Entrevista do presidente Lula à Rádio Tupi FM (RJ)
Jornalista Clóvis Monteiro: 8h18 no Show do Clóvis Monteiro com a Isabele Benito e com Sidney Rezende. Falamos, a partir de agora, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, direto de Brasília. Obrigado pelo seu precioso tempo, bom dia, presidente.
Presidente Lula: Bom dia, Clóvis. É um prazer imenso fazer uma entrevista com você, com a Isabele e com o Sidney. Só avisando para a Isabele que eu não estou na Granja do Torto, eu estou no Palácio do Alvorada. O Stuckert [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual] fez aqui uma imagem atrás que é para mostrar que eu estou no Palácio do Alvorada. Vocês estão vendo aqui a arquitetura do Niemeyer.
Jornalista Isabele Benito: Mas isso não muda, presidente, uma coisa que eu tenho certeza que a gente tem em comum, independentemente de qual lugar desse país, eu sei que o seu coração é corinthiano.
Jornalista Clóvis Monteiro: Ah, meu Deus!
Jornalista Isabele Benito: Bom dia, presidente.
Jornalista Clóvis Monteiro: Ah, vou ter que falar do Botafogo, meu Deus do céu.
Presidente Lula: Eu gosto do Botafogo, gosto do Flamengo, mas eu sou vascaíno no Rio e corinthiano.
Jornalista Clóvis Monteiro: Ah, meu Deus do céu! Olha aí, a Giovana, que é vascaína símbolo aqui, está acompanhando pelo Instagram, pela internet e está mandando um beijo para o presidente. Se começar a mandar beijo aqui, já viu, né? Presidente, amanhã o senhor vai estar aqui no estado do Rio de Janeiro e tem boas novidades. Só no PAC agora desse seu terceiro governo vem muito investimento aí, não é verdade, presidente Lula?
Presidente Lula: Olha, Clóvis, o PAC do Rio de Janeiro hoje é um PAC muito grande, porque ele foi acertado com os governadores e com os prefeitos. O nosso investimento no PAC chega a R$422 bilhões. E desses R$422 bilhões, os investimentos diretos no estado são R$370 bilhões e depois nós temos mais projetos regionais de R$52 bilhões. Nós já investimos até julho, que já foi executado até julho, R$74 bilhões.
É muita coisa que nós temos que fazer no Rio de Janeiro e você sabe que eu tenho um compromisso histórico com o Rio de Janeiro. É de recuperar…
Jornalista Clóvis Monteiro: Nós estamos com um probleminha de som, de sequência de som. O meu colega está dizendo que está mexendo muito para falar, mas eu acho que não é isso. Está cortando o áudio mesmo. Está cortando o áudio mesmo. Era bom a gente ver o que é possível fazer para orientar a nossa audiência, né?
Nós estamos ao vivo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está prometendo aí, da sua pauta para esse ano ainda, o investimento milionário para o Rio de Janeiro no PAC, que é um programa que nasceu, Sidney, com o presidente investindo nesse apoio do governo à iniciativa privada, às vezes com parcerias, mas para acelerar o desenvolvimento do país, não é?
Jornalista Sidney Rezende: Ô Clóvis, o que é importantíssimo nesse programa e em outros também, que é o planejamento para a infraestrutura do país, e que demora, tá certo? Muitas vezes, perpassa governos. Então, a tomada de decisão agora, ela poderá ser de uma obra que só será concluída daqui a dez anos, mas ela precisa ser feita dentro de um planejamento de país, né? Porque nós todos passamos, não é isso? Os governos passam, mas o país permanece. Então, você tem razão.
É um investimento muito pesado e muito necessário, quando planejado, melhor ainda.
Jornalista Clóvis Monteiro: Alô, presidente. Está me ouvindo, presidente?
Presidente Lula: O Clóvis, se tiver problema de som, você avisa para a gente tentar consertar.
Jornalista Isabele Benito: Está melhor. Está maravilhoso agora.
Presidente Lula: O Stuckert está dizendo que não tem problema de som aqui.
Jornalista Clóvis Monteiro: Agora melhorou, presidente. A pergunta…
Presidente Lula: Eu estava dizendo, Clóvis, eu estava dizendo, eu queria terminar a minha primeira resposta. Mas eu estava dizendo que nós, só até julho de 2024, já executamos R$74 bilhões no Rio de Janeiro. É muito investimento em infraestrutura, equipamento de saúde, esporte e cultura, equipamento de educação, institutos federais, universidades federais, segurança, aeroportos, ferrovias, é muita coisa. Só na Serra das Araras, foi um investimento de praticamente R$11 bilhões.
E, pela primeira vez, a gente vai poder descer de carro confortavelmente para o Rio de Janeiro. E nós temos isso acertado com os governadores. É importante vocês três saberem que as obras que foram priorizadas para cada estado foi resultado de uma reunião que eu fiz com os 27 governadores em janeiro de 2023.
No meu primeiro mês de posse, eu fiz uma reunião com 27 governadores para perguntar quais são as obras prioritárias que vocês precisam para o seu estado. Porque o governo não vai decidir aqui em Brasília sem conhecer de perto os Estados. E com base na informação dos governadores, e com base na informação dos prefeitos, nós fizemos um PAC e fizemos ainda mais um PAC Seleções em que a gente sorteia as cidades que vão receber os benefícios em função da qualidade do projeto que o prefeito apresentar.
Jornalista Isabele Benito: Luiz Inácio, presidente, pode tirar essa abelha que eu estou incomodada a horas que ela está caminhando. Tirou.
Jornalista Clóvis Monteiro: Isabelle Benito falando com o presidente Lula.
Jornalista Isabele Benito: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma honra estar conversando. Estou vendo que aí está um calor, assim como aqui no Rio de Janeiro. E aqui a minha pauta, é uma pauta que eu gostaria de perguntar, já que a gente tem esse tempo privilegiado, em relação a algo, me corrija se eu estiver errada, mas que nunca diretamente a gente teve a oportunidade de falar diretamente com o senhor em relação a uma grande preocupação dos cariocas.
Numa pesquisa recente, em segundo lugar, ela ficou em relação, em primeiro lugar, à saúde. A gente tem hospitais federais, mas eu também tinha essa pergunta, mas vou direto para uma polêmica que o senhor já deve imaginar e deve receber aí. Desde a época em que existia o ministro Dino [Flávio, ex-ministro da Justiça e atual ministro do Supremo Tribunal Federal], ele chegou a visitar aqui o Rio de Janeiro em relação a esse pacto da segurança, mesmo com os opositores, mas continuam hoje os opositores falando que estão em relação isolados à segurança pública do Rio de Janeiro, que já não é mais uma questão de estado.
Eu gostaria muito de saber, em relação ao senhor, que eu sei que o senhor deve se informar muito bem, em relação à polêmica da ADPF, que tem o número 635, mas é conhecida como a ADPF das favelas. O que o senhor pensa em relação a isso, já que muitas vezes, literalmente, é empurrada essa polêmica que é você limitar o trabalho das polícias do Rio de Janeiro, já que aqui existe o problema sistêmico de guerra de facção. E o tiroteio acontece, por exemplo, nós estamos com o Juramento e Juramentinho, no quarto dia em que há madrugadas de tiroteios sem presença policial.
Qual é a sua opinião em relação a essa medida?
Presidente Lula: Olha, deixa eu te dizer uma coisa antes de falar dessa medida, Isabele. Nós temos um problema não apenas com a segurança do Rio de Janeiro, temos um problema com a segurança do Brasil. Porque em quase todos os estados da federação, você tem problemas de excesso de violência, muitas vezes excesso da própria polícia, muitas vezes falta de dinheiro ou falta de instrumentos para a polícia trabalhar.
