Entrevista do presidente Lula à Rádio Princesa (BA)
Presidente Lula: Ô, Dilson, eu quero começar te cumprimentando, cumprimentando o Uchôa. Quando o Uchôa começou a falar a quantidade de rádio que está participando da transmissão, eu pensei que ele ia falar da BBC de Londres. É tanta rádio que eu falei: "esse rapaz ultrapassou o mundo agora". Mas se tem uma coisa, Dilson, eu gosto de rádio. Eu acho que a conversa que a gente faz com as pessoas, através de uma rádio, é muito importante, porque as pessoas podem se locomover com o rádio em qualquer lugar, não precisa ficar sentado em um sofá, pode estar trabalhando em casa, pode estar capinando, pode estar lavando, pode estar passando, pode estar estudando. A pessoa está lá e não precisa tirar o olho para enxergar. Então eu gosto, porque é uma entrevista mais verdadeira, é uma coisa mais tête-à-tête, é uma pergunta mais, eu diria, contundente. Então, quando eu venho em uma rádio, eu digo sempre o seguinte: "Eu estou aqui nu diante de vocês. Perguntem o que vocês quiserem, aquilo que souber responder, eu responderei. Aquilo que eu não souber, eu falo que não sei. Mas é importante que seja uma entrevista muito verdadeira, porque, afinal de contas, não é todo dia que vem um presidente da República à Feira de Santana.
Rádio Princesa: Verdade. Saudar o governador Jerônimo, os ministros Rui [Casa Civil], ministro Renan [dos Transportes], deputado federal Zé Neto. Todos os ministros da sua comitiva, presidente. Presidente, vamos começar batendo esse papo
Presidente Lula: Deixe eu contar um fato histórico, não sei se o Wagner [Jaques Wagner, senador] está aí. Eu vou contar um fato histórico, sabe, que ninguém sabe, porque ninguém nunca contou a ninguém. Mas eu estava em Feira de Santana, fazendo o encontro com o pessoal da pequena agricultura familiar, quando o Jaques Wagner era ministro da Dilma e ele veio a Feira de Santana conversar comigo. Eu vou lhe dizer qual foi o anúncio que ele me deu. Ele veio dizer que a Comissão de Ética da Câmara tinha dado cartão vermelho para Eduardo Cunha [ex-presidente da Câmara dos Deputados]. E que o Eduardo Cunha, então, iria colocar o impeachment da Dilma para ser votado. Havia, naquele tempo, a possibilidade de que o pessoal ia fazer apenas a demonstração ao Eduardo Cunha, e não dar cartão vermelho. Mas aí os deputados resolveram dar cartão vermelho e o Jaques veio para cá: "Vai acontecer o impeachment, porque o Eduardo Cunha vai colocar para votar". E aconteceu o impeachment. E o Wagner veio a Feira de Santana me dar essa notícia que a coisa tinha azedado lá em Brasília. Esse é um fato que marcou um pouco a história desse país, porque esse país, depois do impeachment, esse país andou para trás, desandou e as coisas não deram mais certo. Então, com a nossa volta, a gente tá tentando fazer com que o país volte outra vez a encontrar seu rumo, a trabalhar, gerar emprego, gerar salário, gerar renda, gerar consumo, gerar educação, gerar saúde, gerar habitação. Essas coisas que vão acontecer. Então, eu tenho uma relação boa. O Dílson estava me contando: a primeira vez que eu vim a Feira de Santana, eu vim aqui para fazer um comício de solidariedade ao Chico Pinto [ex-deputado federal], que estava sendo ameaçado de cassação porque ele tinha chamado o Pinochet de ditador. Você vê como a história mudou, como as coisas mudaram.
Rádio Princesa: E eu entrevistei o senhor, o senhor estava sentado no canto de carroceria de um caminhãozinho, um caminhão de carroceria de madeira. Chico Pinto fazendo campanha para Colbert Pai, que é pai do atual prefeito, Colbert Filho. E o senhor ainda era sindicalista, o senhor veio como sindicalista, como líder sindical. Eu entrevistei o senhor, o senhor sentado no canto da carroceria e eu sentei no tablado do caminhão para entrevistar o senhor com um gravador.
Presidente Lula: E estamos aqui os dois vivos, jovens, bonitos. Sabe? Querendo viver muitos anos ainda.
Rádio Princesa: E depois tive a oportunidade de entrevistar o senhor quando o senhor veio, em duas oportunidades, o senhor foi presidente, na época, no seu primeiro e segundo mandato, o senhor veio na FAMBS (Fundacao de Assistencia ao Menor do Baixo Sul) para entregar obras da FAMBS. E, felizmente, presidente, a FAMBS é uma das perguntas que eu tive para o senhor. A FAMBS fechou. A denúncia que havia desvio de recursos não provaram. O Tribunal de Contas e CGU fiscalizaram e não encontraram desvio de recursos nas FAMBS até hoje. São passados quase 20 anos e a FAMBS parou eram, na época, cerca de 6 mil crianças, só em Feira, atendidos. E 30 mil no estado da Bahia. E essas crianças ficaram desassistidas com o fim da FAMBS.
Presidente Lula: Olha, eu vi essa pergunta que estava escrita aqui para mim e eu não conheço bem o assunto, na verdade. Eu vim para conversar, com meu governador aqui, o Jerônimo, para saber o que aconteceu, porque quando é denúncia de corrupção, você tem que investir. Se você encontrar o culpado, você torna público o culpado. Se você não encontra, você pede desculpa. Mas, no Brasil, não é assim. No Brasil, eu conheço gente que foi acusado, as pessoas tiveram a sua vida devastada, as pessoas perderam qualquer condição de continuar fazendo política e, depois, ninguém provou nada. Ninguém conseguiu provar. Eu tenho gente que, no meu primeiro mandato, foi acusada e até hoje, passado 15 anos, nunca ninguém chamou essa pessoa para prestar um depoimento. Então, eu vou me inteirar com o governador o que aconteceu aqui de verdade, porque, se tem uma coisa que funcionava e se estava funcionando, se cuidava das pessoas, se tratava das crianças, eu não sei porquê fechar. Mas eu vou me inteirar e depois você pode me fazer uma pergunta que eu te respondo, lá de Brasília mesmo.
