Entrevista do presidente Lula à Rádio Vitoriosa, em Uberlândia (MG)
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Nós falamos ao vivo e em definitivo do Aeroporto de Uberlândia, onde desembarcou, agora há pouco, o presidente Lula, que cumpre a agenda nesta tarde na cidade de Uberlândia. Presidente, primeiramente, muito bem-vindo a Uberlândia. Eu sei que o senhor é amante do rádio, já falou isso em algumas oportunidades, então, reforço as boas-vindas à Rádio Vitoriosa, mais uma vez, na FM 105.5. Muito obrigado, já de antemão, por nos atender e já estendo os cumprimentos, o abraço, do nosso diretor-presidente, o Wellington Salgado, também para o senhor que nos concede essa entrevista agora.
Presidente Lula: Ô, Mateus, primeiro, é um prazer imenso poder fazer entrevista de rádio. Você sabe que eu tenho uma preferência, porque, normalmente, a entrevista de rádio é mais verdadeira, as pessoas ficam mais desinibidas e as pessoas falam mais. Eu não sei se é a câmera que inibe as pessoas, mas no rádio é muito melhor. E depois, no rádio, eu sei que a pessoa não tem que ficar sentada para me ouvir, ela pode estar fazendo qualquer serviço e ela está ouvindo a nossa entrevista.
Eu quero aproveitar, te cumprimentar, cumprimentar o meu companheiro Wellington Salgado, o diretor dessa empresa. E quero cumprimentar os ouvintes da Rádio Vitoriosa de Uberlândia. É um prazer imenso, eu gostaria, Mateus, que a gente fizesse uma matéria, uma entrevista, a mais verdadeira possível, que você perguntasse o que quisesse, do jeito que você quiser, de futebol à nave espacial, sabe? Só não me pergunte da vida dos outros, que eu não gosto de falar mal da vida dos outros. Mas da política, me pergunte o que você quiser: da economia, de Uberlândia, de Minas Gerais, do Cruzeiro — que eu sou cruzeirense em Minas Gerais, apesar de saber que a maioria dos meus amigos são atleticanos, mas de qualquer forma, eu sou assim. Eu sou vascaíno no Rio quando a maioria é flamenguista, mas eu continuo a ser...
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Vai na contramão. Mas sempre com o time do senhor. Presidente, então vamos lá, trazendo assuntos importantes para Uberlândia, para Minas, Triângulo e para o Brasil como um todo. Vamos começar com o motivo da visita do senhor aqui a Uberlândia, para essa agenda importante. A população de Uberlândia, presidente, de toda a região, aguardou ansiosamente a entrega desse pronto-socorro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. Que a gente já sabe, a gente já falou muito bem, é uma referência para mais de 30 municípios do Triângulo, Alto Paranaíba, até de Goiás, São Paulo. Algumas pessoas procuram a universidade para ter o seu atendimento de saúde. Depois de um tempo, essa obra está sendo entregue hoje, um espetáculo, nós já vimos uma estrutura que faz uma diferença.
Como é que o senhor, representando o Governo Federal, trabalhou nesse período todo, a gente sabe que já têm mandatos anteriores focando na saúde de Uberlândia, para que o PS continue sendo referência e funcionando de maneira tranquila e ampla para atender toda a população, presidente?
Presidente Lula: Olha, esse hospital, na verdade, ele vai atender aproximadamente 2 milhões de mineiros e vizinhos de Minas Gerais. Eu encontrei, quando cheguei em 2023, na Presidência da República, muitas, muitas obras paralisadas. Chega a ser uma vergonha. Hospitais, pronto-socorro, UPAs, UBS, quase 6 mil creches paralisadas, obras de escola, de ensino fundamental. Ou seja, nós tivemos que preparar todo um processo de reconstrução, porque quando uma obra fica paralisada há muito tempo, você tem que fazer um novo estudo para saber a qualidade do concreto, se vai suportar, se vai ter que fazer um novo projeto, tem que fazer uma nova licitação, porque aquele preço está vencido. Foi uma coisa muito importante.
A gente trabalhou praticamente o primeiro ano do meu governo tentando reconstruir as coisas que estavam paralisadas. Só para você ter ideia: o almoço, a merenda escolar, há sete anos sem reajuste; o salário mínimo, há sete anos sem reajuste. Ou seja, e muitas obras. Inventaram de fazer uma tal de uma casa amarela, inventaram de fazer uma carteira profissional verde-amarela. Nada disso passou de ser publicidade barata, porque o que vale mesmo é o Minha Casa, Minha Vida. Só aqui em Uberlândia já tem mais de 9,6 mil pessoas que adquiriram casa e nós anunciamos mais 2 mil casas aqui em Uberlândia. Se precisar mais, a gente vai fazer mais, porque a casa é um direito que está na Constituição e é um dever do Estado garantir às pessoas que podem e às que não podem ter o direito à moradia.
Então, nós estamos tentando fazer aquilo que é o meu compromisso ao voltar à Presidência da República: reconstruir este país, trazer o país de volta à civilidade, fazer com que as pessoas façam democracia, façam política, sem precisar mentir, sem precisar de fake news, sem precisar ofender ninguém, mas façam política fazendo e defendendo propostas que podem ser executadas para melhorar a vida do povo. Uberlândia é uma cidade grande, é uma cidade rica. Quando a gente compara Uberlândia a outras cidades, a gente percebe que Uberlândia é uma cidade altamente desenvolvida, com muito setor de serviço, com setor de indústria, com uma boa universidade.
