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A Tribuna: Como foi costurado o entendimento entre União e Estado para que a publicação do edital do túnel Santos-Guarujá pudesse ocorrer nesta quinta-feira?
Presidente Lula: Para mim, a obrigação de um presidente não é entrar em queda de braço com governadores, e sim criar as condições para um bom aperto de mãos. Cada governante foi eleito democraticamente, de acordo com a vontade do eleitorado, e tem a obrigação de trabalhar por aquilo que é melhor para o povo e formar as parcerias necessárias, para além das preferências políticas e das disputas partidárias. Na minha relação com o governador Tarcísio de Freitas, esse trabalho conjunto tem sido feito. O túnel Santos-Guarujá é uma obra esperada há quase um século pela população, e está saindo do papel agora porque chegamos a uma boa fórmula: o Governo Federal e o Governo de São Paulo irão dividir em partes iguais o valor necessário para viabilizar a parceria público-privada responsável pela construção, que custará R$ 5,8 bilhões. E o resultado disso não será uma disputa de paternidade da obra – mas sim a entrega de um benefício concreto para a população. O túnel não é o único exemplo de um grande projeto de infraestrutura que vai mudar o futuro de São Paulo e que está sendo viabilizado graças a ações conjuntas como essa. O Trem Intercidades, que ligará São Paulo a Campinas, também só será viável graças a empréstimos de R$ 6,4 bilhões do BNDES para o Estado, assim como o Rodoanel Norte e a extensão da Linha 2 do metrô, na capital.
A Tribuna: Além do túnel, quais outros investimentos o Governo Federal prioriza para a Baixada Santista?
Presidente Lula: O Governo Federal está dedicando R$ 25,1 bilhões do Novo PAC para a Baixada Santista. São R$ 12,1 bilhões diretamente nos nove municípios e R$ 13 bilhões em projetos regionais. Esses investimentos vão melhorar muito a qualidade de vida da população e fortalecer ainda mais a economia da região, que há muito tempo é fundamental para todo o Brasil. Depois que retiramos o Porto de Santos da lista da privatização, ele conseguiu retomar sua capacidade de investimento e agora está reformando sua ferrovia interna e também a Avenida Perimetral. Em Cubatão, a Petrobras está modernizando a Refinaria Presidente Bernardes para que ela produza bioquerosene de aviação e diesel 100% renovável. O projeto, no valor de R$ 3,6 bilhões, vai colocar a região na vanguarda tecnológica da energia limpa e gerar 4 mil empregos, sendo ao menos 3 mil na própria Baixada Santista. Além disso, vamos construir dois novos campi do Instituto Federal de São Paulo em Santos e São Vicente, que se somarão ao campus já existente em Cubatão.
A Tribuna: Qual a expectativa do senhor quanto à relação com Câmara e Senado, sob novos comandos, para o próximo biênio? Ainda há espaço para se fazer política na relação com o Congresso ou tudo gira em torno da liberação de emendas?
Presidente Lula: Sempre há espaço para fazer política, para dialogar, para buscar resolver os problemas de nossa população. Quando o Congresso aprova uma pauta importante ou consegue dar soluções a problemas antigos de nossa população, todos ganham. Foi assim com a conquista extraordinária que tivemos no ano passado: a reforma tributária. Todo mundo concordava que nosso sistema tributário – criado na ditadura – estava penalizando os mais pobres e dificultando a vida das empresas e de quem queria investir no país. Mas foram necessários vários governos, várias legislaturas, até que o diálogo e o interesse público vencessem. A retomada dos muitos programas sociais destruídos pelo governo passado também só foi possível graças ao diálogo com o Congresso. E agora queremos trabalhar juntos em temas essenciais como a isenção do Imposto de Renda para todos que ganham até R$ 5 mil por mês. A isenção vai possibilitar que milhões de famílias da classe média tenham uma folga importante no seu orçamento ao fim do mês, possam viver melhor, realizar seus sonhos. E essa mesma folga vai beneficiar toda nossa economia, pois esse dinheiro que hoje fica retido vai circular, gerar mais consumo e mais oportunidades para quem tem ou quer abrir o seu próprio negócio.
