Entrevista do presidente Lula à Rádio Gaúcha
Jornalista Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Hoje é sexta-feira, dia 16 de agosto. Um programa diferente, um programa especial e os nossos ouvintes acompanham pela live também no YouTube da GZH. Vão notar que nós estamos num lugar diferente. Eu e a Rosane. A Giane segurando as pontas no estúdio, mas participando também dessa entrevista especial que teremos nessa manhã. Vamos começar com os cumprimentos de todos os dias. Rosane, bom dia.
Jornalista Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Muito bom dia, Andressa, Giane. Bom dia, ouvintes. Muito bom dia, presidente Lula.
Presidente Lula: Bom dia. Bom dia, Rosane. Bom dia, Andressa.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Bom dia, muito bem-vindo à Rádio Gaúcha, presidente.
Presidente Lula: É um prazer estar falando com os ouvintes da Rádio Gaúcha, falando com o povo gaúcho, esse povo extraordinário, que ontem viu quase que o Internacional perder no Caxias, errando dois pênaltis. E a coisa não está boa para o futebol.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): É, o futebol não está nos melhores momentos.
Presidente Lula: Mas o meu Corinthians também está muito mal. O Corinthians parece que está jogando para ser rebaixado.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Bom, lá no estúdio, Giane Guerra. Bom dia.
Jornalista Giane Guerra (Rádio Gaúcha): Bom dia. Bom dia, Andressa, Rosane. Bom dia, presidente Lula. Muito obrigada pela oportunidade para tratarmos de assuntos aqui do Rio Grande do Sul e do país.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Trecho de agradecimento e oferecimento dos patrocinadores do programa.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Como eu disse, nós estamos ao vivo em imagens, também em GZH, hoje no Plaza São Rafael, onde o presidente da República está hospedado e cumprirá agendas hoje no Rio Grande do Sul. Presidente, o senhor vem para falar sobre moradias, para tratar desse tema importante, e a gente tem um foco muito grande, o senhor está acompanhado do ministro da Reconstrução, de Apoio à Reconstrução [Paulo Pimenta, ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul], e esse é o nosso foco na Rádio Gaúcha e nos veículos do Grupo RBS. Falar daqui para frente, como a gente pode voltar a ter o Rio Grande do Sul que nós conhecíamos. E um dos pontos principais das promessas feitas pelo Governo Federal foi exatamente em relação às casas, às moradias, às pessoas que perderam tudo.
Mais de 100 dias depois, e só agora que as casas começarão a ser entregues. Por que a demora? Eu fiz essa pergunta ontem ao governador Eduardo Leite, nesse mesmo espaço, faz exatamente 24 horas ele estava conosco, e é por isso que hoje faço essa pergunta ao senhor. Por que tanta demora para a entrega da primeira casa? A gente esperava que mais casas já estivessem com as pessoas.
Presidente Lula: Veja, primeiro, não tem a demora que as pessoas pensam que tem. Você não faz casa numa semana, isso não é casa de papel. Ou seja, se você tem cidades que foram alagadas, e que as casas foram alagadas, você, por juízo, você não pode construir a casa no mesmo lugar.
É preciso encontrar um novo terreno. O novo terreno é encontrado pelo prefeito, ou é encontrado pelo estado, se a gente quiser baratear o preço da casa. Se não, as empresas compram e nós vamos fazer a casa. E eu prometi, e vou garantir, que todas as pessoas que perderam a sua casa vão receber casa do Minha Casa, Minha Vida. As pessoas que ganham até dois salários mínimos vão receber a faixa 1 e 2, vão receber a casa, efetivamente, de graça. E as pessoas que ganham na faixa 3 e 4 vão receber 40 mil reais para dar de entrada nas casas.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O senhor trabalha com prazo para isso? Até quando essas pessoas terão?
Presidente Lula: É que o prazo não depende de uma lei, não depende de uma medida provisória. O prazo depende da agilidade da prefeitura, da agilidade do governo do estado e da agilidade do Governo Federal. Hoje vai estar aqui o ministro das Cidades [Jader Filho]. Eu tenho cobrado deles, tenho cobrado do Pimenta, de que é muito importante a gente agilizar as casas. Nós, inclusive, decidimos fazer escolha de casas e procura de casas em Porto Alegre, nas cidades da região metropolitana, nas cidades alagadas. Se tiver casa para vender, a Caixa Econômica Federal vai comprar para a gente poder dar casa de até 200 mil reais para as pessoas. Isso é um compromisso. Eu já mandei procurar modelo de casa feito na Suécia, já mandei procurar modelo de casa feito na China. Ou seja, obviamente que nós vamos fazer as casas com as empresas brasileiras, mas nós precisamos de empresas que façam a casa com mais agilidade e precisamos de garantia do terreno.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): As prefeituras hoje são algo que complica um pouquinho isso, porque a gente sabe, e o governador ontem também falou sobre isso, precisa do terreno, como o senhor disse, numa área que não vá alagar de novo, para a pessoa não perder tudo mais uma vez, mas precisa que as prefeituras se organizem e tenham ferramentas para isso. Tem como o Governo Federal ajudar também as prefeituras nesse ponto?
Presidente Lula: Andressa, nós vamos ajudar as prefeituras naquilo que for necessário ajudar. Eu não criei um ministério especial para a crise de Porto Alegre à toa. Eu criei um ministério para dar ao Governo Federal a responsabilidade de estar com o pé onde está o problema e estar com a cabeça onde está o problema para ajudar. Essa é a nossa finalidade. Veja, há uma coisa, Andressa, que nós temos que levar em conta.
Como você e a Rosane são jornalistas muito experientes, muito experimentadas, vocês poderiam fazer uma pesquisa para saber se em algum momento da história da República Brasileira o Governo Federal agiu com tanta rapidez para ajudar um estado. Nunca houve na história do Brasil uma decisão como a que nós tomamos. Não sei se você está lembrada, é importante a gente lembrar. Quando eu vim a primeira vez aqui, eu trouxe o presidente da Suprema Corte, eu trouxe o presidente da Câmara, eu trouxe o presidente do Senado e trouxe um representante, o vice-presidente do Tribunal de Contas da União. Por que eu trouxe eles aqui? Porque a questão do Rio Grande do Sul era tão emergencial que a gente precisaria suprir as barreiras da burocracia. Porque quando você decide fazer um empréstimo, não é o Governo Federal que abre uma gaveta, pega o dinheiro e empresta. É o banco que vai emprestar. E o banco tem suas regras, tem seus manuais, tem sua garantia, tem suas normas. E às vezes demora mais do que a gente pede. Às vezes o banco exige mais do que a gente imaginava que ele pudesse pedir.
