Entrevista do presidente Lula à Rádio Metrópole, de Salvador (BA)
Mário Kertész (Rádio Metrópole) — Sempre prestigiado, prestigia muito a Bahia, e ele sabe que a Bahia devolve a ele em carinho, em afeto, em voto, com os governos estaduais do PT já. Oito anos de Wagner [Jaques Wagner, senador da República e ex-governador da Bahia], oito anos de Rui [Costa, ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia] e agora dois anos de Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia]. Então, vamos começar essa conversa, que é muito tranquila, o presidente não estabelece pauta nenhuma. Nós estamos transmitindo para a maior rede de rádio do estado da Bahia, agora todo o estado da Bahia está ligado. A Rádio Metrópole, o nosso YouTube e também a Rádio Salvador FM, ligada aqui com a gente. Bom dia, excelentíssimo senhor e queridíssimo amigo, Luiz Inácio Lula da Silva. Está tudo bem, presidente?
Presidente Lula — Tudo bem, Mário. Bom dia, Mário. Bom dia aos ouvintes do programa do Mário Kertész. Bom dia aos ouvintes da Rádio Metrópole. Bom dia ao povo da Bahia. Na verdade, Mário, eu acho que, em alguma encarnação, eu nasci na Bahia, porque o carinho que esse povo me trata, desde muito tempo atrás. A primeira vez que eu estive na Bahia, foi em um congresso de metalúrgico, em 1970, onde a coisa que eu mais admirei foi o Elevador Lacerda, eu nunca tinha visto uma coisa daquela.
Depois, eu vim à Bahia, em 1978, Congresso dos Petroquímicos. Aqui estava presente Fernando Henrique Cardoso, aqui estava presente o Almino Afonso, aqui estava presente Jaques Wagner, que era petroquímico, o Jacó Bittar, que era presidente. Eu vim participar de um congresso e foi aqui, nessa cidade, que eu tive a ideia de que estava na hora dos trabalhadores criarem um partido político. Daquela ideia, surgiu o movimento, do movimento surgiu o PT, em 1980. Então, eu tenho muito a ver com a Bahia, gosto da Bahia, eu tenho dito para muita gente que, quando eu deixei a presidência, eu tinha vontade de vir morar aqui. A Janja veio até procurar alguns lugares aqui para morar. Mas aí o pessoal: "não, você não pode sair de São Paulo, você não pode sair de São Bernardo, você não pode sair de não sei das quantas e tal". "Você não pode ir para o Rio, porque é perigoso, você não pode ir para Salvador, porque é longe, você tem que ficar em São Paulo". Eu terminei ficando em São Paulo, sabe, porque o pessoal achou que, politicamente, era importante eu ficar em São Paulo, que é o maior estado da Federação, maior população. Então, eu fiquei em São Paulo. Até para mudar de São Bernardo eu tive dificuldade, porque o pessoal dos metalúrgicos não queria que eu mudasse. "Não, você é daqui, você tem que ficar aqui". Eu falei: gente, eu sou daqui, mas eu quero mudar, estou casado de novo, a Janja não quer morar aqui em São Bernardo do Campo, ela quer morar em outro lugar. E eu finalmente mudei para Pinheiros, estou morando em Pinheiros.
Mas eu gosto da Bahia, gosto do povo da Bahia, gosto do jeito que sou tratado, gosto da alegria do povo da Bahia. Eu só tenho uma divergência com a maioria do povo da Bahia, é que eu sou torcedor do Vitória e a maioria é torcedor do Bahia.
Mário Kertész — E eu mesmo sou do Bahia.
Presidente Lula — Mas o meu governador é do Vitória.
Mário Kertész — Mas o governador Jerônimo é Vitória.
Presidente Lula — Mas, de qualquer forma, eu estou muito feliz com o crescimento do Bahia. O Bahia está entrando no rol dos times grandes, ou seja, eu acho que com um pouco mais de investimento, um pouco mais de preparo, o Bahia vai participar da elite do futebol brasileiro. O que eu acho extremamente importante, não só para a Bahia, eu acho que o Nordeste tem que ter uma maior participação no cenário futebolístico nacional. Eu fico muito feliz com o crescimento do Ceará. O Fortaleza, sobretudo, o Fortaleza que está em uma posição boa. Sou admirador do técnico do Fortaleza, porque ele é uma pessoa que dá demonstração de muita seriedade. E lamento que Pernambuco não tenha nenhum time hoje na Série A, está tudo na Série B. O Santa Cruz, que é o time mais popular, está na terceira divisão, sabe? Mas, no esporte, eu sou Náutico, sou o time da elite de Pernambuco, eu sou Náutico.
Então, eu estou feliz. Estou feliz com o Brasil. Acho que nós estamos encontrando o caminho para fazer as coisas corretamente. A economia está bem. A economia está surpreendendo o mercado. Ontem, eu fiz uma reunião com os principais bancos brasileiros. E todos eles elogiando o crescimento. "Presidente, vocês estão crescendo acima do mercado, as coisas estão boas, o emprego está crescendo, a massa salarial está crescendo, a inflação está mais ou menos controlada". Então, está tudo do jeito que eu quero que esteja. É por isso que nós estamos trabalhando muito.
Você já foi prefeito, Mário, você sabe: o primeiro ano na prefeitura, você fica acertando as coisas, arrumando a casa, trocando o móvel, colocando coisas no lugar, montando o governo. O segundo ano é o ano que você planeja o que você vai começar a fazer. O que eu fiz? No primeiro ano, eu fiz, em janeiro, uma reunião com todos os 27 governadores de estado e fiz uma proposta para eles: apresentem para o Governo Federal as principais obras, as principais necessidades do estado de vocês, que nós vamos construir o terceiro PAC na minha vida. Aí todos os governadores apresentaram, todos, sem distinção, de São Paulo, Santa Catarina, Amapá, Roraima, todo mundo apresentou. O dado concreto é que, para a Bahia, o PAC está trazendo uma bagatela de R$ 96,9 bilhões, dos quais R$ 71,7 bilhões só dentro da fronteira do estado da Bahia. E isso para a gente implantar obras e muitas coisas até 2026.
Então, nós fizemos o PAC, o Rui Costa foi o companheiro que coordenou o PAC. Aliás, um excelente ministro da Casa Civil. Eu não gosto de falar a palavra gestor, mas o Rui Costa é um extraordinário gestor. E nós apresentamos o PAC. Agora é hora de a gente começar a colher. Ou seja, nós preparamos a terra, semeamos ela, limpamos, carpimos, jogamos água, colocamos a semente. E, esse ano agora, eu estou com um ano e 10 meses de governo, estou com dois anos ainda. E agora nós temos dois anos e dois meses para colher tudo que nós plantamos, seja do ponto de vista da inclusão social, seja do ponto de vista de estrada, seja do ponto de vista de, se Deus quiser, a ponte de Itaparica vai ser feita. Se Deus quiser, nós vamos concluir essa ponte. E todas as obras importantes de cada estado. Resolver o problema da água, resolver o problema habitacional. Então, nós estamos trabalhando. Eu estou muito otimista. Eu te confesso, Mário, vou falar uma coisa para deixar você fazer as perguntas, que é o seguinte: eu tenho dito para os companheiros que conversam comigo o seguinte: eu vivo o melhor momento da minha vida. Ou seja, eu completo 79 anos, dia 27. E eu vivo o meu melhor momento da vida. Sou um cara bem casado. Amo a minha mulher. Sou um cara apaixonado. E um homem apaixonado, a idade não aparece.