Rádio Princesa: Presidente, no momento os aposentados e pensionistas estavam um tanto preocupados, mas ouviram do senhor e não sei se o senhor confirma, que não pretende, o governo, desatrelar o reajuste do salário mínimo ao dos aposentados e pensionistas.
Presidente Lula: Deixa eu te dizer uma coisa, Dilson. Eu não faço isso, porque não é correto do ponto de vista econômico. Não é correto do ponto de vista político e não é correto do ponto de vista humanitário você tentar jogar a culpa de qualquer ajuste que você tenha que fazer em cima do mínimo. O mínimo é o mínimo, não tem nada mais baixo que o mínimo. Então, o mínimo é aquilo que está estabelecido por lei para que a gente garanta aos trabalhadores a possibilidade de comer as calorias e proteínas necessárias para sua sobrevivência. Então, veja, nós decidimos, já no outro mandato meu, depois a Dilma continuou. Depois que a Dilma foi impichada acabou. Ou seja, primeiro, a gente tem obrigação de recolocar a inflação. A reposição inflacionária é obrigação nossa, garantir que o trabalhador vai ter a recomposição para recompor o seu poder aquisitivo. Depois, nós decidimos que quando a economia cresce, é preciso que o resultado desse crescimento seja distribuído com o povo, com os 203 milhões de pessoas. E o que que nós fizemos? Nós estabelecemos que a gente vai dar reposição inflacionária mais a média do crescimento do PIB nos últimos dois anos.
Ou seja, nós estamos aumentando o poder de compra, o poder de sobrevivência, das pessoas mais humildes desse país, que são quase 30 milhões de pessoas. Não tem porquê a gente jogar nas costas dele. Ora, se a gente tiver gastando de forma equivocada, nós temos que parar de gastar de forma equivocada. Eu digo todo dia: "Eu não aprendi na Unicamp, não aprendi na universidade de economia da Bahia, não aprendi em Harvard, eu aprendi com a Dona Lindu: a gente só gasta aquilo que a gente tem". Se a gente tiver que fazer uma dívida, a gente tem que saber se a gente tem dinheiro para pagar. Se não tiver para pagar, não faça a dívida, porque você vai quebrar. É assim que eu quero cuidar do Brasil. Eu quero aumentar a riqueza, quero aumentar a arrecadação, quero aumentar a distribuição e quero aumentar o bem-estar da sociedade brasileira. Então, nós estamos fazendo um estudo, pente fino, para saber se tem alguma coisa errada, se tem alguém recebendo o que não deveria perceber. Porque o que eu estou percebendo é que tem gente que precisa receber, eu fui em uma casa, essa semana, uma miséria tão grande e eu perguntei para a mulher: "Você recebe Bolsa Família?". "Não". Ora, se essa mulher não recebe o Bolsa Família, quem é que recebe? Porque essa mulher está em uma miséria desgraçada. Então, eu tenho muito cuidado, Dilson, de mexer nessas coisas de quem ganha pouco, porque tudo arrebenta do lado dele, tudo arrebenta do lado dele. Ou seja, quando as coisas estão maravilhosamente bem, quem ganha muito, ganha mais. Quem é mais rico, fica mais rico ainda. Agora, quando a coisa dá um certo desandar, a corda arrebenta para o lado do mais pobre. E é por isso que eu digo que não haverá mudança na nossa política de salário mínimo, porque nós não vamos prejudicar quem já é prejudicado a vida inteira.
Rádio Princesa: Presidente, ainda nesse tema da economia, muito se fala na questão da autonomia do Banco Central. Esse é um questionamento que muitos fazem. Qual a sua visão em relação a essa questão da autonomia do Banco Central. Manter do jeito que está, qual a posição do senhor?
Presidente Lula: Não é uma discussão de muita gente. Quem quer o Banco Central autônomo é o mercado, que fazem parte do Copom, que determina a meta de inflação, que determina política de juros. Eu tive um Banco Central independente. O Meirelles [Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central] ficou 8 anos no meu governo, como presidente do Banco Central, e o Meirelles teve total independência para fazer os ajustes que quisesse fazer, sem que o presidente da República se metesse. Agora, veja, o que você não pode é ter um Banco Central que não está combinando adequadamente com aquilo que é o desejo da nação. Nós não precisamos ter política de juros altos nesse momento, não precisamos. A taxa Selic é de 10,50 está exagerada, a inflação está controlada. Nós acabamos de aprovar a manutenção da média de 3%. Ou seja, porque responsabilidade é uma coisa que a gente preza muito. Eu digo para todo mundo, para ninguém ter dúvida do que eu falo: "Eu vivi dentro de uma fábrica, recebendo salário, em uma inflação de 80% ao mês". E eu digo sempre que eu saia da fábrica e quando eu pegava o salário, dia 10, eu saia da fábrica e ia direto para um atacadista, comprar tudo que não era perecível, para ver se não perdia o meu salário.
Então inflação baixa, para mim, não é um desejo, é uma obsessão. Porque eu sei que quanto mais baixa a inflação, mais o trabalhador tem poder aquisitivo, mais o dinheiro vai render. Então, isso faz parte da minha vida. Não é um programa de governo, não é um discurso para você, Uchôa, ou um discurso pro Dilson no microfone da rádio Princesa. Isso é uma profissão de fé que eu carrego. A inflação tem que ser baixa, o governo precisa gastar corretamente, o governo tem que fazer coisas para que sobre dinheiro para investimento, porque o Estado brasileiro tem pouca capacidade de fazer investimento. Nós já tivemos uma massa salarial que representava 50% do PIB.