Então, nós precisamos saber o que é que falta em Uberlândia para a gente ajudar Uberlândia a se desenvolver. Se é o Bolsa Família, se é o Auxílio-Desemprego, se é mais Instituto Federal, se é mais hospital, se é mais UPA. Ou seja, tudo isso a gente está levando em conta, porque quando eu tomei posse, não sei se você se lembra, Mateus, em janeiro eu convoquei uma reunião com os 27 governadores de estado para fazer a seguinte pergunta aos governadores: eu quero que vocês me apresentem as obras mais importantes para o seu estado, que nós vamos colocar no PAC. E assim foi feito.
Eu nunca perguntei de que partido era o governador, nunca perguntei de que partido era o prefeito, ou seja, o que me interessa é saber que ele é governador ou é prefeito. E nós temos que fazer. E aqui no caso desse hospital, nós temos que agradecer muito, muito, aos deputados que colocaram emenda para a gente poder construir esse hospital. Portanto, a minha vinda aqui é essa, e depois, obviamente, que eu vou vir outra vez para ajudar a Dandara [Tonantzin, deputado federal] a ser a primeira mulher a ser prefeita de Uberlândia.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): A gente vai falar um pouco a respeito disso também, presidente. Você falou muito em investimentos na cidade de Uberlândia, infraestrutura em toda a nossa região. Durante os dois últimos governos, os primeiros do senhor, presidente, a gente viu avanço muito importante, em várias áreas, avanços importantes em Uberlândia, como, por exemplo, só citando uma, a duplicação da 050, a BR-050, uma ligação importante na região que Uberlândia está, essa região central do Brasil. O Anel Viário Norte também. O senhor mencionou aí o programa Minha Casa, Minha Vida, com várias casas para as pessoas na cidade, milhares de moradias entregues. Pensando nesse terceiro mandato, o senhor mais uma vez, aqui em Uberlândia, o que a gente pode esperar, o senhor já citou alguns exemplos aí, em termos de novos investimentos para a nossa região, presidente?
Presidente Lula: Olha, os investimentos dependem muito, primeiro, para uma cidade, do prefeito ter bons projetos. Eu sempre digo o seguinte: quando você tem um bom projeto, aparece o dinheiro. Quando você não tem um bom projeto, o dinheiro não aparece. Essa é uma verdade que eu tenho na minha experiência de 10 anos na Presidência da República. O que faz o dinheiro não é o discurso, é o projeto. Se o projeto for sério e for exequível, a gente vai arrumar dinheiro para ele. Se for um discurso vazio, não vai ter dinheiro.
Agora, paralelo a isso, tem a política social que nós fazemos. Por exemplo, aqui, em Uberlândia, nós temos aproximadamente 32 mil famílias recebendo o Bolsa Família. Aqui em Uberlândia, nós não tínhamos médico do Mais Médicos. Nós já colocamos 18 novos médicos aqui em Uberlândia. Aqui em Uberlândia, com a inauguração desse hospital, a gente vai aumentar a capacidade de atendimento e, mais importante, a capacidade de formação de médicos e novos profissionais da saúde. E outras coisas que a cidade precisar. E é por isso que a gente poderia dizer: só na Farmácia Popular, nós temos 94 mil pessoas que compram remédio na Farmácia Popular aqui em Uberlândia — e podem comprar muito mais.
Esses programas todos, Mateus, tinham parado, tinham deixado de funcionar, porque os programas sociais foram simplesmente extintos no governo passado e nós… Só tem sentido voltar a governar esse país, não para a gente governar para os mais ricos, que não precisam do governo, para a gente governar para as pessoas mais pobres, para os trabalhadores, para a classe média, que se mata de trabalhar, que trabalha muito e, às vezes, não tem o merecimento que precisava ter do Estado. Então é para isso que nós voltamos a governar.
Eu quero tornar esse país civilizado, eu quero que Uberlândia seja mais civilizada, mais próspera, que gere mais emprego, mais oportunidade, melhor salário para as pessoas, mais cuidado com as mulheres, mais cuidado com a família. É esse Brasil que eu quero entregar quando eu terminar o meu mandato em final de dezembro de 2026.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): O senhor mencionou em projetos, né, o apoio do governo estadual, o senhor mencionou aí uma reunião com os governadores no início desse mandato. Também mencionou projetos municipais. Como é que é a relação com Minas Gerais, eu pergunto, em relação ao estado, presidente, também falando de Uberlândia, com o Executivo local?
Presidente Lula: Olha, veja, eu tenho um jeito de funcionar na minha relação política diferente do governo passado. O governo passado só conversava com quem ele gostava. Ele passou quatro anos sem receber 90% dos governadores em Brasília. Ele, quando visitava o estado que ele não gostava, ele não comunicava ao governador, fazia as coisas sozinho, ofendia os governadores. Eu não tenho esse padrão.