Mário Kertész — Isso é verdade.
Presidente Lula — Então, eu estou bem. E estou bem com o país porque a coisa está certa. Eu tenho um ministério, com uma equipe de gente altamente competente. Esses ex-governadores que o Nordeste produziu, nesses últimos 20 anos, são gente de muita qualidade. Esse Rui Costa, esse Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome], esse Camilo [Santana, ministro da Educação], esse Renanzinho [Renan Filho, ministro dos Transportes], eles são todos gente muito competente. O Waldez [Góes, ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional], sabe? Pessoas que sabem como fazer as coisas com muita facilidade. E está me dando uma tranquilidade de trabalhar. Uma tranquilidade. Sabe quando você levanta, todo santo dia, animado, e você vai dormir todo santo dia? Eu digo para a minha mulher: "Não tem nada que me tire o sono". Não tenho medo de... "Ah, vai sair uma notícia ruim contra você". Que saia. "Ah, vão falar mal não sei de quem". Que fale. Não estou preocupado com isso. Estou preocupado com o seguinte, é que as coisas estão caminhando do jeito que eu queria.
Eu quero acabar com a fome desse país. Eu quero colocar mais estudantes para fazer Instituto Federal, para fazer universidade. Eu quero melhorar a vida das pessoas. Melhorar. Sabe? Eu quero cuidar dessa gente que nem um pai cuida dos filhos. Um pai bom. Porque tem pai ruim que não cuida. Mas tem pai bom. Então, é assim. Por isso que eu estou bem, Mário. E por isso que eu te agradeço por essa entrevista. Que você me dá a oportunidade de poder falar as coisas boas que nós estamos fazendo na Bahia e no Brasil. Coloquei o Brasil outra vez no top do mundo. O Brasil é muito respeitado hoje. Estou viajando, domingo, para a Rússia. Vou para Kazan participar dos BRICS. E volto para votar, em São Bernardo do Campo.
Mário Kertész — Presidente Lula, tem uma coisa aqui bastante interessante que é a sua origem. A sua origem. Dona Lindu, que você se refere sempre a ela. Eu acho que é um marco importante. Que faz com que você seja um brasileiro que teve essa grande oportunidade de presidir este país. Quem diria, né? Retirante lá, sai naquelas condições para São Paulo e, pela terceira vez, eleito presidente do Brasil. Eu acho, presidente, que isso marca muito a sua ação. A sua preocupação com os mais pobres. A sua preocupação com a fome. A sua preocupação com a divisão melhor dos bens aqui do país. Porque nós estávamos sempre acostumados, presidente, a ter presidentes da elite, que falavam não sei quantas línguas, que eram de família tradicional, daqui, dali etc. E a sua primeira eleição, há 23 anos, em 2002, que participei lá com você, muita gente ficou assustada. Antes de uma vez que você concorreu, você lembra do presidente da Federação das Indústrias que disse: “Se Lula for eleito, 600 industriais vão abandonar o Brasil”.
Presidente Lula — Mario Amato.
Mário Kertész — Exatamente. Mario Amato. Aí você chega à presidência e mostra que, ao contrário disso, você começou a fazer um governo e o Brasil começou a caminhar, a caminhar. Agora, isso também levou a uma das piores coisas que aconteceram recentemente, que foi a [Operação] Lava Jato, com o objetivo, assim, claro, “não, agora nós vamos pegar os colarinhos brancos”. Destruiu a indústria brasileira sólida e competente. Manipulou a eleição e, mais do que isso, para mim, não sei se você concorda, soltou todos os demônios da ultradireita que estavam envergonhados depois do insucesso dos 21 anos do regime militar.
Então, quando eu fico pensando na sua função agora, terceira vez presidente, eu digo: rapaz, é preciso ter muita força, muita energia para conviver com isso tudo. O radicalismo desses demônios que foram soltos, um Congresso arisco e superpoderoso por inação do presidente que te antecedeu. Então, eu penso assim: ou o Lula tem muita energia, muita força e muita determinação ou eu não sei como você aguenta, sinceramente. E aí?
Presidente Lula — Ô Mário, eu sempre digo que todo homem e toda mulher que tem uma causa, ele tem motivação de vida. Nós temos que construir uma causa, ou seja, uma causa é uma coisa que te permite levantar todo dia dizendo: "eu vou fazer, eu vou fazer". Te permite levantar todo dia sem colocar como prioridade as coisas ruins, mas as coisas boas. Porque tem coisas que você não consegue resolver, então, aquela você não se preocupa, se você não pode resolver, deixa para lá. O que você precisa fazer é o seguinte: você tem um compromisso, você tem um programa, você tem que cumprir. Eu, obviamente, que eu digo todo dia o seguinte: o fato de eu ter sido eleito presidente da República nesse país, é o seguinte, é uma. Primeiro, eu acho, a única explicação que tem para um cidadão que não tem diploma universitário, que tem um diploma primário, um curso técnico do Senai, que foi um bom dirigente sindical, ser eleito presidente da República, só tem uma explicação: é obra de Deus. E eu acredito em Deus, porque se não fosse a mão dele, não estava predestinado ao Lula ser presidente da República, mas um retirante nordestino trabalhando em São Paulo, no máximo ganhando um salário para viver um padrão de classe média baixa. Era isso que era a predestinação de um retirante nordestino.
Olha, e quis Deus, sabe, com o apoio do povo brasileiro que esse povo me elegesse três vezes presidente da República. E eu acho, ô, Mário, eu sou muito agradecido ao povo ter votado em mim, porque não havia hábito político do povo votar em alguém igual a ele. O povo está sempre preferindo escolher alguém mais sofisticado, alguém que seja doutor, alguém que fale palavras tão difíceis que ele não conhece. Porque muitas vezes a gente é assim, a gente vê na televisão, as pessoas falarem umas palavras tão difíceis que você não sabe o que é, mas o cara achou bonito. Então a política era assim, o povo votava em fazendeiro, votava em advogado, votava em sociólogo, votava, mas todo mundo ligado à chamada classe dominante, à chamada elite política brasileira. Eu sou a única mudança que houve nesse país, a alternância de poder. E eu devo isso ao povo, eu digo sempre nos comícios que eu faço de que o problema do Lula é que eu não sou Lula. Eu não sou Lula, eu sou a encarnação desse povo na presidência da República. Eles não me veem como se eu fosse um diferente. Eles me veem como um deles que está lá.
E eu tenho muito orgulho, porque, como eu conheço muita gente no mundo, muitos presidentes, conheço muitos presidentes, nenhum deles tem a minha característica. Nenhum deles nunca trabalhou em fábrica, nenhum deles nunca ficou desempregado, nenhum deles nunca passou fome, nenhum deles nunca viu a casa deles encher com metro e meio de água dentro de casa. Eu acordei várias vezes, Mário, várias vezes, para tirar minha mãe que estava deitada, com o rato disputando espaço, com o barata disputando espaço, com fezes, sabe, que saía do vaso sanitário, para tirar minha mãe e tirar as coisas de dentro de casa. Várias vezes, não foi uma vez não, foi muitas vezes. Então, eu sei o que é a vida desse povo.