Nós precisamos ter noção de que nós ainda temos muito para fazer para melhorar a vida das pessoas. E aí o Banco Central tem que ser o Banco Central de uma pessoa que seja indicada pelo presidente. Como é que pode o presidente da República ganhar as eleições e depois ele não poder indicar o presidente do Banco Central. Ou, se indica, ele tem mandato. Eu estou há 2 anos com o presidente do Banco Central do Bolsonaro. Há dois anos estou. Então, não é correto isso. O correto é que entre um presidente da República e ele indica o presidente do Banco Central. Se não der certo, ele tira, como o Fernando Henrique Cardoso [ex-presidente do Brasil] tirou três. Como tantos outros tiraram. O que não dá é o cidadão ter um mandato e ser mais importante que o presidente da República. Isso que está equivocado.
De qualquer forma, eu também não faço disso uma profissão de fé, uma questão ideológica. Sabe, foi aprovada pelo Congresso a independência do Banco Central, foi indicado um cidadão pelo governo passado. Eu tenho que, com muita paciência, esperar chegar a hora de indicar outro candidato, indicar outro candidato e ver se a gente consegue, com a maior autonomia possível que a decência política das pessoas, ter um presidente do Banco Central que olhe um pouco esse país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala.
Rádio Princesa: Presidente Lula, Feira de Santana, como uma boa parte do Brasil, vive em função do agronegócio que, hoje, realmente, está alavancando a economia nacional. Há preocupação muito grande, hoje, agora há pouco, antes de vir para aqui, uma entidade ligada ao agronegócio liga para mim pedindo que perguntasse ao senhor o que o senhor acha, portanto, desse momento em que o susto de invasão de terras dos pecuaristas e agronegocistas? A preocupação dos pecuarista é com invasão de terras das fazendas que, algumas delas, foram invadidas. Qual a política do senhor em relação a isso?
Presidente Lula: Esses dias eu vi o ministro da Agricultura, o companheiro Fávaro, dizer uma coisa. Ele dizia que o agronegócio não deveria ter medo das ocupações dos sem terras, porque quem está tomando terra deles hoje são os bancos, que compram os títulos das dívidas agrárias deles. E o banco, quando compra o título, é imperdoável. Ele vai em cima, vai em cima, e recebe ou toma a terra. Ora, faz tempo que sem terra não invade terra nesse país, faz muito tempo, faz muito tempo que os sem terra fizeram uma opção em se transformar em pequenos produtores, altamente produtivos, inclusive é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, e colocar alimento saudável na mesa do povo trabalhador. O trabalho dos sem terra, organizado em centenas de cooperativos pelo país, que estão produzindo de forma extraordinariamente.
Eu acho que a gente tem que ter noção do seguinte, nós temos uma constituição que define como é que é feita a reforma agrária, nós temos uma constituição que define quem é que vai pagar a terra, e quando for necessário o governo vai fazer. Esse pernambucano que vos fala, Dilson, foi presidente de 2003 a 2010. Pois bem, no meu período de governo, eu disponibilizei para efeito de reforma agrária 49 milhões de hectares de terra. Se você somar os meus 49 com mais dois milhões e pouco que a Dilma fez, nós, nos mandatos do PT, colocamos disponível para assentamento de pessoas e para produção agrícola 50% de tudo o que foi feito na história de 500 anos desse país. Sem nenhuma violência. Porque eu fiz uma pesquisa, se o povo queria a reforma agrária ampla e radical sob o controle dos trabalhadores e o povo queria uma reforma agrária pacífica e muito tranquila. E foi assim que nós fizemos. E é por isso que o agronegócio está bombando hoje.
Agora, é importante o agronegócio saber que há uma política de financiamento do governo extraordinária. Nós vamos lançar o Plano Safra amanhã. Fique atento, você, Dilson, aqui no microfone para você divulgar. Nós já fizemos ano passado o maior programa, sabe, de financiamento da agricultura da história desse país. Vamos fazer agora, vamos fazer de manhã para o pequeno e médio proprietário, para a agricultura familiar e vamos fazer de tarde para o agronegócio. Por quê? Na quarta-feira. Na quarta-feira. Quarta-feira vamos fazer de manhã para o pequeno e médio produtor, para a chamada agricultura familiar, o Pronaf, e vamos fazer a tarde para o agronegócio. Serão dois grandes programas de financiamento, juros subsidiados, para que as pessoas possam continuar trabalhando. Porque eu acho que nós temos que levar em conta que o agronegócio hoje é responsável por grande parte da riqueza desse país e é importante que continue assim. Porque nós temos que alimentar 1 bilhão e 400 milhões de chineses, 1,4 bilhão de indianos, sabe? Um monte de gente espalhada pelo mundo e o Brasil tem um potencial agrícola extraordinário.
E hoje, Dilson, tem mais aquela discussão tacanha que existia antigamente. É, mas é preciso fazer investimento na indústria, porque a indústria tem um emprego melhor de qualidade, porque a indústria não tem essa coisa. Obviamente que a gente quer o desenvolvimento da indústria. Nós queremos que a indústria represente muito no PIB brasileiro. Mas a gente não pode menosprezar, porque nós temos que analisar quanto de tecnologia tem hoje na criação e na produção de um grão de soja, de um grão de milho, quanto de genética tem investimento na criação de um porco, de um boi, de um frango. Eu sou do tempo em que um boi demorava 48 meses para matar, hoje eles matam por 15 meses.