O que nós estamos fazendo? A Constituição afirma, categoricamente, que a segurança é um problema do estado, é da responsabilidade do estado. Isso é na Constituição de 1988. O que é que nós estamos fazendo agora para que o Governo Federal possa participar ativamente do esquema de segurança em todos os estados? Nós, através do ministro Lewandowski [Ricardo, ministro da Justiça e Segurança Pública], mandamos uma PEC para o Congresso Nacional.
Essa PEC foi discutida com todos os governadores de estado lá no Palácio do Planalto e nós pretendemos mandar essa PEC, que foi reajustada e ajustada com a fala dos governadores. Nós, então, vamos mandar essa PEC para definir claramente o papel da União na participação da segurança pública. Até onde a gente pode ir, até onde a gente pode se intrometer, onde a Polícia Federal pode agir, onde a gente pode ter a Força Nacional participando.
Nós estamos criando fundos para que a gente possa ajudar tanto o funcionamento da polícia, como o fundo penitenciário, porque nós queremos ter uma participação mais efetiva e mais forte na segurança de cada estado. Muitas vezes os governadores não querem, muitas vezes os governadores não querem, porque a polícia é um pedaço do poder do estado. E, muitas vezes, os governadores não querem que o Governo Federal se intrometa na segurança dos estados.
De vez em quando eles pedem que eu faça uma GLO, e eu não vou fazer GLO, porque a GLO que foi feita para o Rio de Janeiro gastou mais de R$2 bilhões e não resolveu quase nada. Então, o que nós queremos é participar ativamente, de forma a ter uma ação complementar com os governadores do estado e resolver definitivamente a questão da segurança. Não é uma coisa fácil, porque hoje o crime organizado não é mais um pedacinho de bandido, não.
É uma indústria poderosa, com braço internacional, na base do tráfico de tudo, não só de drogas, mas de armas. Então, o que nós precisamos é ter noção da responsabilidade. E a PEC do ministro Lewandowski, ela dá essa noção de responsabilidade que o estado quer participar.
Nós, Governo Federal, queremos ser parceiros dos governadores de estado no combate à violência, no aprimoramento da formação da polícia, com a participação maior da Polícia Federal. E se for preciso criar outro mecanismo, nós vamos criar. Eu acho que a questão das favelas, qualquer medida que a gente tomar nas favelas, nós temos que ter cuidado, porque a gente não pode entrar na favela só para matar as pessoas.
Nós queremos que os policiais entrem com câmera para a gente saber se ele vai ser violento ou não, antes de tentar qualquer outra coisa. Eu acho que o tiro deve ser a última coisa que a gente tem que fazer. Agora, se for necessário no tiroteio, alguém vai morrer.
E a gente não pode só culpabilizar a polícia. Eu quero te dizer, Isabele, que nós estamos extremamente interessados em resolver esse problema da segurança no Brasil inteiro. Para isso, nós precisamos aprovar a PEC. Ao aprovar a PEC, a gente vai poder ajustar do ponto de vista da contribuição financeira, do ponto de vista da criação do fundo, do ponto de vista da ação da Polícia Federal, do ponto de vista da ação da Polícia Rodoviária Federal. E, aí sim, nós vamos ter legalmente oficializado a participação do governo na ajuda aos estados para combater a violência.
Jornalista Clóvis Monteiro: Presidente Lula, ao meu lado também, o meu colega Sidney Rezende, que apresenta o Jornal da Tupi às 19h, depois do padre Marcelo Rossi. E ele é um fenômeno de credibilidade no Rio de Janeiro, colunista de jornal, e o Sidney vai fazer uma pergunta agora para o presidente Lula. Por favor, Sidney.
Jornalista Sidney Rezende: Ô, presidente, eu quero que o senhor não se aborreça com a minha pergunta, nem com o meu tom, mas o senhor sabe muito bem, foi eleito várias vezes, como a população precisa de urgência. Muitas vezes a dinâmica da política e da burocracia, ela tem um caminho. O senhor diz: “fizemos uma PEC, vamos discutir e tal”.
É verdade. Só que a premência é absurda, tanto para comer, como para gerar emprego, para ter um bom transporte, principalmente no caso do Rio de Janeiro, para ter mais segurança pública. Quando o senhor diz “papel da União”, a minha pergunta é objetiva. Quanto tempo e o que o Governo Federal pode fazer objetivamente para melhorar a nossa vida no ir e vir, que é um direito constitucional, e nesse momento vivemos uma situação muito delicada, presidente?
Presidente Lula: Ô, Sidney, primeiro, obrigado pela pergunta. E o Sidney é um jovem, experiente jornalista que eu conheço há muito tempo. Ô Sidney, o problema é o seguinte. Se você quiser respeitar as regras estabelecidas no país, você não tem como fazer se não cumprir cada artigo e cada parágrafo de uma lei.
Ou seja, o caminho que nós temos de mandar uma PEC é porque a gente quer reestruturar todo o sistema de segurança desse país. A gente quer criar uma coisa chamada Sistema Único de Segurança, em que defina corretamente o papel do Governo Federal, do governo estadual, inclusive do município, que pode ter também uma participação ativa na questão da segurança.
Esses dias eu fui ao Hospital Bonsucesso reinaugurar um hospital que estava com 300 leitos paralisados, que estava com 5 UTIs paralisadas, e tinha lugares que há 5 anos não funcionavam. Nós fomos reinaugurar, como vamos reinaugurar todos os hospitais do Rio de Janeiro, dos hospitais federais. Dois ficaram com a prefeitura e quatro ficaram sob a nossa responsabilidade.
E tinha um tiroteio, tinha um tiroteio lá. E aí eu liguei para o governador, porque a minha segurança não queria mais ir. Eu falei: nós vamos ao Rio de Janeiro. Bom, eu sei que quando eu cheguei aí parou o tiroteio, mas disse que quando eu saí voltou o tiroteio. Ora, nós não podemos permitir que esse bangue-bangue continue existindo no Rio de Janeiro. Nós não podemos permitir.
Eu acho que nós não podemos ter polícia só para entrar na favela, para atacar, para matar ou para atirar, não. É preciso que a polícia esteja constantemente participando da vida cotidiana da favela. E é isso que nós queremos aprovar nessa PEC, qual o papel do estado. Você pergunta em que tempo. O tempo é o tempo do Congresso Nacional. Se o Congresso Nacional trabalhar rapidamente, essa PEC pode ser aprovada rápida.
Se o Congresso não trabalhar, não vai acontecer. Aí o governador pode ter influência na bancada do Rio de Janeiro, o Governo Federal pode ter influência, o prefeito pode ter influência, todo mundo pode ajudar. O que nós queremos é muita rapidez, porque você tem razão. A violência que o povo do Rio está submetido não pode esperar. Mas nós não temos como agir se não tiver regras estabelecidas na nossa Constituição. Esse é o dado concreto.
E isso vale para tudo, Sidney. Ora, se tem uma burocracia, essa burocracia, ela é crônica no Brasil. Ela é do tempo da descoberta do Brasil. Foi criada uma burocracia e cada vez mais ela vai ficando forte. Porque a burocracia, na verdade, eles são estáveis. Eles são pessoas que têm mandato eterno. O governante tem quatro anos de mandato. Então, nem sempre o governante consegue cumprir aquilo que ele pensa que vai cumprir. Eu posso te dizer uma coisa, Sidney. Eu posso te dizer uma coisa. Eu vou entregar ao Rio de Janeiro e ao Brasil tudo o que eu prometi durante o processo eleitoral. Eu já entreguei, em 2010, mais do que eu tinha prometido e você pode ter certeza que eu vou entregar tudo o que eu prometi.
Aliás, você, o Clóvis e a Isabele, podem marcar uma entrevista comigo antecipada lá para o dia 25, não 25 não, 23 ou 28 de dezembro de 2026 para a gente disputar o que eu prometi e o que eu entreguei. Eu vou entregar muito mais. Eu vou entregar muito mais, porque nós estamos dizendo que 2025 é o ano da colheita.
