Entrevista do presidente Lula à Rádio Norte FM
Valter Frota: Muito obrigado pela sua disponibilidade, obrigado por atender a nossa equipe, esse veículo de comunicação aqui do Norte do Brasil que também chega ao Nordeste do nosso país. E já desejando para o senhor: seja muito bem-vindo ao nosso programa e falar um pouquinho como é que foi essa viagem.
Presidente Lula: Obrigado, obrigado Valter, obrigado Samira. Olha, a viagem ela se fazia necessária, porque a gente ficando aqui em Brasília, apenas acompanhando através da televisão, da internet ou do rádio, a gente não tem uma noção exata do que significa falar em seca na Amazônia.
Ou seja, quando a gente vê um pouco de água, a gente pensa que não tem seca porque tem um pouco d'água. O que a gente aprendeu nessa viagem é que, mesmo tendo um pouco de água naqueles rios, aqueles rios eram seis, sete vezes maiores do que o que tem hoje, nós chegamos em comunidade que a casa, quando o rio está normal, bate na janela e o rio estava com menos de meio metro de água, que não dá nem para os barcos transitarem carregando os produtos que as pessoas produzem e muito menos para pesca porque o peixe desaparece, o peixe morre. Então é uma situação muito grave, eu fiquei muito feliz porque eu aprendi com a minha mãe que aquilo que os olhos não veem e o coração não sente.
Então eu fiz essa viagem, visitei três comunidades, visitei a comunidade Canaã, visitei a comunidade São Sebastião do Curumitá e a comunidade de Campo Novo. Ou seja, tivemos a colaboração extraordinária do nosso Exército que colocou aviões para levar toda uma delegação e eu voltei com a disposição e com o compromisso de fazer mais do que a gente está fazendo. É preciso que a gente olhe com mais carinho. Eu levei vários ministros comigo, foram oito ministros e é preciso a gente voltar lá para cuidar da saúde. É preciso a gente voltar lá para melhorar o programa Luz para Todos. É preciso a gente voltar lá para melhorar a distribuição de alimentos. É preciso a gente voltar lá para melhorar a água das pessoas beberem.
Então agora eu voltei de lá com o compromisso de que cuidar daquele povo também é a minha responsabilidade. Aquele povo que muitas vezes é tratado como se fosse invisível, ou seja, que as pessoas não querem enxergar, pode eu fui lá para enxergar mulheres, homens e crianças e dizer para eles: nós vamos cuidar de vocês.
E é importante lembrar, Samira e Valter, que eu cheguei lá com 150 purificadores de água que nós tínhamos feito experiência no Rio Grande do Sul e cada purificador ele consegue tratar 5 mil litros de água em 24h. Pode pegar água do rio, na hora você liga e na hora você pode beber água do rio que está não potável, você torna ela potável na hora. Eu deixei lá 150 purificadores, eu espero que a Defesa Civil do Estado possa ter facilidade de fazer chegar onde há necessidade. E também voltei com o compromisso de que o Governo Federal vai assumir a responsabilidade de junto com o estado, junto com os prefeitos, a gente fazer mais coisas para a gente atender as necessidades básicas daquele povo.
Samira Benoliel: Presidente Lula, a pergunta que eu queria fazer também é o seguinte: os indicadores do clima na Amazônia têm apontado aí rios cada vez mais secos, menos chuvas e a situação realmente está cada vez pior, a cada ano. Como tornar, o que fazer na verdade, o que o Governo Federal pode fazer para deixar esse cenário mais ameno, suavizar toda essa situação, uma vez que a gente está tendo muitos focos de incêndio aqui na Amazônia?
Presidente Lula: Olha, Samira, tem uma coisa que nós, seres humanos, temos que aprender, ou seja, nós quando agimos de forma irresponsável, nós estamos destruindo o mundo que nós vivemos. Esse é um dado concreto.
A experiência tem mostrado que a cada ano que passa, as coisas se agravam mais. E nós não poderemos permitir que a temperatura do mundo se eleve acima de um grau e meio, porque ficaria insuportável a sobrevivência humana no planeta Terra com uma caloria excessiva. E aí o cuidado com a Amazônia, porque teve um tempo que a Amazônia era chamada como o pulmão do mundo e nós tínhamos uma dívida externa que a gente dizia que era a pneumonia do mundo.
Nós temos que aproveitar esse momento em que a Amazônia, não só a Amazônia brasileira, mas a Amazônia da América do Sul é a parte mais conservada do planeta Terra, para que a gente receba em dinheiro para cuidar das pessoas que moram lá. Porque nós temos que fazer os europeus e o mundo desenvolvido compreender que embaixo de cada copa de árvores mora uma pessoa, tem um extrativista, tem um seringueiro, tem um pescador, tem um indígena, tem um pequeno colono. Então essa gente pode utilizar a preservação da floresta como uma forma de viver, como uma forma de ganhar dinheiro, como uma forma de cuidar da sua família.
E é isso que nós estamos fazendo com o Fundo Amazônia, é isso que nós vamos fazer agora na COP29 no Azerbaijão, em que a gente vai continuar mostrando que havia anos que não tinha uma seca como nós estamos tendo agora e tanta queimada. Então nós vamos ter que ter consciência que nós precisamos criar condições de sustentabilidade também jurídica para que a gente possa estar preparado para cuidar disso. Nós temos certeza que os eventos serão cada vez mais frequentes em tempo e, portanto, eu vou encaminhar ao Congresso Nacional uma medida provisória criando o Estatuto Jurídico da Emergência Climática.