Então, há uma evolução extraordinária. Só para você ter ideia, nesse um ano e seis meses de eu assumir a presidência da República, nós abrimos 145 novos mercados para a agricultura brasileira. De uma tacada só, a China abriu 38 possibilidades de exportação para 38 frigoríficos brasileiros. Então, meu caro, é o seguinte: a gente vai trabalhar para o agronegócio continuar crescendo, a gente vai trabalhar para que o pequeno e médio produtor continue crescendo e a gente vai trabalhar para a indústria brasileira voltar a crescer. Portanto, nós criamos a Nova Indústria Brasileira, coordenada pelo ministro Geraldo Alckmin, para que a gente possa incentivar a indústria siderúrgica, a indústria naval, a indústria petroquímica. O pequeno e médio empreendedor brasileiro, que nós agora anunciamos um programa chamado Acredita, que vai ser o mais importante programa de crédito já feito nesse país. Crédito para todo mundo, crédito para um companheiro que cata papel na rua para fazer reciclagem, crédito para os pequenos e médios empreendedores, para dono do restaurante, para dono de loja e também crédito para habitação. Nós queremos fazer uma revolução de crédito nesse país para que os trabalhadores que ganham um pouco mais e que não querem comprar uma Minha Casa, Minha Vida, eles possam comprar uma casa de 100 m², 150, 120, e nós vamos então disponibilizar crédito para essa gente. Você vai ver o que vai acontecer. Nós já anunciamos esse programa chamado Acredita, mas ele só vai ser concluído em setembro porque são várias entidades. O Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES, Ministério da Fazenda, Ministério da Casa Civil, Ministério do Meio Ambiente. Então, SEBRAE, então como tem muitos ministérios envolvidos, leva um tempo para a gente poder saber o que cada um vai fazer, mas eu tenho certeza que esse programa Acredita será uma revolução creditícia nesse país. Se o país tiver crédito, o país vai pra frente. É preciso crédito, a juros baratos, para que o povo possa ter vontade de investir.
Rádio Princesa: A gente tá batendo papo com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aqui pela Princesa FM, pelas emissoras da rede Baiana de Rádio e da rede de rádio Capuchinhos. Presidente, o senhor falou desse novo projeto, que é o Acredita, e o senhor lembrou também do Minha Casa Minha Vida, que eu acho que é uma das maiores marcas dos governos do PT. O senhor acredita que esse novo projeto vai ser superior ao Minha Casa Minha Vida, que foi uma grande marca do seu governo?
Presidente Lula: Deixa eu falar uma coisa para você.
Rádio Princesa: Feira de Santana, inclusive, foi referência no Brasil em relação ao Minha Casa Minha Vida.
Presidente Lula: Em 2010, dia 29 de dezembro de 2010, eu estava em Salvador, anunciando a assinatura de um milhão de contratos. A gente começou em 2009, a gente foi fazendo o cadastro. Chegou um milhão e eu vim anunciar aqui na Bahia. A partir daí, já foram construídas quase 7,8 milhões casas neste país. Só a feira de Santana já recebeu 65 mil casas. Eu lembro que no outro mandato eu vim aqui acho que duas ou três vezes inaugurar casas. E agora nós estamos aqui para anunciar mais 1.075 casas novas. Estamos aqui para anunciar a regularização para o pessoal: 4,8 mil famílias vão ter sua terra regularizada. E dessas 4.853 famílias, 1.371 vão ter melhoria na sua casa.
Ou seja, nós também tomamos uma decisão de pegar tudo que é terra pública, tudo que é terra da União espalhada pelo Brasil, e a gente fazer com que essa terra vá para a prefeitura, vá para o governo do estado, para não ficar terreno baldio neste país, e o povo morando em palafita, o povo morando em encosta. Então, meu caro, nós vamos fazer uma outra revolução. Mas eu vim aqui para a Bahia para fazer uma coisa, Dilson. Eu vim aqui para a Bahia porque eu sou agoniado com a Bahia, porque eu estou tentando duplicar essa rodovia ligando Bahia ao resto do mundo, ou seja, há muito tempo. A gente fala em licitação, uma coisa anda, depois a coisa para. A licitação, uma coisa anda, depois para. Eu falei para o meu ministro, Renan Filho, que está aqui, do Transporte: "Ô cara, pelo amor de Deus, eu quero ir na Bahia, quero ir em Feira de Santana, que tem um tráfico mortal de tantos caminhões". Nós temos que vir e dizer que vai melhorar as coisas.
Então, eu estou aqui para quê? Eu estou aqui para anunciar uma entrega de obra, quatro ordens de serviço e dois avisos de licitação. São R$ 2,8 bilhões de investimentos para a gente melhorar as condições de deslocamento rodoviário na nossa querida Bahia. Nós vamos fazer a duplicação da BR-116, 166, inauguração de 40,3 km, incluindo a parte oeste do Rodoanel de Feira de Santana, obra iniciada em 2014, que foi paralisada e nós intensificamos a partir de 2023. Ordem de serviço para a duplicação de mais 53 km, contratada em 2014, que estava paralisada também. Nós vamos fazer um aviso de licitação do contorno leste de Feira de Santana, 7.200 km, um dos maiores gargalos rodoviários do estado da Bahia e também do Brasil. Ordem de serviço para a pavimentação da BR-030, uma das poucas não pavimentadas na Bahia. Dois trechos da BR-101, de Maraú e de Cocos a Bambai. E depois nós vamos fazer o seguinte, essa coisa atravessa a nossa querida região produtora de grão na Bahia, e por isso a gente está interessado em que esses investimentos vão. Nós vamos fazer edital de licitação para a duplicação da BR-101, 83,6 km, entre a divisa de Sergipe e Três Rios, que estava paralisada desde 2022. E ordem de serviço para o trecho da FIOL-2, que serão 187 km, entre Bom Jesus da Lapa e São Desidério. Trecho estava também paralisado e sem empresa.
Ô, Dilson e Uchôa, vocês não têm noção do que foi o desmonte desse país no governo passado. Vocês não têm noção. Só vou dar uma ideia pra você: a coisa foi tão grave que nós encontramos 87 mil casas paralisadas. Eu fui agora em Fortaleza inaugurar casa que era pra ter inaugurado em 2018. Conjuntos habitacionais que começaram em 2013, 2014, pela presidenta Dilma. Simplesmente foi paralisado. E as mentiras, fake news, dizendo que ia fazer casa verde e amarela, carteira de trabalho verde e amarela, não sei o que lá, verde e amarela. E cadê o dinheiro? Cadê as casas verde e amarela que não tem nenhuma? Então nós estamos retomando só obras escolares, entre creches, escolas, seis mil obras paralisadas. Envolve posto de saúde, envolve UPA, envolve clínicas, sabe? É um descalabro. Além do que, o governo passado utilizou 60 bilhões de dólares, o equivalente a R$ 300 bilhões, para ver se não saía do governo. Então nós encontramos um país, vocês sabem como é que foi. Nós chegamos, tivemos, eu comecei a governar antes de tomar posse. Enquanto o nosso adversário estava em casa chorando, sabe? Estava em casa lamentando. "Quando é que eu vou pra Miami? Quando é que eu corro? Não vou entregar a faixa pro Lula". A gente já estava governando porque a gente teve que fazer um acordo da PEC da Transição, para poder cobrir o rombo que eles tinham deixado. É a primeira vez na história que um presidente começa a governar antes de tomar posse. E nós fizemos isso. Fizemos isso para salvar esse país.