Nós passamos dois anos arrumando esse país, reestruturando o país, refazendo as leis, aprovando política tributária, aprovando PEC da transição, aprovando tudo que era necessário para a gente fazer esse país andar. E o país começou a andar. Se você analisar pela economia, companheiro Sidney, você vai ver que todo mundo achava que ia ser uma desgraça, que o Brasil vai cair, que a economia não vai crescer. A economia cresceu o triplo do que os especialistas previram.
Em 2024, ela vai para 3,8%. Em 2025, ela vai continuar crescendo. Em 2026, ela vai continuar crescendo. E, mais do que isso, o crescimento será repassado para os trabalhadores com aumento do salário mínimo. Isso vai melhorar, vai melhorar muito a vida das pessoas. Então, eu só prometi na campanha aquilo que eu tenho consciência de que eu posso entregar.
Eu, quando era dirigente sindical, Sidney, teve no começo do meu mandato, a gente fazia uma pauta de reivindicação e a gente gritava “100% ou nada, 80% ou nada, 90% ou nada”, e sempre ficava com nada. Então, eu aprendi que é melhor a gente só prometer aquilo que a gente pode fazer, aquilo que a gente tem condição de fazer. Como eu sou o presidente mais experiente da história deste país, eu não poderia fazer promessa falsa.
Eu fiz promessa de coisa que eu vou cumprir e nós vamos cumprir item por item. Você pode ter certeza que você vai me entrevistar no meu final do mandato e você vai falar “obrigado, presidente, por ter cumprido todo o seu programa”.
Jornalista Sidney Rezende: Presidente, eu ouvi com muita atenção aqui o senhor dizendo que nos concederia uma entrevista. Eu tenho a impressão que a Tupi vai dizer sim.
Jornalista Isabele Benito: Não, está marcada já.
Jornalista Sidney Rezende: Ele falou no final de 2026. Isso significa que o senhor já terá concorrido à reeleição como candidato à presidência?
Presidente Lula: Isso significa que está terminando o meu terceiro mandato. E eu tenho que fazer uma prestação de contas. Ô Clóvis, uma coisa que às vezes a gente tem memória curta é o seguinte. Eu fui o único presidente na história do Brasil que quando terminou o meu mandato em 2010, eu fui no cartório e registrei todas as coisas que foram feitas neste país e foi distribuído para cada universidade o material, porque eu queria, e foi registrado em cartório, porque normalmente os presidentes passam pelo governo e não fazem nada. Clóvis, se você analisar bem a história do Brasil, você vai detectar o seguinte.
Houve dois momentos da história do Brasil, desde a Proclamação da República, que houve política de inclusão social. Um foi o Getúlio, com a CLT e com o salário mínimo. E outro fomos nós. Não teve, fora de nós e do Getúlio, nenhum político que fez política de inclusão social. Ou seja, agora, recentemente, o salário mínimo ficou sete anos sem reajuste. A merenda escolar, sete anos sem reajuste.
Ou seja, é uma coisa absurda o dinheiro para a bolsa de estudo ficar sete anos sem reajuste. Então, essa vergonha de você subir um degrau na escala social e depois você cair quatro degraus é uma coisa habitual no Brasil e eu não vou deixar. Eu não vou deixar.
Jornalista Clóvis Monteiro: Deixa eu falar uma coisa aqui com o presidente Lula. Ele está ao vivo na Tupi, no Rio de Janeiro, num ano importante para a gente, presidente, nos 90 anos dessa emissora, que é a cara do país. São 8h36 no relógio da Tupi. A Isabele já vai fazer mais uma pergunta, mas eu quero dar bom dia para 276 mil famílias no estado do Rio, presidente, que tem o Pé-de-Meia bancando o estudo de muitos estudantes.
Então, é uma agenda positiva que a gente tem que acenar, senão parece que o mundo é um caos e que nada funciona, né, presidente Lula?
Presidente Lula: Eu às vezes ouço, viu, Clóvis, eu às vezes ouço dizer que muitas vezes a imprensa gosta de falar das coisas ruins, porque é normal. Ou seja, um cachorro comer um pedaço de linguiça é normal, ninguém vai publicar a matéria. Mas se ele morder o rabo, todo mundo vai publicar. Na política também é assim. Nós temos feito muita coisa.
Se eu contar para você o que a gente tem feito, eu já governei oito anos nesse país, eu posso te dizer uma coisa, Clóvis, o seguinte. Nós, esse ano, vamos colher mais do que nós colhemos entre 2008 e 2010. E vamos colher por quê? Porque nós passamos dois anos plantando nesse país.
Dois anos. E nós vamos colher muita coisa. Esse Pé-de-Meia é uma revolução na educação. Porque nós descobrimos que 500 mil jovens, meio milhão de jovens, desistiram do Ensino Médio porque tinham que ajudar no orçamento familiar.
Eu fiquei imaginando como é que um presidente da República pode permitir que meio milhão de jovens desistam da escola porque têm que ajudar a família. Então nós resolvemos tirar uma poupança para esses jovens. Nós damos R$200 por mês depositados na conta dele.
E depois, no final do ano, nós damos R$1 mil. Quando chegar no final do curso, se ele não gastou dinheiro, ele tem R$9 mil para começar a vida dele. E esse mês agora é o mês que a partir de segunda ou terça-feira a gente vai entregar os primeiros R$1 mil para todos os alunos.
São quase 4 milhões de alunos. E no Rio você tem razão, são 276 mil alunos que estão recebendo isso. Isso é um compromisso que nós temos. Se a gente não investir no jovem quando ele precisa, depois a gente vai investir para combater o crime organizado, vai investir para construir cadeia. Eu prefiro investir em sala de aula.
Jornalista Isabele Benito: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva só falou em números e inclusão social.
O seu perfil, já que é o presidente em terceiro mandato, a gente brincou aqui, o Sidney pegou logo na data e soube responder. Politicamente, o senhor é muito, muito, muito hábil em entrevistas. Eu vou fazer um papel aqui que o senhor fez. E acabei de receber um WhatsApp que o senhor vai gostar bastante. O senhor falou de mais de 270 mil famílias e a maioria dessas famílias nesse programa, o senhor sabe, dentro de comunidades, filhos de trabalhadores, em que hoje a gente vê vídeos emocionantes. Acabo de receber aqui um abraço de Renê Silva, diretamente para o senhor, para o Complexo do Alemão, mandando um abraço para o senhor.
E trazendo agora para o meu lado, essa é a rádio mais ouvida nas favelas cariocas, que é a Rádio Tupi, e é a rádio que ouve, o senhor está sendo ouvido dentro dessas comunidades. E dentro desse mote, desse abraço, que mandaram diretamente do Complexo do Alemão, que o senhor teve esse estreitamento nessa última concorrência presidente da República. Minha pergunta é direta.
O povo está... Passou a picanha, hein, presidente? Agora o negócio é cadê meu café e cadê meu ovo? Presidente, o ovo está muito caro, o cafezinho está muito caro e o povo quer saber, não de números altos e complexos, o que está acontecendo e como baixar os preços básicos da comida e do cafezinho da mãe do brasileiro, presidente.
Presidente Lula: Olha, o preço vai baixar e eu tenho certeza que a gente vai conseguir fazer com que o preço volte aos padrões do poder aquisitivo do trabalhador. É importante que a gente não esqueça que é muito mais fácil a gente detectar o problema e sem apontar solução.
Veja, é importante lembrar que a gente vem de momentos muito cruciais no Brasil. Muito sol, o maior calor já feito na história desse país, muito fogo e depois, em algum lugar, muita chuva, como no Rio Grande do Sul. Tudo isso tem interferência nos preços.