Eu já fiz, a pedido do Pimenta, umas três reuniões com a Caixa Econômica, com o BNDES, com o Banco do Brasil, para facilitar ao máximo. Acontece, Andressa, que o funcionário que está no banco, que vai assinar a liberação do dinheiro, ele tem responsabilidade. Ele fala assim: “se eu assinar uma coisa precipitada e que tiver algum erro e vier a Justiça para cima de mim, eu vou ter que contratar advogado por conta própria. Então eu não vou fazer com a facilidade que o Sr. Lula quer. O Sr. Lula é passageiro. Eu sou concursado, eu tenho 40 anos de banco e ele só tem 4 anos de mandato”.
É assim que funcionam as coisas. E nós temos feito, o Rui Costa, que está aqui comigo, o chefe da Casa Civil, tem feito reunião semanal com o Rio Grande do Sul. Eu posso te garantir, Andressa, posso te garantir. Eu duvido, mas duvido, que Getúlio Vargas, que foi gaúcho, que presidiu esse país, eu duvido que qualquer outro presidente da República tenha dedicado a atenção ao Rio Grande do Sul que nós temos dedicado nesse caso, porque o Rio Grande do Sul é um estado importante. Eu disse, desde o começo, na primeira visita que eu fiz, o Rio Grande do Sul já deu muito para o Brasil. Eu acho que o Brasil tem que contribuir muito com o Rio Grande do Sul. E é por isso que é um compromisso público.
Eu, às vezes, fico incomodado, porque o governador, ele nunca está contente com as coisas. O governador deveria um dia me agradecer: “ô Lula, obrigado pelo tratamento que você está dando ao Rio Grande do Sul, porque o Rio Grande do Sul nunca foi tratado assim”. É só ver se o Bolsonaro tratou o estado do Rio Grande do Sul com respeito. É só ver se tem um metro quadrado de obra que o Bolsonaro fez aqui.
E aqui eu tenho como prova, tem o Rigotto [Germano Rigotto, ex-governador], tem a Yeda [Yeda Crusius, ex-governadora], sabe, que não eram do PT, que eu era presidente e que a gente tratou com muito respeito, com muita decência e fizemos muito investimento aqui. Acho que o governo que recebeu menos investimento aqui foi o companheiro Olívio Dutra, sabe, que, lamentavelmente, quando nós chegamos, ele já não estava mais no governo. Mas os restantes, nós tratamos, não o Rio Grande do Sul só, todos os estados, Rosane, todos os estados.
Eu tenho dito publicamente: ninguém, ninguém será tratado diferente porque não votou no Lula, porque não gosta do PT, porque não gosta de mim. Eu não faço política para governador, eu faço política para o povo. Se os projetos são interessantes, eu estou aqui para resolver. E vou lhe dizer mais, Andressa. Em janeiro de 2023, no primeiro mês que eu tomei posse, eu convidei os 27 governadores de estado para ir a Brasília e fiz a seguinte pergunta para eles: nós vamos anunciar um grande programa de infraestrutura e eu não quero, daqui de cima, decidir o que vai ser importante para o estado. Eu quero que vocês apresentem 3, 4, 5 obras que são importantes para o estado.
Pois eu vou lhe dizer, todos apresentaram, os 27, todos. O estado do Rio Grande do Sul apresentou uma demanda da importância de 31 bilhões e 200 milhões [de reais]. Só investimento direto no estado são 22 bilhões e 900 milhões [de reais] e outros 8 bilhões [de reais] são projetos que envolvem mais que um estado. E isso foi apresentado pelo governador, não foi por mim. Depois nós fizemos uma coisa mais respeitosa, uma coisa chamada governar com republicanismo.
Nós resolvemos fazer política com as prefeituras. Ao invés de eu escolher o prefeito, meu amigo, para atender, “ah, tal prefeito é do PT, então eu vou atender”. Não, nós fizemos inscrições das quase 5.600 prefeituras nesse país. Cada uma apresentou o seu projeto para combater enchentes, para cuidar das encostas, para não ter mais deslizamentos. E nós não escolhemos prefeitura partidária, nós escolhemos pelo projeto. Se o projeto fosse importante, a pessoa receberia o dinheiro. Eu até tenho uma coisa muito engraçada. Nós demos R$ 65 milhões para um prefeito de uma cidade de Pernambuco, que era o maior bolsonarista do estado de Pernambuco, e ele estava presente quando eu falei. Eu estou passando esse dinheiro para a sua cidade, não é só por sua causa não, mas por causa do povo daquela cidade que merece respeito.
E nós vamos cuidar assim do Brasil inteiro. Portanto, Andressa, se eu tenho um compromisso com a minha consciência, um compromisso com os meus companheiros e um compromisso com o povo, eu posso te dizer, em alto e bom som, alto e bom som. Você pode ter ainda vivo Jair Soares, tem o Pedro Simon, tem o Alceu Collares, tem o Rigotto, tem a Yeda, tem o Olívio, tem o [inaudível]. Todos, tem mais um do PMDB de Caxias que governou, Sartori, que governou. Eu quero que você pergunte para qualquer um deles, se em algum momento da história republicana do Rio Grande do Sul entrou mais recurso do Governo Federal para construir obras públicas em parcerias com o governo e com os municípios do que no meu governo.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Bom, presidente, a gente fala desse momento que o Rio Grande do Sul passou e se preocupa com o futuro. O senhor anunciou no PAC há alguns dias obras de prevenção às cheias, que nesse momento é a nossa maior preocupação, porque sabemos que as mudanças climáticas estão aí. O que emperra essas obras? É a falta de projetos de parte do governo do estado ou é a burocracia de um modo geral? Porque são obras complexas, naturalmente, e o recurso foi já garantido no PAC.
Presidente Lula: A primeira coisa que faz aparecer o dinheiro, Rosane, é o projeto, não é o discurso. O discurso qualquer um pode fazer. O projeto tem que ter consistência, o projeto tem que ter seriedade. Quando um projeto é bem feito, eu digo para todos os prefeitos: se você quiser recurso do Governo Federal para fazer obras na sua cidade, não faça um discurso, mas apresenta um projeto. Se esse projeto for considerado viável, se esse projeto for considerado um projeto importante, você pode ficar certo que o dinheiro vai aparecer. E assim será para o Rio Grande do Sul.