A Tribuna: Tivemos na última semana a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 nomes. O quanto isso pode acirrar os ânimos para a disputa eleitoral de 2026 e até mesmo no dia a dia político?
Presidente Lula: Para mim, essa é uma questão que deve ser resolvida na Justiça. O ex-presidente e as outras pessoas acusadas nesse processo poderão exercer seu direito de defesa, que é algo sagrado em nossa democracia. Se os juízes entenderem que essas pessoas são inocentes, que não tentaram dar um golpe de estado, que não planejaram o assassinato de autoridades nem tentaram destruir a mesma democracia que garante julgamentos justos, elas sairão livres. Se não, cumprirão as penas que estão previstas na lei. Enquanto isso, o que cabe a nós é seguir trabalhando, pois ainda há muita coisa a fazer pelo Brasil.
Nosso PIB está crescendo acima dos 3% pelo segundo ano seguido, o desemprego nunca foi tão baixo, o Minha Casa, Minha Vida voltou e já contratou a construção de lares para cerca de 1,2 milhão de famílias. Temos o Mais Médicos de volta. Nesta semana, o Pé-de-Meia começou a fazer os pagamentos de R$ 1 mil para os alunos que passaram de ano. Além disso, anunciamos que todos os remédios do Farmácia Popular serão gratuitos. Faremos mais até 2026, expandindo o crédito para quem quer empreender, fazendo o Brasil crescer e distribuir oportunidades. Não podemos perder nosso tempo precioso com um julgamento que é de competência da Justiça – e que será muito bem conduzido por ela.
A Tribuna: Nos últimos meses, o brasileiro tem sentido demais a questão do preço dos alimentos. De forma prática, como o governo pode contribuir para que esse problema seja solucionado?
Presidente Lula: O preço dos alimentos aumentou muito do ano passado para cá, mas temos bons sinais à frente. As enchentes do Rio Grande do Sul e os incêndios no Centro-Oeste prejudicaram as nossas lavouras em 2024 e isso não vai acontecer de novo, pois teremos safra recorde de grãos, incluindo o arroz, o feijão e a soja. O dólar, que também tem influência no preço de alguns produtos, subiu muito no ano passado, mas o câmbio já está melhor. Para além desses fatores positivos, estamos emprestando os recursos para que os agricultores produzam mais alimentos, com maior qualidade e preços mais acessíveis. Junto aos distribuidores e atacadistas, estamos buscando os caminhos para que a comida não suba tanto de preço entre o campo e a cidade. Tudo isso me dá uma certeza: logo mais, a conta do mercado estará bem mais adequada.
A Tribuna: O que a polêmica envolvendo o Pix deixou de lição ao governo? Houve falha de comunicação?
Presidente Lula: Sempre falo algo que aprendi com minha mãe, a dona Lindu: a mentira voa, e a verdade engatinha. Foi isso que aconteceu no caso do Pix: nosso governo nunca cogitou cobrar um imposto ou qualquer outra taxa de quem usa o serviço, mas não demorou para inventarem uma mentira gigantesca e a espalharem a desinformação em alta velocidade por todos os cantos. Sabe quem mais perdeu com isso? As brasileiras e os brasileiros que ficaram com medo de usar o Pix. Os empreendedores que perderam suas vendas. Os trabalhadores. Quem inventou a mentira nem ligou para isso, pois seu objetivo era justamente causar confusão e trabalhar com o medo das pessoas. Foi bem parecido com o que fizeram na pandemia da covid: botaram tanto medo nas pessoas que muitas não se vacinaram, vidas foram perdidas, famílias e sonhos foram destruídos. A mentira nas redes é cruel, mas, infelizmente, sempre vai ter gente tentando ganhar com isso sempre que puder. O que vamos fazer cada vez mais agora é mostrar o que está acontecendo de verdade nesse país. Dar às pessoas a oportunidade de conhecer como conseguimos reconstruir o que essa mesma turma do ódio destruiu. Pois é só com a verdade, e com a democracia, que poderemos construir aquele futuro que todos nós sonhamos.