Eu aqui tive relação com o Aécio [Neves, deputado federal], que era oposição a mim, de forma mais civilizada possível. Eu aqui tenho relação com o Zema [Romeu Zema, governador de Minas Gerais], eu sei que o Zema é de outro partido, eu sei que às vezes ele falava mal de mim. Até um dia eu falei com ele que era preciso parar de falar mal, porque a gente tem que trabalhar junto. Por exemplo, quando eu chamo um governador para discutir um assunto, eu não estou me preocupando se ele gosta de mim ou não. Eu não estou querendo casar, eu estou querendo apenas cuidar desse país e cuidar da cidade.
Então, nós estamos trabalhando com todos os governadores, sem distinção. E todo lugar que eu vou, Mateus, todo lugar que eu vou, eu convido um governador. Todo lugar que eu vou. Se ele não for, é problema dele, mas eu jamais deixarei de convidar um governador, jamais deixarei de convidar um prefeito, porque ele é a representação institucional da cidade. Muitos não querem ir, muitos têm medo de vaia, muitos têm medo de não sei das quantas. Eu respeito isso. Mas se me convidarem eu venho nas coisas, porque eu estou decidido a mudar o comportamento da classe política brasileira para melhor, para que o povo possa ter orgulho daqueles políticos que são eleitos. Imagina se a gente tivesse mais deputadas na qualidade da Dandara, imagina se a gente tivesse pessoas, e mais mulheres na política, porque as mulheres são maioria na sociedade, mas ainda não são [na política].
Então, por exemplo, nós agora fizemos a licitação da 381, a famosa rodovia da morte. Fomos fazer o leilão na Bolsa de São Paulo e apareceu o comprador. Portanto, agora, eu quero ter o prazer de ir lá dar o começo dessa obra, que é uma coisa extremamente importante. E isso é uma coisa que, para mim, é quase que sagrado, porque é uma obra que o povo reivindica há muitos e muitos anos.
Minas Gerais é o estado que tem mais malha rodoviária federal. E nós temos que cuidar dela. E o ministro Renan [Filho, ministro dos Transportes] tem recuperado, de forma extraordinária. Só um dado para você guardar, Mateus: nós, apenas em 2023, em apenas um ano, nós investimos mais em recuperação de rodovia do que o governo passado em quatro anos. Só para você ter uma ideia. Isso vale para financiamento, isso vale para crédito da Caixa Econômica, para crédito do Banco do Brasil, para crédito do BNDES, para política de saúde, para contratação de médicos.
Ou seja, porque esse país estava desgovernado. Esse país, sinceramente, não existia governo, porque ele só ficava dentro do Palácio da Alvorada falando mal dos outros, com o chamado gabinete do ódio. Do outro lado, o ministro da Economia só estava disposto a vender o patrimônio público e a tentar fazer dinheiro para que o presidente gastasse à toa. Então nós mudamos isso, nós estamos recuperando a Petrobrás para ser a mais importante empresa brasileira. Nós vamos fazer agora, é importante você saber, eu vou te dar em primeira mão: até o começo de outubro, a gente vai resolver a questão do acordo com a Vale para resolver o problema de Mariana e de Brumadinho.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Uma demanda antiga daquela região, não é, para o presidente?
Presidente Lula: E é uma coisa que se arrasta por dez anos, vários compromissos, várias tentativas de fazer acordo, várias decisões judiciais. E as pessoas, a Vale, não cumprem. Agora vai ter que cumprir. Aliás, a Vale está mudando a direção, eu espero que a nova direção da Vale seja mais cuidadosa, pense mais no desenvolvimento da Vale, porque a atual direção só quer saber de vender ativos, não quer saber de fazer novas pesquisas, de ter novos minerais. Então eu acho que as coisas vão mudar para melhor, inclusive aqui em Minas Gerais, com a negociação da dívida.
É importante lembrar que o Pimentel [Fernando Pimentel, ex-governador de Minas Gerais] sofreu quatro anos de governo, tendo que pagar uma dívida para a União, que não sobrava dinheiro para ele governar. Quando o atual governador ganha, o Pimentel tinha ganho na Justiça a suspensão do pagamento da dívida. E quem se beneficiou disso foi o atual governador, que não pagou a dívida durante o primeiro mandato, não está pagando durante o segundo. Agora nós estamos fazendo um acordo, eu espero que a gente comece a receber a dívida de Minas Gerais, e nós estamos fazendo um acordo, porque a gente também não quer prejudicar o estado, a gente não quer deixar o estado, sabe, não funcionando. A gente quer fazer um acordo em que a gente possa receber o atrasado, mas a gente cuidar do estado, ter dinheiro para investimento, para fazer as coisas que são necessárias do povo de Minas Gerais. E assim as coisas vão acontecer.
Você recebeu a informação em primeira mão: até o começo de outubro, a gente vai ter o acordo da Vale para resolver o problema de Mariana.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Excelente notícia para o mineiro daquela região, para o mineiro e para o brasileiro também.
Presidente Lula: E nós queremos utilizar o recurso para recuperar o que foi estragado, para cuidar do povo. Eu só não posso dizer os termos do acordo, porque só posso dizer quando ele tiver definido e assinado.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Em outubro a gente vai ter essas informações mais detalhadas?