Eu tenho tranquilidade para dizer o seguinte, obviamente que tem pessoas que não estão enquadradas. É muito difícil, a gente percebe o despreparo das prefeituras, com a Defesa Civil, a gente prepara o cadastramento das pessoas. As pessoas para cadastrar, quem vai receber o auxílio que nós demos de R$ 5.100, já atendemos 347 mil pessoas, e todas as pessoas que forem cadastradas corretamente receberão esse dinheiro. Não há dúvida de que as pessoas receberão. Nós já liberamos R$ 6.200 do fundo de garantia, já deu quase R$ 2 bilhões. Ou seja, não há nenhuma vacilação do governo. Agora nós temos que cumprir regras.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Há uma insinuação de que algumas prefeituras poderiam não enviar os dados ao Governo Federal por serem prefeituras bolsonaristas. Como o Rio Grande do Sul de fato é um estado que tem e que votou mais no Bolsonaro do que no senhor, o senhor acredita que isso possa acontecer?
Presidente Lula: Não existe essa hipótese. Eu já fui mais votado no Rio Grande do Sul. Desde 1989 eu sou grato a esse estado.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): É, eu me refiro a essa última eleição.
Presidente Lula: Não, mas não tem problema. Não tem problema. Talvez eu não tenha feito por merecer ter mais votos que o Bolsonaro. Talvez eu não tenha feito. Eu tenho, então, que me preparar para fazer por merecer. Agora, eu quero que o povo avalie. Eu estou apenas há um ano e oito meses no governo. Eu quero que o povo avalie: quanto de dinheiro já veio para cá? Quantos projetos já têm aqui? E o PAC é antes da enchente. O compromisso de R$ 31 bilhões e R$ 200 milhões não é por causa das enchentes, é do PAC. E é um compromisso que nós vamos fazer. Por isso que eu vim aqui, não apenas discutir. Eu vim aqui para inaugurar o Complexo Viário de Scharlau. Eu vim aqui para inaugurar a duplicação do trecho da BR-290.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Ah, esse o senhor fala de uma estrada que é importantíssima. O ministro Pimenta sabe disso. É uma estrada que foi contratada a duplicação no governo Dilma ainda e ficou muito tempo parada. Bom, estão sendo inaugurados agora esses primeiros quilômetros, mas o trecho mais movimentado, lotes 1 e 2, ainda não começou, porque tem um entrave burocrático. O senhor se compromete com...
Presidente Lula: Não é só entrave burocrático, não. O problema, Rosane, é que muitas vezes, quando uma obra fica parada há muito tempo, você tem que rever o projeto. E esse projeto tem que ter um novo preço. Então, é uma discussão que não depende apenas do governo, depende da gente cumprir todas as regras para a gente não ser punido, nem pela Justiça, nem pelo Tribunal de Contas, porque nós vivemos um momento de denuncismo nesse país, em que qualquer pessoa que fala bobagem, às vezes uma pessoa é processada, é achincalhada, depois não se prova nada e não se pede desculpa às pessoas. Então, nós vamos fazer.
Eu quero que você ouça bem. Eu estou olhando nos seus olhos. Rosane, eu estou olhando nos seus olhos. Pode ficar certa que antes de eu deixar a Presidência, dia 31 de dezembro de 2026, nós vamos inaugurar essa rodovia. Você pode ficar certa que nós vamos inaugurar.
Andressa de Oliveira (Rádio Gaúcha): Nós temos pergunta lá do estúdio, com a Giane Guerra. Vou aumentar o volume aqui para o senhor ouvir a questão da Giane. Fala, Giane.
Giane Guerra (Rádio Gaúcha): Presidente, muitos empreendedores têm ainda dificuldade de acesso ao empréstimo do BNDES, seja pelos bancos repassadores, seja diretamente com o BNDES, e também relatam dificuldade de ter acesso ao Pronampe, o programa de créditos para os pequenos negócios. O senhor fala que o objetivo é reduzir burocracia. Tem como facilitar esse acesso? Os empreendedores também têm uma grande expectativa de mais medidas trabalhistas. O senhor prevê novas medidas para preservação dos empregos aqui no estado?
Presidente Lula: Olha, Giane, nós temos aqui o companheiro Pimenta, que está aqui para cuidar dessas coisas que têm problema aqui no Rio Grande do Sul. Não há nenhum problema que a gente detecta que a gente não possa rediscutir para saber se pode ser resolvido ou não. O problema é que, às vezes, no Brasil, a nossa cultura é o seguinte. A gente, muitas vezes, esquece de agradecer aquilo que a gente ganhou para cobrar aquilo que falta. Ou seja, você atende uma pauta de reivindicação de um sindicato, dos empresários, e você atende 99% das coisas e deixa de atender 1%. Quando sai para dar entrevista, ele fala do 1% que falta e não agradece os 99% que a gente atendeu.
O empresário, quando vai em Brasília ou aqui, quando ele pede alguma coisa que a gente atende, aí a imprensa pergunta: “e aí, tudo bem?”. “Não, é insuficiente”. O governador também fala todo dia: “é insuficiente, é insuficiente”. Tudo é insuficiente. Tudo é insuficiente. Porque a gente não vai atingir a perfeição nunca.
Mas eu posso te dizer que todas as queixas que as pessoas fizeram, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, essa semana nós fizemos uma reunião. Nós fizemos uma reunião para discutir a taxa de juros daquele empréstimo que é feito com abate de 40%, porque está muito caro. Então, nós fizemos uma reunião para saber que nós temos que baratear essa taxa de juros para as pessoas. Nós temos que facilitar o dinheiro. Temos que facilitar. É por isso que eu trouxe aqui o Tribunal de Contas, trouxe a Suprema Corte, trouxe a Câmara e o Senado.
Porque tem uma coisa que a gente tem que reconhecer: eu sou muito grato ao papel do Senado e ao papel da Câmara no caso do Rio Grande do Sul. E os deputados gaúchos, todos, todos contribuíram para que a gente pudesse aprovar as medidas provisórias com a maior rapidez, para que a gente pudesse fazer a regulamentação e para que a gente pudesse fazer com que o dinheiro fosse escoado. Já foi atendida muita gente, mas muita gente foi atendida. Mas política é assim, sabe? Aqueles que foram atendidos não aparecem para dizer “eu fui atendido”. Mas daqueles que não foram atendidos, aparecem para dizer “eu não fui atendido”.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Presidente, o senhor falou de uma coisa importante, e eu sei que lhe incomoda muito, que o juro esteja ainda muito alto no Brasil. O senhor falou de um caso específico, de reduzir a taxa lá no final. Mas a taxa básica de juros, o senhor tem expectativa de que agora, nos próximos meses, haja redução da taxa de juros, ou tem medo de que ela possa subir?
Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa, Rosane. Eu, às vezes, eu fico chateado, porque as pessoas se esquecem que eu fui presidente oito anos. As pessoas se esquecem que eu tive um presidente do Banco Central que durou oito anos. O Fernando Henrique Cardoso trocou quatro presidentes do Banco Central. Eu coloquei um, dia 1º de janeiro de 2003, e ele ficou até dia 31 de dezembro de 2010. Ou seja, e quando tem que aumentar o juro, tem que aumentar. Não há interferência do governo. Eu não estou discursando, eu estou dizendo uma coisa que já aconteceu na prática, quando eu fui presidente, e terminei o meu mandato com a economia crescendo 7,5%, com a maior taxa de crescimento da massa salarial, com o aumento do salário mínimo.
Então, nós vamos trocar o Banco Central. Eu trabalho com a expectativa de que a taxa de juros comece a cair. Eu espero que a taxa de juros do FED, do Banco Central americano, comece a cair, para que a gente possa ter mais tranquilidade. Nós vivemos um momento, Rosane, muito bom no Brasil. Aqui, há algum tempo atrás, o governador dizia para todo mundo: “não, porque a economia está desgastada, porque a economia vai cair, porque eu vou perder não sei das quantas”.
O Rio Grande do Sul, o que aconteceu nesse mês? A arrecadação cresceu muito aqui no Rio Grande do Sul. Cresceu muito, por quê? Porque tem muito dinheiro investido no Rio Grande do Sul. São R$ 36 bilhões que estão circulando na mão do povo. E dinheiro para o pequeno, que quando ele recebe, ele vai diretamente comprar as coisas que ele precisa. Ele não vai no banco comprar títulos do Tesouro ou aplicar na Bolsa. Ele vai comprar o que comer, vai comprar o que vestir, vai comprar alguma coisa para reparar a casa dele. Então, o Brasil vive um momento em que a gente tem a menor taxa de desemprego dos últimos 14 anos. A gente tem o maior crescimento da massa salarial de 11,7%; já aumentamos o salário mínimo em 11%; já reduzimos o imposto de renda para quem ganha até R$ 2.800.
Ou seja, as coisas estão acontecendo. Os investimentos estão acontecendo de forma extraordinária. Veja, no mesmo mês, eu recebo a informação de investimento de R$ 130 bilhões da indústria automobilística que fazia anos que não investia. Eu recebo a indústria do aço para dizer investimento de R$ 100 bilhões. Eu recebo a indústria da alimentação para me anunciar o investimento de R$ 120 bilhões. E recebo agora a indústria de papel e celulose para anunciar investimento de R$ 67 bilhões, fora o PAC, que é R$ 1,7 trilhão, que a gente quer cumprir.
Isso significa que eu posso dizer para vocês duas aqui, se vocês me convidarem no mês de dezembro para vir dar uma entrevista para vocês, a gente vai aferir o que aconteceu nesse país. Porque só tem uma razão para eu ter voltado à presidência do Brasil. Só tem uma razão: é que eu queria provar mais uma vez que eu vou recuperar esse país, que eu vou fazer o salário crescer, vou fazer a inflação cair, vou fazer o Brasil crescer no ranking mundial. A gente era a sexta economia, voltamos para a décima segunda, já fomos à oitava e nós vamos chegar na sexta outra vez.
Esse país tem tudo para crescer. O que falta é ter um governo que saiba de uma coisa. Se a gente fizer a lógica e não ficar na perversidade econômica, qual é a lógica da distribuição de renda? É que pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza. E muito dinheiro na mão de pouco significa concentração de miséria. Então, é por isso que eu acho que o dinheiro tem que circular. As pessoas mais pobres têm que ter acesso ao dinheiro.
As pessoas mais pobres têm que ter acesso ao direito de consumir algumas coisas, porque quando eles consomem, o comércio vende, a indústria fabrica mais, produz mais alimentos e tudo melhora. Eu dizia na campanha, o povo brasileiro vai voltar a comer picanha e tomar uma cervejinha e está voltando a comer picanha e tomar cerveja.
Andressa de Oliveira (Rádio Gaúcha): O pessoal cobra muito isso, viu? Nos mandam mensagem todo tempo, está faltando a picanha aqui.
Presidente Lula: Se está faltando picanha é porque tem consumo demais e não está chegando a picanha aqui. Mas pega o preço da picanha durante o processo eleitoral e pega o preço da picanha agora. Você vai perceber que caiu de forma extraordinária. Ora, por quê? Porque é um direito do povo ter acesso a essas coisas. É o direito do povo. Uma picanha custava os olhos da cara, quem ganhava R$ 2 mil não poderia comer um pedaço de picanha. Se é que ele gosta de picanha, porque aqui no Rio Grande do Sul vocês também adoram costela. Então...
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): A Giane tem uma pergunta para o senhor lá no estúdio. Eu vou aumentar o volume aqui para o senhor ouvir mais uma vez.
Giane Guerra (Rádio Gaúcha): Aproveitando que o senhor estava falando sobre juro e Banco Central, o senhor pretende indicar nos próximos dias o Gabriel Galípolo para presidência do Banco Central?
Presidente Lula: Eu não sei se é o Galípolo. Eu sei é que eu tenho o direito de indicar agora o presidente do Banco Central. Eu tenho que indicar o presidente do Banco Central e tenho que indicar mais alguns diretores. E eu pretendo indicar, antes de indicar eu quero conversar com o presidente do Senado, quero conversar com o presidente da comissão para que as pessoas, ao serem indicadas, sejam votadas logo, para que as pessoas não fiquem sofrendo um desgaste de especulação política durante meses e meses. Mas eu vou indicar a pessoa, você pode ficar certa que é o seguinte: a pessoa que eu vou indicar, primeiro, ela tem que ter muito caráter, muita seriedade e muita responsabilidade.