O nosso objetivo, Samira, é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas a partir de um Plano Nacional de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos. Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento desse fenômeno. Por isso, vamos estabelecer uma Autoridade Climática e um Comitê Técnico-Científico que dê suporte e articule a implementação das ações do Governo Federal junto com o governo estadual e junto com as prefeituras.
Ou seja, no fundo, nós queremos levar a sério, definitivamente a sério, a questão climática. Não é mais uma questão secundária, não é mais uma questão da universidade, não é mais uma questão apenas de cientista. É uma questão de responsabilidade de todos nós.
Sua, Samira, sua, Valter, minha, ou seja, a responsabilidade é de todos nós. Nós precisamos cuidar do mundo que nós vivemos. Por isso, nós vamos levar muito a sério e nós vamos trabalhar muito para que a gente possa dar ao povo a certeza de que eles serão cuidados. Trabalhando em parceria com o governo do estado e com as prefeituras.
Valter Frota: Presidente, tiozão agora falando. Agora há pouco a gente estava conversando nos bastidores e o senhor falou. “Você não é um tiozão, se não eu vou ser também um vozão”, mas é o carinho que nós temos pelo senhor aqui no estado do Amazonas. E nesse momento, Rádio Norte FM, que é uma das rádios mais assistidas aqui no Norte do Brasil, em Brasília, com essa conexão também para o Nordeste. E vamos falar da BR-319, porque é uma BR importantíssima aqui para o nosso estado, que liga, na verdade, a região Norte para o restante do nosso país, criada na década de 70.
E essa pergunta é uma pergunta de todos os amazonenses para o senhor, porque a construção e manutenção dessa BR está ligada diretamente no desenvolvimento aqui da cidade, no desenvolvimento aqui do estado. No ano passado, por exemplo, sofremos com desabastecimento, de acordo com a Federação do Comércio aqui do nosso estado, apontou que de cerca de 25% a 30% desse desabastecimento (...)
Presidente Lula: Essa liberdade de me chamar de vovô, tá? Por isso que eu te chamei de Valter até agora, mas se não te incomodar eu posso te chamar de tiozão. Olha, a BR-319 é uma necessidade para o estado do Amazonas, é uma necessidade para Roraima e é uma necessidade para o Brasil. Essa estrada foi feita em 1970, ela funcionou um tempo, depois ela foi se deteriorando e ela hoje é uma cidade que tem, de Manaus até uma determinada distância, ela tem funcionamento. De Roraima até outra distância, ela tem funcionamento.
E tem no meio dela 400 quilômetros que foram deteriorados e que nunca foram consertados. Nunca foram consertados porque é uma estrada que tem um impacto muito forte na questão da Amazônia e na floresta, já que é uma das partes mais conservadas que nós temos no país. Ora, o que é que nós estamos propondo na verdade? Eu disse ao governador, eu disse ao senador Eduardo Braga, ao senador Omar Aziz, eu disse aos deputados que eu vou convocá-los aqui em Brasília para uma discussão muito séria com o Ministério do Transporte, com o Ministério do Meio Ambiente, para que a gente estabeleça um compromisso de que ao retomar a construção daquela estrada, a gente tenha o compromisso de não permitir a grilagem de terra, de não permitir que as pessoas queimem de um lado ou de outro, que as pessoas grilem, que as pessoas ocupem, que as pessoas façam queimadas, porque é uma área que tem que ser preservada.
Então, se tiver terra do estado e terra da União, a gente precisa garantir que essa estrada seja preservada, que a floresta seja preservada e que a estrada seja uma estrada feita, quem sabe, da melhor forma possível e que a ciência pode nos permitir fazer. Então, nós começamos ontem, assinamos um contrato do DNIT para começar a fazer de 52 novos quilômetros que já estavam autorizados. A gente vai começar a fazer primeiro os 20 quilômetros e daqui acho que uns 20 dias está liberado os outros 32 quilômetros.
Enquanto isso, nós vamos estabelecer uma discussão com o estado e com a União, com os ministros envolvidos, vamos convocar qualquer especialista que estiver em qualquer lugar do mundo para vir aqui discutir conosco como é que a gente pode fazer essa estrada sem causar danos à floresta que está muito preservada naquela região. Eu disse ao governador ontem, ele disse que está disposto a fazer o que for necessário. Então eu tenho certeza que agora a gente pode encontrar uma solução de definitivamente a gente fazer a BR-319 a estrada mais bem construída, mais bem-sucedida e manter a floresta mais bem conservada do mundo. Então, é um compromisso e nós vamos tentar cumprir a partir dos próximos dias.
Samira Benoliel: Presidente Lula, eu queria falar agora sobre os indígenas Yanomami lá do estado de Roraima. A gente sabe a situação que aconteceu por lá e o tanto de mortes que aconteceram também foram registradas. Esse impacto negativo que ganhou repercussão nacional e internacional pelos garimpos que existem lá na região.
E o governador Antônio Denário alega que não são realizadas ações nesse sentido porque existe a falta de apoio financeiro do Governo Federal. O que eu queria saber do senhor é o seguinte, existe essa falta de recurso do Governo Federal para Roraima com relação ao combate aos garimpos? E como o senhor vê essa falta de ação do governo estadual, essa fala dele para combater o garimpo ilegal também?
Presidente Lula: Olha, eu penso que o governador se falou, não falou sério. E se falou isso, não disse a verdade. Olha, nós temos uma sala de situação montada na cidade de Boa Vista. Nós temos a representação de mais de 10 ministros que vivem o dia inteiro em Boa Vista. Nós estamos tentando cuidar da forma mais eficaz possível numa situação muito difícil.