Então, quando eu sento numa mesa de governo para despachar, eu não sou um burocrata, sabe, que tenho como ensinamento só o que eu aprendi na universidade. Eu tenho o que eu aprendi na vida. Eu tenho o que eu sei que o povo sente, porque isso a gente só faz se a gente sentir. Por que que um cara da elite vai sentar numa mesa para fazer o Orçamento e vai pensar no pobre? Ele não pensa, ele pensa em quem está todo dia no comitê fazendo pressão, porque quem chega no presidente é a elite, não é o pobre. Eu sou o único presidente da República que os catadores de papel entram dentro do palácio, sabe, que as prostitutas entram, que os deficientes entram, sabe, que cachorro, o cão-guia, entra com o portador de deficiência visual. Ou seja, por que que eu faço isso? Porque eu sou o resultado dessa gente. É simples, eu sou o resultado dessa gente. Se não fosse eles, eu não estava aqui.
Eu não acredito que jamais um banqueiro votou em mim. Eu não acredito que jamais um grande empresário votou em mim, não acredito mesmo. Trato todos eles com muito respeito, mas com muito respeito e com muito carinho. Mas eu sei que quem vota em mim é o povo lascado desse país. Eu sei que quem vota em mim é o pessoal do mundo do trabalho, é o pessoal que levanta às cinco horas da manhã, que sai, volta para casa às seis, pega duas horas de ônibus. É o pessoal que vota em mim. Então é para essa gente que eu tenho que governar. Eu não tenho dúvida de que lado eu estou. Eu não tenho dúvida para quem que eu tenho que governar. Isso, Mario, respeitando todo mundo.
Então, ter o terceiro mandato na presidência da República, primeiro, é uma coisa que eu agradeço muito, agradeço ao povo brasileiro, agradeço a Deus. Porque é importante lembrar a nossa história. Eu criei um partido em 1980. Em 1989, eu já fui o segundo colocado. Em 1994, eu continuei sendo o segundo colocado. Em 1998, eu continuei sendo o segundo colocado. Disputando contra o Ulisses Guimarães, contra a Brizola, contra Maluf, contra Afif Domingos, contra Mário Covas. Com políticos com P maiúsculo. Não era essa joça que tem hoje, disputando, falando palavrão, utilizando fake news e mentindo na televisão. Não é isso. Disputei com gente, sabe, você conheceu o Ulisses Guimarães. Contra Aureliano Chaves. Então, eu disputei com essa gente toda e fui o segundo. E aí, depois de ser segundo até 1998, eu fui o primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o primeiro em 2010, o primeiro em 2014, o segundo em 2018, porque eu estava preso — se eu tivesse liberdade, eu teria sido presidente outra vez. Aliás, se eu tivesse concorrido preso, eu teria ganho as eleições. E fui o primeiro agora em 2022.
Olha, essa trajetória política de sucesso, eu devo ela a cada mulher, a cada homem, a cada pessoa da periferia desse país, a cada trabalhador rural desse país, a um setor de classe média, professor. Esse pessoal, sabe, de classe média média, de classe média baixa, é essa gente que eu devo esse voto. E é para eles que eu governo com muita tranquilidade, com muita tranquilidade. Se tem um ser humano na face da Terra que não tem dúvida de que lado eu estou e para quem eu quero governar, é essa gente. Não tem dúvida. Obviamente que eu não posso fazer tudo que eu quero, porque tem limitações. Mas eu tenho certeza que nós estamos fazendo o que jamais foi feito na história desse país.
Nós acabamos com a fome em 2014. Quando eu voltei, tinha 33 milhões de pessoas passando fome. Nós já tiramos 24 milhões e meio da fome. E, até 2026, nós vamos ter zero fome nesse país outra vez. Porque é o direito da Bíblia. É um direito da convenção da ONU. É um direito, sabe, de todo mundo e da Constituição Brasileira. Todo ser humano tem o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo dia. Todo ser humano tem o direito de trabalhar. Todo ser humano tem o direito de ter uma casinha própria. É por isso que a gente está fazendo Minha Casa, Minha Vida. E, aqui na Bahia, vai ter mais 33 mil casas que nós vamos fazer. É por isso que eu estou fazendo. E para as pessoas mais pobres do CadÚnico, a gente dá a casa de graça. Porque a gente tem o direito de morar.
Eu vou te contar um caso. Eu estava em Évian [Évian-les-Bains], na França. Eu fui o primeiro presidente do Brasil a ser convidado para o G7, em 2003. Eu cheguei em Évian, estava toda aquela gente que eu via na televisão. Eu tinha seis meses de presidência.
Mário Kertész — Eu me lembro dessa história. É ótima.
Presidente Lula — Chego lá e eu vejo o Bush. Eu vejo o Koizumi do Japão. Eu vejo o Tony Blair da Inglaterra. Eu vejo o Prodi da Itália. Eu vejo, sabe, o Schröder da Alemanha. E eu falei: pô, o que eu vou fazer aí. Ainda veio um cara e falou assim para mim: "Não pode entrar intérprete, vai ter que entrar sozinho". Eu falei: pô, como é que eu vou entrar sozinho? Eu não entendo uma palavra em espanhol, não entendo em alemão, não entendo italiano, não entendo inglês. O que é que eu vou fazer lá dentro?
Mário Kertész — Essa história é maravilhosa.
Presidente Lula — Aí o cara falou assim para mim: "ô, Lula, você entra..." Lula, não, me chamou de presidente. "Você entra e quando você entrar, coloca logo aquele aparelho de escuta no teu ouvido, que eu vou traduzir até o espirro que você der". Aí eu fiquei pensando, olhando para a cara daqueles caras, eu falei: espera aí, gente, quem que esses caras representam? Quem deles já trabalhou no chão de fábrica? Quem deles já ficou desempregado? Quem deles já passou fome? Quem deles já morou na periferia do seu país? Quem deles já viu sua casa encher d'água?”. Eu falei: ah, eu vou entrar, eu sou mais eu aí. Eu entrei, mas eu entrei com, sabe, com o peito estufado. Aqui não é o Lula, aqui é o povo brasileiro. E isso me dava uma força, Mário, me dava uma força, um orgulho, porque eu sabia em nome de quem que eu estava falando. E eu acho que por isso que eu ganhei um profundo respeito. Eu tenho muito orgulho do tratamento que o Chirac me deu, Tony Blair me deu, depois o Gordon Brown, o Bush teve uma relação extraordinária com o Brasil, extraordinária, sabe. O Schröder da Alemanha, depois da Angela Merkel, o Hu Jintao da China. As pessoas me tratavam como se fosse... E o movimento sindical só tinha um presidente para eles conversarem: eu. É impressionante isso. Ou seja, então isso me dava muita força, porque eu falava, eu não sou eu. Eu não sou eu, eu sou uma causa que estou aqui. Eu não sou um presidente, sabe, eu sou um ser humano que veio do mundo de baixo para frequentar esse mundo de cima e tentar defender eles.