A pessoa que eu indicar não deve favor ao presidente da República. A pessoa que eu vou indicar é uma pessoa que vai ter compromisso com o povo brasileiro. Na hora que tiver que reduzir a taxa de juros, ele vai ter que ter coragem de dizer que vai reduzir. Na hora que precisar aumentar, ele vai ter que ter a mesma coragem e dizer que vai aumentar. É assim que funciona. Porque em economia, Andressa, não tem mágica. Economia a gente não inventa. Se a gente inventar, a gente quebra a cara. Todo momento que alguém tentou inventar na economia, ou todo momento que o presidente da República se meteu a ser economista, não deu certo esse país. Como eu sou um cara que não sou economista, sou apenas presidente da República, eu converso com muita gente, eu ouço muita gente. É por isso que eu tenho a orelha caída de tanto ouvir as pessoas. Porque eu gosto de consultar as pessoas.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O senhor disse que não tem que agradar ao presidente. O presidente do Banco Central não precisa agradar ao presidente da República. Mas, quando lhe desagradou, o senhor falou bastante e falou publicamente.
Presidente Lula: Ele não me desagradou, não. O problema não é pessoal, Andressa. Ele não me desagradou.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): As decisões deles não agradaram.
Presidente Lula: Não desagradou nada; ele desagradou o país. Ele desagradou o setor produtivo desse país. Porque não tem explicação a taxa de juros ainda estar 10,25%. Não tem explicação. Não existe explicação para isso. Então, nós, obviamente, sabe, levamos em conta a necessidade da autonomia do Banco Central. Mas é importante lembrar, sabe, que o Banco Central deve ao povo brasileiro. Ele não é uma instituição autônoma do povo brasileiro. Não, ele deve ao povo brasileiro. Então, ele tem que fazer as coisas pensando no povo brasileiro.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Presidente, nós vivemos, no momento, um impasse em relação às emendas dos parlamentares. Com uma decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de segurar essas emendas PIX até que se tenha transparência. E o senhor sempre foi um crítico da falta de transparência das emendas no governo Bolsonaro e das chamadas emendas secretas. Hoje, diante desse impasse, de que lado o senhor está? O Congresso não quer saber dessa transparência que o ministro Flávio Dino, lá no Supremo, está exigindo...
Presidente Lula: Rosane, deixa eu dizer uma coisa para você: primeiro, eu fui deputado. Durante quatro anos, no tempo que eu fui deputado, você não tinha as emendas como você tem hoje. Você não tinha a emenda impositiva. Ou seja, o presidente da República utilizava as emendas como um fator de negociação política. O deputado que votava a favor dos projetos do governo tinha direito a uma emenda, que era coisa de 3 milhões, 2 milhões [de reais]. Agora, às vezes, tem uns 50 milhões, 60 milhões [de reais]. Ou seja, é muito dinheiro para um deputado.
De qualquer forma, isso é resultado da desgovernança do governo passado. Como ele não governava o Brasil, ele deixou o Guedes cuidar da economia e o Congresso cuidar do orçamento. Eu sou plenamente favorável que os deputados tenham o direito de ter emenda.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Mas com transparência ou sem transparência?
Presidente Lula: Não, com transparência, porque os deputados são eleitos pelas cidades. É normal que um deputado tenha o direito de apresentar uma emenda para fazer uma obra na sua cidade. Eu respeito isso e acho que é correto e justo. O que não é correto é o Congresso, sabe, ter emenda secreta. Não pode ser secreta.
Então, por que alguém apresenta uma emenda e não quer que ela seja publicizada se a emenda é feita para ele poder ganhar apoio político? Então, ele deveria ter o direito de publicizar. De qualquer forma, eu acho que esse impasse que está acontecendo agora é, possivelmente, o fator que vai permitir a gente fazer uma negociação com o Congresso Nacional e estabelecer uma coisa justa na relação do Congresso com o Governo Federal.
Muita gente, às vezes, pensa que tem uma briga eterna com o Congresso. É importante dizer para vocês duas e dizer para o povo gaúcho que eu só tenho 70 deputados em 513. E nós, até agora, aprovamos tudo que foi importante para esse país. Inclusive, aprovamos uma política tributária que há 40 anos se tenta aprovar nesse país, e nós aprovamos essa política tributária.
Numa demonstração que, com diálogo, com conversa, a gente vai conseguindo fazer as coisas. Eu acho que, na medida que você tem uma correção na questão das emendas, em que ela possa ser transparente e publicizada, sabe. Porque hoje você tem metade do orçamento e está na mão do Congresso Nacional; não tem nenhum país do mundo que tenha essas condições. E os deputados precisam saber disso.
Acontece que, como o Bolsonaro não governou esse país, o Congresso tomou conta e ficou com metade do orçamento. Obviamente que, depois que um deputado...tem um ditado que diz o seguinte: as pessoas têm que facilidade de se acostumar com coisas boas. Então, se o cidadão tem o direito de ter uma emenda de R$ 30 milhões, de R$ 40 milhões, de R$ 50 milhões, diz que o presidente da comissão tem direito a R$ 300 milhões, R$ 400 milhões. Isso pode tornar a pessoa viciada e não querer abrir mão disso.
O que nós queremos é que as emendas sejam compartilhadas. Uma emenda de R$ 200 milhões, ela tem que ser compartilhada com o governador de Estado. Ela tem que ser coletiva para toda a bancada. Ela não pode ser individual. Então, eu penso que nós vamos encontrar uma saída para as coisas voltarem à normalidade, tanto na relação do Congresso com o governo quanto na relação do Poder Judiciário.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): São 8 horas e 41 minutos. Esse é o Gaúcha Atualidade. Hoje, ouvindo o presidente da República, nós estamos aqui, eu e a Rosane, frente a frente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senhor falou pelo menos três vezes no ex-presidente Bolsonaro. O Brasil não vive mais sem Lula versus Bolsonaro?
Presidente Lula: Vive. Quem decide é o povo.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O povo sempre polariza e a gente fala isso. E aí o senhor vem e fala do Bolsonaro três ou quatro vezes seguidas.
Presidente Lula: Deixa eu lhe falar uma coisa. Eu até não gosto de falar o nome das pessoas, até não gosto. Mas é importante sempre lembrar que nós vivemos um momento histórico nesse país em que o argumento perdeu importância. O que tem importância são os memes. O que tem importância é a fake News. O que tem importância é a mentira. O que tem importância é a denúncia fácil, a denúncia irresponsável, o achincalhamento das pessoas. Esse país viveu um momento de anomalia. Esse país é um país generoso. Esse país é um país solidário. Esse país foi tomado pelo ódio. Não fomos nós que alimentamos, porque eu governei esse país, o PT, desde 1989, o PT ou é o primeiro ou é o segundo.