Presidente Lula: Em outubro a gente vai ter, se Deus quiser.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Presidente, o senhor mencionou a renegociação da dívida de Minas que é uma questão que também envolve outros estados. Eu queria que você falasse um pouquinho mais como é que você vê esse processo de renegociação dos estados com a União e os impactos que isso pode ter, pensando na gestão do país, a longo prazo. Como é que você vê essa questão toda?
Presidente Lula: Olha, veja, nós temos os quatro estados mais ricos da Federação, são os estados que devem mais: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Não é prudente isso. Ou seja, em algum momento histórico, algum governador perdeu o controle da administração pública e meteu o estado num endividamento impagável. Então o que nós queremos fazer? Nós queremos fazer um acordo, nós queremos dar ao estado condições de sobrevivência com muita dignidade e dar ao Governo Federal o conforto de que todos os estados serão quites com a União, porque o dinheiro da União é dividido para ajudar os 27 estados da Federação e os quase 5,7 mil municípios desse país. E é dinheiro para investir na educação, para investir na saúde e eu acho que vai dar certo. Eu acho que vai dar certo.
É importante lembrar o trabalho muito importante do ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia. É importante lembrar o trabalho muito importante do senador Rodrigo Pacheco [presidente do Senado Federal], que tem sido um baluarte nessa tentativa de fazer a gente chegar a um acordo mais rápido. E eu estou convencido que nós vamos conseguir chegar a esse acordo. Estamos caminhando para esse acordo e certamente nós vamos ter o apoio da bancada do nosso partido, do nosso líder, o Odair [Cunha, deputado federal], dos nossos deputados, do governador, dos candidatos e dos partidos de oposição, porque o que nós queremos é fazer uma coisa boa para o estado de Minas Gerais. Afinal de contas, não tem estado mais brasileiro do que Minas Gerais, porque Minas Gerais você tem a Minas-Bahia, você tem a Minas-Rio de Janeiro, a Minas-São Paulo, a Minas-Brasília.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Minas são muitas, não é, presidente?
Presidente Lula: É, são muitas Minas e é um povo politicamente muito sábio. Eu digo sempre: se tem um povo esperto na política, são os mineiros, muito espertos. E vem da escola muito antiga, vem da escola, acho que quando o Tancredo nasceu, antes dele aprender a tomar uma mamadeira, ele teve que aprender a fazer política. E isso é um pouco da cultura de Minas, um povo que não gosta muito de brigar, um povo que gosta de fazer acordo, um povo que gosta de conversar, um povo civilizado e um povo acolhedor.
Então, eu acho importante que a gente tenha sensatez e condições de fazer com que o acordo da dívida seja benéfico à União, aos estados e aos outros estados da Federação, que tiveram prejuízo com o não pagamento da dívida dos estados que poderiam pagar mais, porque o dinheiro seria distribuído para outros estados. Então o acordo envolve todos os estados, todos os governadores estão concordando. O governo federal está fazendo apenas algumas avaliações, algumas coisas, mas certamente nós vamos concluir esse acordo o mais rápido possível.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Presidente, o senhor falou aí nos mineiros, processo eleitoral. A gente vive um ano eleitoral, as eleições municipais desse ano, e o PT apresentou três candidaturas femininas em cidades que eu diria estratégicas aqui em Minas Gerais, incluindo Uberlândia, o senhor já mencionou na nossa entrevista, a Dandara, candidata à prefeitura pelo PT aqui em Uberlândia. Eu queria perguntar para o senhor, já mencionando a Margarida [Salomão], em Juiz de Fora; e a Marília [Campos], em Contagem; que são outras duas referências, mulheres candidatas à prefeituras em Minas Gerais. A expectativa do senhor em relação ao protagonismo feminino, citando essas três candidatas que eu coloquei para o senhor, e, pensando no futuro, o que essas candidaturas podem representar para o PT nacional, pensando no Brasil como um todo.
Presidente Lula: Eu acho, Mateus, mais do que para o PT. Porque a eleição dessas mulheres pode motivar as mulheres brasileiras a entenderem que ela deve estar onde elas quiserem, que mulher não é coisa de segunda categoria, que a mulher quer participar da vida política, ela tem influência na economia, quer ter influência no mundo do trabalho e quer ter influência no mundo político.
Você imagina uma jovem como a Dandara, a vereadora mais votada aqui, com mais de 5 mil votos, você imagina depois a deputada com mais de 90 mil votos, uma coisa extraordinária. Você veja a companheira Margarida Salomão em Juiz de Fora, veja a Marília em Contagem, são pessoas estupidamente competentes. E eu acho, Mateus, que uma cidade inteligente como Uberlândia, que nunca teve a experiência de uma jovem mulher, negra, competente, inteligente, uma pessoa capaz de conversar e de fazer acordo com as pessoas, possa ser prefeita dessa cidade. Vai ser uma coisa extraordinária para Uberlândia, que vai ficar famosa no mundo inteiro.
Uma das poucas mulheres negras, jovem, no seu primeiro mandato de deputada federal, ser eleita prefeita de Uberlândia, é uma coisa consagradora. Não apenas para o PT, mas para as mulheres, para as mulheres, sobretudo, nesse momento em que as mulheres são vítimas de violência, são vítimas de feminicídio.