Então, isso me dá força, me dá tranquilidade, e eu, por isso, estou vivendo esse momento extraordinário, vivendo. Quero terminar meu mandato, fazendo um extraordinário mandato, quero entregar esse país crescendo outra vez, quero entregar esse país com mais emprego, quero terminar esse país com mais Instituto Federal. Só aqui na Bahia, serão mais oito Institutos Federais, serão mais oito. E quero entregar esse país com a juventude crescendo e tendo esperança, porque as pessoas pensam que eu sou... "Ah, o Lula faz apologia da pobreza, ele só defende os pobres". Não, eu não defendo só os pobres, eu quero que ele não seja pobre.
Porque é preciso parar com essa ideia cretina de uma parte da elite brasileira ou uma parte dos intelectuais achando que pobre gosta de ser pobre. Nós não gostamos de ser pobre, nós não queremos ser pobres, nós queremos ser ricos. Nós queremos estar bem, nós queremos comer todo dia, almoçar todo dia, jantar, nós queremos trabalhar, queremos ter carro, queremos ter computador, queremos ter televisão, queremos ter o direito de passear com a nossa família. É isso que é vida, cara. E é isso que o pobre quer. As pessoas pensam que o pobre gosta de ir na feira no fim para pegar as coisas amassadas, que o pobre não quer beber bebida boa, que o pobre não quer se vestir bem. Não, a gente quer se vestir bem, a gente quer morar bem, a gente quer comer bem, a gente quer ter os bens que a gente produz.
Agora inventei uma nova para falar com empresário. Eu falo para o empresário: quando você for pagar o salário para o seu trabalhador, não ache ele caro, sabe? Porque todo cara, quando vai pagar o salário, até o cara que tem uma empregada doméstica, quando ele vai pagar o salário, "é muito caro dar R$ 1,5 mil para essa empregada". Pare de ver ela como empregada e veja ela como consumidora. Se eu pagar bem para ela, ela vai pegar esse dinheirinho que eu paguei e vai numa loja comprar o produto que ela fabrica aqui. Então esse dinheiro vai voltar para mim. Se ele pensar nisso, ele vai pagar o salário com muito mais tranquilidade, porque ele não está pagando o salário para um trabalhador, ele está pagando o salário para um consumidor seu, que vai trazer o dinheiro de volta. O governo come logo trinta e pouco por cento desse dinheiro, os empresários têm o troco de volta e o trabalhador fica satisfeito. É querer muito, Mário? É querer muito? Me diga.
Mário Kertész — Não, não é não.
Presidente Lula — E eu fico feliz, eu fico feliz quando vejo a Bahia eleger o Jerônimo. Todo mundo sabe que eu não queria que o Wagner deixasse o Ministério do Trabalho para ser governador.
Mário Kertész — Eu me lembro, na primeira eleição, em 2006, dizia “Galego... Galego, fique aqui”.
Presidente Lula — "Você não vai derrotar o Antônio Carlos, a turma dele é muito forte". O Galego: "Eu vou, eu vou". O Galego veio e ganhou no primeiro turno. Depois o Galego se reelegeu no primeiro turno. Depois elegeu o Rui Costa no primeiro turno. Depois se reelegeu no primeiro turno. E agora, agora, ele... Eu queria que o Wagner fosse candidato a governador. Ele não queria. E também Fátima não queria. Essa também é verdade.
Mário Kertész — É, eu sei disso.
Presidente Lula — Eles queriam que o Otto fosse candidato. Aí fizeram uma reunião comigo, em São Paulo (...)
Mário Kertész — O Wagner me contou.
Presidente Lula — (...) para convencer o Otto a ser governador. Eu olhei na cara do Otto. O Otto estava tão triste, mas tão triste, ele não falava nada. Aí, quando terminou a reunião, foi todo mundo embora. Otto é candidato a governador. Aí eu liguei para o Otto. Falei: Otto, me diga uma coisa, você quer ser candidato a governador? Ele falou: "não". Eu falei: então diga que não quer, cara. Diga que não quer, nós vamos arrumar outro. E aí me apresentaram essa obra-prima chamada Jerônimo. Que eu acho que tem um futuro brilhante na política brasileira. Jovem, competente, animado, negro. Eles falam que é índio. Negro, sabe? Casado com uma esposa extraordinária. E eu penso que tem muito futuro. Se tiver a cabeça no lugar, certamente esse triunvirato, Jaques, Rui, mais o Jerônimo. E, mais ainda, pessoas como o Otto nos apoiando. Eu acho que nós temos uma vida longa na Bahia para melhorar a vida desse povo. E assim eu quero no Brasil. Eu quero no Brasil.
Eu estou muito tranquilo, porque as coisas vão acontecer. Ontem, amanhã, nós vamos... Hoje eu vim aqui lançar o Pé-de-Meia, Mário. O Pé-de-Meia é uma revolução. Nós descobrimos que 480 mil jovens do ensino médio desistem de estudar para ajudar no orçamento familiar. E quando o Camilo me trouxe os dados eu fiquei pensando: meu Deus do céu, que país nós vamos criar se a gente permitir que 480 mil jovens, todo ano, abandonem a escola? Que país a gente vai criar, Mário? Então eu resolvi criar um programa chamado Pé-de-Meia, que eu vim aqui na Bahia fazer um ato com eles. Nós estamos dando uma poupança para os meninos mais pobres não desistirem do estudo. Ele recebe R$ 200 por mês, durante 10 meses. Se nos 10 meses ele tiver passado de ano e tiver 80% do comparecimento, ele vai receber R$ 1.000 na poupança, no nome dele. Os R$ 200 ele pode gastar, porque é no orçamento familiar. No segundo ano, a mesma coisa: 10 [parcelas] de R$ 200, 10 de R$ 200 e mais uma de R$ 1.000. E no terceiro ano, a mesma coisa. Então isso, Mário, é uma salvação. Tem gente que fala assim: “mas o Lula está gastando dinheiro à toa, o Lula está gastando com o pobre”. Porque é outra coisa que eu fico muito irritado. Fico muito irritado. É que tudo que o governo faz é gasto. Se um banqueiro disser que está fazendo um banheiro, é investimento.
Mário Kertész — Isso é verdade.
Presidente Lula — Se um banqueiro disser, sabe, que está arrumando a calçada, é investimento. Mas quando a gente fala... Ah, o empresário que vai pagar o salário dos funcionários, ele fala: “estou fazendo investimento”. Mas quando é o governo, é gasto. Então é o seguinte, eu quero dizer, em alto e bom som: para mim educação não é gasto, para mim saúde não é gasto, porque veja quanto custa para o país uma pessoa doente, veja quanto custa para o país uma pessoa pendurada no INSS. E veja quanto custa para uma pessoa saudável. Então é preciso parar com essa bobagem. Outro dia eu perguntei para um grupo de jornalistas: você acha que quando o patrão de vocês dá aumento para vocês, é gasto ou investimento? "Ah, é investimento". Ora, então também é investimento o dinheiro que eu ponho na educação. Gasto vai ser o dinheiro que eu estiver gastando para fazer cadeia, porque esses jovens não estudaram.