Outra coisa que nós tivemos é um problema. O seguinte, tivemos a gripe aviária nos Estados Unidos e em outros países. E os Estados Unidos virou importador de ovo brasileiro, o Vietnã, o Japão, ou seja, nós estamos exportando, o Brasil virou quase que um supermercado do mundo e nós queremos discutir com os empresários que nós queremos que eles exportem, mas não posso faltar para o povo brasileiro. Eu sou uma pessoa que gosta de ovo, Isabele. Eu, muitas vezes, prefiro um arrozinho com dois ovos fritos do que um bife.
E eu sei que o ovo está caro. Quando me disseram que o ovo estava R$40 a caixa com 30 ovos, é um absurdo, é um absurdo mesmo. E nós vamos ter que fazer uma reunião com os atacadistas para discutir como é que a gente pode trazer isso para baixo. Porque o fato de você estar vendendo produto em dólar, que está alto, não significa que você tem que colocar no preço do brasileiro o mesmo preço que você exporta. Essa é uma discussão da mesma forma que o óleo de soja, da mesma forma que a carne. Agora a carne começou a cair, vai cair, e pode ficar certo que vai cair e o povo vai voltar a comer a sua picanhazinha, a sua costela, outro pedaço de carne que ele deseja.
E nós queremos baixar todo o alimento, porque para nós, na reforma tributária, a cesta básica é totalmente isenta de qualquer imposto, inclusive a carne. E nós fizemos muito para baratear. Agora, quando você tem momentos como esse que nós estamos vivendo, você obviamente não consegue controlar do dia para a noite.
Mas pode ter certeza o povo do Rio de Janeiro, o povo de São Paulo, o povo do Brasil, que nós vamos trazer o preço para baixo e as coisas vão ficar acessíveis, porque se tem uma coisa que nós precisamos cuidar com muito amor é a segurança alimentar. A segurança alimentar é a maior arma que a gente pode ter para enfrentar qualquer situação. O povo tem que tomar café barato e de qualidade, almoçar barato e com qualidade e jantar barato e com qualidade.
Esse é um compromisso meu, porque eu vivi dentro de uma fábrica 27 anos, eu recebi salário por inflação de 80% ao mês, então eu sei que isso aperta. Agora, nós estamos com a economia crescendo, nós estamos com a inflação razoavelmente controlada, não há nada escapando do controle. Nós tivemos um déficit fiscal de 0,09%, é quase zero, e, portanto, o nosso papel é fazer política para melhorar a vida do povo e para baratear o custo de vida para o povo.
E pode ficar certo de que nós vamos atingir isso também. E esse ano de 2025, escute o que eu estou lhe falando, Isabele, será o ano da grande colheita desse país. Do ponto de vista do crescimento, do ponto de vista do crescimento da renda do trabalhador, do ponto de vista da política de crédito. Eu ainda tenho três coisas para anunciar ao povo brasileiro, que eu não vou anunciar agora para não quebrar o encanto.
Jornalista Clóvis Monteiro: Anuncia só uma, então.
Presidente Lula: Nós temos três políticas de crédito para favorecer o pequeno empreendedor, o médio empreendedor, o pequeno empresário, que é uma coisa que vai ter muito... Eu posso dizer para você, será a maior política de crédito já feita nesse país. E nós vamos fazer porque nós queremos que esse país cresça. Você sabe, tanto companheiro Clóvis, Isabele e Sidney, que eu tenho uma máxima comigo. Na minha opinião, o dinheiro tem que circular. O dinheiro tem que circular na mão do povo trabalhador, na mão do povo mais humilde, e na classe média e no pequeno empreendedor.
O dinheiro circulando vai gerar crescimento, vai gerar desenvolvimento, vai gerar mais emprego e vai gerar mais salário. Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de miséria. Pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição de riqueza. E é isso que nós vamos fazer. Eu tenho três coisas para anunciar e brevemente você estará vendo quais serão as coisas que eu vou anunciar.
Jornalista Clóvis Monteiro: É o presidente Lula na tupi, 8h44. O presidente Lula, o fogo amigo, às vezes, pode fazer estrago. Circula em Brasília, às vezes, pessoas que falam demais ou de forma inadequada, causando problema para a imagem do governo. Como, por exemplo, “o presidente é isolado, porque a primeira-dama quer opinar no que o presidente vai falar".
Aí muda o ministro da Comunicação, porque estão falando coisas que atrapalham a imagem, a popularidade do presidente e tal. Como é que o senhor vê toda essa situação ou qual é a sua experiência? Isso faz parte do jogo, presidente Lula?
Presidente Lula: Eu acho... Sinceramente, eu acho graça quando eu ouço dizer porque a Janja [primeira-dama do Brasil] dá palpite na vida do Lula. A coisa gostosa que tem na minha relação com a Janja é que ela dá palpite na minha vida. Essa é a coisa mais gostosa. Ela cuida de mim de uma forma muito especial. Então, isso não me incomoda, isso me ajuda.
Se os ministros falam demais, ou seja, é prejudicial aos próprios ministros. Eu, desde o outro mandato, eu sempre dizia que tem um anão na minha sala. Tem um anão escondido embaixo da mesa. Porque a gente faz reunião, a gente fala assim que ninguém pode falar nada dessa reunião. A reunião nem acaba, já tem coisa lá fora, as pessoas sabendo. Sempre tem um jornalista que recebe informação.
Mas isso não me incomoda porque eu sei o time que eu tenho. Eu sei o time que eu tenho. E é um time primoroso, está trabalhando muito. E é por isso que nós passamos dois anos organizando o que nós estamos fazendo agora. Eu posso te dizer, olhando no rosto de vocês, nós vamos ter um 2025 e um 2026 muito primorosos nesse país. Pode aguardar que vocês vão ver coisas extraordinárias.
E o governo é um governo muito bom, são um grupo de companheiros de muita qualidade. Muita gente fala em reforma política sem eu falar. Muita gente fala em reforma ministerial sem eu falar. Olha, como eu sou um democrata, eu aceito que todo mundo dê palpite sobre isso. Agora, as decisões sou eu que tomo. E na hora que eu tiver que mudar alguém, eu vou mudar alguém.
Isso é como o técnico do Flamengo. Ou seja, o técnico tira o jogador que ele quer tirar na hora que ele quiser. Não é a torcida que exige que ele tire. Então eu estou muito satisfeito com as coisas que estão acontecendo no Brasil e pode ficar certo. Pode ficar certo, marque o dia de hoje e me cobre quando vocês quiserem. 2025 será o grande ano desse meu terceiro mandato.
Jornalista Clóvis Monteiro: Esse é o presidente Lula ao vivo, com exclusividade na Rádio Tupi, 8h46. Sidney Rezende, apresentador do Jornal da Tupi, às 18h05 aqui na maior do Brasil. Agora você, Sidney.
Jornalista Sidney Rezende: Presidente Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro será condenado pelo Supremo e depois preso?
Presidente Lula: Olha, eu não tenho o poder de falar pela Justiça. O que eu vi pela denúncia que foi publicada ontem é que é grave, é muito grave. Outro dia eu estava dizendo que o Partido Comunista Brasileiro foi perseguido durante quase 50 anos sem ter feito 10% do que a equipe do ex-presidente tentou fazer nesse país.
Se for provada a denúncia feita pelo procurador-geral na tentativa de golpe, da participação do ex-presidente, do escalão de primeiro grau dele, do primeiro escalão dele, na tentativa de morte de um ministro da Suprema Corte Eleitoral, na tentativa de assassinato de um presidente da República e de um vice-presidente, é uma coisa extremamente grave. Eu tenho certeza que se for provado ele só tem uma saída, ser preso.
Ele e quem participou dessa quadrilha que estava não tentando governar, mas tentando tomar conta do país como se fosse propriedade privada. Obviamente que eu acho que eles terão o direito de se defender, terão o direito de dizer que é mentira, mas se for provado não tem outra solução senão ser condenado.