E hoje eu estou muito confortável, porque o país encontrou seu rumo. Se você analisar os números, os negacionistas diziam que o PIB ia crescer 0,8%, cresceu 3%. Agora vai crescer mais. "Ah, porque o desemprego". O menor desemprego desde 2014, divulgado ontem pela PNAD, 7,1% de desemprego, o menor de 2014. A massa salarial cresceu 11,7%. 87% dos acordos salariais que estão sendo feitos agora, são acordos salariais feitos com ganhos acima da inflação. Coisa que no governo passado era 87%, com menos do que a inflação. Então esse país encontrou o seu rumo, cara. Nós vamos crescer, nós vamos continuar fazendo muito investimento em educação, muito investimento em saúde, mas muito investimento no desenvolvimento do país. E é por isso que eu vim anunciar essas estradas aqui toda na Bahia, porque é um compromisso desde o começo.
As pessoas se esquecem que eu, em 1952, com a minha mãe e mais sete irmãos em um pau de arara, passei por essa Bahia, passei por essa Feira de Santana, e naquele tempo, a gente dormia embaixo do caminhão, porque não tinha pensão. Eram comendo queijo, farinha de mandioca, rapadura e água. E água a gente pegava diretamente de São Francisco. Não tinha filtro, não tinha nada. Então o meu carinho por essas coisas é muito forte, porque tudo isso faz parte da minha imagem de criança, da minha imagem de retirante nordestino. Então nós vamos cuidar dessa rodovia da Bahia para nunca mais ninguém esquecer que fomos nós que consertamos essa estrada.
E agora, com o apoio do Jerônimo, porque aqui na Bahia a gente tem sorte, muita sorte e muita competência. Eu era contra o Wagner deixar o Ministério do Trabalho para vir ser governador. Falaram: "Jaques, você vai perder, rapaz, você vai lá brigar com o Carlismo?". Você não tem chance, Wagner". "Mas eu vou, eu vou, eu vou". Tá bom, Jaques, então vai. Não é que ele veio e ganhou no primeiro turno? Aí passou as eleições, tudo, chegou a indicação do Rui. A gente teve um pouco de divergência. Ele indicou, falou, vou indicar o Rui. É a minha Dilma. O Rui faz para mim, o que a Dilma faz para você. Vou indicar o Rui. Indicou o Rui. Falei: "Mas não vai ganhar, Wagner". Ganhou no primeiro turno. Quando é agora, eles inventam de lançar o Jerônimo. Esse menino jovem, sabe, era secretário de Educação, as coisas não andavam bem. Vocês vão indicar. O Grampinho estava com 67%, bem avaliado. Eu falei: "pô, estamos desgraçado". Não é que o Jerônimo ganhou o governador da Bahia? Então, eu aqui, cara, só tenho que aprender.
Eu quando venho aqui, saio daqui como se eu estivesse fazendo pós-graduação de política, sabe, em Harvard. Venho aqui e aprendo. Sabe? E também porque eu tenho certeza que, numa encarnação qualquer da minha vida, eu sou baiano. Porque a minha relação com esse povo é muito forte. Eu gosto muito do povo baiano e tenho certeza que eles gostam de mim. Aonde eu chego nesse país e tenho baiano, a primeira coisa que fala é: "Lula, eu estou da Bahia, Lula. Meu filho fez um Prouni, Lula. Meu filho fez não sei das quantas, Lula. Meu filho está no Instituto Federal, Lula". Isso é que dá alegria pra gente governar. Governar agora, com Jerônimo no governo e com o Rui Costa na Casa Civil, eu fico sempre de olho pro Rui Costa não desviar todas as obras pra Bahia. Ele tem que lembrar que tem 27 estados, que precisamos cuidar um pouco de todo mundo.
Então é isso, eu tô vivendo, Dilson e Uchôa, um bom momento da minha vida. Eu tô muito consciente do que a gente tem que fazer nesse país, tô muito consciente que a gente vai recuperar esse país. Você tá lembrado da primeira propaganda que nós fizemos na televisão, em 2003? Eu conto essa história porque o Ronaldo Fenômeno tinha se machucado na Inter de Milão. E a imprensa esportiva dava ele como encerrado pro futebol. Tá fora do futebol, tá lembrado? E aí aquele cara vai, treina, treina, treina, treina, treina, volta e é o artilheiro da Copa do Mundo é de 2002. Aí, nós fomos procurar o Ronaldão para fazer uma propaganda. O que eu queria passar a ideia? A ideia de que eu sou brasileiro e não desisto nunca. Isso era o que apareceu com o Ronaldo treinando e voltando. Eu quero que o povo brasileiro saiba que a gente não pode desanimar, a gente não pode desistir. Cara, você levanta de manhã, você está com alguma coisa errada, você está nervoso, sabe, para de ficar nervoso, pensa em Deus, pensa na sua família, pensa no seu filho e arruma uma causa para a gente consertar esse país. Esse país tem que dar certo, não é possível. Esse país extraordinário, sabe, que tem todas as riquezas minerais que nenhum outro tem, que tem 8 mil quilômetros quadrados, a maior floresta tropical do planeta Terra, que tem quase 13% da água doce do mundo, que tem uma costa marítima de 8 mil quilômetros, que tem 16 mil quilômetros de fronteira. Rapaz isso é quase como se fosse um paraíso que Deus fez para nós. Então vamos pegar esse paraíso e transformá-lo em uma coisa extraordinária. Esse é o meu desejo e ninguém vai me tirar do sério desse negócio.