Você veja uma coisa, nós já destruímos lá 757 dragas e balsas de garimpeiros, tudo isso em 2003. E até esse mês, 666 dragas e balsas neste ano de 2024. A Polícia Federal fez 17 ações de combate ao financiamento ilegal de garimpo Yanomami com prisões, mandados de busca e bloqueio de recursos obtidos ou que financiavam o garimpo ilegal.
E há 52 inquéritos de investigação abertos contra incêndios criminosos. Olha, nós estamos fazendo aquilo que é necessário fazer. Lamentavelmente, eu fico muito triste quando eu ouço dizer que continua a morrer criança, morre criança de desnutrição, não pode ser porque a gente está mandando a comida, mandando a cesta básica.
Eu não sei, já tenho conversado com a ministra Nísia [Trindade, ministra da Saúde], que tem dedicado, tem mandado mais médicos lá. No começo, a gente tinha um problema porque tinha médico que não queria ir para se aprofundar mais na floresta com medo do crime organizado. E nós estamos enfrentando o crime organizado, inclusive criando um departamento da Polícia Federal no Amazonas para tratar especificamente do combate ao crime organizado e ao garimpo.
As coisas estão sendo feitas, eu lamento se o governador disse uma coisa dessas, porque o governador tem participado. Nós temos um escritório em Roraima com várias representações de ministros, sabe, coordenado pela Casa Civil, que se reúne semanalmente. A Casa Civil tem reunião sobre Roraima semanalmente. E as orientações são passadas para que a gente possa continuar cuidando da situação de Roraima.
É um território muito grande, porque é um território do tamanho de Portugal, tem fronteira com a Venezuela, tem hora que a gente não sabe se o garimpo é nosso ou se é da Venezuela, mas nós estamos trabalhando muito, estamos trabalhando muito forte e o governador sabe disso.
Se tem uma coisa que o governador tem certeza é que nós estamos trabalhando muito para tentar debelar não só o sofrimento dos Yanomamis, para que a gente leve saúde, leve comida e para que a gente possa de uma vez por todas expulsar o garimpo de Roraima.
Samira Benoliel: Inclusive, presidente, a gente tem informação aqui que em 2021 o governador de Roraima, Antônio Denário, tentou aprovar uma lei que autorizava garimpos e previa o uso de mercúrio nessa atividade. Isso mostra aí um apoio, dá uma suspeita que ele está dando apoio aos garimpos ali da região e esse tipo de ação prejudica o trabalho do Governo Federal, a chegada dos recursos, do que vocês estão enviando?
Presidente Lula: Olha, eu não quero afirmar nada, Samira, mas a verdade nua e crua é que aqui em Brasília corre o boato de que o governador teria vinculação com ex-agentes do garimpo.
O que nós estamos fazendo é investigando, o que nós estamos fazendo é tentando proibir. Não é fácil você destruir 757 dragas e balsas. O problema é que como quem financia o garimpo não está lá, quem financia o garimpo é gente que tem dinheiro e está em outro lugar. Você destrói uma balsa, no dia seguinte tem outra balsa, você destrói uma draga, no dia seguinte tem outra draga.
Nós já destruímos, inclusive, vários aviões e vários helicópteros, porque é um compromisso moral do governo acabar com o crime organizado e o garimpo ilegal na Amazônia e em Roraima. Então nós vamos continuar trabalhando, vamos continuar lutando, vamos continuar mandando gente para lá, eu tenho certeza que num curto prazo de tempo a gente vai encontrar uma solução para extirpar de uma vez por todas o garimpo ilegal.
Valter Frota: Muito bem, presidente. Olha, para você que está nos ouvindo na Rádio Norte FM aqui em Manaus, na capital do Amazonas, em Brasília, no Distrito Federal, nós estamos conversando de forma exclusiva com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem, na terça-feira, esteve aqui no Amazonas vendo a realidade, vendo o impacto que essa forte estiagem aqui, de acordo com os pesquisadores, seria uma estiagem recorde e os amazonenses vêm penando com isso. Agora, presidente, eu gostaria de falar com o senhor sobre um tema também importante na questão economia, não só para o estado do Amazonas, mas para o Brasil, que é o potássio, considerando que o Brasil importa 85% do fertilizante que usa. Então eu gostaria de saber quais seriam as estratégias do governo federal para apoiar o projeto de extração do potássio aqui em Autazes, o município pertencente ao estado do Amazonas.
Presidente Lula: Olha, muito se fala, Valter, de determinadas riquezas que tem no estado do Amazonas e que não está sendo explorada pelo Governo Federal. Deixa eu te dizer uma coisa, a gente vai ter que se dotar autossuficiente na questão de fertilizante. Isso é inexorável, e nós já tomamos a decisão, inclusive, de recuperar algumas empresas que fabricavam fertilizante.
Outras coisas, como o potássio, nós temos em algumas regiões, mas a gente, para poder explorar potássio em uma região como a Amazônia, nós temos que fazer antes um estudo científico, qual é o problema e qual é o impacto ambiental que a gente pode trazer para a cidade. A verdade é que você tem, a agricultura brasileira, ela nunca se importou muito em ter fertilizante, em ter potássio, em ter outros minerais importantes para a agricultura, porque era fácil importar. Mas agora, com a guerra da Rússia e da Ucrânia, ou seja, nós estamos convencidos de que o Brasil tem que ser autossuficiente em tudo que ele precisa para fazer a terra se transformar mais produtiva e para melhorar a qualidade da nossa produção.