Jornalista Sidney Rezende: Presidente, se tem alguém que conhece cada um dos parlamentares e lida com eles diariamente e há muitos anos, é o senhor. Chegou à presidência por impulsão, por capacidade, pelo voto popular e aí está como uma personalidade política da história.
O senhor acredita que o Congresso anistiará aqueles que participaram em 2023 daquele que se fala ser uma tentativa de golpe ali na Praça dos Três Poderes? O senhor acredita que o Congresso aprovará a anistia?
Presidente Lula: Olha, o que é engraçado é que essas pessoas estão se autocondenando quando eles estão pedindo anistia antes de serem julgados. A primeira coisa que eles têm que fazer é defender a inocência deles. Eles nem foram julgados, eles já estão pedindo anistia, ou seja, eles estão dizendo que são culpados.
Só pelo fato de eles pedirem anistia antes de serem julgados, eles merecem ser condenados. Ora, se o cidadão está sendo acusado, ele não pode ficar pedindo perdão antes de ser julgado. Ele tem que primeiro provar que é inocente. Ele tem que juntar provas, tem que ter advogado para juntar provas. Ora, eles estão com medo de serem condenados, eles querem pedir anistia antes de serem julgados, isso não existe. Isso não existe.
Eles terão que ser julgados, e se forem julgados vão ser condenados, e depois de condenados é que se pode discutir o que fazer com eles. Uma boa cela e um tratamento com muito respeito aos direitos humanos é o que eles merecem se eles forem considerados culpados. É isso, não existe outra discussão.
As pessoas que ficam querendo antecipar uma discussão sobre anistia são pessoas que estão acusando as pessoas. Quando o ex-presidente fica pedindo anistia, ele está provando que ele é culpado. Ele está provando que ele cometeu um crime. Ele deveria estar falando, eu vou provar minha inocência. Como ele é mentiroso, ele é mentiroso, um mentiroso contumaz, porque ele mentia 11 vezes por dia quando era presidente, e isso vocês diziam todo santo dia, e provava a mentira dele aqui, na porta do Palácio da Alvorada, no cercadinho que ele fez para mentir. Esse cidadão deveria estar dizendo: “eu estou inocente, eu vou provar minha inocência, eu não sou culpado”.
Não. Mas ele está pedindo anistia. Ou seja, ele está dizendo: “gente, eu sou culpado. Eu tentei bolar um plano para matar o Lula, tentei bolar um plano para matar o Alckmin, tentei bolar um plano para matar o Alexandre Moraes, não deu certo porque eu tive uma diarréia no dia, fiquei com medo. Tive que voar para os Estados Unidos antecipadamente para não ficar com vergonha de dar posse para o meu adversário. Então, por favor, me perdoe antes de eu ser condenado”.
Não, você vai conhecer que nesse país a lei verdadeiramente é para todos. Se você cometer o crime que está sendo acusado, você será preso. É isso que ele tem que ouvir todo dia. E é isso que ele tem que falar, ao contrário, se defender. É por isso que eu falo muito na presunção de inocência. Todo mundo nesse país tem direito a provar a sua inocência. E ele tem esse direito, prove.
Porque ele age como se fosse dono. “Ah, se eu não puder fazer uma coisa, vai ser minha mulher que vai fazer. Ah, se eu não puder fazer, meu filho. Ah, se eu não puder, vai ser minha neta”. Como se fosse uma monarquia. Como se fosse, sabe, uma coisa hierárquica, que ele não só quer para ele, mas ele quer uma questão hereditária. Ele quer uma questão da família governar esse país.
Ora, ele tem que se mancar. Isso aqui é uma república democrática. Isso aqui tem eleição. Ele passou dois anos falando que a urna podia ser falseada, que podia enganar o povo brasileiro. Ora, ele nunca questionou a eleição do filho dele. Ele nunca questionou a eleição que ele teve. Ele só, quando perde, é que ele começa a colocar dúvidas sobre os outros. E isso a gente não pode deixar.
Por isso, Clóvis, Isabela e Sidney, eu acho que o papel de vocês no meio da comunicação é primordial. Esse ano de 2025 é o ano em que a verdade tem que derrotar a mentira. Não pode persistir a mentira nesse país. Não pode persistir. A gente aprendeu desde pequeno que a verdade engatinha enquanto a mentira voa. É por isso que nós fizemos uma lei para tirar o celular da escola, não permitir na sala de aula.
Porque as crianças não precisam virar algoritmos. As crianças têm que virar humanistas. Gente com coração, gente que pensa, gente que tem espírito fraternal e gente que volta a brincar, a conversar com os amigos. É esse país que eu quero construir. Quando eu digo que eu quero construir um país de classe média, é porque eu quero que todo o povo brasileiro melhore de vida. Eu quero que o povo ganhe mais, coma mais, se vista mais, passeie mais e tenha mais alegria.
Jornalista Isabele Benito: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vou pegar três ganchos aí. A palavra anistia, o uso do celular, o uso forte em relação à cúpula de Jair Bolsonaro nas redes sociais, que nessa semana ganhou força com o próprio filho que o senhor também citou, tentando falar com o presidente Trump [Donald Trump, presidente dos EUA] sobre uma anistia e a população não tem informação sobre como funciona esse tipo de coisa, como o Sidney explicou. Eu gostaria que o senhor falasse para a gente se o senhor já teve contato, já que eles não conseguem, com o segundo maior parceiro comercial, querendo ou não, é opositor, e segundo a ala bolsonarista, super amigos deles, que é o presidente dos Estados Unidos eleito, o Trump.
O senhor teve contato com ele, que é o nosso segundo parceiro comercial, falando numa economia globalizada, que o senhor também falou em relação à baixa de preços, que o Brasil virou um grande supermercado internacional?
Presidente Lula: Não, Isabele, não tive. Sinceramente, eu não tive contato com o Trump. Eu mandei uma nota parabenizando pela posse e não conversei com ele. O que eu tenho ouvido, visto no rádio, na imprensa, escrita e falada, e também na internet, são os rompantes do presidente Trump, que quer tomar o Canadá, chama o primeiro-ministro de governador. Quer tomar a Groenlândia. Quer tomar o Canal do Panamá. Mudou o nome do Golfo do México para Golfo das Américas. Ou seja, ele foi eleito presidente dos Estados Unidos e ele tem que cuidar dos Estados Unidos. O mundo, cada presidente, cuida do seu pedaço.
Jornalista Clóvis Monteiro: Vamos tentar ouvir de novo o presidente.
Presidente Lula: Então, eu estava dizendo para a Isabele que o Trump foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos e não presidente do mundo. Então, ele precisa tomar muito cuidado com o que ele fala, porque ele está fazendo um papel que não faz parte da história dos Estados Unidos. A democracia, criada e fortalecida a partir da Segunda Guerra Mundial, obriga que quase todo presidente da república tenha que cuidar do seu país da forma mais soberana possível. Cada um administra o que é seu. E o Trump está tentando ser presidente do mundo.
Jornalista Clóvis Monteiro: Estamos conversando com o presidente Lula. A Isabele Benito perguntou sobre a relação internacional e a diplomacia entre Brasil e Estados Unidos, se o presidente tinha conversado com o presidente eleito, o Trump. Ele disse que não, que mandou uma nota quando ele foi reeleito e que, sinceramente, não falou com o Trump.
Voltamos com o presidente Lula, direto de Brasília. Vamos lá, presidente.
Presidente Lula: Clóvis, eu estava dizendo que o Trump foi eleito para governar os Estados Unidos e não para governar o mundo. Ele tem falado muitos rompantes todo dia, sabe aquela habitual da extrema direita no mundo inteiro, falar todo dia, toda hora, sem medir as consequências da sua fala. Os Estados Unidos são um parceiro comercial importante para o Brasil.