Mário Kertész — Mas, presidente, eu não sei se você sabe, há o pessoal do fake news e a ultradireita, e a direita é impressionante, como a classe média juntou-se a essa direita. Eu fico impressionado com isso. Você vê médicos, dentistas, advogados. Eu nem digo bolsonaristas, porque Bolsonaro não existe, mas eles são de ultradireita. O mantra deles é o seguinte: o PT não liga para a educação, nem para a saúde. Aqui no caso da Bahia, o Jerônimo fez uma portaria que impede as crianças de serem reprovadas, porque é importante manter a frequência escolar e ter o reforço naquilo que ele não conseguiu passar no ano. Mas a interpretação, generalizada, foi que ele, Jerônimo Rodrigues, fez isso para melhorar o Enem, o IDEB, e, com isso, receber mais verba federal. Quer dizer, essas coisas, Lula, ficam muito entranhadas na cabeça das pessoas. Eles se esquecem que você foi quem fez não sei quantas universidades aqui na Bahia e só tinha uma. Aí diz: “Não, que o governo do PT e Lula não ligam para a educação”. Jerônimo, nem Wagner, nem Rui”.
Presidente Lula — Mas deixa eu dizer uma coisa. Você disse uma coisa aí de que se abriu a tampa de uma lâmpada que não era mágica e os demônios apareceram.
Mário Kertész — Uma caixa de Pandora, saíram todos os demônios.
Presidente Lula — Ou seja, apareceu o lado ruim da sociedade. Deixa eu te contar uma história. Essa é muito engraçada. Eu, uma vez, ganhei na loteria esportiva. Eu ganhei. Eu estava com a mãe da Lurian [Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente Lula], estava sentado, e quando começou a zebrinha falar, eu fiquei olhando a minha cartela e fiz os 13 pontos. Eu pus a cartela no bolso, não falei para a minha namorada, não falei para a mãe dela. Cheguei em casa, não contei para a minha mãe, não contei para ninguém. Eu descobri que eu tinha um lado avarento. Eu descobri que eu tinha um lado que não era correto. Eu achei que eu estava rico e não queria contar para ninguém. Aí saí para trabalhar no outro dia de manhã, com meu cartãozinho, cheguei no jornal, peguei a Folha da Tarde, lá em São Paulo, quando eu vi que mais de 50 mil pessoas ganharam. Puta merda... Eu descobri que eu fiquei pobre outra vez. E aí eu falei, nunca mais eu joguei. Nunca mais eu joguei. Estou falando de 1974. Nunca mais eu joguei, porque eu descobri que eu tinha um lado que não era correto. Eu tinha um lado avarento. E eu, então, abandonei. Não vou jogar, não quero ganhar dinheiro fácil, eu quero trabalhar.
Então, as pessoas... O demônio foi solto. Então as pessoas não têm mais vergonha de dizer que defendem a tortura, que não gostam de negro, que não gostam de pobre, que não gostam de sindicalista, que não gostam de trabalhador rural pequeno. As pessoas têm orgulho, porque toda vez, Mário, que você estiver em um restaurante, alguém te ofender, você pode ter certeza que o cara que te ofendeu é 171. Pode ter certeza. Faça a denúncia que você vai provar que ele é estelionatário, ele tem 18 passagens pela polícia, porque um homem sério, mesmo sendo de direita, se você estiver passando na rua ou num restaurante, ele não te ofende. Ele respeita, como a Bíblia da democracia ensina. Democracia é a gente saber que a gente tem direito a tudo, desde que a gente respeite o direito do outro. É isso que é democracia. Então nós precisamos vencer essa gente. Nós precisamos vencer. E temos que vencer ela. Todo mundo sabe. Todo mundo sabe.
Você vê que deu uma celeuma muito grande, um pastor que foi, ontem, antes de ontem, num ato no Congresso Nacional, porque nós fomos aprovar o Dia da Música Gospel. A música gospel é uma coisa importante no Brasil. E você veja que os grandes artistas americanos, as grandes culturas, todas nasceram dentro de uma igreja, cantando no coral. Então é uma coisa de muito valor. E o deputado que foi lá é da bancada ruralista, acho que é do Pará. E o deputado fez uma declaração, dizendo que não votou em mim, dizendo que muitos evangélicos não votaram em mim, mas ele reconhecia que tudo que beneficia evangélico foi feito por mim. O Dia dos Evangélicos, a Lei do Silêncio que eu não deixei passar, o Dia do Pastor, ou seja, tudo, tudo fui eu que criei para a igreja evangélica. Ele reconheceu isso. E eu fiquei com vontade de perguntar, se você sabe disso, por que você votou no Bolsonaro? Bom, mas ele falou. Eu falei, não vou polemizar, ele está no gabinete da Presidência da República. Ele falou, teve uma repercussão muito boa para mim e muito ruim para ele, porque os bolsonaristas estão triturando ele. E isso é assim.
Todo mundo sabe que eu fui o presidente que mais fez universidade nesse país. Não só fiz universidade, eu fiz 19 universidades e 178 extensões universitárias no Brasil inteiro, interiorizei as universidades. Nós tivemos, em um século, 140 Institutos Federais feitos. Eu vou terminar o meu mandato com 782 Institutos Federais feitos. E sabe por que eu quero educação, Mário? Porque eu não tive. Como eu não tive, ao invés de ficar com ódio porque eu não tive, eu quero que aqueles iguais a mim tenham. Eu sonho que a filha da empregada doméstica possa disputar uma vaga na universidade com a filha da patroa dela e ganhe quem for mais inteligente. Eu quero que o filho do pedreiro ou do coveiro dispute uma vaga na universidade contra o filho do engenheiro, do patrão dele, e vença o mais competente. O que eu quero não é tirar direito dos outros, é dar oportunidade para todos. É isso que eu quero. E é isso que eu vou fazer. E é isso que está acontecendo no Brasil. Então, eu vim aqui hoje para lançar o Acredita. De noite eu vou à Camaçari.
Mário Kertész — Ah, Camaçari, importantíssimo.
Presidente Lula — Dar um apoio para o meu companheiro Caetano.
Mário Kertész — Isso é importantíssimo.
Presidente Lula — E tentar mostrar para o povo de Camaçari que, inegavelmente, Caetano foi o melhor prefeito que Camaçari já teve.
Mário Kertész — Você sabe que ele foi eleito no mesmo ano que eu fui eleito para o Salvador. Ele era do PCdoB, que estava ilegal, então ele estava no MDB. E eu fui fazer campanha para ele lá, que eu estava muito popular aqui. Eu fui fazer campanha para ele. Em 1985.
Presidente Lula — E talvez tenha sido a pior gestão dele. Eu lembro que, quando eu vim a Camaçari naquele ano, o povo estava meio puto com o Caetano. Mas depois ele ficou um tempo fora, voltou, se elegeu. E foi um extraordinário prefeito.
Mário Kertész — Eu acho ótimo você falar.
Presidente Lula — É esse Caetano bom que está voltando e é esse Caetano bom que eu vou apoiar hoje. Vou pedir ao povo de Camaçari.
Mário Kertész — Que bom, presidente. Que bom sua presença física lá.
Presidente Lula — Eu acho que o povo precisa compreender uma coisa. Quando a gente escolhe um prefeito, eu digo assim, é como se a gente estivesse escolhendo um padrinho. Quando você escolhe um padrinho, você escolhe alguém que você gosta, alguém que você confia. E alguém para quem você quer depositar até a guarda do seu filho, no caso de uma desgraça na família. Quando você escolhe um prefeito, você está escolhendo um cara que vai cuidar do seu filho, vai cuidar da sua família, vai cuidar da sua rua, vai cuidar do seu bairro e vai cuidar da sua cidade. É preciso ter muito critério para escolher e a gente não pode permitir que as pessoas cometam equívocos. Nós temos que tentar orientar. E, depois, obviamente, que a gente acata o resultado do povo, porque o povo é quem manda, na verdade. Cada um tem o direito de votar em quem quiser.
Mário Kertész — Agora, presidente, eu queria lhe contar uma pequena história que, para mim, é muito significativa. E eu, pessoa física. Nós estamos vivendo num momento em que essas fake news, essa extrema-direita, esses demônios estão soltos. E, às vezes, dá vontade até de desistir. Não adianta falar, não adianta nada. Aí eu me lembrei, tem um episódio na história da Independência da Bahia, no 2 de julho, que é o seguinte: num determinado momento, confronto entre as tropas brasileiras e as portuguesas muito mais numerosas. O general brasileiro chega para o corneteiro Lopes e diz: “toque retroceder”. Ele tocou “avançar”. Os portugueses disseram: “bom, então eles devem estar com um exército muito maior do que o nosso”. Fugiram e foram derrotados. Então, para mim, o corneteiro Lopes passou a ser uma inspiração nesse momento que a gente está vivendo. Venha tudo do lado negativo, venha até em maior quantidade, porque eles manipulam as redes sociais com grande habilidade. O corneteiro Lopes é que tem que inspirar a gente. Vamos avançar, não tem esse negócio de retroceder.
Presidente Lula — Agora, nós precisamos parar de falar em rede social, é rede digital.
Mário Kertész — É isso mesmo, está certíssimo.
Presidente Lula — De social tem pouca coisa, tem muito mais maldade. Se você souber, aquele candidato de São Paulo a prefeito. O candidato de Fortaleza, eu não vou nem dizer por que ele virou famoso, você deve saber a história.
Mário Kertész — Eu sei. Eu sei.
Presidente Lula — Essa gente que acha que são engraçados, que podem ofender todo mundo, eles são contra o sistema. Os sistemas são eles. Eles são o sistema, porque eles são filhos da elite. E fica aquela teoria da prosperidade, como se fosse um mantra religioso, como se todo mundo pudesse ficar rico. Quando, na verdade, a gente quer melhorar a vida das pessoas, a gente quer que todo mundo viva um padrão de vida decente, sabe, que está previsto na Constituição, na Bíblia, na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Então, eu acho que nós estamos vivendo essa fase no Brasil. Nós vamos lançar esse Pé-de-Meia na Bahia. Na Bahia, tem 407 mil jovens recebendo o Pé-de-Meia. Quatrocentos e sete mil jovens. Da mesma forma que tem quase 3 milhões de pessoas recebendo Bolsa Família. Da mesma forma que tem quase um milhão de pessoas recebendo, comprando remédio no Farmácia Popular.
Mário Kertész — Mas eu acho, presidente, que isso não chega à população de uma forma que ela absorva e entenda, porque a contrapropaganda é tão malvada, tão perversa, tão sem escrúpulos, como você falou, inclusive, esse candidato lá de São Paulo, que aí, sabe, fica na cabeça. Eu vejo gente...
Presidente Lula — Mas deixa eu lhe contar uma história boa sobre isso. O meu ministro da Comunicação, o Pimenta [Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], ele entrava na minha sala nervoso com a pesquisa, dizendo: "presidente, porque a pesquisa está mostrando, sabe, que o adversário, que diz o senhor, ainda está forte, está dizendo que os evangélicos ainda estão contra". Eu falei: Pimenta, é normal que seja assim. Porque, veja, eu fui eleito presidente prometendo um monte de coisa para o povo. No primeiro ano, o povo não cobra muito do governo, porque o povo sabe que a gente está arrumando a casa. Eu tive que reconstruir esse país. Não tinha Ministério dos Direitos Humanos, não tinha Ministério da Mulher, não tinha Ministério da Igualdade Racial, não tinha Ministério dos Povos Indígenas. Tinham acabado com o Ministério da Cultura.
Mário Kertész — Não tinha presença internacional. Zero.
Presidente Lula — Nós tivemos que recriar tudo isso. Isso leva tempo, eu falei. Então, o povo sabe que a gente está reconstruindo. "Então, companheiro Pimenta, nós pegamos uma terra ruim, nós fizemos o manejo da terra, aramos a terra, colocamos a semente, cobrimos a semente, colocamos adubo, e agora é a época de colher. Agora nós vamos começar a colher. Então, agora, a gente tem que mostrar para o povo tudo o que nós já fizemos. E tem que mostrar na rede social, tem que mostrar na televisão e no rádio. Tudo o que nós fizemos". E por que nós temos que mostrar? Para o povo saber utilizar as coisas que ele tem. Porque se o povo não souber, fica só a maldade dos adversários.
Mário Kertész — É verdade.
Presidente Lula — Fica só a maldade dos adversários. Veja, Mário, quando eu peguei a presidência, mais de 80% dos acordos salariais eram feitos com reajustes abaixo da inflação. Nesses dois anos que eu estou na presidência, mais de 87% dos acordos foram feitos com aumento real acima da inflação. O salário mínimo já subiu duas vezes. A massa salarial cresceu 11,7%. Nós temos o menor desemprego desde 2012. Ora, então, essas coisas nós temos que contar para o povo. Essas coisas nós temos que dizer para o povo o que nós estamos fazendo. Porque a minha agonia agora é criar os Mais Especialistas. É fazer com que o povo que tem a primeira consulta em uma UPA, tem a primeira consulta em um ponto de saúde. Aqui na Bahia tem várias policlínicas extraordinárias que o Rui começou a fazer, o Wagner, e o Jerônimo está dando continuidade. O nosso compromisso agora é o seguinte: a mulher ou o homem vai no primeiro médico. Então o médico constata que precisa de um especialista. É preciso que esse especialista atenda logo, não pode esperar nove meses. Aí chega o especialista, pede uma ressonância magnética, mais nove meses. Ou seja, a doença não espera. Se a gente pudesse apertar um botão e a doença esperar até... Então, o que nós fazemos é criar condições para que o povo tenha a primeira consulta, a segunda consulta, a terceira consulta e a cura.
Mário Kertész — E que o povo saiba que tem isso, presidente.
Presidente Lula — É isso que nós vamos fazer. A Nísia [Trindade, ministra da Saúde] está trabalhando muito nisso. Eu tenho certeza que nós vamos entregar esse país pronto. Espero que quem venha depois seja melhor do que eu. Tenha mais amor no coração do que eu. Tenha mais compromisso com o povo brasileiro do que eu. Porque, se entrar uma coisa pior, vai desgraçar tudo outra vez.
Mário Kertész — Presidente, uma pergunta: você vai interferir na eleição do presidente da Câmara? O presidente da Câmara, é como você falou no princípio. Ela não era assim com esse poder que se transformou nos últimos tempos. Aliás, a mesma coisa aqui em Câmara de Vereadores. Na Assembleia da Bahia até que não. Mas é uma coisa extraordinária, aquele poder. Uma pessoa... Depois diz que deputados são iguais, não é igual em nada. O presidente da Câmara tem um poder fantástico. E tem uma disputa aí que estava acelerando para um lado. Tinham dois baianos concorrendo, etc, etc. O presidente Lula participa disso?
Presidente Lula — Não. Não. Mário, obrigado pela pergunta, porque me dá a chance de falar, inclusive para os deputados. Eu tenho como prática política não me meter na escolha do presidente da Câmara. É uma coisa do Congresso Nacional. Como eu respeito a autonomia de cada Poder, o meu presidente será aquele que for eleito. Aquele que for eleito, goste dele ou não goste, eu vou conversar. E vou tratá-lo como presidente da Câmara. É assim que eu faço. É assim que eu faço. Eu não vou nunca apresentar para o presidente da Câmara um projeto de meu interesse pessoal. Eu vou apresentar projetos de interesse do povo brasileiro. E vou discutir com ele como é que vota. E eu vou lhe explicar uma coisa. Vou lhe explicar uma coisa: quando nós tomamos posse, muita gente dizia que a gente ia ter muita dificuldade de governar. O meu partido só tem 70 deputados em 513. Eu só tenho 9 senadores em 81. Nós aprovamos uma PEC da Transição, que deu R$ 165 bilhões para a gente governar esse país no primeiro ano. Aumentou o dinheiro da saúde e da educação. Nós já aprovamos, sabe, uma coisa extraordinária que foi o Arcabouço Fiscal. Nós já aprovamos a política tributária. E até agora nós não perdemos nenhum projeto importante que o governo mandou para o Congresso Nacional. Lógico que muitas vezes o projeto que você manda não é aprovado do jeito que você quer. E isso faz parte da democracia. Cada deputado tem um pensamento, cada partido tem sua ideia. Ninguém é obrigado a acatar tudo que o governo manda. Mas é possível se estabelecer uma mesa de negociação e a gente encontrar um denominador comum que permita a gente aprovar as coisas. E isso tem sido feito com o Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados] na presidência. Tem sido feito com o Pacheco [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal] na presidência. Então, eu não quero escolher presidente. Eu quero manter uma relação civilizada e institucional com quem ganhar as eleições nas duas Casas. Tá? Eu não quero dizer "eu não gosto do presidente". Não é o presidente da Câmara que precisa do presidente da República. É o presidente da República que precisa da Câmara.
Então, se eu compreender isso e tiver uma relação muito civilizada com eles, sabe, vai tudo muito bem. O que houve de desvio? O que houve de desvio é que, como o Bolsonaro é muito incompetente, ele nunca governou nada nesse país, porque ele é um homem do mal. Ele saiu do Exército falando do mal do Exército, quase é condenado. Depois ele se meteu na política, disse que é contra o sistema e viveu 28 anos de mandato de deputado federal, mais dois na Câmara de Vereadores. É um cara que viveu da política o tempo inteiro, o tempo inteiro, o tempo inteiro. Viveu às custas do Estado, como tenente do Exército, e viveu às custas do Estado, como deputado e vereador. E disse que é anti-sistema. Ele é o sistema. O sistema daquelas coisas que não prestam no país, daquelas coisas que causam prejuízo ao povo. É por isso que ele foi um negacionista no Covid-19. É por isso que ele resolveu inventar remédio.
Mário Kertész — Cloroquina?
Presidente Lula — É, ele inventou remédio. Ou seja, e eu não tenho medo de dizer que 300 mil pessoas dessas 700 mil que morreram devem ser debitadas nas costas dele. Nas costas dos médicos que orientaram ele. Então, essas pessoas, pelo amor de Deus, essas pessoas não são do bem. Essas pessoas não fazem bem à sociedade brasileira. Era tão bom quando você fazia disputa com o PSDB, porque você terminava um comício, você encontrava com o adversário em um restaurante, se cumprimentava, e era tudo muito bem, cada um ia para a sua casa. Hoje virou a política do ódio. Hoje é ofensa pura.
Você viu o que fizeram com o Datena, sabe, no debate? Sabe, da Bandeirantes? Ora, como é que você pode conviver nessa política assim? Como é que você pode conviver? Como é que a democracia pode ressurgir? E não é uma coisa do Brasil. Eu fiz agora um encontro na ONU, com 14 países, para a gente construir uma nova narrativa para a democracia. A democracia é o melhor sistema de governo que a humanidade conseguiu criar. É o melhor sistema de governo. É na democracia que o metalúrgico pode chegar à Presidência da República. É na democracia que um índio como o Evo Morales pode chegar à Presidência da República. É na democracia que uma mulher, condenada há 3 anos e meio, como a Dilma [Rousseff, ex-presidenta da República e presidenta do Novo Banco do Desenvolvimento] foi presa quando jovem, seja presidenta da República. Sabe? Isso que é um sistema bom. Amanhã não deu certo, coloca outro. Amanhã um operário não deu certo, coloca um patrão. Depois do patrão não deu certo, coloca um operário outra vez, coloca um advogado, coloca um médico. Isso chama-se democracia. E as pessoas têm que ser eleitas com programa. O que ele vai fazer para cada área? O que ele vai fazer para a educação, para o pequeno e médio produtor rural, para o grande negócio? Porque, Mário, se depender de políticas públicas, o agronegócio deveria 100% votar no PT. Deveria, se você pegar...
Mário Kertész — E é 100% contra.
Presidente Lula — Se você pegar o dinheiro que nós colocamos para o agronegócio, você vai perceber que nos dois planos Safra nós demos mais dinheiro do que em qualquer outro governo da história.
Mário Kertész — Agora, presidente, estão avisando aqui que o tempo da gente esgotou, mas eu tenho duas perguntas rápidas. A primeira é a seguinte: bets e crime organizado, segurança pública. Essa é uma das grandes preocupações, sobretudo, do povo que vive na periferia. Que diz assim: “Eu não quero o meu filho ser incorporado ao tráfico, eu quero ter liberdade para sair e voltar tranquilo”. E aí, como é que é, presidente?
Presidente Lula — Esses são dois temas importantes. Primeiro, as bets. As bets, na semana passada, eu tive uma reunião com 14 ministérios para a gente discutir a questão das bets. E nós tínhamos uma opção: acabava definitivamente ou a gente regulava. Nós optamos pela regulação. E me parece que essa semana, sabe, mais de 2 mil bets já saíram de circulação.
Mário Kertész — Foi, saíram.
Presidente Lula — Então, nós vamos ver se a regulação dá conta. Se a regulação der conta, está resolvido o problema. Se não der conta, eu acabo. Para ficar bem claro. Porque você não tem controle do povo mais humilde, de criança com celular na mão, sabe, fazendo aposta. Nós não queremos isso.
A segunda coisa é o crime organizado. O meu ministro Lewandowski [Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública], ele está apresentando uma proposta de PEC. Que eu não quero que seja apresentada por ele como uma proposta dele. Eu quero reunir os 27 governadores de estados e a gente criar uma política de segurança pública que envolva a cidade, o estado e a União. Qual é o papel de cada um disso? Qual é o papel de cada um? É porque os estados não abrem mão do controle da polícia. E a Polícia Federal não pode entrar nisso. Só pode entrar quando o estado pede. Então, a nossa contribuição termina sendo a de repassar dinheiro. Não é isso que nós queremos. O que nós queremos é construir uma política de segurança pública que envolva, sabe, estado, município e União. Que a gente possa definir o papel da Polícia Federal. Que a gente possa definir o papel da Polícia Rodoviária Federal. E que a gente possa definir o papel da Guarda Nacional participando junto com as políticas estaduais. Porque, esse negócio de polícia, você sabe que tem comando. Ninguém quer ser comandado por ninguém. E nós precisamos ter uma coordenação nacional. É isso que nós estamos propondo. É uma espécie de SUS da segurança pública. Isso vai ser feito e vai ser aprovado. Se Deus quiser, a gente manda a PEC, ainda esse ano, para o Congresso Nacional. Para ver se a gente começa o ano que vem com uma política de segurança mais competente. Porque lidar com o crime organizado não é lidar com bandido. É lidar com a indústria. Até multinacional. Porque o crime organizado está hoje na política, está na Justiça, está no futebol, está no sindicato. Está em tudo quanto é lugar. E está também a nível internacional. Porque é uma coisa maluca o que se viaja de dinheiro, sabe, voando por cima do Oceano Atlântico. Então, eu acho que, se Deus quiser, a gente vai conseguir ter um sistema único de segurança pública nesse país. Para a gente cuidar com muito carinho da segurança do povo. Garantir o direito de ir e vir.
Nós estamos fortalecendo muito a Escola de Tempo Integral. Aqui, na Bahia, já está bem adiantado. Mas nós vamos colocar o ano que vem. Esse ano colocamos um milhão de crianças na Escola de Tempo Integral. Até o final do meu mandato, serão quase quatro milhões de crianças em Escola de Tempo Integral. Para a gente garantir segurança para a criança, mais capacidade para estudar, mais coisa para aprender na área da cultura, na área de esporte, na área da dança. E também para dar tranquilidade à mãe e ao pai, que podem sair para trabalhar sabendo que o seu filho está bem guardado.
Então, esse nosso Brasil, querido Mário Kertész, na nossa mão vai ser um país mais justo, mais humano, mais fraterno e mais solidário. Porque é o seguinte...
Mário Kertész — Que bom, presidente, ver você com esses olhos brilhando. Os mesmos olhos que brilharam quando você chegou à presidência na primeira vez. Agora, tem uma dívida sua comigo que eu cobro e o pessoal lá não resolve. É preciso resolver. Todo dia que eu defendo as suas ideias, as ideias da democracia, o pessoal diz que eu sou vendido ao PT, que eu sou petista, vendido ao PT, que a rádio vive de PIX do PT e eu não recebi até hoje um, presidente. Sacanagem.
Presidente Lula — Eu vou lhe contar uma coisa. Se o Mário tivesse feito alguma proposta de receber dinheiro, eu certamente não teria com ele a relação de respeito que eu tenho.
Mário Kertész — Isso.
Presidente Lula — Porque uma coisa que é importante é essa relação. Essa relação de sinceridade que a gente tem que passar para as pessoas. Porque as pessoas estão sendo convencidas, todo dia, que todo político é ladrão, que toda pessoa que fica pública é ladrão. Ou seja, e nós precisamos mostrar com atitudes que não é assim. Você veja que minha relação com você é antiga. Não é uma relação nova. E ela tem que ser aperfeiçoada. E se o governo tiver que dar financiamento para todas as rádios no Brasil, tem que dar também para você.
Mário Kertész — Mas eu não quero. Eu estou falando isso só...
Presidente Lula — Tô falando uma coisa normal, ou seja, para todo mundo. A Rede Globo tem direito, vai ter. A Bandeirante tem direito, vai ter. A Record tem direito, vai ter. O governo tem dinheiro para a publicidade. Eu sou favorável a gente repassar dinheiro para as cidades do interior. Porque muitas vezes, R$ 50 mil para uma rádiozinha ou um jornal do interior, dá para pagar a conta de luz. Alivia as pessoas. O que não dava era que antigamente era tudo canalizado para o eixo São Paulo-Rio. É como a questão do desenvolvimento. As pessoas: "Ah, porque dá subsídio não sei para onde, porque a empresa vai para a Bahia, porque a empresa vai para Pernambuco". Veja, meu Deus do céu, qual é o papel do governo? O papel do governo é garantir que os estados tenham igualdade de oportunidade. Se o Governo Federal não tiver política de incentivo para as empresas indo para outros estados, vai tudo para São Paulo, vai tudo para Minas, vai tudo para o Rio. E o Brasil não é só São Paulo-Rio e Minas. O Brasil é Roraima, Rondônia, Acre, Bahia, Pernambuco, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins. Esse é o Brasil. E nós precisamos garantir que todos os estados tenham oportunidade. Eu estou muito feliz, sabe, com o que está acontecendo na Bahia. E quero mais te agradecer de coração essa entrevista, agradecer aos nossos ouvintes que estão ouvindo, dizendo para vocês: eu não sei se vocês me amam, mas eu amo vocês, porque eu gosto de gente. Eu gosto de gente. Eu não vejo um número no ser humano, eu vejo um ser humano. E como eu sou humanista, eu gosto de ver ele bem e feliz. Um abraço, Mário. Obrigado, querido.
Mário Kertész — E o que eu agradeço, presidente, quando eu falo isso é porque as pessoas não me entendem. O que eu defendo é o que eu acredito. Não tem nada de dinheiro envolvido, nem publicidade, nem nada. Eu acredito no seu trabalho, acredito na sua luta.
Presidente Lula — E, Mário, as pessoas que quiserem te julgar precisam conhecer a tua biografia, precisam conhecer a história, porque todos nós temos história. E a tua história, como jornalista, é uma história extraordinária. Não é à toa que sempre que eu posso, eu peço para fazer uma entrevista com você. É importante lembrar que a última que eu dei para você foi em janeiro.
Mário Kertész — Foi, é verdade.
Presidente Lula — Então vai fazer quase dez meses que eu não dou entrevista para o Mário Kertész. Mas eu vou lhe dizer uma coisa, terminar dizendo para você: quando você tiver alguma coisa interessante para me perguntar, você ligue, que a gente faz por telefone. A gente faz lá de casa. O que não pode é deixar de perguntar o que você quiser perguntar. "Ah, tem um problema, mas tal coisa está errada. Sabe, o Lula tem que explicar". Ligue. Ligue, você vai ver se eu vou faltar com você.
Mário Kertész — Ah, nunca faltou.
Presidente Lula — E pode fazer a pergunta que quiser.
Mário Kertész — Eu sei disso. Nunca faltou. Você nunca faltou.
Presidente Lula — Aí eu estou que nem aquele cara: ligue, ligue, ligue, ligue, ligue para mim. Um abração.
Mário Kertész — Um abração, meu querido. Luiz Inácio Lula, amigo de tanto tempo, e aqui o governador.
Presidente Lula — E vamos à Camaçari, hoje à noite.
Mário Kertész — Sim, Camaçari. Olha lá.
Presidente Lula — Onde que é a praça que vai fazer o comício? Praça Comercial. Atenção, povo de Camaçari, na Praça Comercial, a partir das 18 horas.
Mário Kertész — Vamos lá, encerra o programa. Tchau, pessoal.