Rádio Princesa: O senhor falou aí de política, do senador, do senador Wagner, do ministro Rui, do governador Jerônimo. Você tem aqui o deputado federal, do PT, seu deputado federal lá, e que vai para mais uma pré-candidatura aqui à Feira de Santana, né? As pessoas aqui brincam com o senhor, tentou quatro vezes e se elegeu. O deputado está indo para a quinta, né? Como é que você acompanha aí o deputado federal Zé Neto?
Presidente Lula: Aqui na Bahia nós temos uma situação política muito boa, porque além dos petistas, nós temos aliados. Um cara como o Otto [Alencar], considero o Otto um senador do PT, um senador de uma lealdade extraordinária, e as alianças que eles fizeram para governar a Bahia é que vem resultado para nós no Governo Federal. Olha, eu acho que o dia do Zé Neto vai chegar. Eu tenho certeza, sabe? Por quê? Porque vai chegando um momento em que as pessoas começam a falar: "porra, esse cara é teimoso, esse cara gosta de brigar, esse cara é tinhoso, esse cara é aquele centroavante rompedor, que não tem medo de nada, vai para a luta, se propõe, disputa". Se perde, tudo bem, perde e vai para a luta, outra vez conversa com o povo. Eu vou contar uma história para você, Uchoa. Em 1998 eu perdi as eleições com o Fernando Henrique Cardoso. O Mangabeira Unger foi no meu comitê me convidar para ir para Harvard. Passar seis meses rápido fazendo curso. Isso em novembro, dezembro de 1998. Eu falei para o Mangabeira: "Mangabeira, eu não posso ir para Harvard, eu acabei de perder uma eleição, cara, eu tenho milhões de pessoas que votaram em mim. Eu perdi as eleições, eu tenho o meu partido, eu tenho os meus sindicalistas, eu tenho os meus amigos. Eu vou sair? Não, eu vou viajar ao Brasil a partir de janeiro pra ir conversar com essa gente, levantar a moral da minha tropa. Como é que eu vou deixar a minha tropa aqui e vou pra Harvard?". Não, eu não fui. O Ciro foi no meu lugar e voltou o que voltou. É isso.
Então, eu tô bem no Brasil. Tô bem. Adoro viajar ao Brasil. Adoro, adoro. Hoje, certamente, o Jerônimo vai me oferecer um acarajé. Certamente. Eu tô com água na boca nesse tal de acarajé. Mas eu vou esperar por uma baiana que faz lá no Palácio de Ondina. Mas eu tô bem. Então eu acho que o Zé Neto é uma figura importante. Ele sabe que não é fácil. É preciso muita dedicação, muita andança, muito bater palma na casa das pessoas, conversar com as pessoas, tirar dúvidas. Sabe, que um dia vai chegar. Chegou pra mim. Chegou pra mim. Sabe, eu fui visitar a Juiz de Fora agora. A prefeita perdeu quatro vezes também. Chegou pra ela. A Le Pen na França, cara, a Le Pen, depois de perder tanto, ela e o pai dela, tá chegando pra ela. Sabe, então as coisas assim. A gente tem que teimar. Tem que teimar, tem que lutar, tem que brigar. E tem que fazer as coisas certas.
Uma coisa que a gente tem que aprender, é que a gente tem que aprender a falar com o povo o que ele quer ouvir da gente. Porque às vezes a gente fala o que a gente pensa, só o que a gente pensa, e não é isso que o povo quer ouvir. O povo quer outra coisa. Então é preciso a gente ir fazendo uma modelagem. Eu quando falei aqui da reforma agrária tranquila e pacífica, porque eu fiz um comício no Rio de Janeiro, e no meu discurso eu falei que nós vamos fazer reforma agrária ampla, sabe, e radical sob o controle dos trabalhadores. Mas eu falava muito nervoso. Aí quando eu desci do caminhão, uma senhora de cabelo branco, falou assim pra mim: "Lula, eu voto em você, mas você não pode ficar nervoso quando você fala, você não pode gritar, você estava babando, cara. Isso me dá medo. Você pode falar de reforma agrária de forma mais tranquila, sem precisar brigar". Aí nós fizemos uma pesquisa e a pesquisa era o seguinte: "Você quer reforma radical, ampla e radical sobre o controle dos trabalhadores, ou quer uma reforma agrária tranquila e pacífica?". 90% queria tranquilo e pacífico. Então por que eu vou entrar em guerra se o povo quer paz?
Então eu estou bem, acho que o Neto tem chance. Feira de Santana é uma experiência administrativa importante, é uma cidade extraordinariamente grande, com muitos problemas. Ele sabe disso. E eu fico torcendo para que dê certo. Fico torcendo para que ele possa ser eleito prefeito. Fico torcendo para que ele consiga concluir o programa de governo aqui. E ele agora tem muitos aliados aqui de competência. Agora não é ele só, agora é ele, é Rui, é Wagner, é Otto, é Jerônimo, é o Lula — se eu puder ajudar um pouquinho, eu ajudo, sou de fora. Mas eu acho que ele tem uma chance, ele merece um bom deputado, é um rapaz altamente preparado, eu acho que vai dar certo.
Rádio Princesa: Presidente Lula, o caminho internacional, uma pesquisa feita recente, de ontem para cá, nos Estados Unidos, dá conta que 72% da população é contra a reeleição, não pela capacidade administrativa dele, não pela capacidade física dele de assumir uma eleição nos Estados Unidos. E que Kamala Harris pode até substituir. Gostaria de saber qual a opinião do senhor. E outra opinião, já que nosso tempo está chegando, pelo senhor eu sei que seguiria até amanhã, mas o senhor tem outros compromissos, e a nossa assessoria já nos recomenda com muita categoria. E outra coisa, Zelensky disse que não perdeu a esperança de ter o senhor do lado dele. O senhor acha que o que é que mudaria esse panorama internacional em referência a Biden? E ainda tem a França, né?