Nós temos um déficit comercial de aproximadamente 5 a 7 bilhões de dólares e nós temos uma relação de 87 bilhões de dólares com os Estados Unidos e é muito equilibrado o que a gente exporta e o que a gente compra. Então, veja, nós não temos dependência dos Estados Unidos como tivemos 20 anos atrás, 30 anos atrás. Nós temos hoje uma correlação comercial e diplomática muito equilibrada no mundo.
Então, o que nós queremos de verdade é que o presidente Trump governe os Estados Unidos, que ele pare com essa história desse protecionismo. Você está lembrado que, em 1980, quando se estabeleceu o Consenso de Washington, a palavra de ordem era liberdade para o comércio, livre comércio, livre comércio, livre comércio. Cada país tem que abrir suas fronteiras, os produtos têm que viajar para o mundo inteiro, todo mundo pode comprar tudo, sem imposto, sem nada.
Agora é ao contrário. Agora ele está taxando os produtos de todos os países e isso vai causar inflação nos Estados Unidos, isso vai aumentar o preço das coisas nos Estados Unidos e isso pode não ser uma boa política para os Estados Unidos. Eu, sinceramente, gostaria que o presidente Trump levasse em conta que é preciso respeitar a soberania de cada país. É importante respeitar, porque isso significa fortalecer a democracia.
A democracia conquistada depois da Segunda Guerra Mundial é um parâmetro e um exemplo da melhor governança que nós tivemos nesses últimos 70 anos. Isso é bom continuar. Agora, do jeito que ele está fazendo, ele está tentando virar um imperador do mundo. Ou seja, está tentando dar palpite em todos os países, em todas as políticas públicas contra imigrantes. Ou seja, os imigrantes que estão nos Estados Unidos foram para lá muitas vezes para trabalhar em profissões que os americanos já não queriam mais trabalhar.
Então, o que nós queremos é que primeiro se respeite as regras da democracia, se respeite a ONU, se respeite a Organização Mundial do Comércio e que a gente faça uma relação comercial tranquila, soberana, sem sobressalto. Se, por acaso, o presidente Trump taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil. Não tem outra alternativa.
Isso vai encarecer os produtos para todo mundo. Isso pode aumentar a inflação em todo mundo. Então, não é correto o que ele está fazendo. Não é correto do ponto de vista político, sabe? Porque é muita, é muita, muita ameaça todo santo dia para muitos países e isso não traz benefício à democracia. Não traz. Então, eu tenho uma coisa comigo, que é o seguinte, eu fui eleito para cuidar do povo brasileiro, para cuidar da família brasileira, para fazer as casas que nós temos que fazer.
São mais 14 mil casas que nós vamos fazer no Rio de Janeiro só nesses dois anos. E nós vamos cuidar. Nós vamos cuidar gerando mais empregos. A recuperação da indústria naval, é importante vocês lembrarem que quando eu deixei a Presidência, a indústria naval tinha 82 mil empregos. Caiu 56% o emprego. E nós, apenas em dois anos, já recuperamos 17% desses empregos e vamos recuperar tudo.
Porque nós vamos fazer 44 navios até 2029, porque nós vamos fazer sonda, porque nós vamos fazer plataforma e porque os estaleiros brasileiros e a indústria naval vão voltar a funcionar de forma correta. É por isso que eu estou indo a Itaguaí amanhã para que a gente possa lançar um investimento de R$3,6 bilhões para criar um novo terminal naquele porto. E assim o Brasil vai andando.
Depois eu vou ao Rio Grande do Sul, anunciar mais obras. Depois eu vou ao Espírito Santo, anunciar mais obras. E a indústria naval vai ficar totalmente recuperada nesse país, que é o que nós queremos incluir para gerar muitos empregos no Rio de Janeiro. Essas coisas, Isabele, é que nós temos consciência de que o Trump poderia colaborar. Menos ofensas aos seus parceiros e mais compensação, mais compreensão e mais, eu diria, amizade. É o que o mundo precisa.
Jornalista Clóvis Monteiro: Nós estamos conversando com o presidente Lula ao vivo e com exclusividade na Tupi do Rio de Janeiro no ano dos seus 90 anos. Ô, Thiago Castro, hora do relógio da Tupi, 9h em ponto. Para quem não pegou a entrevista desde o início, o presidente está com a gente desde às 8h10, no seu precioso tempo aqui para o Rio de Janeiro. Já falamos sobre violência no Rio, já falamos sobre o PAC, investimento milionário no Rio de Janeiro, já falamos da alta dos alimentos e já falamos do Pé-de-Meia, do PAC. Agora é o seguinte: amanhã ele vai estar em Itaguaí, aqui no estado do Rio de Janeiro.
E ontem eu fiquei sabendo, presidente, que o senhor esteve com o representante de Portugal e assinou mais de vinte acordos, inclusive com a nossa indústria de aviões da Embraer, que vai fornecer aviões para Portugal. Quer dizer, diplomacia, negócios, gerando renda para o país. Isso vai aparecer daqui a pouco, não é verdade, presidente?
Presidente Lula: Ô Clóvis, nós fizemos uma coisa extraordinária. Nós já abrimos mais de 155 novos mercados desde que tomei posse. Presta atenção, mais de 155 mercados. Eu estou indo para o Japão agora, nós queremos que o Japão compre a nossa fruta, compre a nossa carne, compre a nossa soja, compre o nosso milho.
Depois eu vou para o Vietnã também, se eles quiserem comprar mais café, comprar mais soja, comprar mais milho, comprar mais carne. Na Coreia também nós queremos abrir mercado. Ou seja, o Brasil está preparado para ser efetivamente um país que possa fornecer alimento ao mundo sem permitir a falta de alimento no Brasil e sem permitir o crescimento do preço.
Ou seja, o café nós tivemos no Vietnã uma perda muito grande da safra do Vietnã. E o Brasil está produzindo, é o país que mais produz café no mundo. O café brasileiro melhorou de qualidade, mas melhorou muito. Os chineses estão começando a aprender a tomar café. A hora que os indianos aprenderem a tomar café, vai ser uma loucura a quantidade de aumento da produção de café que a gente vai ter que ter no Brasil. E a gente não pode aumentar o preço aqui dentro por causa do preço lá fora.
E isso vai ser uma coisa extraordinária para o Brasil, uma coisa simplesmente fantástica para o Brasil, porque o mundo quer comer e o Brasil pode servir alimento sem precisar desmatar nada. Porque eu prometi que a gente vai ter desmatamento zero até 2030. Esse é um compromisso que eu fiz e vou cumprir. Mas o que é importante é que nós estamos recuperando 40 milhões de hectares de terra degradadas.
Imaginem vocês o que são 40 milhões de hectares de terra que a gente vai tornar terra produtiva. Pode plantar eucalipto, pode plantar milho, pode plantar soja, pode plantar feijão, pode plantar algodão e pode plantar florestas para fazer móveis, para fazer o que quiser nesse país. Então, esse país vai se transformar num país altamente desenvolvido. Se não fosse assim, eu não teria voltado a ser presidente da República.
Eu sei como é que eu deixei o mandato em 2010 e eu votei para provar que é preciso fazer mais. É possível fazer mais. É preciso colocar o Brasil no rol dos países ricos. O Brasil passou sete anos exilado. Sete anos que a gente não fazia uma reunião, essa Cimeira, com Portugal. Sete anos sem conversar com Portugal.
O Brasil não era respeitado em nenhum país do mundo. Ninguém queria conversar com o Brasil. Ninguém queria vir aqui no Brasil. E nós agora já conversamos com todos os presidentes do mundo. Eu já participei de duas reuniões do G7. Já participei de duas do G20. Fizemos o melhor G20 da história aqui no Brasil. Já participei de todas as COPs para discutir a questão ambiental.