Eu não conheço especificamente a reserva de potássio no estado do Amazonas, mas eu posso te garantir que, se tiver, e for fácil de explorar sem causar impacto à sociedade, vai ser explorada. Se a exploração demandar impacto na Amazônia, aí vai ser mais difícil, porque nós temos que discutir, temos que analisar e temos que ver se não existe outra possibilidade de pegar potássio em outras regiões sem que a gente possa criar um impacto negativo na Amazônia.
Samira Benoliel: Presidente Lula, agora a gente queria falar da Zona Franca de Manaus e também de toda a nossa floresta, que pode ser explorada de forma sustentável. Muitas discussões têm acontecido aqui no estado do Amazonas, como em toda a região Norte, sobre essa situação, como explorar de forma sustentável, como fazer uma extração de ouro de forma sustentável.
Será que é possível isso acontecer? Então, eu queria saber do senhor, como que o Governo Federal está se movimentando para trazer aí uma exploração sustentável aqui para a nossa Amazônia, tirando aí a dependência só da Zona Franca de Manaus, sabemos que a Zona Franca é extremamente importante, mas como incentivar essa outra parte, o negócio na floresta, mas de forma sustentável, preservando as árvores, enfim, todo o nosso meio ambiente?
Presidente Lula: Olha, se a gente pudesse encontrar um outro jeito de trabalhar o enriquecimento do povo da Amazônia, sem precisar da Zona Franca, seria ótimo. Mas o dado concreto é que a Zona Franca é muito importante para a Região Norte do país.
E eu estou muito feliz, porque foi nos governos do PT, Lula e Dilma, que a gente deu a maior garantia para a Zona Franca de Manaus. Porque vocês sabem que aqui na parte sul do Brasil, na parte sudeste, tem muita gente que quer acabar com a Zona Franca de Manaus. Tem muita gente que gostaria de acabar com a Zona Franca de Manaus, porque o estado de São Paulo é industrializado, porque é Minas Gerais, porque é Rio de Janeiro, porque é Rio Grande do Sul.
As pessoas não têm dimensão da importância da Zona Franca para o estado do Amazonas e para a Região Norte. E eu estou muito feliz, porque somente nesse tempo que nós estamos governando, já aumentou 27 mil novos postos de trabalho. E você se lembra que o governo passado queria acabar com a Zona Franca de Manaus.
Ora, eu acho que a Zona Franca ainda é muito importante, é muito importante. O que nós precisamos é fazer com que venha mais indústria limpa para a Zona Franca de Manaus, que tenha o benefício necessário para ser incentivada a ir para Manaus, porque é preciso a gente ter noção de que os empresários que fazem investimento, eles querem ir na zona que tenha mercado, que tenha consumo, que tenha infraestrutura, que tenha condições de facilidade de vender e escoar o seu produto. Na Zona Franca no estado do Amazonas, seria mais difícil convencer o empresário a ir.
Por isso é importante manter a Zona Franca. Eu não vejo nenhum problema, não causa nenhum problema ao Brasil a gente ter a Zona Franca produzindo, gerando emprego e gerando riqueza para o estado do Amazonas. Então, eu sou um defensor da Zona Franca de Manaus, até que a gente possa, daqui a alguns anos, não prescindir mais de precisar dar benefício para a empresa e para o estado do Amazonas. Mas, por enquanto, é necessário e eu estou feliz, muito feliz, que a Zona Franca está gerando emprego, gerando renda e gerando contribuição para o estado do Amazonas.
Samira Benoliel: Presidente, ainda falando da Amazônia, mas de uma outra ponta que é com relação à segurança: a gente sabe que o crime organizado tem alcançado regiões onde não há enfrentamento, onde não tem combate. Como que o governo federal tem olhado para isso? A gente já teve aqui morte do indigenista e também do jornalista Dom Phillips, que acabou morrendo lá no Vale do Javari por conta do crime organizado. Como é que o governo federal está vendo essa situação e como planeja dar esse enfrentamento nessas regiões mais distantes?
Presidente Lula: Samira, até o final do ano, nós teremos funcionando em Manaus um centro de cooperação policial internacional da Amazônia. Nós teremos, até o final do ano, funcionando um centro de cooperação policial internacional, sob a coordenação da Polícia Federal.
Nós estamos levando muito a sério, Samira, mas muito a sério, essa questão da Amazônia, porque é um território imenso, é um território difícil de trabalhar, e nós precisamos fazer investimento. Precisamos trabalhar em conjunto com os países fronteiriços, porque só com a Bolívia nós temos mais de 3 mil quilômetros, tem mais de 1.600 quilômetros de fronteira com a Venezuela.
Ou seja, nós temos que fazer o trabalho interno do Brasil e da Polícia Federal, tanto no combate ao crime organizado quanto ao narcotráfico, e, ao mesmo tempo, nós temos que estabelecer parceria com os outros governos de outros países para que a gente possa trabalhar na fronteira com mais intensidade.
E mais ainda, nós estamos vendo qual é a possibilidade que a gente tem de fazer com que as nossas Forças Armadas, além de ter uma mobilidade de até 150 quilômetros na fronteira, possam ter até 250 quilômetros, para a gente aumentar o espaço ocupado pela polícia, pelo Exército e pela Polícia Federal.
Esse é um trabalho gigantesco, Samira, mas que nós já tomamos a decisão com o Fundo Amazônia, a gente preparar dentro do estado do Amazonas, com sede na capital, esse Centro de Recuperação Policial Internacional.
E você sabe que agora nós temos o secretário-geral da Interpol brasileiro, e nós vamos saber como é que a Interpol pode ajudar a gente combater o crime organizado nos países fronteiriços.