Porque é uma briga nossa, enquanto governo, enquanto partido, enquanto ser humano, é de convencer os homens de que mulher não nasceu para ser vítima de homem, não nasceu para apanhar. A mulher não quer viver com o homem a troco de um prato de comida, a mulher quer viver se ela gostar, se o cara for carinhoso, gentil, respeitador com ela e com a família.
Então, a eleição da Dandara significa isso, cara, significa a gente aumentar a fotografia da mulher, dar um zoom na participação política das mulheres e colocar ela na primeira página dos jornais e não no rodapé da quinta folha.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): E é interessante que nós estamos falando de cidades que são referência nas suas regiões: Uberlândia aqui no Triângulo, Juiz de Fora na Zona da Mata e Contagem na Grande BH.
Presidente Lula: São três cidades extremamente importantes, três cidades. E já tivemos Betim, já tivemos Ribeirão das Neves, ou seja, já tivemos Araçuaí, a primeira prefeita Cacá [Maria do Carmo], que eu deixei de ir na posse da Luiza Erundina [ex-prefeita de São Paulo], quando foi eleita prefeita, para ir a Araçuaí no aviãozinho Navajo, com medo. Você não sabe o que é medo daquele avião cair, rapaz, no meio daquele mato. E eu fui lá na posse da Cacá, que era uma prefeita, a primeira mulher negra, foi uma coisa extraordinária. Essas lembranças não me saem da vida. Então, deixa eu lhe contar mais uma novidade aqui em Minas Gerais. Vou lhe contar, eu estou dando muita surpresa para você e novidade.
Aqui em Minas Gerais, sabe que nós criamos o Pé-de-Meia. O Pé-de-Meia nós criamos, Mateus, porque nós descobrimos que 480 mil jovens, 480 mil meninas e meninos que estão fazendo o ensino médio, desistiram da escola para ajudar no orçamento familiar. E nós ficamos pensando, o Camilo [Santana, ministro da Educação] me trouxe a proposta, como é que será o futuro desse país se a gente permitir que quase 500 ou meio milhão de pessoas desistam da escola no ensino médio todo ano?
Então, nós resolvemos criar um programa chamado Pé-de-Meia. O que é o Pé-de-Meia? O Pé-de-Meia é uma poupança que a gente está dando para as pessoas mais pobres que estão na linha do Cad [CadÚnico, Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal] para a gente fazer com o que ele estuda.
A gente está dando R$ 200 por mês durante 10 meses. Quando chegar no final dos 10 meses, se ele tiver 80% do comparecimento e passar de ano, a gente vai depositar mais mil no nome dele. No ano seguinte, a mesma coisa, mais 10 de 200 e mais uma de mil. No terceiro ano, mais 10 de 200 e mais uma de mil. Quando terminar, se ele não gastou nada, que obviamente ele vai gastar os 200, que é para ajudar no orçamento familiar, ele vai ter R$ 9 mil.
Só aqui em Minas Gerais nós temos 321 mil pessoas no Pé-de-Meia. E aqui em Uberlândia — o que é novidade — nós vamos gastar em Minas Gerais 900 [milhões], gastar não. Educação é investimento. Nós vamos investir R$ 960 milhões por ano no Pé-de-Meia, R$ 1 bilhão quase. E aqui em Uberlândia, o número para Dandara saber, aqui nós temos 3.619 jovens recebendo o Pé-de-Meia. O que vai ser para nós uma consagração, porque quem sabe um dia alguém se lembre que uma vez na vida esse país teve um presidente que tentou evitar que os jovens desistissem da escola.
E essa minha obsessão pela escola, Mateus, é porque eu queria ter um curso universitário e por “N” razões eu não pude fazer. Fiz um curso técnico, mas não fiz universidade. Então, eu quero que todo filho de trabalhador, toda pessoa de classe média baixa, toda pessoa trabalhadora, toda pessoa, por mais pobre que seja, tenha a oportunidade de fazer um curso profissional, tenha a oportunidade de entrar em um instituto federal, tenha a oportunidade de fazer uma faculdade. É a única coisa que o Estado tem que garantir a todos os 213 milhões de habitantes: igualdade de oportunidades.
O filho do dono da fábrica vai ter que ver o empregado dele disputando com o filho dele uma vaga na universidade federal. Quando a gente chegar nesse nível, significa que o Brasil evoluiu muito. E por isso que para mim a educação é uma obsessão. Investir na educação é uma coisa sagrada, porque não tem nenhuma experiência no mundo de um país que ficou rico sem antes investir na educação. E nós queremos investir muito na educação. É por isso que eu aprovei mais 100 institutos novos, 101, porque eu fui na Paraíba agora e tive que assumir o compromisso de fazer mais um, 101 institutos federais novos.
É por isso que eu assumi o compromisso de até 2026 a gente ter 3,6 milhões de crianças no ensino em escola integral. E é por isso que nós fizemos um pacto com todos os governadores e com quase 6 mil prefeitos para que até 2030 a gente tenha mais de 80%, no mínimo 80% das crianças no ensino fundamental até a segunda série alfabetizadas, porque hoje não está.