Já participei de uma reunião com 27 países da União Europeia. Já participei de reunião com 54 países da União Africana. Já participei de reunião com 15 países do CARICOM. Já participei de reunião com 33 países da América Latina. Ou seja, nós agora voltamos ao mundo. E voltamos de cabeça erguida. E voltamos vendendo e comprando. E voltamos tentando abrir espaço para que a integração seja definitivamente uma causa de desenvolvimento para o Brasil. Só para você ter ideia, a Nova Indústria Brasil, que é uma coisa extraordinária, cresceu 3,4%.
Há muito tempo a indústria do Brasil não crescia. Ela cresceu 3,4% e vai continuar crescendo. Esse investimento no empreendedorismo que nós estamos fazendo vai fazer com que o empreendedorismo cresça nesse país. E ao mesmo tempo, o cidadão que é empreendedor tem que ter uma certa segurança, uma certa estabilidade. Porque a pessoa quer ser livre, mas a pessoa não se dá conta que quando houver uma desgraça na nossa vida, nós temos que ter o mínimo de proteção. E é isso que nós queremos fazer nesse país.
Quem quiser ser empreendedor, vai ser empreendedor. Quem quiser ter um carro, vai ter um carro. Quem quiser trabalhar no Uber, vai trabalhar no Uber. Quem quiser trabalhar, vai ter emprego. Esses dias eu estava conversando com os empresários de São Paulo, tem 30 mil vagas de emprego e não aparece ninguém para trabalhar. E ele fala que é por conta do Bolsa Família. Não é verdade. É o seguinte, tem que melhorar um pouco o salário. Por que um menino de 17, 18 anos que está trabalhando em uma bicicleta, ganhando R$700, R$800 por mês, ele vai se submeter a trabalhar das 7h da manhã às 5h da tarde dentro de uma fábrica, dentro de uma loja, para ganhar R$1,6 mil? Não.
Ele prefere ter liberdade. Ele quer outra jornada de trabalho. Ele às vezes quer trabalhar só de manhã. Ele às vezes quer trabalhar só à tarde. E nós precisamos garantir que esses jovens tenham compatibilidade entre o trabalho e o estudo. Entre o trabalho e a convivência familiar. Porque na primeira metade do século XXI, o povo não quer mais ficar trancado apenas no local. Ele quer ter mais liberdade. E é isso que a gente tem que garantir.
Jornalista Clóvis Monteiro: Presidente, olha só, eu sei que o senhor está com um tempo limitado e o Sidney vai fazer mais uma pergunta nessa entrevista exclusiva aqui da Tupi. Eu estou ao lado da Isabele Benito e Sidney Rezende. Vamos voltar para os interesses do estado agora, Sidney.
Jornalista Sidney Rezende: Olha, eu estou impressionado com a desenvoltura do presidente. Está um garoto, hein, presidente? Falando de economia aqui, o senhor brilhou mais até do que de política. Animadíssimo, ainda está fazendo atividade física.
Jornalista Isabele Benito: Tomando café, comendo ovo. Eu ia perguntar, está fazendo academia, presidente? Porque está com ovo e está com café. Qual é seu exercício?
Presidente Lula: Isabelle, todo dia eu levanto às 5h30 da manhã, começo a andar uma hora às 6h da manhã, depois eu faço musculação nas pernas, faço nos braços, porque a gente envelhece pelas pernas. Eu preciso cuidar fisicamente das minhas pernas, fisicamente dos meus braços e fisicamente da minha alma. Então, parece cansativo, mas quando a gente termina de fazer ginástica e toma um banho e vai trabalhar, a gente se sente muito melhor. Isso eu faço todo dia, porque para cuidar do tempo e da idade, a gente precisa cuidar do corpo.
Eu cuido bem. Por isso é que eu digo para todo mundo que eu sou um jovem de 79 anos, com energia de 30, e outras coisas de 20, 25. Eu brinco muito, porque se eu não falar bem da minha saúde, quem vai falar? Meus adversários? Não. Meus adversários vão dizer: “o Lula está velho, que o Lula não sei das quantas e tal”. Eu é que tenho que provar que eu estou jovem, animado e disposto. E vou dizer mais uma coisa para vocês, quem quiser brigar comigo, não vai brigar pela internet, vai ter que brigar na rua desse país. Porque a partir de agora, eu vou viajar toda semana, vou inaugurar coisas toda semana, vou anunciar novas coisas toda semana.
Por isso é o seguinte, eu posso dizer para vocês três, em 2025, a verdade vai enterrar a mentira. Quem pensa que vai continuar vivendo de mentira, vai quebrar a cara. Quem pensa que vai continuar mentindo ao povo brasileiro, vai quebrar a cara, porque o povo exige a verdade.
Jornalista Clóvis Monteiro: Presidente, olha só, o regime de recuperação fiscal do estado do Rio de Janeiro, como é que está essa situação, o senhor tem conversado com o governador do Rio?
Presidente Lula: Temos uma proposta para todos os governadores, mas sobretudo São Paulo, Minas, Rio e Rio Grande do Sul, que são os estados que mais devem. Sabe que o Rio de Janeiro tem uma dívida de R$218 bilhões? Não é pouca coisa. Só entre 2021 e 2024, ela cresceu 18%. Qual foi a proposta que nós fizemos? Ora, nós, os governadores, poderão ter pagamento de juros zero, desde que o dinheiro que eles não pagarem seja investido em educação, em saúde, em habitação, em saneamento básico.
Não é para ficar com o dinheiro para gastar em outra coisa, não. É para gastar na melhoria da qualidade de vida do povo. Se os governadores assinarem o acordo que foi aprovado pelo Congresso Nacional, eu acho que vai ser bom para todos os estados e vai ser bom para o Rio de Janeiro. Eu não sei se o governador vai amanhã a Itaguaí. Se ele for a Itaguaí, eu poderei conversar com ele sobre isso. Ele, no começo, não tinha feito, disse que ia entrar na Justiça, mas eu acho que seria bom para o Rio de Janeiro se ele concordasse com o acordo. Porque são os estados que mais devem que estão colocando resistência. Então, eu acho um contrassenso isso.
São Paulo está concordando com o acordo. Minas Gerais fala, mas também está concordando com o acordo. E eu tenho certeza que o governador Cláudio Castro também vai concordar, porque o acordo é bom. Não para o Governo Federal. Para o Governo Federal, o acordo não é bom. Ele é bom para o Rio de Janeiro. Por isso, eu espero a compreensão do governador e que ele possa estar de acordo com aquilo que a gente está fazendo.
Jornalista Sidney Rezende: Presidente, a pergunta do Clóvis, ele leu meus pensamentos, mas, de qualquer maneira, eu vou aqui estender para o país todo. Quando o governo vai gastar menos do que arrecada, presidente?
Presidente Lula: Essa é uma… Desculpe, Clóvis, isso é uma bobagem. Isso é uma bobagem. Nós temos uma experiência muito rica nisso. Você vê que nós ouvimos esse ano inteiro a discussão, “o déficit fiscal, o déficit fiscal, o governo está gastando muito”. O que aconteceu no final do ano? O déficit fiscal foi de 0,09%. 0,09% é zero. Para você poder escrever 0,09, tem mais zero do que nove.
Porque sabe o que acontece, Clóvis? Ninguém tem mais responsabilidade em fazer as coisas acontecerem de forma correta do que eu. Eu aprendi economia com a mulher analfabeta e que ela falava: “meu filho, você não pode gastar o que você não tem. Se você for gastar alguma coisa para uma coisa que você não tem é para construir um ativo que vai melhorar o seu patrimônio”.
Ora, se você vai fazer uma dívida para comprar uma casa tudo bem, se você vai fazer uma dívida para comprar um aparelho para sua casa, tudo bem, um aparelho doméstico. Mas você não pode gastar à toa. Na Presidência da República, você tem que fazer a mesma coisa. Você não pode gastar aquilo que você não tem e você só pode se endividar para fazer um ativo que vai melhorar a vida do povo brasileiro. Eu não estou governando pela primeira vez. Eu fui um presidente que fiz superávit de 4,25% nesse país.