O PT foi o segundo em 89, o segundo em 94, o segundo em 98, o primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o primeiro em 2010, o primeiro em 2014, o segundo em 2018, o primeiro em 2022. Ora, então está provado que o PT é uma força política no Estado. Está provado. Até antes de ontem, a nossa disputa era com o PSDB. E eu tenho saudade do tempo que o meu adversário era o PSDB, porque era uma política civilizada, era uma coisa respeitada. A gente terminava um comício, a gente encontrava com o adversário no restaurante, a gente se abraçava e se cumprimentava.
Hoje, você tem a turma do ataque; as pessoas são ofendidas na rua, as pessoas são achincalhadas na porta de casa, as pessoas são achincalhadas no restaurante. E eu te digo uma coisa, te digo uma coisa: todas as pessoas que ofendem alguém publicamente, se você entrar num restaurante e alguém te ofender, você pode ficar certo que aquela pessoa é um 171. Pode ficar certo que aquela pessoa tem problema, sabe, com a polícia, é um estelionatário, porque não é normal.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O senhor falou em sair e abraçar, apertar a mão. O senhor, se encontrar o Bolsonaro hoje, ele passar aqui, o ex-presidente, vocês vão se cumprimentar?
Presidente Lula: Veja, eu nunca tive relação com o Bolsonaro, nunca tive. E você viu que durante a campanha teve uma cena que ele queria encostar; eu falei: não encosta perto de mim. Porque ele é um cidadão incivilizado. E eu não preciso da amizade dele. Não preciso. Eu preciso da amizade, do reconhecimento do povo brasileiro, mas dele eu não preciso. Eu preciso lidar com um político que tenha decência, que tenha maturidade, que queira discutir programa para o país, que queira discutir solução para o país. Ele não sabe discutir. É só você ver os candidatos que ele apoia nessa campanha das prefeituras, como é que eles participam para o debate.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Eu quero voltar para a reconstrução aqui, antes só, Rosane. Vamos voltar para o nosso ponto então, das soluções aqui. Esse senhor que está ao seu lado, ministro Paulo Pimenta, ministro da reconstrução, qual é o futuro dele? Ele vai ficar aqui no Rio Grande do Sul por quanto tempo?
Presidente Lula: Olha, o Pimenta é o meu ministro da Comunicação. Ele é o ministro da Secom. E ele foi emprestado, neste momento dedicado do Rio Grande do Sul, porque é um deputado atuante, é um companheiro muito interessado, que acompanhou as enchentes, que acompanhou tudo. Então, eu achei justo colocar ele para que o Governo Federal tivesse alguém instalado aqui, para fazer com que as coisas do Governo Federal funcionem.
O Pimenta, toda semana, toda semana, se reúne com o Rui Costa, toda semana que for necessário, a gente convoca o ministro da Fazenda, a gente coloca o presidente do BNDES, o presidente do Banco do Brasil, o presidente da Caixa Econômica, todos aqueles envolvidos. A gente convoca ministro da Cidade, ministro da Integração Nacional, porque o Rio Grande do Sul é prioridade.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Mas ele fica até quando? Porque está terminando o prazo regulamentar, né?
Presidente Lula: Vai ficar o prazo. Eu acho que está na hora da gente começar a pensar o futuro do Pimenta, se ele vai ficar ou vai voltar para Brasília. Eu acho que ainda é cedo. Ainda tem coisa para fazer aqui no Rio Grande do Sul.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): É que tem a Medida Provisória que está vencendo agora.
Presidente Lula: Se vencer a medida provisória e ela não for votada, paciência. Não vou brigar porque não foi votada, sabe? Mas eu espero que até lá, em setembro que vence, eu espero que até lá a gente conclua o grosso dos dramas do Rio Grande do Sul e ele possa voltar para sua atividade normal em Brasília.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Ainda sobre reconstrução, tem um setor que reclama muito ainda aqui no Rio Grande do Sul, que é o agronegócio. Tem, inclusive, um movimento chamado SOS Agro. Qual é o problema primeiro e qual é a solução que se vislumbra aqui adiante para que o agro, enfim, tenha as suas medidas, as suas demandas atendidas? E já aproveito para lhe perguntar se o senhor vem à Expointer, que há uma expectativa da sua presença aqui e começa já nos próximos meses?
Presidente Lula: Deixa, Rosane, falar uma coisa para você: aqui no Rio Grande do Sul, a gente teve as pessoas ligadas aos sindicatos, ligadas ao agronegócio, à federação. Sempre foi muito sectária e muito anti-governo. Era ‘anti-Olívio Dutra’, ‘anti-Tarso Genro’, anti-Lula, anti-todo mundo. Eu lembro quando o Sperotto era presidente, ou seja, vivia achincalhando o governo. Era o presidente da Federação do Comércio, até que foi um cidadão governador. Eu não esqueço nunca esse cidadão, que era presidente da Federação do Comércio. Em um debate em que eu estava participando, o Olívio Dutra estava sentado à mesa, e esse cidadão foi falar e ficou ofendendo o Olívio Dutra, que não tinha o direito de se defender.
Então, essas pessoas grosseiras, sinceramente, não merecem participar da vida política, porque a vida política exige que você tenha sensibilidade, exige que você tenha humanismo, solidariedade, fraternidade. Então, o que eu penso de verdade? Eu penso que o Brasil precisa ter uma coisa extraordinária. Essas pessoas que estão reclamando, pode ser que alguns tenham razão, mas a verdade é que nós já atendemos muita gente do agronegócio. E a verdade, Rosane, a verdade é o seguinte: olha os meus olhos, estou falando com você.
Eu aprendi com a minha mãe que, se a gente mentir, a gente mente pelos olhos, a gente não mente pelas palavras. E eu duvido que houve, em algum momento da história política desse país, que o agronegócio tivesse tantos recursos como no governo Dilma e Lula. Duvido. Duvido. E nunca pedi para ninguém gostar de mim.
Eu atendo o agronegócio porque eu acho que ele foi importante para a economia brasileira. Acho que isso é muito importante. E é importante lembrar, Rosane, que em 18 meses nós abrimos 170 novos mercados para os produtos brasileiros: 170 novos mercados em 18 meses. Porque o Brasil voltou à civilidade. Porque o Brasil voltou a ser protagonista internacional. Porque o mundo gosta de receber o Brasil e o Brasil gosta de receber o mundo.
Nós agora vamos fazer o G20, com as 20 maiores economias, vamos fazer parceria estratégica com a China, que é o meu desejo. Vamos fazer parceria estratégica com outros países, porque o Brasil está cansado de ser um país em vias de desenvolvimento. Nós queremos definitivamente ser um país desenvolvido, um país em que a sociedade adquira um padrão de classe média razoável, que as pessoas possam, no final de semana, levar sua família para comer no restaurante ou chamar sua família para fazer um churrasco na sua casa.
Que as pessoas possam estudar com qualidade. É por isso que nós criamos o Pé-de-Meia. Não sei se você já foi informada do Pé-de-Meia, Rosane. É uma revolução neste país. Nós descobrimos, nós descobrimos, Andressa, que no Brasil, 480 mil crianças, sabe, na idade do ensino médio, desistiam da escola para ajudar no orçamento familiar. E nós criamos um programa de criar uma poupança para esses jovens continuarem estudando.
Durante os 3 anos do ensino médio, ele vai receber parcela de R$ 200 por mês e vai receber uma de R$ 1 mil no final do mês. Ele só tem que ter 80% de comparecimento e passar das provas. E a gente vai terminar com uma poupança de R$ 9 mil reais para esse jovem trocar a vida dele. Tem muita gente que fala: “mas isso é gastar dinheiro desnecessário.” Não. Gastar dinheiro é quando eu tiver que investir em cadeia, isso é gastar dinheiro. Agora, na educação, é investimento. E eu vou fazer.
É por isso que nós fizemos um pacto com os prefeitos e governadores, para que a gente, até 2030, consiga ter pelo menos 80% das crianças alfabetizadas no segundo ano da escola. É por isso que nós estamos criando, já de vaga, 1 milhão e 200 mil vagas do ensino em tempo integral, que nós queremos dar garantia para a criança e para a família. É por isso que nós estamos investindo muito em institutos federais.
E vamos agora discutir o aperfeiçoamento dos cursos, que custos que nós vamos dar. Andressa, você sabe que eu tenho muito orgulho? Porque eu sou o único presidente da República que não tem diploma universitário. E não tem ninguém que fez mais universidade do que eu nesse país. Não tem ninguém que colocou mais estudante na universidade. Sabe por quê? Porque, como eu não tive um diploma universitário, que eu tinha vontade de ter e não pude ter, eu brigo todo santo dia para que todo filho das pessoas pobres e trabalhadoras tenha o direito de ter uma pessoa estudando um curso superior, um curso técnico, porque a profissão dá dignidade às pessoas. A profissão, ela dá autoestima nas pessoas. É por isso que eu tenho uma obsessão de formar pessoas e de gerar emprego de qualidade neste país.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): A gente tem mais uma pergunta da Giane lá no estúdio. Fala, Giane
Giane Guerra (Rádio Gaúcha): Presidente, continua de pé a sua promessa de campanha de elevar a R$ 5 mil a isenção do Imposto de Renda?
Presidente Lula: Está de pé, e vou fazer. E vou fazer porque... Veja, eu sei que é difícil você mudar as coisas, porque toda vez que você, sabe, vai inventar uma pessoa de pagar alguma coisa, você precisa ver o que você vai colocar no lugar. Mas, veja, é humanamente injusto que o trabalhador brasileiro seja quem paga Imposto de Renda porque é descontado na fonte. O trabalhador não tem como sonegar. Ele não tem como criar, sabe, diferença entre Pessoa Jurídica, Pessoa Física. Ele não tem como abater, não, porque ele desconta na fonte. Então é justo que a pessoa que ganha até R$ 5 mil seja isenta de pagamento de Imposto de Renda para sobrar mais dinheiro para comer, para cuidar da família.
Você veja o negócio: nós cobramos Imposto de Renda do PLR, da participação no lucro dos trabalhadores. Essa é uma coisa que eu estou pensando, como é que a gente vai conseguir não cobrar do PLR, porque o trabalhador trabalha o ano inteiro, produz, chega no final do ano, ele recebe um PLR e ele paga 27% de Imposto de Renda. Enquanto isso, os acionistas que investem na Bolsa, ou que investem na Petrobras, por exemplo, receberam este ano 45 bilhões de dividendos e não pagaram um centavo de Imposto de Renda.
Então, eu fico pensando, sabe, que injustiça que é essa? Por que as pessoas, sabe, que são pobres, têm que pagar e os ricos não têm que pagar? Por que que as pessoas inventam tantas coisas para não pagar Imposto de Renda e o pobre não pode inventar? Então, o que nós queremos é tentar um dia chegar à plenitude do entendimento de que salário não é renda. Salário é salário.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Presidente, pra gente encerrar não posso deixar de lhe perguntar sobre a Venezuela. O senhor falou sobre isso ontem. Mas a nota do seu partido lá atrás falava, inclusive, da democracia na Venezuela. O senhor acredita mesmo? A nota lhe constrange ou o senhor assinaria aquela nota do PT?
Presidente Lula: Andressa, deixa te dizer uma coisa com muita clareza: o partido não é obrigado a fazer o que o governo quer. E nenhum governo é obrigado a fazer o que o partido quer. Eu digo sempre pra minha presidenta, Gleisi Hoffmann, o dia que você tiver que criticar o governo, pode criticar. Não tem nenhum problema. Porque o dia que eu tiver que fazer as coisas, eu também não vou perguntar se o partido vai gostar. Eu vou fazer se for necessário para o povo brasileiro.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Mas o senhor acredita na nota do PT?
Presidente Lula: Não, eu não concordo com a nota. Eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): A Venezuela vira uma democracia?
Presidente Lula: O que que eu acho? Deixa eu te dizer uma coisa, Andressa, com muito respeito e muito carinho. O problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela. Você vai estranhar, mas eu cuido dos problemas da Venezuela eu tinha 21 dias na presidência da República, em 2003, quando eu fui na posse do presidente do Equador e lá eu encontrei com Chávez [Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela], e lá tinha o problema de um referendo da briga do Chávez com a oposição.
Eu propus a criação do grupo de amigos da Venezuela, e participou Estados Unidos, que era tido como o país que deu o golpe, participou a Espanha, que foi o cara que reconheceu o empresário que assumiu a presidência, e participou o Brasil, participou a Argentina, não sei se o Canadá. O dado concreto é que nós conseguimos resolver o problema político, e houve o referendo, e as coisas voltaram à normalidade. Agora é a mesma coisa, teve uma eleição. Teve uma eleição. A oposição falou: eu ganhei as eleições. O Maduro falou: eu ganhei as eleições. O que é que eu estou pedindo para poder reconhecer? Eu quero, pelo menos, saber se foi verdade os números. Cadê a ata? Cadê a aferição das urnas?
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Quando o Maduro coloca em xeque as eleições do Brasil...
Presidente Lula: Não tem problema, ele tem o direito de colocar, não vou impedir que ele coloque. O que eu quero saber é o seguinte, aqui no Brasil, se o cidadão entrar na internet, ele vai saber quantos votos o Lula teve em cada cidade do Rio Grande do Sul.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Porque a gente está falando de uma democracia.
Presidente Lula: É lógico.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): E na Venezuela?
Presidente Lula: Não, não, veja eu disse para o presidente Maduro o seguinte: Maduro, para você é essencial que o mundo compreenda que houve uma eleição limpa e democrática. É essencial.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): E ele respondeu o quê?
Presidente Lula: Ele disse que é fazer. Eu mandei pessoas para lá, sabe, no dia da eleição. O dia da eleição foi normal, não teve briga, não teve muita coisa. Não teve sequer Polícia Rodoviária Federal impedindo o eleitor de votar como aqui no Brasil.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O senhor vai falar de novo do Bolsonaro.
Presidente Lula: Mas aqui, aqui o que acontece? A oposição logo diz, eu ganhei. E o Maduro logo diz, eu ganhei. Mas ninguém tem prova. A oposição tem que mostrar as atas para mostrar o resultado. Eles dizem que tiveram 60% dos votos, então mostra. O Maduro diz que teve 61%, então mostra. Eu só posso reconhecer, sabe, se foi democrático, se eles votaram é a prova de que houve uma eleição e que fulano, que a Andressa teve tantos votos, que a Rosane teve tantos votos.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Eu vou perguntar de novo, a Venezuela vive uma ditadura ou uma democracia?
Presidente Lula: Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): É uma ditadura?
Presidente Lula: Não, eu não acho que é ditadura. É diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras nesse mundo. O que eu acho é que a Venezuela é um país interessante para o Brasil. É um país que tem quilômetros de fronteira com o Brasil. É um país que o Brasil chegou a ter quase 5 bilhões de superávit comercial. É um país que pode ser um grande parceiro do Brasil na construção de um de uma força política.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): O Maduro diz que não quer nem observador de outros países como o Brasil.
Presidente Lula: Olha, veja... É só ruim pra ele. Quando o Celso Amorim...
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Mas isso configura uma ditadura, né, presidente?
Presidente Lula: Quando o Celso Amorim ia viajar para Venezuela, eu fui informado que eles tinham pedido pro Celso Amorim não ir pra Venezuela. Então, eu mandei comunicar a eles que, se o Celso Amorim não pudesse ir pra Venezuela, eu ia comentar pra imprensa que a Venezuela estava impedindo o Celso Amorim. Aí, eles deixaram o Celso Amorim ir.
Agora veja, também é verdade que o mundo chamado democrático, a União Europeia e os Estados Unidos, não agiram corretamente com a Venezuela. Ou seja, eles elegeram um tal de Guaidó para ser o presidente da Venezuela. Só pra você ter ideia da dimensão do absurdo, a reserva de ouro que a Venezuela tinha na Inglaterra, de 31 toneladas de ouro, foi dada sob a guarda desse Guaidó. Ele não era presidente da República?
Então, eu acho que houve uma precipitação na punição e no julgamento das coisas. Eu, como sou uma pessoa que tenho na União Europeia o símbolo de um patrimônio, sabe, da humanidade, da democracia, o que eles fizeram foi extraordinário. Depois da Segunda Guerra Mundial, criar um Banco Central, criar um Parlamento, criar uma moeda única foi uma coisa excepcional, que é o que eu sonho para América do Sul, para América Latina.
A gente ter um grupo de pessoas que sejam fortes, a gente tem 440 milhões de habitantes, tem um PIB grande. Se a gente trabalhar junto e criar uma unidade dessa, a gente vai poder muito mais. Mas agora, na hora do julgamento político, eles foram precipitados. Eu disse aos meus amigos na França, ao Macron, eu disse ao Olaf Scholz, na Alemanha: vocês não poderiam, sabe, de pronto já condenar o cara. Vamos abrir um diálogo, vamos tentar conversar. O que eu sei, Andressa, o que eu sei, sabe, tanto com o Bush quanto com o Obama... Ô gente, o Chávez vem aqui todo ano; chama o Chávez para conversar. Tem uma conversa tête-à-tête, vamos parar de briga.
Então, eu fico torcendo para que a Venezuela tenha, sabe, um processo de reconhecimento internacional e depende única e exclusivamente do comportamento da Venezuela. A oposição sabe disso, o Maduro sabe disso. A oposição não gostou da ideia que eu falei de que poderia o Maduro, que tem seis meses de mandato ainda, convocar uma nova eleição. Não gostou. O Maduro também não gostou. Agora fica a oposição dizendo: nós ganhamos, e o Maduro dizendo: nós ganhamos.
Rosane de Oliveira (Rádio Gaúcha): Mas o senhor tem medo de uma guerra civil? Para a gente encerrar porque estamos...
Presidente Lula: Eu não acredito numa guerra civil, eu não acredito, eu não acredito porque eu acho que há muitos países com disposição de ajudar que a gente viva em paz na América do Sul. A guerra não leva à nada; a guerra só leva à destruição. A paz leva ao crescimento econômico, distribuição de riqueza. É isso que eu espero para Venezuela, é isso que eu torço para Venezuela. E vamos esperar, porque agora tem uma Suprema Corte que está com os papéis pra decidir. Vamos esperar qual será a decisão disso.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Obrigada, presidente, pela sua disponibilidade de conversar conosco nessa manhã.
Presidente Lula: Obrigado, Andressa. Obrigado, Rosane. Obrigado ao povo gaúcho, mais uma vez, pelo carinho. Hoje nós temos uma agenda muito, muito complicada aqui, porque nós vamos começar inaugurando casa, vamos começar visitando a nova parte da oncologia no hospital aqui em Porto Alegre.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Nós estivemos lá recentemente com a Rosane.
Presidente Lula: E vamos inaugurar a estrada. E eu queria dizer pra vocês o seguinte: nós vamos definitivamente resolver o problema da enchente desse estado.
Andressa Xavier (Rádio Gaúcha): Obrigada, presidente Lula!