade): Presidente, a gente já está encerrando a entrevista, né? Eu agradeço ao senhor por falar para os baianos. Agradeço em nome da Rádio Sociedade da Bahia, agradeço também em nome da Rádio Metrópole, as maiores e mais tradicionais rádios de jornalismo aqui do nosso estado. Encerro com a seguinte pergunta: o senhor disse que esse é um ano de entrega, né? O senhor vem para cá, para a Bahia, para fazer várias entregas e anúncios, inclusive. Eu gostaria de saber qual vai ser a marca de Lula 3? Qual a marca que o senhor quer deixar nesse terceiro mandato?
Presidente Lula: Eu quero falar com os baianos e com as baianas, Silvana. Deixa dizer uma coisa: eu tive o privilégio de ser presidente da República de 2003 a 2010. Eu tive o privilégio de fazer possivelmente o que quase ninguém fez na História desse país: cuidar do povo pobre. Eu digo sempre, Silvana, que teve dois momentos históricos desde a proclamação da República que esse país teve um presidente que cuidou do povo.
Getúlio Vargas, mesmo sendo considerado um ditador entre 1930 e 1945, foi o Getúlio Vargas que tirou os trabalhadores da semiescravidão quando criou a CLT. Foi o Getúlio Vargas que garantiu férias para os trabalhadores. Foi o Getúlio Vargas que garantiu aumento de salário mínimo para os trabalhadores. Tá? Esse foi o momento em que os trabalhadores tiveram essa ação.
E o segundo governo foi o meu. Aí, eu posso dizer para vocês, Silvana, assim olhando nos seus olhos: nunca antes na história do Brasil houve tantas políticas de inclusão social como está acontecendo agora. É o povo indígena, é o povo quilombola, são as mulheres, são os pequenos produtores rurais nas propriedades de zero a 100 hectares, nós estamos cuidando com muito carinho. O agronegócio já recebeu o orçamento que nunca recebeu na vida. A nova indústria que está crescendo, há muito tempo a gente não tinha o PIB crescendo na indústria, agora está crescendo. Nós temos várias atividades econômicas que estão crescendo.
Ontem eu tive uma reunião com os bancos brasileiros públicos. Nunca, nunca, nunca houve tanto investimento do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do BNB e do BASA. Ou seja, portanto, o crédito está crescendo e vão ter mais medidas anunciadas nos próximos dias, porque não parou por aí.
Você sabe, Silvana, que eu sou da tese do seguinte: o dinheiro tem que circular. Presta atenção numa coisa que eu vou falar, Silvana. Muito dinheiro na mão de poucos significa miséria. E pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda. E o dinheiro circulando, o comércio vai crescer, o serviço vai crescer, o salário vai crescer, o poder de compra vai crescer e o PIB vai crescer. A riqueza brasileira vai crescer e tudo vai melhorar nesse país.
Então, ao invés de a gente ficar discutindo macroeconomia, a gente tem que discutir microeconomia, porque é ela que faz a coisa acontecer. Um cidadão que pega um bilhão de dólares emprestado, nem sempre ele investe no ano seguinte. Agora, o cidadão que pega dez contos, ele vai investir. O cidadão que ganha mil reais, ele vai para o supermercado comprar o que comer. É isso que movimenta a economia, e é isso que nós estamos fazendo, sem esquecer de que também nós precisamos financiar os grandes para que a macroeconomia cresça.
Então, Silvana, eu queria dizer para você que eu estou convencido que a marca que eu vou deixar outra vez é crescimento, distribuição de renda e inclusão social. E vou dizer para você, outra vez, o presidente que mais investiu na educação; o presidente que vai cumprir a meta de que as crianças vão se alfabetizar no tempo certo, até o segundo ano da escolaridade – isso tem convênio com 100% dos prefeitos e os governadores –; um presidente que vai fazer mais escola de tempo integral; um presidente que vai fazer mais novos 100 institutos federais; que vai fazer mais investimento na universidade, recuperando as que existem e fazendo mais hospitais universitários e, sinceramente, é um presidente que vai sair desse país de cabeça erguida porque eu tenho orgulho de olhar para frente e dizer: eu cuidei do povo brasileiro, como cuidaria dos meus filhos.
É esse Brasil que eu quero deixar, essa é a marca que eu quero deixar. A marca da civilidade democrática, a marca do crescimento econômico do país, a marca do crescimento salarial do povo brasileiro, a marca do crescimento educacional e a marca do crescimento da cidadania. Porque quando nós aprovamos, Silvana, a proibição de telefone celular na escola é porque a gente quer respeitar o jovem, quer respeitar a criança, quer respeitar o professor e quer respeitar o humanismo.
Ou eu cuido do humanismo agora ou os algoritmos vencerão. E eu sou ser humano, quero ser humanista, quero ser solidário, quero ser uma pessoa que tenha paixão pelas coisas, e o algoritmo não tem. É isso que nós estamos fazendo. É assim que eu quero passar para a História do Brasil quando eu terminar o meu mandato.
Silvana Oliveira (Rádio Sociedade): Muito obrigada, presidente. Bom dia. A gente aguarda o senhor aqui, viu?
Presidente Lula: Até outro dia, se Deus quiser. Eu já falei, Mário, que, quando você tiver saudade, você me ligue, que a gente faz uma entrevista.
Mário Kertész (Rádio Metrópole): Eu vou ligar, vou ligar mesmo. Um abração, presidente. Um abração, querido Lula, grande figura deste país. Amanhã na Bahia, viu? Tchau, pessoal. Tchau, Lula.