Samira Benoliel: Presidente Lula, chegou uma pergunta aqui de uma pessoa lá de Roraima, lembrando que nós estamos ao vivo aqui para todos os estados da Região Norte, também Brasília, Distrito Federal. E eu queria falar do senhor dessa pergunta que é extremamente importante.
A pessoa cita que a situação do estado de Roraima está um verdadeiro caos em decorrência a um processo de cassação do governador Antônio Denarium, que a gente já falou anteriormente. E, nos últimos anos, a polícia apreendeu aviões carregados de drogas na fazenda do governador. O senhor vê isso com preocupação? Um chefe de Estado com o nome envolvido em um escândalo desse, presidente?
Presidente Lula: Olha, deixa eu lhe falar uma coisa: todos nós temos o compromisso de ter um comportamento sem cometer nenhum ilícito. Se o governador está sendo investigado, se a Polícia Federal tem indícios e se teve alguma coisa na fazenda do governador, isso tem que ser apurado, tem que ser investigado e o governador tem que ser julgado.
Isso é o que todos nós estamos submetidos pela Constituição brasileira. A gente não pode reclamar porque a polícia está nos investigando; a gente tem que estar preocupado em não cometer nenhum ilícito. Eu não posso falar nada do governador, tenho pouca relação com o governador. O que eu posso te dizer, Samira, é que toda vez que ele vem à Brasília, ele será bem tratado.
E eu esses dias estou para ir a Roraima porque eu tenho que inaugurar um hospital maternidade e quero fazer uma visita na linha de transmissão que está trazendo energia para Roraima.
Mas eu espero que ele não tenha culpa, espero que ele seja inocente, mas a gente não pode reclamar da investigação. Se tem uma denúncia, se tem uma tomada de decisão de um juiz que manda que seja investigado, a gente só tem que trabalhar para não ter nenhum problema de ilícito na nossa vida, de qualquer compromisso com qualquer coisa de criminalidade para que a gente possa estar de cabeça erguida nesse país e no estado de Roraima.
Valter Frota: Presidente, o aumento no fluxo de imigrantes entrando no Brasil pelo estado de Roraima, especialmente após as eleições na Venezuela, que está sobrecarregando o sistema público de saúde, educação e assistência social.
Gostaria de saber quais as medidas do Governo Federal estão planejando para apoiar o estado de Roraima diretamente com os desafios dessa crise imigratória aqui no Brasil?
Presidente Lula: Olha, primeiro, o ministro das Relações Exteriores está com orientação e determinação da presidenta da República para que a gente trate com muito respeito as pessoas que estão vindo para o Brasil por necessidade de sobrevivência. Você sabe que o ser humano é meio nômade. Quando ele não tem onde comer, quando ele não tem onde trabalhar, ele fica procurando outros lugares.
Então, essas pessoas que estão vindo para Roraima têm que ser bem tratadas e o governo federal tem a obrigação de ajudar o estado de Roraima a cuidar da educação dessa gente, a cuidar da manutenção dessa gente. Porque nós não queremos que essas pessoas venham para cá e passem mais necessidade ainda do que já passava na Venezuela.
Eu pretendo agora, na minha visita a Roraima, ter uma conversa com o governador, levar muitos ministros meus para que a gente possa, definitivamente, a gente tratar com muita responsabilidade o respeito por esses milhares de venezuelanos que estão no Brasil. E eu espero que a Venezuela volte à normalidade e que essa gente possa voltar para a Venezuela o mais rápido possível.
Samira Benoliel: Presidente Lula, agora sobre a COP30 que vai acontecer em 2025 em Belém: como apresentar os compromissos de sustentabilidade em um momento em que as políticas ambientais estão sendo muito atacadas? O que a gente precisa saber, presidente, é o que o Brasil tem a levar para essa COP que mostra otimismo na conservação, levando em conta todas essas mudanças climáticas que a gente está vivendo, está enfrentando, a fumaça que começa aqui na Amazônia e vai alcançando aí o Sul e o Sudeste do Brasil. O que o Brasil tem para levar para a COP?
Presidente Lula: Samira, o Brasil vai levar para a COP a credibilidade que o Brasil conquistou no mundo ao longo desses anos. Desde a COP15 em Copenhague, em 2009, que o Brasil tem sido um país de muito destaque na COP.
O que é que nós vamos levar? Eu assumi o compromisso de que a gente iria ter desmatamento zero até 2030. E é importante lembrar, Samira, que no ano passado nós diminuímos o desmatamento em 51% e é importante lembrar que até agora já diminuímos o desmatamento em mais 45%.
Nós estamos vendo as queimadas no Pantanal, e 85% das queimadas no Pantanal são em propriedade privada.
As queimadas em São Paulo foram em propriedade privada. Eu não sei na Amazônia se também tem muita na propriedade privada. O que eu sei é que nós vamos levar o compromisso e, ao mesmo tempo, nós vamos levar a cobrança, que os países ricos prometeram desde 2009 de que iriam ter um fundo, e esse fundo seria para ajudar as pessoas que moram nas florestas poder sobreviver dignamente.
Eu posso te dizer, Samira, que tem poucos países hoje no mundo que tem a respeitabilidade do Brasil. Nós temos uma ministra extraordinária que é a companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], possivelmente uma das pessoas de maior credibilidade nessa questão ambiental hoje no mundo. A Marina é muito dedicada, trabalha demais.
Nós vamos agora para o Azerbaijão levar a proposta brasileira. Eu vou receber a presidência da COP30, e a COP30 vai ser muito importante. Nós decidimos fazer ela na cidade de Belém porque o mundo inteiro fala da Amazônia há muitos anos, e agora nós queremos que a Amazônia fale para o mundo.