Então, nós queremos que prefeitos, governadores e a sociedade assumam o compromisso que nós precisamos alfabetizar nossas crianças, o mais rápido possível, porque se ele aprender mais rápido, ele vai ter mais vontade de ir na escola, ele vai ter mais prazer, ele vai aprender mais e ele vai poder finalmente galgar todas as oportunidades que uma prefeitura, o governo do Estado e a União podem dar pra ele.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): O investimento na educação é base, presidente, para todas as outras coisas que inclusive nós discutimos aqui. A gente sabe que é um caminho longo, mas a gente está percebendo que estamos caminhando e estamos evoluindo nesses números e esses números que o senhor trouxe aí de Uberlândia, quase 4 mil, é muito interessante.
Presidente Lula: Mateus, deixa eu te dar um dado importante….
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Sim, pois não.
Presidente Lula: O Brasil foi praticamente o último país do mundo a ter uma universidade federal. Eu digo sempre a seguinte história: o Peru foi descoberto em 1492, o Brasil foi em 1500. O Peru em 1554 já tinha a sua primeira universidade, a Universidade de São Marcos, o Brasil só foi ter a sua primeira universidade em 1920, 420 anos depois. Tinha a Faculdade de Medicina, tinha a Faculdade de Direito em alguns estados.
Então você veja uma coisa, veja o paradoxo. Eu sou o único presidente da República que não tem diploma universitário e o Zé Alencar [José Alencar, ex-vice-presidente do Brasil] foi o único vice que não teve diploma universitário. Um empresário e um sindicalista. E nós dois já passamos para a história como o governo que mais fez universidade na história do país. São quase, acho que, 21 universidades novas e são praticamente 178 campus avançados. Em 140 anos, a elite brasileira fez 140 institutos federais.
O primeiro deles em 1909, feito pelo presidente Campos Salles, na cidade de Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro. Então, de 1909 a 2003, eles fizeram 140. Nós, em 15 anos, eu vou entregar 782 institutos federais. Na maior demonstração de que a minha obsessão é porque eu quero que o povo trabalhador tenha aquilo que eu não pude ter. Não quero que ninguém deixe de estudar porque não tinha dinheiro. O governo tem que cuidar para as pessoas estudarem.
Quando nós… Não fomos nós que criamos o Fies, o Fies existia. O Fies era um dinheiro que a Caixa Econômica emprestava para o estudante poder estudar. Acontece que quando a pessoa ia na Caixa Econômica pedir o Fies, o gerente falava: “avalista, fiador. “Quem é seu fiador?” E aí você sabe, nem pai quer ser fiador de estudantes. O pai falava: “se esse cara não pagar, como é que eu vou ficar?”
Então, qual foi a decisão que eu e o Haddad [Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, atual ministro da Fazenda] tomamos? O Estado vai ser o fiador. O Estado vai garantir que esse jovem estude, ele vai pegar o dinheiro, ele vai passar quatro anos sem pagar, depois mais quatro. Se ele for trabalhar em serviço público, ele não vai pagar mais. E aí ele começa a pagar, depois de oito anos formado, vai ser uma coisa maravilhosa dar oportunidade para as pessoas estudarem. Porque essa gente, depois de seis ou sete anos formado, é um patrimônio científico e tecnológico para esse país.
Porque o Brasil, eu quero que o Brasil continue exportando soja, quero que o Brasil continue exportando milho, quero que o Brasil continue exportando minério de ferro, mas eu quero que o Brasil exporte conhecimento e inteligência, porque é isso que é rentável. É isso que coloca o Brasil no patamar dos países desenvolvidos. E nós vamos conseguir isso, Mateus, pode ficar certo com a fé que eu tenho em Deus.
Eu, quando eu deixar a presidência desse país, eu quero que esse país esteja pronto com as famílias brasileiras vivendo mais dignamente, vivendo melhor, comendo melhor. Você está lembrado do meu discurso da campanha? Nós vamos voltar a comer uma picanhazinha e tomar uma cerveja, nós vamos voltar. E você percebe que já está acontecendo, porque essa é a razão da minha volta à presidência. É cuidar desse povo, e dentro do cuidado do povo, o povo mais humilde, o povo mais necessitado.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Presidente, eu queria também falar de economia, vamos falar um pouquinho de economia?
Presidente Lula: Estou pronto.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Um número que chamou a atenção nos últimos dias, o crescimento do PIB, e uma relação interessante entre os países do G20. O Brasil é o terceiro melhor crescimento. Como é que o senhor, enquanto presidente, junto com, claro, toda a sua equipe, pensa em estratégias para manter esse crescimento e até aumentar esse crescimento nos próximos meses?
Presidente Lula: Os meus adversários sempre dirão que eu tenho sorte. E eu, sinceramente, eu peço todo dia a Deus: me dê muita sorte, e dê sorte também para o goleiro do Corinthians. Porque se o goleiro não tiver sorte e o presidente não tiver sorte, o time está lascado e o país está lascado se o presidente não tiver sorte.
Veja, eu fico muito, muito, mas muito orgulhoso mesmo. O que está acontecendo agora, aconteceu no meu primeiro mandato, o país estava quebrado quando eu tomei posse, o Brasil devia 30 bilhões no FMI [Fundo Monetário Internacional]. O presidente Fernando Henrique Cardoso terminava o seu mandato com o ministro da Fazenda indo todo final de ano aos Estados Unidos tentar pedir ajuda para o FMI, e as pessoas não eram nem recebidas pelo FMI.