Eu fui um presidente que paguei o FMI. Eu fui um presidente que fez uma reserva de 370 bilhões de dólares, coisa que o Brasil não tinha. Então, quando eu vejo alguns setores, alguns especialistas falarem de déficit caro de gastos do governo, ele está sendo irresponsável. Possivelmente, ele queira viver de especulação. E nós não vamos permitir. Porque se tem alguém nesse país que quer cuidar corretamente da economia, é o ministro Fernando Haddad [Fazenda].
Se tem uma pessoa que quer cuidar do déficit fiscal zero, sou eu. Mas a gente não vai ser responsável por fazer o povo pobre se sacrificar. A gente não vai ser responsável por prejudicar quem já é prejudicado historicamente na vida. É por isso que eu digo sempre, quando for falar de educação, não fale em gastos. Eu estou fazendo mais seis institutos federais no Rio de Janeiro. De 51, eu e a Dilma [Rousseff, ex-presidente do Brasil] fizemos 29, e agora vou fazer mais seis.
Significa que vamos fazer 35 institutos federais no Rio de Janeiro. E tenho o maior prazer de convidar vocês para ir comigo no Complexo do Alemão inaugurar o Instituto Federal no Complexo do Alemão. Porque a educação é a base do desenvolvimento desse país. Se a gente não investir na educação, o Brasil nunca será um país competitivo. A gente não pode ser apenas exportador de soja, de minério de ferro, de milho ou de arroz. A gente tem que ser exportador de conhecimento, de inteligência.
É por isso que nós criamos a Faculdade de Matemática no Rio de Janeiro, aproveitando os melhores alunos da Olimpíada de Matemática. Uma Faculdade de Matemática que vai ter 400 alunos, com moradia para os alunos e com comida, tudo de graça, porque a gente quer que os nossos gênios fiquem no Brasil e não precisam ir para o exterior para estudar. É isso.
Por isso é que nós criamos a Escola de Tempo Integral. E no Rio de Janeiro já são 47 mil vagas. Por isso é que nós criamos uma bolsa para ajudar os professores. Nós queremos que os alunos do Enem que tenham mais de 650 pontos, que eles vão ter uma bolsa se eles escolherem a profissão de professor. Porque tem muita gente que não quer ser professor. Então nós vamos estimular, que é uma coisa naturalmente extraordinária, que é a arte de ser professor, de cuidar dos nossos filhos em uma sala de aula.
É por isso que nós fizemos um pacto com quase 6 mil prefeitos para garantir que até 2030, 80% das crianças brasileiras serão alfabetizadas até o segundo ano do Ensino Fundamental. É assim que a gente vai cuidar desse povo. É assim que a gente está investindo no hospital universitário. É assim que a gente vai recuperar os seis hospitais federais do Rio de Janeiro. Porque não é possível que o Governo Federal tenha hospitais que estão há cinco anos parados e não funcionam as UTIs. Uma irresponsabilidade total.
E os hospitais federais no Rio de Janeiro vão ter que ser centros de excelência. Qualquer carioca ou qualquer brasileiro que for ao hospital, ele vai dizer no mundo inteiro: “eu fui no hospital que me tratou como ser humano, me tratou com respeito, eu fui operado com qualidade, eu recebi remédio”. Agora no Farmácia Popular, são 41 remédios de uso contínuo de graça.
É assim que a gente vai cuidar desse país, gente. É assim. Cuidar com maior seriedade, sem mentira, tentando provar para o povo que as coisas podem acontecer nesse país. É por isso que nós temos recorde de geração de emprego e ao mesmo tempo temos recorde da menor taxa de desemprego desse país: 6,6%. É a menor durante muitos anos. E assim vai continuar.
Economia crescendo, educação recebendo investimento, saúde recebendo investimento, obra, porto, aeroporto, recebendo investimento, porque o país precisa disso. Se não, eu não teria voltado a ser presidente da República. Não teria voltado. Eu voltei porque eu acredito nas coisas que eu queria fazer e vou fazer. E vamos vencer a mentira. Essa é uma parte que faz parte do meu programa. Derrotar a mentira, sabe, do ex-presidente da República e sua turma.
Jornalista Clóvis Monteiro: É o mantra, é o seu mantra atualmente, então, né? Presidente Lula, eu quero agradecer, mas em nome da Isabelle, do Sidney, do meu presidente aqui da Rádio Tupi, o Josemar Giménez, está mandando um abraço pro presidente. Eu queria que o senhor deixasse uma palavra pro povo do Rio de Janeiro sobre a importância dos 90 anos da nossa Rádio Tupi, Presidente Lula.
Presidente Lula: Olha, primeiro, Clóvis, eu gostaria de parabenizar a Rádio Tupi pelos seus 90 anos. Olha, ninguém chega a 90 anos se não tem qualidade. Da mesma forma que um ser humano, uma rádio chegar a 90 anos sendo campeã de audiência, efetivamente é porque o trabalho que vocês prestam é de qualidade.
E o povo do Rio de Janeiro está de parabéns por ter jornalistas como vocês e ter uma rádio como a Tupi. Portanto, meus parabéns a vocês, meus parabéns à direção da Tupi, meus parabéns aos ouvintes, aos clientes da Tupi que são os ouvintes da Tupi. Sabe, as pessoas que acordam de manhã, mulher, homem, que estão nos seus afazeres com o radinho ligado ouvindo vocês, essas pessoas são preenchidas no seu tempo com coisas boas, com notícias sérias.
E é isso que me agrada. A imprensa, ela pode mudar a história do país. E a imprensa não pode mentir. A imprensa tem que dizer a verdade, a verdade, e somente a verdade. Porque é isso que interessa a uma nação livre e soberana. Por isso, muito obrigado a vocês e eu espero que numa ida minha no Rio de Janeiro, a gente possa se encontrar pessoalmente para tomar um café.
Jornalista Isabele Benito: Pode ser amanhã.
Jornalista Clóvis Monteiro: E pode vir na rádio aqui, ser nosso convidado. Visitar a rádio aqui, não é, Sidney?
Jornalista Sidney Rezende: É verdade, é verdade. Vamos agradecer ao presidente Lula pela resposta. Embora ele tenha sido veemente em relação à minha pergunta, eu mantenho, porque nós temos as contas do governo com R$40 bilhões de déficit. É possível que seja revertido, mas para isso tem que gastar menos, de fato. Mas agradecemos a ele, evidentemente.
Jornalista Clóvis Monteiro: Últimas palavras da Isabele.
Jornalista Isabele Benito: Eu gostaria aqui de agradecer. É uma grande honra. É a segunda vez na minha vida, no meu começo de carreira, que eu entrevisto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eu estive presente no marco histórico quando ele foi reeleito agora, nesse último mandato, eu estava ao vivo aqui.
Então, eu gostaria de agradecer e dizer mais uma vez, pelo histórico do dia a dia, ele está melhor do que vocês dois juntos. Toma café, come ovo e namora.
Jornalista Clóvis Monteiro: Eu vou começar a frequentar a academia do presidente, porque está bem demais. E outra, depois do negócio da cabeça, o pessoal “vai morrer, vai morrer”. O homem está mais forte do que antes.
Jornalista Isabele Benito: Querido, ele trabalha a coxa às 5h da manhã, enquanto você está ainda nem sabendo onde você está, querido.
Jornalista Clóvis Monteiro: É verdade. Presidente, olha que moral, hein? Que moral. E ela está separada. É mãe solo, hein?
Jornalista Isabele Benito: Obrigado, presidente.
Presidente Lula: Obrigado, Clóvis. Obrigado, Isabela. Obrigado, Sidney. Foi um prazer conversar com vocês.