Eu quero que o mundo venha a saber o que é uma floresta. Eu quero que o mundo venha a saber o que é, sabe, a felicidade ou o sofrimento do povo que mora na região da Amazônia. Eu quero que as pessoas venham a conhecer como é que vive um seringueiro, como é que vive um extrativista, como é que vive um pescador, como é que vive um indígena.
E nós estamos fazendo isso para convencer aqueles que já desmataram há 200 anos atrás, aqueles que já poluíram o planeta há 250 anos atrás, assumam a responsabilidade de pagar a sua parte no mundo. E nós queremos — eu vou repetir uma coisa — nós queremos mostrar para eles que, embaixo de cada copa de árvore, tem uma pessoa brasileira, mulher, homem, que trabalha e quer viver bem. Ele não quer viver mendigando o prato de comida de todo dia. Ele quer, pela preservação que ele faz, receber um dinheiro justo para ele cuidar da sua família.
É isso que a gente vai mostrar. Nós vamos mostrar agora, no final de novembro, no Azerbaijão, e depois nós vamos mostrar em Belém, na COP30. Mas também nós vamos discutir isso no G20, nós vamos discutir isso nos BRICS.
É uma tarefa e uma responsabilidade, Samira, muito grande. E eu estou muito feliz, porque a gente tem muitos eventos internacionais aqui esse ano. A gente vai ter o G20; depois, a gente vai ter os BRICS em Kazan, na Rússia. A gente vai ter a COP29 em Baku, no Azerbaijão. Depois, eu vou participar da APEC (Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) no Peru. E o ano passado, nós tivemos aqui os BRICS e vamos ter a COP30.
Portanto, o Brasil está farto de participação de estrangeiros, ou seja, o Brasil viajou muito o mundo em 2023 e 2024. Agora o mundo começa a viajar para o Brasil, para que a gente possa estabelecer parceria e fazer da questão ambiental uma força motora de desenvolvimento de uma parte do nosso território. E, nesse aspecto, a Amazônia será uma região privilegiada.
Samira Benoliel: Presidente, preciso falar que é extremamente importante esse seu olhar para a Amazônia neste momento, porque a sensação que a gente tem com relação à fumaça, por exemplo, que começa a invadir o Sul e o Sudeste, começou ano passado aqui. A gente teve um dos piores índices de qualidade do ar aqui neste momento, no ano passado.
Então, já vem de muito tempo aqui na Amazônia essa relação, e a gente sabe que a fumaça é consequência das queimadas, do desmatamento. Então, esse olhar é extremamente importante. Essa sua visita em estados da região, em comunidades, é extremamente importante, porque traz realmente atenção para a gente.
E, desses eventos, todo esse movimento que vai acontecer, a gente espera de fato que, nos próximos anos, a gente não tenha mais que ‘manchetar’ ou noticiar toda essa situação que a gente tem vivido hoje, que está aí alcançando o Sul e o Sudeste, e só agora a atenção realmente está vindo para cá.
Então, a gente agradece muito e espera mais visitas suas aqui, não só no estado da Amazônia, como em Roraima, Tocantins, no Acre, lá em Rondônia também, enfim, todos os estados da Região Norte, porque a gente às vezes se sente invisível aqui, como se a gente não estivesse sendo visto. E só quando chega no Sul e Sudeste que as coisas vão começar a vir, que o olhar vai começar a aparecer para cá.
Então, a gente agradece muito e espera outras visitas suas aqui na nossa região, presidente.
Presidente Lula: Samira, são 360 milhões de hectares da Amazônia Legal. É praticamente um grande percentual da água potável do mundo.
Então, quando a gente vê a queimada e quando a gente vê a seca, obviamente que a gente fica preocupado, a gente fica triste, porque a gente sabe da importância da Amazônia para a manutenção do funcionamento, não do Brasil, mas do planeta Terra.
É por isso que nós temos uma preocupação e gostaríamos, Samira, de aproveitar os microfones da Rádio Norte para transmitir o seguinte: tem muita gente que, quando a gente fala na questão da preservação, começa a dizer que a gente é contra o desenvolvimento, que a gente é contra não sei das quantas, que a gente não quer que o estado cresça, que a gente quer que o estado fique pobre. Não é isso. O que nós queremos é discutir como crescer sem destruir aquilo que é bom para a gente.
Eu não preciso destruir o ar, eu não preciso poluir os rios, eu não preciso queimar a floresta para crescer.
Então, o que nós estamos discutindo é como é que a gente pode se desenvolver de forma civilizada, garantindo que a indústria cresça, garantindo que o emprego cresça, garantindo que a renda cresça, sem precisar destruir aquilo que nos beneficia: que é o ar que a gente respira, o sol que nos aquece e a água que cai do céu, que é a razão da gente ter uma riqueza agrícola extraordinária. Isso é possível. É por isso que nós estamos totalmente abertos a discutir.
Quando eu tomei posse, você está lembrada que, em janeiro, eu convoquei os 27 governadores de estado para discutir com eles o que é importante para cada estado. Não é o presidente da República que vai determinar o que é importante, mas eu ouvi dos 27 governadores. Aí, no Amazonas, foram disponibilizados R$ 15 bilhões e pouco, dos quais 10 bilhões e meio só para o estado do Amazonas e R4 5 bilhões para a fronteira com outros estados.
E, mais grave, já aplicamos R$ 4,7 bilhões aí do PAC da Amazônia. Assim foi feito com os governadores, assim foi feito com os prefeitos. Sabe por quê? Nós não queremos governar o Brasil como era governado no passado: ter um presidente que não conversa com o prefeito, ter um presidente que não conversa com o governador, ter um presidente que tem um gabinete do ódio, que só fala fake news, que só mente.