Presidente Lula: Biden e Zelensky. Deixa eu dizer uma coisa para os nossos ouvintes: é muito difícil a gente dar palpite no processo eleitoral de um outro país. É muito difícil porque depois do resultado eleitoral, a gente tem que conviver com quem ganhou as eleições. Então você tem que tomar cuidado para não criar nenhuma animosidade. Eu pessoalmente gosto do Biden, já encontrei com o Biden várias vezes. Eu acho que o Biden tem um problema, sabe, que ele está andando mais lentamente, ele está demorando mais para responder as coisas, possivelmente esteja pensando. Mas quem sabe da condição do Biden é o Biden. Eu fui visitar o presidente Sarney, essa semana, na sexta-feira passada, no Maranhão, ele tem 94 anos. O Sarney está preocupado com as eleições de 2026, caramba. Eu pensei que ele estava aposentado, está não. A cabecinha dele está a mil por hora. Fui visitar o Fernando Henrique Cardoso na semana passada, está com 93 anos, mas a cabeça está boa, falando mais lentamente por causa da idade. Eu fui visitar todas as pessoas que já passaram de 80 e poucos anos, que estão meio em situação de saúde precária. E eu acho que o Biden é ele que sabe. Porque uma pessoa pode mentir para si mesmo, pode mentir para todo mundo, mas ele não pode mentir a vida inteira para ele mesmo. Então, o Biden é que tem que avaliar. Se ele está bem, ele é candidato, tudo bem, ele acha que está em condições, ótimo. Mas se ele não está, é melhor ele tomar uma decisão.
O que foi chato e desagradável é que no debate expuseram muito a fragilidade do Biden. Primeiro, do outro lado, um cidadão mentiroso, porque disse, no New York Times, que ele contou 101 mentiras no debate. E do outro lado, o Biden com uma certa morosidade para responder as coisas. Mas quem sabe da saúde dele é ele, não sou eu. Então, eu acho que tem que ser levado muito em conta, porque a eleição nos Estados Unidos é muito importante para o resto do mundo. Não é para os Estados Unidos, é para o resto do mundo. Porque é a depender de quem ganha e a depender de que política externa que quer ter os Estados Unidos, a gente pode melhorar ou a gente pode piorar o mundo. E eu acho que é importante a gente levar em conta que é preciso melhorar o mundo. O mundo precisa ficar mais humano, o mundo precisa ficar mais solidário, mais fraterno, sabe, mais humanista, na verdade, é essa. As pessoas estão muito raivosas, as pessoas estão muito irritadas. Então, eu fico torcendo pelo Biden. Deus queira que ele esteja bem de saúde, Deus queira que ele possa concorrer. Senão o Partido Democrata pode indicar outra pessoa. Aqui eu estava preso. Eu indiquei o Haddad, faltava poucos meses para a campanha. E o Haddad teve uma boa participação na campanha, pelo curto prazo que ele participou. Mas é isso, cara. O Biden tem que contar até 10 e saber o seguinte: eu vou ou não vou? Eu posso ou não posso? Estou em condições ou não estou? Só ele pode dizer.
Rádio Princesa: O Zelensky, com essa ideia de que ele espera que o senhor mude de pensamento.
Presidente Lula: Não, eu não mudo de pensamento pelo seguinte. Eu sou contra a guerra. Eu sou contra. Essa guerra foi desnecessária. Essa guerra poderia ser resolvida numa mesa de negociação. É por isso que o meu governo, desde o primeiro mandato até agora, a gente está defendendo uma mudança no Conselho de Segurança da ONU, nos membros permanentes, que são Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França. Os mesmos que estão aí desde 1945. Não é possível. Precisa colocar mais países, colocar mais representatividade da África, da América Latina. A Índia tem que entrar, a Alemanha, o Japão. Para que a gente tenha um Conselho de Segurança com força política para tomar decisões e evitar guerra. Poderia ter sido evitado.
Então, o que é que eu tenho dito para o Zelensky? Já mandei meu assessor especial, Celso Amorim, ir à Ucrânia conversar com o Zelensky. Já mandei ir à Rússia conversar com o Putin. Para ver se há uma brecha da gente começar a discutir um acordo. Uma paz. Quando tiver essa brecha, o Lulinha entra pra ajudar a resolver. Mas participar da guerra, não participarei. Aliás, eu vou lhe contar uma história que eu vou contar pra Bahia hoje. Em 2003, eu tinha ganho as eleições, em 2002. Em dezembro de 2002, eu fui convidado pelo Bush pra ir à Casa Branca. Quando eu cheguei na Casa Branca, o Bush estava ensandecido porque ele queria invadir o Iraque. Ele queria invadir o Iraque, ele queria invadir o Iraque. Era preciso pegar os terroristas que destruíram as torres. Ele precisava pegar a Al Qaeda, precisava pegar o Osama Bin Laden e tal. E queria fazer a guerra com o Iraque e me convidou pra fazer a guerra. "O Brasil precisa entrar, Lula, porque se o Brasil entrar na guerra, depois o Brasil participa da reconstrução no Iraque". Eu falei: "Presidente Bush, primeiro é o seguinte, o Brasil fica a 14 mil quilômetros do Iraque. Segundo, eu não conheço o Saddam Hussein, eu não tenho nada contra ele. Não tenho nada contra o Iraque. Terceiro, eu estou querendo é fazer uma guerra contra a fome no meu país, que tem 50 milhões de pessoas passando fome e essa guerra eu vou vencer". E disse pra ele: "Não vou participar de guerra, vou fazer a minha guerra".
E graças a Deus, a gente conseguiu tirar o Brasil do mapa da fome, e agora voltou por responsabilidade do governo passado, mas que nós já tiramos 24 milhões agora e vamos zerar isso. Eu não quero ninguém com fome nesse país. Eu quero todo mundo tomando café bem gostoso. Se tiver os cuscuzinho, um ovo frito, uma macaxeira, um inhame, um cará, tudo bem. Se não tiver, pode ser um pão com mortadela, mas um cafézinho quente com leite. Eu quero todo mundo almoçando, eu quero todo mundo jantando, eu quero que as crianças tenham uma merenda escolar. Aliás, você sabe que a refeição escolar ficou sete anos sem reajuste? Vocês acreditam que é possível a refeição dos nossos filhos ficarem 7 anos sem ter reajuste? Eu tive que entrar e dei 39% de reajuste. É um negócio absurdo o que aconteceu nesse país. Então, eu tenho as minhas guerras aqui internas para fazer. A minha guerra é melhorar a vida do povo brasileiro. É ver as crianças bem estudadas, bem formadas.