Quando eu assumi a presidência, eu resolvi que eu vou acabar com esse negócio do miserê do Brasil. Em 2005, acabei com a dívida do Brasil com o FMI, e depois emprestamos 15 bilhões de dólares para o FMI. Fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares, e eu entreguei o mandato com a economia crescendo 7,5%.
Agora vai ser a mesma coisa. “Ah, o Lula tem sorte”. Eu tenho sorte, não, eu tenho capacidade e vontade de trabalhar, e montei uma equipe extraordinária. O Haddad não é um pavão presunçoso, o Haddad é um homem sério, bem formado, comprometido com esse país, e ele trabalha sabendo que a economia não tem milagre e não tem mágica, a economia é trabalho.
Eu dizia no começo da campanha que a gente tinha quatro palavras ou cinco que eram mágicas. Primeiro, credibilidade econômica. Segundo, credibilidade política. Terceiro, credibilidade fiscal. Quarto, credibilidade jurídica. Quinta, credibilidade social. E sexto, a gente ter previsibilidade para ninguém ser pego de surpresa. É isso que dá confiança às pessoas fazerem investimento.
Em um mês, eu recebi a indústria automobilística para anunciar investimento de R$ 130 bilhões, até 2028. Depois, eu recebi o setor do aço para anunciar investimento de R$ 100 bilhões. Depois eu recebi o setor de alimentos para anunciar mais R$ 120 bilhões. Na semana passada eu recebi o setor de papel celulose para anunciar investimento de R$ 105 bilhões. Apenas cinco setores da economia, que estão crescendo porque têm consumo. Se não tiver consumo, não tem crescimento econômico.
Só para você ter noção do que eu estou falando, Mateus, quando eu deixei a Presidência da República, até 2012, quando a Dilma [Rousseff] ainda era presidenta da República, a gente vendia 3,8 milhões de carros por ano. Quando eu voltei, a gente vendia apenas 1,8 milhão, metade do que a gente vendia 15 anos atrás. E agora estamos recuperando. Tem muitos investimentos e o povo precisa, ganhando um pouco mais, o povo vai comprar carro.
Então a economia está bem, ela está crescendo, a inflação está controlada, o crédito está crescendo muito, sobretudo no BNDES, na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, no Basa, no BNB e também nos bancos particulares. Nós estamos incentivando muita pequena e média agricultura brasileira, pequena e média empresário. Nós fizemos um investimento muito grande para recuperar o estado do Rio Grande do Sul e vamos fazer agora para acabar com a seca e desmatamento na Amazônia e a queimada no Pantanal.
Então você tem o salário crescendo, o salário mínimo já dois anos seguidos que aumenta acima da inflação, você tem a massa salarial crescendo, 11,7%, é o maior crescimento das últimas décadas e você tem o menor desemprego dos últimos 10 anos. E 90% das categorias profissionais que fizeram acordo, fizeram acordo com o aumento real acima da inflação.
Então, meu caro, o que é que nós fizemos nesse país? Primeiro seriedade, segundo confiança. Terceiro, melhorar a vida do povo pobre, porque quando ele melhora, a economia melhora. Quando eu terminei o meu mandato, eu era convidado para fazer palestra e todo mundo queria saber. “Ô presidente Lula, qual é o milagre do sucesso do seu governo?” Eu falava: não tem milagre, foi colocar o pobre no orçamento da União.
Quando o pobre começa a participar da distribuição da riqueza, tudo melhora. E eu dava o seguinte exemplo: você pega R$ 10 mil, você está em uma assembleia com 100 pessoas, você pega R$ 10 mil e entrega na mão de uma pessoa só, o que que vai acontecer? Essa pessoa vai correr no banco e depositar no investimento mais rentável do banco, correto? Um sozinho vai ganhar dinheiro. Agora pega esses R$ 10 mil, divide para 100 pessoas, o que que vai acontecer? O cara vai entrar na padaria, o cara vai entrar no supermercado, o cara vai entrar numa loja, o cara vai comprar comida para a sua família e aí o dinheiro volta a circular. E quando o dinheiro circula, todo mundo ganha, todo mundo ganha.
Esse é o milagre, esse é o milagre, fazer o dinheiro girar, fazer o dinheiro girar. Então, essa é a marca do meu sucesso, é fazer com que o povo brasileiro vire consumidor, ele virando consumidor muito responsável, ele possa comprar. Quando ele compra o comércio vende, o setor de serviço cresce, o comércio gera emprego, o comércio encomenda coisa para a fábrica. A fábrica gera emprego, gera salário, contrata mais um trabalhador. Todo mundo passa a ganhar e todo mundo vai viver dignamente, bem e feliz. É esse o país que eu quero, para mim, para você e para 213 milhões de brasileiros.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Presidente, para encerrar, a gente tem um horário para cumprir. Como é que está a agenda do senhor, o senhor volta a Minas por agora, volta ainda esse ano? Eu sei que tem COP29, tem BRICS, tem Apec no Peru, tem a COP30 em Belém também, não é?
Presidente Lula: Eu tenho uma atividade muito intensa porque eu tenho, além de fazer, organizar o G20, que é uma tarefa muito grande, nós temos que fazer os BRICS ainda em Kazan, na Rússia. Nós temos que fazer a COP29 em Baku, no Azerbaijão. Nós temos que participar da Apec, pela primeira vez o Brasil está sendo convidado para ir no encontro da Apec, que é o Comércio dos Países do Pacífico com a China. Eu ainda penso em fazer uma parceria estratégica com a China para melhorar a situação de todo o povo brasileiro.