Porque, veja, você começou a sua entrevista dizendo o problema da BR-319 e da falta de oxigênio em Manaus. Não foi por causa da ferrovia que faltou, da rodovia que faltou oxigênio. Faltou oxigênio por irresponsabilidade do Governo Federal, que não levou a sério a Covid.
É importante que a gente tenha claro que dos 700 mil brasileiros que morreram, 400 se devem à irresponsabilidade do governo, que colocou, inclusive, alguns ministros da Saúde que não entendiam nada de saúde. Um governo que distribuía remédio que não tinha nenhuma validade para o Covid. Então, é importante que a gente discuta com muita seriedade.
Nós estamos no primeiro quarto do século XXI e nós não podemos repetir os mesmos erros do século XX. E eu, família, tenho mandato até dia 31 de dezembro de 2026. Eu vou me dedicar, vou me dedicar como se eu estivesse cuidando de um filho meu, como se eu estivesse cuidando do meu próprio corpo, para que a gente trate a questão climática com a maior responsabilidade possível.
Porque do cuidado que a gente tiver na questão climática, a gente vai viver mais ou vai viver menos. Daqui a pouco, eu não quero que o planeta destrua a espécie humana como destruiu os dinossauros. Por isso, o ser humano, que é o único ser racional do planeta Terra, que é um animal racional, precisava ser mais responsável.
É o ser humano o único animal que mata sem necessidade, que rouba sem necessidade. Ou seja, então é preciso que a gente volte efetivamente a ser um ser humano humanista. Que a gente seja mais solidário, que a gente tenha mais fraternidade, que a gente compartilhe mais as coisas.
E cuidar do mundo é obrigação de todo mundo, porque não tem lugar para o rico e para o pobre. Ou seja, todo mundo mora no planeta Terra; uns moram melhor do que outros.
E a minha preocupação é cuidar daqueles que não moram tão bem: aqueles que moram nas encostas, aqueles que moram perto de córregos, aqueles que moram em palafitas, aqueles que estão morando na periferia descuidada deste país.
Por isso, eu fui visitar essas comunidades, porque eu poderia ter ido ao estado do Amazonas e ter ficado em Manaus. Mas eu resolvi ir lá nas entranhas da Amazônia para ver como é que vive mulher, criança e velho naquela região. E o que nós precisamos é apenas cuidar deles como brasileiros.
Samira Benoliel: Presidente, a gente está sendo muito assistido e ouvido também aqui na Região Norte e Distrito Federal. Nossa audiência está muito grande e quero trazer aqui uma pergunta de um ouvinte da Norte FM em Manaus. Ele fala o seguinte: o combate às queimadas precisa de pessoas e equipamentos especializados. As Forças Armadas têm as pessoas e os equipamentos. Não seria o caso de formar brigadas permanentes nos quartéis especializados no combate ao fogo?
Presidente Lula: Eu tenho muito orgulho dos brigadistas brasileiros. Eu fui ver as queimadas no Pantanal e eu, sinceramente, saí de lá muito orgulhoso com o trabalho dos brigadistas; na maioria, são voluntários. Eu conversei com o meu comandante do Exército, o General Tomás, e eu disse para ele que, quem sabe, a gente devesse aproveitar esses jovens que vão servir o Exército para que a gente formasse eles, especializasse eles, exatamente na Defesa Civil, para que eles estivessem preparados para enfrentar desastres climáticos.
Já que ele está um ano nas Forças Armadas, vamos tentar preparar esses meninos. São 70 mil jovens por ano que a gente pode preparar e torná-los profissionais de combate à questão climática, de defesa do planeta, de defesa da floresta, de defesa da água, de defesa da vida humana. A gente pode fazer isso porque nós vamos precisar.
Samira, veja, quando eu disse que a gente vai estabelecer uma medida provisória criando o estatuto jurídico de Emergência Climática, e quando eu disse que a gente vai estabelecer uma autoridade climática, é porque nós queremos pensar diferente essa questão climática.
Nós queremos que a sociedade brasileira, da universidade a uma favela, de um escritório com ar-condicionado a uma fábrica, que todos estejam compromissados em cuidar do planeta Terra, em cuidar do chão que ele mora, porque de nós depende a manutenção do planeta.
Por exemplo, agora nós vamos começar uma campanha contra a dengue. Agora nós precisamos começar a dizer para o povo o seguinte: a dengue, ela começa a ser vencida dentro de cada casa. Não é na casa do vizinho, é na minha casa, é na sua casa que a gente precisa começar a cuidar. Se cada um cuidar da sua casa, se todos cuidarem da rua e todas as ruas cuidarem do bairro, e todo bairro cuidar da cidade, envolvendo o prefeito, envolvendo o governo do estado, a gente pode chegar a ter dengue zero.
Mas é preciso que a gente comece com antecedência. A dengue não está na casa do vizinho, a dengue está na minha casa. Então eu preciso cuidar de evitar a proliferação do mosquito da dengue agora, fazendo aquilo que o Ministério da Saúde orienta e que todo mundo sabe fazer.
Não pode ter água empoçada; é preciso ter lugar limpo, não pode ter pneu parado, jogado velho, não pode ter montoeira de lixo. Ou seja, cada um, cada um, por mais pobre que seja, ele pode ser um grande agente para diminuir a dengue no nosso país. E isso vale para a questão dos brigadistas. Nós queremos ter milhões de pessoas preparadas para enfrentar a questão de queimada no Brasil.