Vocês vão ouvir hoje do chamado programa Pé-de-Meia. O que é que nós fizemos com o Pé-de-Meia? Gente, você já ouviu falar, Dilson. É um programa para a gente evitar que meninos e meninas de 14, 15 e 16 anos deixem de estudar o ensino médio para poder trabalhar. Nós queremos eles na escola. E para isso a gente adquiriu uma poupança. Uma poupança que vai dar 2 mil durante 10 meses. Quando chegar no final dos 10 meses, se ele tiver participado 80% das aulas e passar de ano, ele vai receber mais mil. Aí já são 3 mil. No ano seguinte a mesma coisa, 10 de 200 e mais uma de mil. E no terceiro ano, quando ele terminar, ele pode ter 9 mil reais numa poupança. E a gente tá fazendo isso pra quê? Porque se eu não fizer investimento em educação agora, se eu não acreditar que é preciso formar essas crianças, eu amanhã vou ter que gastar esse dinheiro pra fazer cadeia. É isso. Pra enterrar jovens mortos pelo narcotráfico, pelo crime organizado. Então é hora de investir é essa idade. É quando tá 15, 16, 14 anos, não sei se vocês têm filho, mas é nessa idade que o filho da gente é mais carente. Se a gente então não der um apoio e ele desviar de caminho, não se recupera mais. Então esse país, Uchoa, eu vou construir. Obviamente que eu, quando eu falo "eu vou construir", eu sou o Jerônimo, eu sou o Wagner, eu sou o Rui, eu sou o Neto, eu sou vocês. Ou seja, na verdade, quando eu falo eu, é nós. Nós temos que consertar esse país. Eu tenho fé em Deus que a gente vai chegar lá. Eu tenho dois anos e cinco meses de mandato. Tem quase o dobro do que eu já governei.
E vou te contar uma coisa, nós vamos saber muita coisa nesse país. Mas muita coisa nesse país que vocês não têm dimensão. Acabamos de aprovar 100 novos institutos federais. Quando eu cheguei na presidência, em 2003, em 100 anos, a elite brasileira tinha feito 140 institutos. Nós vamos chegar a 782 Institutos Federais. Porque a educação pra mim é uma obsessão. Eu sei o significado de um trabalhador com profissão e um trabalhador sem profissão. Eu sei a chance de um e a chance de outro. E eu já fui sem profissão e já tive profissão. Então, eu tenho dito para a meninada: "eu quero que você estudem". E tenho pedido para os pais, pelo amor de Deus, não deixem o seu filho parar de estudar, em hipótese alguma, por nada desse mundo. Não deixem ele parar de estudar. Mesmo que ele quiser ser jogador de bola, mande ele estudar. Porque um jogador de bola letrado pode ser melhor do que um não letrado. Então, é assim que é a minha vida. Uchôa, Dilson, é assim que é a minha vida.
Eu quero agradecer a vocês por essa entrevista. Dizer pra vocês que, pra mim, rádio é uma coisa muito importante. Eu tenho um apreço muito grande por entrevista de rádio. E agora que vocês descobriram o caminho da minha assessoria, quando tiver uma coisa importante e você falar "porra, nós queríamos ouvir o presidente Lula", diga pro meu pessoal. Porque a gente pode fazer do Palácio da Alvorada. Bota o microfone lá, o Stuckinha [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Secretaria de Comunicação. Social da Presidência da República] bota a câmera dele e a gente faz como se estivesse ao vivo. Vocês dois bonitões aqui, eu bonitão lá, e a gente conversa com o povo da Bahia inteira. Muito obrigado pelo carinho.
Rádio Princesa: Agradecer ao senhor, Dilson. Agradecer a todas as emissoras de rádio que estão aí, a Bahia inteira, acompanhando o presidente Lula nesse momento, comandada aqui pela Princesa FM, pelos programas Altos Papos e Bom Dia Feira. E agradecer ao nosso superintendente, Frei Jorge, que abriu todo esse espaço das emissoras pra que a gente pudesse fazer esse bate-papo com o presidente, com o governador e toda a sua comitiva, Dilson.
Bom, eu agradeço pessoalmente. Mais uma entrevista que eu faço com o presidente Lula. Essa entrevista que a gente tem, realmente, o prazer de divulgar em toda a Bahia. O senhor, nesse momento, falou pra toda a Bahia, pra Chapada Diamantina, pro Norte, pro Nordeste, pro Sul, pra capital baiana também, através das rádios da capital, da rádio Recôncavo. E agradecer bem o presidente. E o senhor se sinta mais radialista a partir de hoje.
Presidente Lula: Dilson, muito obrigado. Muito obrigado. Muito obrigado aos ouvintes da rádio Sociedade, da rádio Guaraíba, da rádio Interativa, da rádio Nova Cidade, da rádio Vale SM, da rádio Costa Sul, da rádio Andaiá, da rádio Jaraguá e da rádio Recôncavo. Se eu pudesse, eu ia mandar um recado pra Dona Canô. Mas como ela já foi pro céu, tá de lá, olhando a gente aqui, bonitão. Muito obrigado. Um abraço do coração.
Rádio Princesa: O governador Jerônimo está aqui, o ministro Rui Costa, e o ministro Renan também. Meu agradecimento ao deputado Zé Neto também que está aqui.
Presidente Lula: E o ministro Jader Filho [das Cidades], que vem aqui anunciar. Hoje ele vai assinar 1.075 casas aqui em Feira de Santana.
Rádio Princesa: Obrigado e até uma próxima oportunidade, Presidente.
Presidente Lula: Abraço.
Rádio Princesa: Abraço a todo mundo que estava ouvindo a Rádio Princesa FM e a todas as emissoras. A gente agora encerra esse bate-papo com o presidente.