Entrevista do presidente Lula após a abertura do Fórum Empresarial Brasil-México, na Cidade do México
Presidente Lula: Vou conversar com vocês sobre a reunião empresarial, sobre a minha conversa com o presidente Obrador [Andrés Manuel López Obrador, presidente do México], sobre o jantar com a presidenta Claudia [Sheinbaum, presidenta eleita do México]. E quando for amanhã de manhã, assim que terminar a posse, eu tenho muita coisa para falar com vocês. Muito coisa. E eu tenho interesse em falar.
Repórter: O senhor vai discutir a questão da Venezuela com a presidenta eleita? E por que o senhor não falou da Venezuela na ONU?
Presidente Lula: Eu não posso discutir com a presidenta eleita, porque ela vai tomar posse. E quando ela tomar posse, eu tenho que sair rápido para o Brasil, porque eu quero sair logo depois da posse.
Eu vou conversar com a presidenta Claudia todos os assuntos que forem necessários, quando ela for ao Rio de Janeiro, para participar do G20.
Repórter: E por que o senhor não falou da Venezuela na ONU, presidente? Muitas críticas em relação a isso.
Presidente Lula: Eu não tenho que falar da Venezuela em todo lugar.
Repórter: O senhor fez uma reunião para falar…
Presidente Lula: Eu não falo nem da Janja [Janja Lula da Silva, primeira-dama do Brasil] em todo lugar. Eu não falo da Venezuela, eu falo o que me interessa falar. O discurso que eu queria fazer era aquele, e foi muito bom o discurso. Espero que você tenha gostado.
Repórter: O senhor não considera uma crise muito urgente? Não foi uma crise muito urgente da Venezuela? O senhor não considera que é uma crise muito urgente para levar para a ONU?
Presidente Lula: Vamos ter em conta o seguinte: no momento certo, a gente vai discutir. Eu tenho muito interesse que a Venezuela volte à normalidade democrática. É um país que eu tenho boa relação. É um país que tem 1.600 quilômetros de fronteira com o Brasil. É um país que eu quero que esteja em paz. Então, eu tenho interesse. Agora, eu preciso criar as condições para a gente conversar.
Nós estamos agora com uma relação diplomática muito forte. Falo de conversar com o chanceler da Venezuela, com o chanceler da Colômbia, etc. É preciso encontrar um jeito de a gente retomar uma convivência democrática.
Inclusive, é importante que vocês não esqueçam. É que desde 2003, eu tinha 15 dias de presidência, eu criei um grupo de amigos para ajudar a Venezuela a fazer um referendo. Foi uma proposta minha na cidade de Quito, no Equador.
Então, eu tenho preocupação com a Venezuela há muito tempo. Não é de agora. Porque quanto mais em paz estiver a Venezuela, mais em paz estará a América do Sul. Porque nós queremos consagrar a América do Sul como uma zona de paz. A gente não quer guerra, a gente não quer conflito.
Agora, é importante que a gente tenha comedimento no nosso comportamento. Porque, se eu acho que a pessoa errou e eu achar que eu tenho que radicalizar para consertar esse erro, eu vou criar um caminho sem volta.
Repórter: Mas o que pode ser feito, presidente?
Presidente Lula: Eu sempre costumo deixar uma porta aberta. Então, é o seguinte: eu, amanhã, conversarei com vocês sobre tudo o que aconteceu comigo no México. Tchau.