Eu fui no Pantanal e eu fiquei assustado, fiquei muito assustado, e 85% das queimadas no Pantanal eram em propriedade particular. Esse é um crime muito sério.
Nós temos a Caatinga também, que teve problema sério; nós temos o Cerrado, que teve problema sério; e, até agora nós não tivemos problema na Mata Atlântica, porque quase que já foi dizimada, e na questão dos Pampas. Mas então o Pantanal, eu vou repetir, o Pantanal sofre a maior seca dos últimos 73 anos. Algo precisa ser feito por nós, não por nós, governo, mas por nós seres humanos, para cuidar do chão que a gente pisa, do chão que produz alimento para nós, da água que nós bebemos. Ou nós cuidamos ou nós afundamos.
Valter Frota: Presidente, o tiozão quer quebrar o protocolo um pouco para deixar uma coisa mais leve aqui para gente. Porque aqui nas minhas mãos, para quem escuta a gente pela Rádio Norte FM, na capital, no Amazonas e em Brasília, eu tenho nas mãos aqui um presente oferecido pelo Grupo Norte de Comunicação, com certeza vai chegar até o senhor: uma arte linda de arara pintada nessa caixa personalizada de bombons, com vários sabores de frutos amazônicos. E eu queria destacar aqui, deixa eu deixar aqui rapidinho aqui, mostrar para o senhor, o sapinho muiraquitã, que dá sorte quando você toca nele.
Então, vou deixar na sua mesa aí. Quando o Brasil tiver pegando, tiver... o clima tiver muito pesado aí em Brasília, no Brasil inteiro, só pode tocar em cima da sua mesa esse sapinho que atrai sorte, segundo os nossos antepassados.
E aqui tem vários outros produtos, como a própria língua do pirarucu. E tem um negócio muito interessante aqui, presidente, que é o viagra regional. O tiozão utiliza, só para deixar claro para o senhor, tá?
O viagra regional vai chegar aí nas suas mãos, e o tiozão utiliza e recomenda também para todo o Brasil, porque aqui todos são produtos inteligentíssimos, que provam essa inteligência do nosso povo, que trabalha de maneira sustentável, inteligente, preservando a floresta e movimentando a economia.
São vários outros presentes aqui, inclusive tem a cachacinha de jambu, viu?
Samira Benoliel: O senhor gosta de uma cachacinha?
Presidente Lula: É feito do que esse viagra regional?
Valter Frota: Ah, aqui tem... tem guaraná, tem catuaba, tem ginseng, tem mirantã, pode... tem vários produtos regionais da floresta.
Presidente Lula: Olha, se isso for verdade e funcionar, eu posso vender isso no mundo inteiro. Posso vender para os presidentes.
Valter Frota: Com vontade. Eu já falei: o tiozão usa.
Presidente Lula: Quando é que eu vou receber isso, tiozão? Quando é que eu vou receber isso?
Samira Benoliel: O diretor-geral, Diego Trajano, vai levar pessoalmente para o senhor, junto com o nosso CEO aqui do Grupo Norte, Sérgio Bringel.
Presidente Lula: Aliás, deixa eu fazer uma pergunta para você. Samira, deixa eu fazer uma pergunta para você: faz quanto tempo que o Phelippe Daou morreu?
Samira Benoliel: Ah, foi em 2016, presidente.
Presidente Lula: Você sabe que eu tinha uma bela relação com o Phelippe Daou, uma bela relação. Eu, de muita gente de comunicação que eu... De muita gente que eu conheci de comunicação, sinceramente, ele foi o cara mais moderno e mais democrático que eu conheci em se tratando de comunicação. Eu lamentei muito a morte dele, porque uma pessoa que pensava em comunicação como ele faz falta ao Brasil.
Samira Benoliel: E aí o senhor vai conhecer o sucessor dele, que é o CEO do Grupo Norte de Comunicação, Sérgio Bringel, que cria ali um dos maiores grupos de comunicação de todo o Brasil, que tem expandido para vários estados aqui do Norte e também para o Nordeste. O senhor vai conhecer pessoalmente ele. Aguarde aí, já marque na agenda.
Valter Frota: Tem óleo da bota também nos presentes aqui, viu, presidente? Oléo da bota, o senhor viu falar, né?
Presidente Lula: Tá bom. Olha, deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu, na verdade, deveria ter começado esse programa, Samira e Valter, pedindo desculpas a vocês por causa de ontem.
Porque eu estava com duas horas de atraso, tinha muita gente na Suframa, e eu falei: Bom, a entrevista eu posso fazer amanhã, mas eu não posso voltar a Manaus amanhã pra fazer o bate-papo lá na Suframa.
Então eu quero agradecer a vocês a compreensão de não termos feito a entrevista ontem, mas eu quero dizer pra vocês que a próxima vez que eu for a Manaus, eu quero fazer ao vivo, no estúdio com vocês, a entrevista.
Samira Benoliel: Ai, maravilha! Tá registrado, presidente. Olha, comitiva e assessoria, está registrado.
Valter Frota: Presidente, muito obrigado mais uma vez pela sua participação, pela sua disponibilidade em conversar com a gente com temas importantíssimos para o Norte do Brasil. Muito obrigado mesmo.
Samira Benoliel: Obrigada, presidente, a gente aguarda a sua visita, tá bom?
Presidente Lula: Obrigado a você, Valter. Obrigado, Samira.
Samira Benoliel: E o presidente vai chegar aí.
Presidente Lula: E um beijo no coração do povo da Região Norte do país.
Samira Benoliel: Até a próxima, presidente. Bom trabalho aí, Brasília. É isso aí, minha gente, olha só, entrevista importante.