E tenho a campanha. Eu não posso participar de muita coisa, mas eu quero dizer para você uma coisa, que eu vou vir aqui fazer um comiciozinho com a Dandara, eu vou encontrar um jeito de vir a Uberlândia, fazer uma atividade. Porque para mim, uma mulher, ainda jovem e negra, disputando o espaço que sempre foi de homens brancos, e muitas vezes bem sucedido, é um motivo de orgulho para mim e para 213 milhões de brasileiros.
Por isso, meu caro, eu ainda vou voltar a Minas Gerais muitas outras vezes. Eu não estou falando apenas com relação às eleições, porque eu sou um presidente, que eu duvido que tenha um presidente que conheça mais Minas Gerais do que eu. Porque para construir o PT, para construir a CUT [Central Única dos Trabalhadores], eu tive que andar no Vale do Jequitinhonha, no Vale do Mucuri, no Vale do Aço, no Vale do Rio Doce, tive que andar no Norte de Minas, tive que ir para a Unaí, tive que ir para Teófilo Otoni.
Ou seja, eu ando esse estado há muito tempo. E a coisa que eu tenho mais saudade é que eu prometia para um balseiro, quando eu ia em Itinga, tinha um balseiro, que ele tinha um calombo aqui no peito, de fazer força com um bambu, que ele ficava empurrando a balsa. Ele tinha um calombo aqui, e eu falei para ele: olha, eu vou ganhar as eleições e eu vou construir uma ponte. Ganhei as eleições, falei com a Usiminas e falei com a Vale, fizemos a ponte. Quando eu fui inaugurar, o balseiro tinha morrido.
E aí eu queria que colocasse o nome dele na ponte, mas a Câmara de Vereadores falou para mim: “não, presidente, o nome é o seu”. E está lá a ponte Luiz Inácio, que fez com que Itinga tivesse um progresso extraordinário. Eu adoro o Vale do Jequitinhonha, eu adoro o Vale do Aço, eu adoro o Vale do Mucuri, eu adoro o Vale do Rio Doce, eu adoro o Minas Gerais. Porque eu não sei se você sabe, minha primeira mulher era de Montes Claros.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Mineira também. Presidente, muito obrigado por acompanhar essa tarde aqui a gente em Uberlândia, os ouvintes da Vitoriosa, por responder prontamente às nossas perguntas. Uma satisfação imensa de conversar com o senhor, para a gente levar informações importantes, pertinentes para o ouvinte da Rádio Vitoriosa, de Uberlândia e de todo o Triângulo Mineiro. Muito obrigado.
Presidente Lula: Olha, aqui nós estamos dizendo, eu vou fazer uma correção, antes de terminar, nos números de Uberlândia. O investimento aqui em Uberlândia. Serão R$ 3,85 milhões, e estudantes que têm direito serão 5.831. Aumentou um pouco. Nem todos estão recebendo ainda, porque é por mês que a gente vai pagando.
Eu quero aproveitar e quero que você transmita um abraço ao Wellington Salgado. Dizer para ele que eu não sou daqueles que esquece o amigo quando ele perde o mandato, não. Eu sou daqueles que amigo é amigo, para sempre, porque a gente não escolhe pai, a gente não escolhe mãe, a gente não escolhe irmão, mas a gente escolhe companheiro. E o Wellington foi um bom companheiro quando foi senador. E depois, que eu não era mais nada também, ele me ajudou muito.
Quero agradecer aos ouvintes da famosa Rádio Vitoriosa, 105.5 FM, e quero agradecer a você, Mateus, jovem, muito competente, pela qualidade das perguntas que você fez. Eu pensei que você ia me perguntar “e a presidência da Câmara?”. E eu quero também aproveitar o microfone da Vitoriosa para dizer uma coisa.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): À vontade, presidente.
Presidente Lula: O presidente Lula, o presidente do Brasil, não tem candidato a presidente da Câmara. A presidência da Câmara é da responsabilidade dos partidos políticos e dos deputados federais. A presidência do Senado é da responsabilidade dos senadores e dos partidos políticos que compõem o Senado. Ao presidente Lula, cabe a responsabilidade de tratar bem qualquer que seja o presidente, porque o presidente da Câmara e do Senado, não precisa do presidente da República. É o presidente da República que precisa deles.
Então, eu sempre tratei com respeito e é assim que eu espero que a Câmara eleja o melhor, que o Senado eleja o melhor, para que a gente tenha dois anos de governo muito, muito, muito virtuoso a partir do ano que vem. Muito obrigado, Mateus. Muito obrigado e parabéns pelo seu trabalho.
Mateus Malaquias (Rádio Vitoriosa): Eu que agradeço, presidente. Foi muito bom realmente poder conversar e levar as informações pros ouvintes da Rádio Vitoriosa.
Nós conversamos com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que segue a sua agenda em Uberlândia nesta tarde, na celebração da entrega de uma obra importante para a cidade e para toda a região. Mais uma etapa do HC de clínicas, Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia.