Entrevista do presidente Lula à Rádio MaisPB, na Paraíba
Heron Cid (Rádio MaisPB): Rádio MaisPB FM, gerando essa conexão para todas as regiões da Paraíba, como, por exemplo, para o Brejo do estado, pela Rádio Pop FM 105,3; Rádio Talismã FM de Belém, no Brejo; Rádio Integração FM, em Bananeiras.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Cruzando a BR-230, chegando à Soledade na Caruá FM; no sertão da Paraíba, que nos escuta agora pela Itatiunga FM, em Patos; Mais FM 97.7, de Cajazeiras; Mais FM 100.1 de Uiraúna, e no Vale do Piancó, Conceição FM, em Conceição.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Tudo isso para entrevistar, agora, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que já está aqui conosco nessa agenda, hoje, durante um dia intenso, aqui, na Paraíba. Falando também para a Rádio Maia FM, de Itaporanga; Bom Sucesso FM, de Pombal; Solidária FM, de São Bento; Taperuá FM, de Taperuá; Rainha FM, de Itabaiana.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Em São Vicente do Seridó, São Vicente FM; Boa Esperança FM, em Pedra Lavrada; Princesa FM, em Princesa Isabel; em Cariri da Paraíba, em Serra Branca, Índia FM; agora também na TV Diário do Sertão; Entre Rios FM Desterro, e em Emas, Rádio Jovem Kennedy.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Chega conosco também a Rádio Líder FM, de Sousa, no sertão da Paraíba. Agora sim, a gente já pode começar essa entrevista com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre uma agenda, hoje, aqui, no estado da Paraíba.
E de antemão, presidente, antes de qualquer pergunta, nós queremos dizer que estamos, aqui também representando centenas de colegas, repórteres, jornalistas, apresentadores de rádio, televisão, blogs, portais, da nossa valorosa imprensa paraibana. Porque também queremos ser a voz deles, desses colegas, nessas perguntas que eles, porventura, gostariam de fazer ao senhor nesse momento histórico aqui da Paraíba. Da mesma forma como nós nos sentiríamos muito bem representados por qualquer um dos nossos colegas que o senhor estivesse dando essa entrevista agora.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Presidente Lula, seja bem-vindo à Paraíba, saudações paraibanas. Ou vou dizer saudações corintianas.
Presidente Lula: Ô, Heron, primeiro é um prazer regressar à Paraíba. Eu tenho uma história desde a fundação do meu partido, desde as greves de 78, visitando a Paraíba, visitando cidades da Paraíba, na perspectiva de construir, primeiro o movimento sindical, depois construir o Partido dos Trabalhadores, depois viajando construindo a CUT [Central Única dos Trabalhadores] e depois viajando sendo candidato.
Então, é uma história, eu fico, toda vez que eu venho para a Paraíba e venho para o estado do Nordeste, é uma coisa gratificante para mim porque eu estou me reencontrando com a minha origem. Eu saí de Pernambuco com 7 anos de idade para ir para São Paulo e eu quero te dizer que é um prazer estar aqui conversando com vocês. Obviamente, que eu quero, inclusive, dizer que seria importante se estivesse conversando com toda a imprensa da Paraíba, mas, como a agenda é muito apertada, é muito curta, a gente tem que fazer um processo de seleção para a gente conversar. Primeiro, a gente atende quem pede, depois a gente atende quem, nós entendemos, que pode divulgar melhor as coisas que a gente vem fazendo no estado.
E nós vamos cumprimentar os ouvintes da Rede Mais, se for todo mundo que está ouvindo o que o Wallison falou e o que você falou, eu vou estar mais famoso que o Biden ou que a Kamala agora, que é a vedete. E quero cumprimentar os ouvintes do Hora H.
Dizer para vocês que é uma entrevista que eu me sinto à vontade, primeiro porque eu gosto de rádio. Rádio é a melhor coisa que tem para dar entrevista porque a gente não precisa ficar preocupado com se está brilhante, se não está brilhante, se o cabelo está limpo, se não está limpo, ou seja, a rádio é rádio. E é uma coisa extraordinária porque a pessoa não precisa parar e sentar para ouvir. A pessoa pode continuar fazendo o que quiser, que ela vai ouvir o rádio. E estou à disposição de vocês para discutir aquilo que vocês entenderem que a gente deva discutir.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Essa entrevista é, de fato, um reconhecimento à força do rádio e também um prestígio ao jornalismo profissional paraibano. Obrigado, presidente, desde já. Dizer que essa transmissão é uma parceria do programa Hora H, da Rede Mais Rádios e da Rádio POP FM 89,3, em João Pessoa.
Mas vamos começar pela agenda, Wallison Bezerra. O presidente tem uma agenda extensa, hoje, aqui. A gente vai tentar discorrer o que ele fará aqui na Paraíba, que anúncios a gente pode esperar. Os paraibanos estão aguardando, estavam aguardando essa sua visita e a gente vai começar tratando sobre esses temas de gestão.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Começando, presidente, pelas obras do Canal Acauã-Araçagi, que são obras que se arrastam por diversas gestões, e, hoje, o senhor entrega a segunda etapa. Uma obra de mais de 700 milhões de reais. Essa água vai levar a água da transposição para outras regiões da Paraíba.
A partir do momento que o senhor entregar essa obra, ao lado do governador João Azevêdo, e levar essas águas aos agricultores, familiares, o que é que pode ser feito com essa água? Como é que essa água vai trazer riqueza para os agricultores, para as empresas e para a população também? Todos os benefícios que o senhor enxerga que essa água pode trazer.
Presidente Lula: Ô, Wallison, vamos só lembrar que isso começou na presidenta Dilma. Depois da presidenta Dilma, isso teve uma paralisia, depois que ela foi impichada. Ou seja, e depois o outro presidente, o ex-presidente, veio inaugurar o Trecho 1, que começou com a Dilma. A Dilma fez 73% das obras, Dilma e Temer, e o ex-presidente fez 22% da obra do Canal 1.
Nós vamos inaugurar o 2 e vamos dar início à obra para o 3, porque nós queremos terminar, definitivamente, isso. E o que foi importante… É importante vocês saberem que, antes de definir as obras prioridades do PAC, eu fiz uma reunião em janeiro com 27 governadores. O governador João estava, e eu comecei a reunião fazendo um pedido: essa reunião aqui é para que os governadores digam ao Governo Federal quais as obras prioritárias que vocês têm para os seus estados. Não é daqui, de Brasília, que eu vou adivinhar uma obra que é importante para Paraíba, ou para Pernambuco, ou para Bahia. Não. São os governadores.
E todos os governadores apresentaram. E foi uma coisa extraordinária, porque o que nós estamos fazendo são coisas pactuadas com os governadores. Não é um projeto inventado. Sabe aquele projeto inventado que o presidente manda o ministro fazer, depois sai o presidente, a obra nunca mais termina porque não era de interesse do estado? Não, aqui as obras são do interesse do estado.
E só para você ter ideia, o PAC, ao todo, ele tem quase R$ 21 bilhões para a Paraíba. Dos R$ 21 bilhões, R$ 9,5 bilhões são projetos inter-regionais, e R$ 11,5 bilhões só para Paraíba. Ou seja, eu posso dizer para vocês, nunca antes na história da Paraíba, houve um compromisso escrito, assinado, de que as coisas vão acontecer.
Qual é o milagre da água? O milagre da água, o primeiro é beber água. Beber água tratada, fazer com que as pessoas sejam saudavelmente respeitadas pelos prefeitos e pelos governadores tratando a água. Segundo, é a capacidade da produção agrícola. Essa água tem que servir para que a gente possa atender pequenas e médias propriedades, sobretudo, para aumentar a produtividade no campo, para aumentar a qualidade do alimento que eles produzem, de preferência, alimentos muito saudáveis, e para dar cidadania às pessoas que trabalham no campo. Ele tem que produzir, tem que vender, tem que comer.
E o governo brasileiro, nós estamos tomando a atitude de que nós, se for necessário, através do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], nós compramos o alimento que o pequeno produtor produzir, e não conseguir vender no mercado, nós compramos para distribuir em qualquer lugar do Brasil que as pessoas necessitam.
Então, a água tem essa finalidade. Primeiro, matar a sede das pessoas e dos animais. Segundo, ajudar no desenvolvimento agrícola do estado. É isso que nós queremos, porque eu, Wallison, eu tenho experiência de carregar pote d'água, com 7 anos de idade, na cabeça.
Não é uma coisa fácil que o povo nordestino passou ao longo de séculos, de séculos, de séculos. Eu dizia, quando eu comecei a fazer a transposição do São Francisco, eu dizia o seguinte: a seca é um fenômeno da natureza, mas a pobreza, por conta dela, é a incapacidade dos governantes desse país.
Porque o Canadá não é pobre, tem metade do ano com neve que ninguém pode fazer nada. Por que nós não aprendemos a tratar a seca? Então, quando nós decidimos fazer o canal de São Francisco, não foi uma coisa fácil. Porque aqui, você sabe, que no Nordeste, Sergipe era contra, se achava dono do rio; Alagoas se achava dono do rio, e a Bahia. Em Minas Gerais, onde nasce o rio São Francisco, também era dono do rio.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Mesmo com essa oposição, o que foi determinante para o senhor tomar a decisão política de fazer?
Presidente Lula: Olha, o que foi determinante foi a minha experiência de vida no Nordeste. Somente alguém que passou o que eu passei, uma família, e vi minha mãe ir para São Paulo com oito filhos, embaixo da saia, num pau de arara, 13 dias, para escapar da fome, para ver se a gente vivia um pouco melhor.
E a qualidade da água que a gente bebia. Quando você ia no açude pegar um pouco d'água, estava lá, sabe, a cabra fazendo xixi, fazendo cocô, estava o cavalo, estava a vaca, e era daquela água que você pegava e não tinha tratamento nenhum. Você pegava, colocava num pote para ela assentar, quando ela assentava, você tirava com a caneca e colocava no outro pote e bebia. A gente não tinha nem educação para ferver a água. E, por isso, que as crianças tinham problemas de saúde mais rápido. E os dentes das pessoas estragavam com mais facilidade.
Então, eu levei isso na minha imagem para o Nordeste. E eu fiquei estudando, Dom Pedro II tentou fazer a transposição das águas em 1846. O lugar que nós fizemos a retirada da água de São Francisco, em Cabrobó, foi determinada pelo engenheiro que Dom Pedro contratou em 1846. E não deixaram de fazer a obra. Eu falei: eu vou fazer.
Graças a Deus, o Jaques Wagner foi eleito governador da Bahia, logo ficou favorável. Aí, nós elegemos o Sergipe, logo ficou favorável. Aí, elegemos o Ronaldo Lessa [ex-governador de Alagoas], logo ficou favorável. Então, eu não tive problema.
É um canal que, se vocês não conhecem, deveriam conhecer. É um canal de 640 quilômetros. Isso só, fora as ligações com os açudes e com outros estados. Atende a Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, muito, que é o lugar que mais sofria da seca.
Então, essa decisão é uma decisão dura, porque você pensa que foi fácil enfrentar a discussão ambiental, enfrentar a discussão das pessoas que achavam que não poderia mexer, que ia estragar o rio, que ia mudar a história do planeta? Aquela coisa toda. Mas está feito. E já era para estar concluído, totalmente, há muito mais tempo.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Falando em conclusão, presidente, nós temos na Paraíba, o Eixo Leste, que vai para o Cariri, o Eixo Norte, que vai para região de Cajazeiras, São José de Piranhas, sertão do estado, mas, por exemplo, no Vale do Piancó há uma projeção expectativa do Ramal do Piancó, uma obra que, inclusive, foi apresentada pelo governador João Azevêdo no PAC.
Os ouvintes que estão ouvindo a gente agora pela Conceição FM, pela Mais FM, em Itaporanga, eles podem sonhar com esse Ramal do Piancó? Quando ele vai ser colocado em prática?
Heron Cid (Rádio MaisPB): Já está no PAC. Quando sai do papel?
Presidente Lula: Não pode só sonhar. Tem que acreditar que vai acontecer. Porque as coisas que estão no PAC são para acontecer. Quando eu fiz o PAC, o primeiro que eu fiz foi em 2007. É porque eu não queria que o governo fosse um governo em que todo dia o ministro inventasse uma obra. Porque quando você não diz para o ministro que é prioritário, ele vai escolhendo uma obra no estado dele, uma obra na cidade dele, uma obra não sei aonde. Então, quando eu resolvi fazer o PAC é o seguinte: olha, chega de ter novas ideias. Agora é implementar o que nós decidimos aqui.
E foi, extraordinariamente, bem-sucedido. Agora é a mesma coisa. Agora nenhum ministro meu tem que inventar mais nada. Está tudo definido no PAC. E se está definido que tenha mais um canal, vai ter mais um canal. Sabe por quê? Nós vamos colocar dinheiro para essas coisas acontecerem. O que é que nós fazemos? Com os estados mais ricos, a gente faz financiamento. Com os estados mais pobres, a gente coloca no orçamento da União, que é para poder garantir que as coisas possam acontecer.
E o nosso compromisso é fazer as coisas acontecerem. Você não sabe da tristeza, Heron, eu quando comecei a fazer a Transnordestina, em 2005, eu tinha o sonho de inaugurá-la em 2012. Agora, eu comecei outra vez. Um investimento de R$ 7 bilhões que eu quero andar naquele trem até o Natal de 2026 e inaugurar, definitivamente, a Transnordestina.
Da mesma forma que eu fiz a BR-101 Nordeste. Ou seja, se você for ficar discutindo se era gasto ou se era investimento você nunca faz nada. E você tem que tomar a decisão. Eu, na minha cabeça, sempre trabalho com a ideia: quanto custa não fazer as coisas? Fazer custa tanto e não fazer custa quanto?
Aí você tem que ficar perguntando quanto custou o Brasil não alfabetizar o povo no tempo certo? Quanto custou não fazer a reforma agrária na década de 50? Quanto custou não fazer os investimentos necessários em universidades e em formação de profissionais habilitados no século 20?
Você sabe que a primeira universidade brasileira é de 1920. A do Peru é de 1554. Significa que a elite portuguesa, que cá esteve, não tinha muito interesse em formar o nosso povo. O nosso povo era escravo e indígena. Então, era para trabalhar e cortar cana e acabou. Os ricos iam estudar na França, nos Estados Unidos, na Inglaterra, em Coimbra. E os pobres? Então, nós resolvemos tomar a atitude correta de fazer as coisas, e o PAC é uma benção.
Eu fiz o PAC I, no meu governo. Depois eu fiz o PAC II para deixar para a Dilma, pronto. Eu não queria que a Dilma perdesse o mesmo tempo que eu perdi em 2007. Aí deixei o PAC II. E, agora, estamos com o PAC III.
Heron Cid (Rádio MaisPB): O senhor falou na Transnordestina. A CNI apontou um estudo, há poucos dias, que a Paraíba perdeu praticamente toda a sua malha ferroviária: 600 quilômetros. O que restou é um trecho de transporte de passageiros entre João Pessoa, Cabedelo e Santa Rita. E a CNI apontando que a reativação da malha ferroviária poderia ser uma estratégia de aumento da competitividade da Paraíba.
O senhor está falando aí nos investimentos da Transnordestina, mas não tem a Paraíba. Por que a Paraíba está fora desse projeto? É por questão logística?
Presidente Lula: Não tem a Paraíba e não tem o Rio Grande do Norte. Porque não estava no projeto original. Mas, na medida que os governadores entendam que é importante para o estado, não custa nada você fazer ligação porque o que nós queremos é que o Brasil tenha um sistema de ferrovia que seja uma espécie de uma espinha de peixe. Que você tenha as transversais e as verticais se cruzando para a gente poder baratear o chamado custo Brasil. Para a gente garantir que os produtos produzidos vão chegar, seja da indústria, seja da agricultura, vão chegar no lugar certo.
Não sei se está no PAC alguma coisa de ferrovia na Paraíba. Se não tiver, é importante, eu vou estar com o João daqui a pouco, e ele, em algum momento, sabe, tente colocar isso.
Deixa eu lhe falar uma coisa. O governador sabe uma coisa: eu tenho como formação política e formação gerencial a ideia de que não é o presidente da República que faz as coisas, que sabe das coisas, que adivinha as coisas. Eu converso muito com as pessoas. Nós não só conversamos com os governadores das prioridades do estado como nós conversamos com os prefeitos das prioridades das cidades.
O Minha Casa, Minha Vida não foi uma invenção do Lula: eu vou construir uma casa em Cajazeiras, eu vou construir uma casa em Sousa. Não. Nós fizemos um processo de inscrição, se inscreveram quase 6 mil prefeitos e estão ganhando aqueles que fizeram os melhores projetos, tanto para a casa da Faixa 1, como da Faixa 2 ou da Faixa 3.
E é assim que a gente trabalha e assim tem dado certo. Assim tem dado muito certo e eu tenho certeza que o João colocou no PAC as coisas que ele entendia que era mais importante para o estado da Paraíba e assim, meu caro, nós vamos fazer. Eu e ele temos mais 2 anos e 3 meses de mandato e nós queremos inaugurar essas coisas que a gente está anunciando que vai fazer aqui.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Presidente, tem um problema aqui na região metropolitana de João Pessoa: uma obra de triplicação da BR-230 que é o grande corredor de trânsito, hoje, de João Pessoa e região metropolitana. Há reclamações, queixas constantes da população que anda em ritmo muito lento, causa muitos transtornos. O que dizer a essa população sobre essas demoras, esses entraves?
Presidente Lula: Eu tinha certeza que essa pergunta ia sair na entrevista. Por isso, eu conversei com o Ministro Renan [Renan Filho, ministro dos Transportes] ontem à noite. E essa obra vai sair, ela já está sendo feita em 2 trechos e ela vai fazer num ritmo muito grande. O DNIT está altamente compromissado a terminar essas obras porque eu não quero deixar a obra minha para ser inaugurada por outro. Eu quero terminar essas obras e poder inaugurar essas obras.
Então, pode ficar certo que a BR-230 vai sair. É um compromisso meu e é uma promessa minha na tua frente aqui, porque ontem eu fiquei sabendo dessa entrevista, fiquei sabendo dessa estrada e liguei para o companheiro Renan, que, ontem, teve um sucesso extraordinário. Ontem fizemos o leilão de uma BR chamada 381, chamada Rodovia da Morte, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, e que ninguém queria. Duas ou três licitações deram vazias porque é uma estrada muito perigosa, muito morro e ninguém queria fazer. Pois ontem, nós conseguimos na Bolsa de Valores de São Paulo fazer leilão e vamos fazer a obra.
Então não há nada que a gente não possa fazer. Eu digo para os governadores o seguinte: companheiro, não é o discurso que me convence. O que me convence, na verdade, é o projeto. Se você tiver um projeto factível…
Eu vou dar um exemplo para você como é que as coisas funcionam. Ontem eu vinha no avião e estava um senador comigo… Amaro? Estava o senador Amaral [André Amaral] e estava o senador Veneziano [Veneziano Vital do Rêgo]. E o senador Amaral me entregou um ofício que ele tinha entregado no Camilo, no ministro da Educação, para fazer o instituto federal em Três Lagoas, na terra da Margarida Alves.
E ele, inclusive, já tinha dado a terra, a Lagoa Grande… Ele já tinha dado a terra da fazenda dele para fazer o instituto. Como nós já tínhamos decidido 100 institutos novos, não havia espaço para fazer mais um instituto. Pois, ontem, eu peguei o ofício dele e chamei o Camilo e falei: Camilo, é o seguinte: quem faz 100 faz 101.
A nossa Margarida Alves foi transformada em heroína nacional, então, se a gente fizer um instituto naquela região para formar a nossa meninada vai ser uma benção de Deus, e ela, lá do céu, vai nos abençoar para sempre. E decidimos e vamos fazer mais um instituto aqui na Paraíba.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Está tomada a decisão?
Presidente Lula: Está tomada a decisão.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Presidente, hoje, depois da solenidade em Riachão do Poço, o senhor vai ter um evento no Centro de Convenções onde fará anúncios voltados para infraestrutura, educação, cidades. Quais são esses anúncios que o senhor fará hoje? O que o senhor vai trazer na bagagem da Paraíba?
Presidente Lula: Olha, são muitos anúncios. Primeiro tem alguns ministros que vão falar. O companheiro Waldez [Góes], o ministro da Integração Nacional, vai falar sobre a questão da adutora, da questão da água dos canais que estão sendo feitos. Depois, o ministro Jader [Jader Filho, ministro das Cidades] vai falar da quantidade de casa que está prevista para o estado da Paraíba. E, depois, o ministro Camilo vai falar do que está previsto aqui de recuperação das universidades, de fazer restaurante universitário, fazer laboratório, fazer hospital universitário e também falar dos institutos federais e falar do Pé-de- Meia, que é um programa extraordinário.
Não sei aqui na Paraíba, governador, quantas pessoas têm. Mas o Pé-de Meia…
Heron Cid (Rádio MaisPB): Não é uma porta de saída do Bolsa Família também?
Presidente Lula: É uma porta de entrada da meninada para um futuro melhor. Por que o que nós descobrimos, Heron? Nós descobrimos que 480 mil jovens do ensino médio desistem da escola para ajudar no orçamento familiar. E quando eu fiquei sabendo dessa notícia, eu chamei o Camilo para discutir, ou seja, como é que pode um presidente de um país ficar sabendo que 480 mil jovens, por ano, vão deixar de estudar porque têm que trabalhar para ajudar no orçamento familiar, e a gente não fazer nada?
Então, tomamos a decisão de fazer um programa chamado Pé-de-Meia, em que a gente dá 200 reais por mês para os jovens, todos que estão na linha de corte do CadÚnico, sabe? Então, nós damos 200 reais por mês. Quando chegar no final do ano, se ele tiver comparecido 80%, e passado, a gente dá mais mil. Então, ele recebeu 10 de R$ 200, mais mil, são 3 mil. No ano seguinte, a gente repete 10 de R$ 200 e mais uma de mil e no terceiro ano.
Quando ele terminar o ensino médio, ele vai ter 9 mil reais na poupança para ele continuar a vida. Tem muita gente que fala: “não, mas está gastando dinheiro. É um programa que vai custar 10 bilhões de reais”. Agora, eu prefiro investir R$ 10 bilhões em educação do que gastar R$ 3 bilhões em cadeia. Eu prefiro cuidar de formar esses jovens. Dar a oportunidade dessas meninas e desses meninos não desistirem da escola para estudar.
E eu penso assim, Wallison, porque como eu não tive o direito de fazer um curso universitário e eu sonhava fazer e não tive, eu acho que os filhos de todas as pessoas têm que ter direito de ir para a escola e têm o direito de estudar. É, por isso, que nós fizemos um pacto com os governadores e com os prefeitos para, até 2030, a gente alfabetizar todas as crianças até o segundo ano do ensino fundamental, porque tem criança que vai para o quinto ano e não é alfabetizada.
Por isso, é que nós estamos fazendo o pacto da Escola de Tempo Integral. Vamos terminar meu mandato com 3 milhões e 600 mil crianças em escola de tempo integral e, por isso, nós estamos investindo no ensino médio. Nós vamos terminar meu mandato, eram 782 e, aqui na Paraíba, passou para 783 escolas técnicas. Em um século, esse país fez 40. Em 15 anos, nós fizemos 600.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Presidente, o senhor fala sobre educação e, recentemente, nós tivemos na Universidade Federal da Paraíba a consulta pública para a eleição da nova reitoria. No governo passado, o reitor escolhido, o professor Valdiney Gouveia, foi o terceiro colocado na lista tríplice, encaminhada ao senhor. Para este ano, a professora Terezinha Domiciano é a primeira colocada. O senhor vai seguir o critério da lista tríplice?
Presidente Lula: Eu sigo o critério da lista tríplice, a não ser que a pessoa que ganhou tenha cometido um delito, um crime, alguma coisa. Mas a pessoa ganhou…
Heron Cid (Rádio MaisPB): Ou seja, a mais votada…
Presidente Lula: A mais votada. É importante levar em conta… Eu queria até que os companheiros reitores e os professores pensassem no seguinte: se tiver uma pessoa que teve 500, uma segunda que teve 549, e outra que teve 530, ou seja, você precisa levar em conta que era preciso fazer um segundo turno aqui porque quem perdeu teve mais votos do que quem ganhou, a somatória dos que perderam. Mas eu sempre vou indicar o primeiro da lista. Então, a reitora, a dona Terezinha, a professora Terezinha pode ter certeza que ela será indicada.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Nós estamos conversando com o presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva na Hora H, na Rede Mais Rádios, em João Pessoa; Rádio Pop FM 89, Campina Grande; Rádio do Cariri. O presidente falava agora há pouco nos bastidores sobre uma passagem que ele teve em Guarabira. Eu só vou comunicar que a Rádio Cultura FM, de Guarabira, também está integrada a essa nossa transmissão. O presidente falava de um bastidor político da década de 80, de alguns comícios que ele participou na cidade de Guarabira no brejo paraibano.
Presidente, a última vez que o senhor veio à Paraíba foi em março de 2023, na inauguração de um complexo de energia solar. O senhor não falou naquele dia. Houve uma inquietação: “por que o presidente não falou? O que é que foi?” Um ano e meio depois o senhor volta aqui, à Paraíba, e existia uma inquietação muito grande da imprensa, da classe política: “por que Lula não vem à Paraíba?” Aí, eu aproveito para perguntar ao senhor: esse lapso, essa demora de alguma agenda específica do tamanho que o senhor está fazendo aqui hoje, foi uma questão normal de conveniência administrativa ou das inconveniências políticas dos conflitos, às vezes, entre aliados da sua base?
Presidente Lula: Eu, graças a Deus, Heron, graças a Deus, os problemas menores não atrapalham a minha presidência. Eu poderia ter vindo à Paraíba mais vezes. Toda vez que eu encontro com o governador João, eu falo: nós precisamos fazer agenda na Paraíba. Agora, para vir aqui, era importante vir se tivesse uma coisa importante para a gente anunciar. Porque, veja, nós passamos um ano e oito meses reconstruindo esse país. Você não tem noção de como é que nós encontramos o Brasil. Alguns ministérios tinham metade dos funcionários que tinham em 2010, outros fechados.
Vamos ver se você se lembra, Heron, que para a gente começar a governar, eu comecei a governar antes de tomar posse porque nós tivemos que fazer a PEC da transição para ter dinheiro para poder terminar o ano. Porque a coisa que governou esse país foi um irresponsável. Foi totalmente irresponsável.
Heron Cid (Rádio MaisPB): O senhor usa “coisa” por que o senhor não tem nome para dar?
Presidente Lula: Eu, porque eu não quero falar nome. Eu não gosto de falar. Falar só de coisa boa.
Então, o que acontece, nós tomamos a decisão de reconstruir esse país reconstruir ministério dos Povos Indígenas; ministério dos Direitos Humanos, recuperamos; o ministério da Mulher, recuperamos; o ministério da Cultura, recuperamos; o ministério do Trabalho, recuperamos. Fizemos concurso e, ao mesmo tempo, trabalhando o PAC.
Eu só vou lembrar que foi em janeiro que eu fiz a reunião com os governadores. Cada governador apresentou as propostas, começa-se a trabalhar os projetos e, na medida que os projetos vão chegando, a gente vai começando a funcionar esses projetos.
Então, a minha vinda aqui, agora, eu vou vir mais vezes. Eu vou vir mais vezes porque as obras, as coisas que nós plantamos estão colhendo agora. Eu sempre comparo a administração pública o seguinte: o primeiro ano é um primeiro ano de plantio. O segundo ano é um segundo ano de colheita. E nós, agora, vamos colher o que nós já plantamos. E tem muita coisa.
Eu podia te dizer, por exemplo, Heron, se você pegar o investimento nosso em 2023 na área rodoviária desse país, no primeiro ano nosso a gente investiu mais dinheiro que o outro governo investiu em 4 anos, tá? Em 2003, a gente investiu mais dinheiro do que tinha sido investido em 4 anos. E assim vale para a educação, assim vale para a saúde. O Mais Médicos, quando nós chegamos, encontramos no Brasil com 12 mil médicos, hoje, já estamos com 26 mil médicos.
E, se precisar mais, vamos contratar, porque é preciso levar às pessoas aonde não tem médico. Não é aqui no centro de João Pessoa, não é no centro de São Paulo, não é no centro do Rio de Janeiro. Aqui no centro tem médico em excesso, mas o que nós queremos é fazer com que o povo mais humilde, o povo trabalhador que está na periferia dos estados, esse cara tenha acesso à saúde. Não apenas a uma consulta, mas tenha acesso ao remédio e tenha acesso aos especialistas, que a minha grande agonia é garantir que o povo pobre tenha direito aos especialistas.
Eu vou ao médico, ele me faz uma consulta e fala que tem um problema no coração e manda eu procurar um cardiologista. Esse cardiologista demora 10 meses, 11 meses. Acontece que o coração não espera, ou se for um ortopedista, ou se for um otorrino. Então o que nós queremos é garantir que, ao ter a primeira consulta ele tenha, imediatamente, a segunda consulta e ele tenha a tal das máquinas para ele fazer os exames. Quantos pobres podem chegar no PET scan? Quantos pobres podem fazer uma ressonância magnética? Quase que não conseguem fazer.
Então nós temos que garantir a essa gente o mesmo direito que eu tenho. Eu, por exemplo, como presidente da República, e como eu sou famoso, eu vou no hospital e chega lá o médico nem pergunta como é que eu estou. “Tira a roupa, bota tal roupa e vai para a máquina 1, máquina 2, máquina 3, máquina 4”. Sabe? Depois de três horas dentro das máquinas, o cara fala: “Você não tem nada, pode ir embora”. Por que o pobre não tem esse mesmo direito? Por que a pobre aqui da Paraíba não tem? Por que não tem? Porque nesse país os pobres são tratados como invisíveis, os pobres são tratados como invisíveis. E não é assim que a sociedade caminha, nós precisamos tratar as pessoas com o mesmo direito.
Heron Cid (Rádio MaisPB): O senhor está no terceiro governo. O senhor tem alguma mea culpa nisso?
Presidente Lula: Olha, eu fiz, eu tenho orgulho de dizer para você que eu fiz o que poderia fazer e você não pode nunca se esquecer, Heron, que em 2006, no final do ano, o Senado acabou com aquele programa de saúde que era o… Aquela contribuição…
Heron Cid (Rádio MaisPB): CPMF, o imposto.
Presidente Lula: Acabou. Com o voto dos meus amigos do PSDB. Acabaram. Aquilo tirou R$ 40 bilhões por ano do Governo Federal. E eu dizia para os governadores: vocês vão tirar isso?. Porque todo senador é um pretenso governador depois. Eu dizia: vocês vão tirar isso pensando que estão prejudicando o Lula? O Lula vai continuar tendo o tratamento que ele tem como presidente. Agora o que vocês estão tirando é a oportunidade de a gente levar para o povo mais saúde, levar para o povo acesso a coisas que somente os mais ricos têm.
Então, veja, as pessoas dizem: “isso custa caro”. Eu me recuso a utilizar a palavra custo com saúde, eu me recuso a utilizar a palavra custo com educação, eu me recuso a utilizar a palavra custo com aumento de salário. Porque que o teu patrão te dá um aumento e é custo? O aumento é um investimento no seu profissional. Ele quer que você continue competente, ele quer que você trabalhe com carinho, com amor. Assim vale para os professores, vale para os trabalhadores de fábrica. É preciso apenas inverter a coisa. Eu só falo a palavra investimento. Uma pessoa que tem acesso ao médico e se cura, foi um investimento, porque ele curado produz dez vezes mais do que se ele estiver doente. É assim que funciona na minha cabeça e é assim que eu acho que todos nós no Brasil temos culpa, sabe, desse país continuar pobre do jeito que é.
Veja uma coisa, nós tínhamos acabado com a fome em 2014. Reconhecido pela FAO. Eu volto em 2023 com 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. Ou seja, nós andamos para trás, parecia um caranguejo. Nós, em apenas um ano e oito meses, nós já tiramos 24 milhões e 500 mil pessoas da fome e vamos terminar meu mandato com todo mundo tomando café da manhã, almoçando e jantando nesse país.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Nós estamos conversando com o presidente Lula aqui na Rede Mais, Rádio Pop, em João Pessoa, Rádio Pop Cariri de Campina Grande e mais 25 emissoras em todo o estado. Essa conversa agora vai derivar um pouco para a política. Estamos em ano eleitoral, eleições 2024, eu queria saber um pouco do senhor, por exemplo, eu perguntei sobre inconveniências políticas, porque a sua base aliada aqui na Paraíba é muito eclética, digamos assim. Ela tem um governador, João Azevedo, que é do PSB, mas tem do outro lado, na oposição, o senador Veneziano [Vital do Rêgo], do MDB. O ex-governador Ricardo Coutinho. Enfim, são muitas forças políticas, muitas delas antagônicas. Qual é a fórmula que o senhor utiliza para que essas diferenças não melindrem nas relações administrativas?
Presidente Lula: Meu caro Wallace, meu caro Heron. O bom da democracia é isso. É que o fato da gente ter uma aliança que permite que o governador do estado e o presidente da República trabalhem juntos não implica que a gente pensa a mesma coisa e não implica que a gente tem que ter o mesmo candidato. O que nós precisamos é apenas fazer política da forma mais civilizada possível. O PT tem um candidato a prefeito aqui na Paraíba. O governador tem candidato aqui na Paraíba. Os outros têm candidato aqui na Paraíba. Ora, cada um defende o seu candidato do jeito que quiser, sem fazer com que essa disputa eleitoral seja uma ruptura entre os projetos que a gente tem.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Qual será o nível do seu envolvimento com a candidatura do PT em João Pessoa?
Presidente Lula: Será pouco, será pouco no Brasil inteiro, porque, como presidente da República, eu tenho muita tarefa. Eu levo em conta isso que você alertou agora da diversidade ideológica do meu campo de apoio. E eu também não quero brigar, não quero… A campanha não serve para arrumar inimigos, serve para você construir amigos. Então a minha participação será só em alguns lugares. Eu posso gravar uma mensagem, mas ela será menor. Eu não viajarei muito para fazer comício, porque eu quero preservar o meu mandato fazendo aquilo que eu prometi para o povo brasileiro. Se eu tiver que fazer um comício, eu tenho que ter uma agenda de trabalho o dia inteiro e tentar fazer um comício à noite ou sábado e domingo. Mas a minha participação não será tão participativa, porque eu tenho muita coisa para fazer e esse é um ano complicado.
Eu tenho que mudar minha data, porque no segundo turno, teoricamente, eu não estaria no Brasil, que é o dia do meu aniversário, 27 de outubro. Eu tenho sorte, porque em 2002, quando eu ganhei as eleições, eu tenho duas datas de aniversário: dia 6 de outubro, que é o dia que está no meu registro; e dia 27 de outubro, que é o dia que a minha mãe disse que eu nasci. Então entre o registro, que lá em Caetés a gente registrava 10 meses depois que nasceu, e a minha mãe, que me carregou 9 meses na barriga — e sentiu a dor do parto –, eu prefiro acreditar na minha mãe. Então eu fico com o registro com a data de registro de dia 6 de outubro para as coisas formais e para as coisas sentimentais eu comemoro meu aniversário dia 27 de outubro, que é o dia que a minha mãe disse que eu nasci. E a eleição será no segundo turno.
Acontece que esse ano, eu tenho que viajar para o Azerbaijão, que tenho a COP29, ou seja, para discutir a questão do clima. Depois eu tenho os BRICS em Kazan, na Rússia. Depois eu tenho APEC, que é a reunião dos países do Pacífico, no Peru. E depois eu tenho o G20 aqui. Ou seja, essas reuniões internacionais, elas tomam muito tempo. É preciso muita organização, além do que nós estamos preparando a COP30 para Belém e estamos preparando a reunião dos BRICS no Brasil, em 2025. Então, eu vou estar muito atarefado com as questões internacionais, então eu não sei se eu vou ter tempo de participar de campanha. Eu vou fazer um ou outro comício, mas eu fico torcendo para que as pessoas ganhem sem precisar ter a presença do Lula.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Presidente, essa semana, o senhor indicou o economista Gabriel Galípolo, atual diretor do Banco Central, para a presidência do Banco Central. Antes mesmo de assumir o governo, o senhor fazia críticas ao atual presidente, Roberto Campos Neto, sobre a taxa de juros no país. Com a chegada de Galípolo ao Banco Central, o que o senhor espera que não encontrou em Roberto Campos Neto?
Presidente Lula: Olha, deixa eu lhe dizer uma coisa: o atual presidente do Banco Central, ele age no Banco Central como um político, ele não age como um economista. Ele se oferece, em muitas reuniões políticas, coisa que não deveria acontecer. A taxa de juros no Brasil hoje não tem explicação, não tem explicação. E eu vou me comportar no Banco Central, já tive oito anos na presidência da República, já tive oito anos de presidente do Banco Central. É importante lembrar que o Fernando Henrique Cardoso trocou quatro. E eu não troquei nenhum, o Meirelles entrou e ficou. E o Meirelles não era do meu partido, ele era do PSDB, foi o deputado federal mais votado em Goiás. E eu torcendo para o Banco Central e ele ficou oito anos. E, se dependesse de mim, teria continuado com a Dilma.
Então, eu sei lidar com o Banco Central. O problema é que, no imaginário do mercado, o presidente do Banco Central tem que ser um representante do sistema financeiro e eu não acho que tenha que ser. Tem que ser uma pessoa que goste desse país, que pense na soberania nacional e que tome as atitudes corretas. Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar: que tem que aumentar o juro”. Ótimo.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Ele tem esse perfil?
Presidente Lula: Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, competentíssima, e um brasileiro que gosta do Brasil. E muito competente, é um jovem extremamente competente. Eu não gosto de falar a palavra “gênio”, mas tem muita gente que fala: “eu tenho dois gênios, dois gênios que trabalham comigo, meus assessores são todos gênios”.
Não, ele é muito competente. E ele vai trabalhar com a autonomia que trabalhou o Meirelles e com a autonomia que eu dou para a pessoa, até porque agora ele vai ter mandato. Quando ele passar no Senado, ele tem o mandato de quatro anos. É o mesmo mandato que tem o presidente da República.
Então, obviamente que isso dá a ele o direito, sabe, de fazer as coisas corretas. E você não precisa trocar o presidente do Banco Central se ele estiver fazendo as coisas corretas. Se tiver que baixar juros, baixa. Se tiver que aumentar, aumenta. Mas tem que ter uma explicação, porque o papel do Banco Central não é somente medir juros, não. Ele tem que ter meta de crescimento também, sabe? Senão a gente não vai para lugar nenhum.
Se a gente não tiver combinado uma meta de crescimento com a meta de inflação e com a meta de crescimento da população, do ponto de vista da melhoria de vida, esse país continua estagnado. Esse país já não teve o Banco Central, esse país já teve o Banco Central independente, esse país agora tem o Banco Central independente, com mandato, que, se eu tivesse voto, eu era contra. Mas está aí, vai ficar.
Eu, sinceramente, acho que o presidente da República tem o direito de indicar o presidente do Banco Central e de tirar, se não gostar. Eu coloco o Galípolo com mandato. E se ele fizer uma coisa muito errada, o que eu faço? Eu não sei quem é que criou a ideia de que o cara é intocável. E que o cidadão do Banco Central é intocável, é um ser superior a tudo, porque todo mundo tem que receber crítica, todo mundo recebe crítica. O governador sabe que é criticado, passa na rua tem gente que critica, eu sou criticado. O presidente do Banco Central, que fica mais em Miami do que aqui no Brasil, não quer ser criticado? Ele tem que pensar na indústria, ele tem que pensar no comércio, ele não pode pensar só nos interesses do mercado.
Então, meu caro, é o seguinte: o Galípolo é uma indicação extraordinária e nós vamos indicar mais gente ainda esse ano, porque até o ano que vem muda todo mundo do Banco Central. E vai ter uma nova equipe. E como eu sou um cara de sorte, porque meus adversários dizem que eu não sei governar, eu tenho sorte. Então eu quero continuar tendo sorte para que o Banco Central seja um Banco Central que ajude esse país a se desenvolver, a crescer, a gerar empregos e a distribuir riqueza nesse país.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Presidente, com o avanço da sua agenda, nós vamos ter que encerrar essa entrevista, mas eu preciso de um ping pong rápido aqui de algumas questões que estão em evidência no Brasil. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ele intimou o empresário Elon Musk, ainda representante legal das empresas dele no Brasil. O empresário já disse que não vai responder coisa nenhuma e se prepara para desalojar as empresas dele aqui do Brasil. Pelo menos o X. Com que olhar e com que preocupação o senhor acompanha essa queda de braço pública, que é econômica também.
Presidente Lula: Olha, o olhar de que todo e qualquer cidadão, de qualquer parte do mundo, que tem investimento no Brasil, está subordinado à Constituição Brasileira e às leis brasileiras. Portanto, a Suprema Corte tomou uma decisão para o cidadão cumprir determinadas coisas, ou ele cumpre ou vai ter que tomar outra atitude. Porque não é porque o cara tem muito dinheiro que o cara pode desrespeitar. Esse cidadão é um cidadão americano, ele não é um cidadão do mundo. Ele não pode ficar ofendendo os presidentes, ofendendo os deputados, ofendendo o Senado, ofendendo a Câmara, ofendendo a Suprema Corte. Ele pensa que é o que? Ele pensa que é o que?
Então é o seguinte, cara, ele tem que respeitar a decisão da Suprema Corte brasileira. Se quiser, bem. Se não quiser, paciência. Se não for assim, esse país nunca será soberano. Esse país não é um país que tem uma sociedade com complexo de vira-lata, porque o cara que é americano gritou a gente fica com medo. Não. Esse cara tem que aceitar as regras desse país e se esse país tomou uma decisão, através da Suprema Corte, ele tem que acatar. Se vale pra mim, vale pra ele.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Falando em soberania e respeito, até agora o senhor, presidente da República, não reconheceu o resultado da eleição da Venezuela. Por conta dessa sua posição, que não é só sua, o senhor passou a ser alvo de críticas, por exemplo, de um aliado histórico: Nicolás Maduro [presidente da Venezuela]. Inclusive invocou até o discurso bolsonarista no Brasil para lhe confrontar. Recentemente outro aliado ideológico de muito tempo, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, disse cobras e lagartos com o senhor, chamando quase de covarde, que a sua posição era vergonhosa. É impressão ou o senhor está separando as afinidades ideológicas e políticas do cargo de Chefe de Estado da Nação Brasileira?
Presidente Lula: Eu não tenho relação ideológica com o Chefe de Estado. Não é assim que funciona a política. Eu, enquanto cidadão e pessoa física, eu posso ter uma preferência por você ou pelo Wallison. Mas, enquanto Chefe de Estado, eu tenho que tratar todo mundo de igualdade de condições.
Eu sempre me preocupei com a Venezuela, porque o Brasil tem 1.600 km de fronteira com a Venezuela. Porque o Brasil tinha um superávit com a Venezuela de quase R$ 4 bilhões, porque eu gostava muito do Chávez [Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela] e o Chávez criava muitos problemas e eu ajudava a resolver o problema. É importante lembrar que antes de eu ganhar a presidência em 2002, antes de eu entrar na presidência, o Chávez me ligou para eu atender, sabe, um pedido dele de mandar um navio de combustível, porque a PDVSA estava em greve. E o Fernando Henrique Cardoso não quis tomar a decisão sozinho, falou para o Chávez: “liga para o Lula que ele foi eleito presidente da República”.
E o Chávez me ligou, em 2002, antes de eu tomar posse. Pois bem. Depois eu tomei posse, com 15 dias que eu tomei posse, 15 dias, eu fui para a posse do presidente do Equador. Lá encontrei com o Chávez e lá estava com um problema na Venezuela, de briga entre Chávez e a oposição. Nós criamos um grupo de amigos que participava Brasil, Chile, acho que o Canadá ou a França, os Estados Unidos e a Espanha. Eles ficaram putos da vida quando eu coloquei os Estados Unidos e a Espanha. E por que eu coloquei os Estados Unidos e a Espanha? Porque se eu queria criar um grupo de amigos da Venezuela, não era do Chávez, eu tinha que colocar gente que a oposição tinha contato.
Então, nós conseguimos resolver, foi feito um referendo na Venezuela, da forma mais democrática possível. Lamentavelmente, o Chávez morre e entra o Maduro. Quando o Maduro tomou posse, eu mandei uma carta para o Maduro, mandei uma carta pela Dilma para entregar para o Maduro, de coisas que eu achava que seria importante ele fazer para não repetir a mesma divisão que tinha com o Chávez. Eu, sinceramente, não sei o que o Maduro fez. Ele fez uma opção política.
Eu tomei cuidado, eu tomei muito cuidado, de reunir o México e a Colômbia para a gente tomar a decisão conjunta. O presidente López Obrador do México resolveu não assinar, porque ele está apenas há 15 dias de deixar a presidência, ele resolveu não assumir. Então ficou eu e Petro [Gustavo Petro, presidente da Colômbia]. Então o que é que nós estamos exigindo? Veja, a Venezuela tinha um colégio eleitoral, era colégio nacional eleitoral, era um comitê nacional eleitoral, em que tinha três pessoas do governo e duas da oposição. Era esse colégio que tinha que dar o parecer sobre as atas. Acontece que o presidente Maduro não ouviu esse colégio, ele passou direto para a Suprema Corte.
Eu não estou questionando a Suprema Corte, eu apenas acho que, corretamente, deveria passar pelo colégio eleitoral que foi criado para esses fins. Então, eu não aceito nem a vitória dele e nem da oposição. Eu acho que tem um negócio, a oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas você não tem prova. Então o que nós estamos exigindo é a prova. Obviamente que ele tem o direito de não gostar, sabe, porque eu falei que era importante que convocasse novas eleições.
Radialistas (Rádio MaisPB): Ortega também.
Presidente Lula: O Daniel Ortega é o seguinte: o Daniel Ortega enveredou por um caminho já há muito tempo. Eu fui à Roma, o Papa pediu para eu conversar com o Daniel Ortega para liberar um bispo que estava preso e eu liguei para o Ortega. Ele inventou 500 mil desculpas para não me atender. Então eu parei de ligar.
Quando foi agora, o nosso embaixador lá não participou do evento da comemoração do dia 19 de julho, que é o dia da Revolução Sandinista, que eu fui participar dia 19 de julho de 1980. Primeiro ano da revolução. O embaixador não foi. Ele então resolveu pedir para o nosso embaixador sair de lá. Então o que eu fiz? Eu mandei a embaixadora dele embora também.
Agora, no 7 de setembro, a gente convida todos os embaixadores. Você acha que se o embaixador não for, eu vou mandar o embaixador embora do Brasil? Ele não é obrigado a ir. Ele vai se ele quiser, ele vai se ele tiver vontade de ir. Ou eu tenho que fazer um convite charmoso para o cara sentir interesse de ir. Então esse comportamento eu não aceito, não aceito. Esse país é muito grande, o Brasil não tem contencioso com ninguém, o Brasil não quer contencioso com ninguém. E quem quiser contencioso com o Brasil não vai ter também, porque eu quero cuidar do Brasil. O Maduro cuide de lá, ele arque com as consequências do gesto dele. E eu arco com as consequências do meu gesto. Agora eu tenho consciência política de que eu tentei ajudar muito, mas muito e muito.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Vou firmar um compromisso aqui para a gente continuar essa conversa em Brasília, porque teriam tantos assuntos para a gente falar, essa Paraíba inteira. Estamos com a vida bem corrida. Mas, presidente, agradecer ao senhor por aceitar falar para toda a Paraíba, através da Rede Mais, as rádios que integram a nossa rede, o portal MaisPB. E obrigado pela entrevista aqui para toda a Paraíba, já repercutindo em toda a imprensa.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Antes que o senhor fale, presidente, só registrar aqui para os meus colegas jornalistas que essa entrevista tem um mérito e tem nome e sobrenome: o Wallison Bezerra, esse jovem repórter antenado, que faz contatos, que faz relacionamentos, que, desde o primeiro instante que soube que o senhor viria para cá, moveu todas as possibilidades junto à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, exatamente para possibilitar essa conversa sua com os paraibanos e as paraibanas. Muito obrigado pela entrevista e pela liberdade com que o senhor nos tratou aqui, franqueando espaço para todo tipo de pergunta.
Presidente Lula: Heron e Wallison, eu primeiro quero agradecer a vocês essa oportunidade, porque todo estado que eu vou, eu recomendo que meus ministros venham um dia antes para eles darem entrevista para a imprensa local, um dia antes, fazer entrevista coletiva, responder perguntas da imprensa.
Dessa vez, não puderam vir, porque eu não vinha dormir aqui. Eu ia sair hoje de manhã, ia chegar aqui para ir fazer as coisas que eu tenho que fazer. Eu fiquei olhando a agenda e percebi que eu não tinha tempo. Então eu decidi vir para cá ontem de manhã. Eu decidi vir para a Paraíba. Então não deu nem para vir a estrutura que veio antes. Ou seja, foi uma coisa que eu fiz com muita rapidez, porque tem dois estados que eu estava devendo uma visita: um é Paraíba e o outro é Rio Grande do Norte. Eu estou preparando as coisas que tem que anunciar e inaugurar com a Fátima [Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte] porque eu já fui muito na Bahia, já fui muito no Ceará, já fui muito em Pernambuco, já fui muito no Piauí. Agora falta visitar somente quatro países [estados] do Brasil: falta visitar o Acre, falta visitar Rondônia, falta visitar Goiás e o estado do Amazonas. Então, quando eu visitar esses quatro, eu terei visitado todo o Brasil. Alguns mais que uma vez.
Além do que eu tive uma agenda maluca a nível internacional. Eu, em apenas 18 meses, já me reuni com 54 países da África, já me reuni com 27 países da Europa, já me reuni com Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos], já me reuni com Macron [Emmanuel Macron, presidente da França], já me reuni com Olaf Scholz [chanceler da Alemanha], já me reuni com o Egito, já me reuni com 33 presidentes da América Latina, da Celac. Já me reuni com 15 presidentes do CARICOM e já fiz duas reuniões do G20, duas dos BRICS e duas do G7.
Ou seja, o Brasil hoje é protagonista internacional. E sabe quantos mercados novos nós abrimos para nossas exportações? Cento e oitenta novos mercados em apenas 18 meses. É isso: o Brasil voltou e o Brasil voltou a ser protagonista de política internacional, porque tem muita gente, muita gente, querendo investir aqui. E as coisas estão acontecendo.
Vou terminar de dar uma coisa para vocês: nesses últimos 30 dias, eu recebo a indústria automobilística, que fazia anos que não anunciava investimentos, para anunciar R$ 130 bilhões de investimentos. Eu recebo a indústria de alimentos para anunciar R$ 120 bilhões de investimentos. Eu recebo a indústria do aço para anunciar R$ 100 bilhões de investimentos. Eu recebo a indústria de papel e celulose para anunciar R$ 105 bilhões de investimentos. Isso fora a quantidade de dinheiro que está circulando nesse país, porque eu não sou economista, Heron e Wallison, mas eu tenho uma formação acadêmica muito grande.
Ou seja, eu aprendi na minha vida que muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, significa analfabetismo, significa fome. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza. E é esse país que eu quero criar: onde todos tenham o mínimo necessário para sobreviver. E nós vamos criar e as coisas vão dar certo. Está tendo investimento, a economia está crescendo mais do que o mercado previa, a inflação está controlada, a massa salarial cresceu 11,7% — é o maior crescimento desde que começou a medir o crescimento de massa salarial —, o salário mínimo já aumentou duas vezes, que nós estamos com muito investimento e muito crescimento.
E até o Banco do Nordeste, que era proibido emprestar dinheiro para a prefeitura e para o estado, a primeira decisão que eu tomei com o presidente Paulo [Câmara, presidente do Banco do Nordeste]: se a prefeitura tiver em dias e tiver condições, empreste dinheiro para a prefeitura. Prefeito não é bandido, não é criminoso. Empreste. Se o estado tiver, empreste dinheiro. Além do que o microcrédito, mais de 4,2 milhões de pessoas com microcrédito pelo BNB, que voltou a funcionar olhando com carinho para a totalidade do povo brasileiro e não apenas para os grandes empresários.
O BNDES voltou a crescer de forma extraordinária, o BNDES, no governo passado, só devolvia dinheiro para o Tesouro. E agora o BNDES voltou a investir, a investir muito, em infraestrutura. O Banco do Brasil dobrou, a Caixa Econômica dobrou. Porque as coisas estão acontecendo, as coisas estão circulando. Só para você ter ideia: no estado do Mato Grosso do Sul, que de vez em quando o governador dizia que estava quebrado o estado, que não arrecada mais. O dinheiro que nós colocamos lá já fez o estado crescer mais do que os outros estados e gerar mais emprego que os outros estados.
Então, meu caro, é o seguinte: o dinheiro tem que circular. E eu tenho uma coisa que eu falo nas minhas palestras, se tiver mil pessoas, eu falo o seguinte: você pega um pacote de 10 mil reais, você está numa plenária com mil pessoas, entregue 10 mil reais para uma pessoa só. O que vai acontecer com esses 10 mil reais? O cara vai correr para o banco e vai abrir uma conta perguntando aonde é que rende mais.
Agora pega esses 10 mil reais, ao invés de dar para um cara só, distribua para mil pessoas, dê 100 para cada um. E você vai ver o que vai acontecer: todo mundo vai parar numa padaria, vai parar numa bodega, vai parar num supermercado, vai parar em alguma coisa. Esse dinheiro volta no dia seguinte para o mercado. É isso que tem que ser economia. É o dinheiro circular na mão de todos para que esse país possa crescer e não pessoas ficarem dependendo de aplicação.
Você veja uma coisa: um trabalhador trabalha e ganha R$ 5 mil. Em 2006 [2026], quem ganha até R$ 5 mil não vai pagar mais imposto de renda, tá? Nós vamos ter que cobrar de quem tem dinheiro. Olha porque você veja: um trabalhador ganha R$ 6 mil, R$ 7 mil, aí chega no final é descontado na fonte. É descontado, ele não tem tempo nem de reclamar, porque vem descontado.
Agora os investidores dos fundos retiraram da Petrobras R$ 45 bilhões de dividendos sem pagar nenhum imposto. Nos Estados Unidos, uma herança, o cara tem que pagar 40% e aqui no Brasil paga 4%. Então não é possível que esse país seja sustentado, do ponto de vista do imposto de renda, pelos pequenos. Então nós vamos mudar.
Da mesma forma que você viu o anúncio: essa é uma novidade boa, governador: nós tomamos a decisão que, até 2026, o gás será dado de graça para 21 milhões de 600 mil famílias. O gás vai fazer parte da cesta básica. O botijão de gás de 6 quilos. Porque o cara está utilizando lenha, utilizando querosene, tem gente se queimando. E o gás tem que ser tratado como uma coisa elementar para a família, da mesma forma ele quer feijão, quer arroz, ele precisa de um gás para poder cozinhar tudo isso.
“Custa caro, custa caro”. Quando você faz benefício para o povo pobre custa caro. O que custa caro é uma dívida de quase R$ 1 trilhão em 700 bilhões que a gente tem que as pessoas não pagam. O que é caro, sabe o que é sabe, meu caro? Sabe quanto que o Brasil pagou de juros em 10 anos: R$ 4 trilhões e 700 bilhões de reais. Sabe quanto investiu na saúde nesses mesmos 10 anos? Um trilhão e 800 [milhões de reais]. Sabe quanto investiu na educação? Um trilhão e 600 [milhões de reais].
Ora, meu Deus do céu. Então o que é caro nesse país é nossa dívida, o pagamento de juros, isso que é caro. Que, sozinho, consumiu em 10 anos mais do que tudo da saúde e tudo da educação. Aí não pode falar porque o mercado não gosta. Eu não fui eleito pelo mercado. Acho que eles nunca votaram em mim, então eu não governo para o mercado, eu governo para o povo. É assim.
Por isso obrigado pela entrevista, querido.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Muito obrigado, presidente, pela entrevista, que segue agora a agenda com o governador João Azevêdo [governador da Paraíba] que está aqui conosco também. Registrar a presença do governador João Azevedo. Obrigado aos ouvintes de toda Paraíba, da Rádio Pop FM 89.3 em João Pessoa. Rádio Pop Cariri em Campina Grande e das emissoras da Rede Mais Rádio. Obrigado, Wallison.
Wallison Bezerra (Rádio MaisPB): Obrigado. Nós temos um encontro marcado hoje às 18h da noite na Hora H.
Heron Cid (Rádio MaisPB): Um resumo dessa entrevista com o presidente da República na Paraíba.