Entrevista do presidente Lula à rádio FM O Tempo (MG)
Jornalista Thalita Marinho (FM O Tempo): No Café com Política de hoje, eu, Thalita Marinho, e Cinthya Castro, editora de política, estamos aqui, em Belo Horizonte, no Hotel Fasano, onde a gente conversa agora com o presidente da República, o presidente Lula. Presidente, eu começo agradecendo ao senhor a oportunidade de conversar com a FM O Tempo, de conversar com essa emissora, e de falar com os nossos ouvintes, mais uma vez nessa semana em uma entrevista aqui com a gente, oportunidade de estar aqui com o senhor. Bom dia.
Presidente Lula: Bom dia, Thalita. Primeiro, eu quero cumprimentar a direção da empresa e vocês duas que marcaram essa entrevista. Segundo, cumprimentar os ouvintes da Rádio O Tempo, porque eu adoro fazer rádio. É a grande oportunidade da gente ser verdadeiro com o povo, falar aquilo que a gente pensa, e eu só torço para que vocês façam as melhores perguntas do mundo.
Eu quero só começar dizendo que para mim, Thalita e Cinthya, não tem pergunta difícil, não tem pergunta não respondível. É simplesmente o seguinte, se eu não souber, eu não sei. Se eu souber, eu falo. Muito verdadeiro. Mas é importante que a gente fale com o povo de Minas Gerais, e eu tenho muita coisa para comunicar a Minas Gerais. Muita coisa dessa minha viagem a Minas Gerais, que é a primeira que eu estou vindo agora, porque eu tenho que visitar algumas cidades agora, por exemplo, Contagem. Se eu não visitasse Contagem até ontem, até o dia 5, a Marília [Campos, prefeita de Contagem] não poderia participar da inauguração comigo.
Se eu vou para Juiz de Fora, se eu não fizer agora, quando eu for, já a nossa prefeita não pode subir no palanque comigo. Então eu tenho que ir prestigiar os nossos prefeitos e vou anunciar obra. Então, nós vamos anunciar em Belo Horizonte muita coisa, em Contagem já anunciamos, vamos anunciar em Juiz de Fora, e eu pretendo visitar Minas Gerais. Eu sonho que ainda nesse mandato eu quero visitar o Vale do Mucuri. Nossa querida Teófilo Otoni, eu tenho muito na cabeça Teófilo Otoni. Eu fiz a faculdade de medicina lá, que é uma coisa extraordinária.
Eu quero visitar o Vale do Jequitinhonha. Eu quero visitar Araçuaí, onde eu tenho um carinho muito especial por aquela região. Eu estava dizendo para vocês, eu nunca vi tanta gente humilde e pobre com tanta cultura na cabeça. Eu conheci o Dom Enzo quando era bispo lá, que era uma figura excepcional. Eu quero voltar ao Vale do Rio Doce, a Governador Valadares. Eu quero visitar o Vale do Aço. Nós vamos inaugurar uma faculdade, dar ordem de serviço numa faculdade em Ipatinga. E nós vamos anunciar mais oito institutos federais em Minas Gerais.
Então, eu tenho muita coisa e durante o ano inteiro eu vou viajar e vou anunciando as coisas, porque eu digo sempre, eu quero que vocês saibam o seguinte, eu digo sempre o seguinte, nunca, eu falo isso com muito orgulho, nunca um Presidente da República tratou Minas Gerais com o carinho que eu tratei, mesmo tendo governadores adversários. Mesmo quando o Aécio era governador aqui, Minas Gerais era tratada com muito respeito. E aqui nós fizemos muitos investimentos. E depois eu vou falar dos investimentos com vocês.
Jornalista Cinthya Castro (Rádio FM O Tempo): Obrigada, viu, presidente. Quero agradecer mais uma vez a presença do senhor nos nossos canais. Presidente, o senhor já adiantou pra gente o que o senhor veio fazer em Minas Gerais. Veio anunciar obras, participou, esteve em Contagem ontem, vai a Juiz de Fora ainda hoje. Está em Belo Horizonte mas daqui a pouco participa de alguns compromissos. Exatamente para essas regras eleitorais o senhor quis adiantar para que as prefeitas, por exemplo, a Marília e a Margarida, pudessem participar. Mas eu quero perguntar para o senhor ainda em relação à Contagem ontem.
Quando o senhor esteve com a Marília, a Marília fez algumas cobranças ao senhor como, por exemplo, a questão do metrô de Belo Horizonte, de Contagem, a extensão. A Marília também cobrou do senhor uma ajuda na resolução da dívida de Minas Gerais com a União. O senhor ficou surpreso de alguma forma que uma prefeita tão importante do PT, com tanta relação com o senhor fizesse essas cobranças, que parecem mais cobranças do governo do estado, por exemplo?
Presidente Lula: Você sabe que não. Você sabe que eu acho o seguinte. Ela estava diante do povo de Contagem. Estava lá diante de muitos empresários e estava a imprensa. Obviamente que ela começou agradecendo todas as coisas que estavam sendo feitas lá. Mas é de praxe. As pessoas agradecem um minuto e cobram dois minutos. É normal. Eu quando vou atender... Você sabe que quando eu recebo pauta do movimento social, a gente recebe pauta com uns três meses antes. A gente distribui a pauta para todos os ministros. Depois a gente recolhe a decisão dos ministros. A gente apura, chama o movimento, a gente organiza.
Quando está tudo certo, eu vou anunciar. Então, quando você vai anunciar, você faz... Vamos pegar a Marcha das Margaridas, que coloca 50, 60 mil pessoas em Brasília. Então, eles fazem uma pauta de 100 coisas. Então, você atende 99. Ao invés de eles começarem falando das 99 coisas que foram atendidas, eles começam da pauta que não foi atendida. E eu acho normal, porque eu também fui dirigente sindical. Eu sei como é que a cabeça da gente tem que dar explicação para o nosso povo. E a Marília, na verdade, não cobrou. A palavra cobrou é muito forte. Ela, na verdade, alertou da necessidade da gente fazer com que o metrô possa chegar à Contagem.
Ela alertou com a necessidade da negociação da dívida do estado de Minas Gerais. Dívida de Minas Gerais que levou o Pimentel [ex-governador de Minas Gerais] a ser um governante que teve um fracasso muito grande em Minas Gerais, porque ele teve que pagar uma dívida. E quando ele ganhou o processo na justiça, já no final do mandato, o Zema [governador de Minas Gerais] é que tirou proveito disso. Porque o Pimentel passou quatro anos sem pagar funcionário público, sem pagar prefeitura, sem pagar fornecedores, porque tinha que pagar a dívida federal.
Como a ministra Rosa Weber deu uma liminar para que o Pimentel parasse de pagar, já no final do mandato, o Pimentel não usufruiu disso, quem usufruiu foi o Zema, que faz seis anos que não paga dívida. Dizem, eu não conheço, dizem que chega a 170 bilhões de reais. Então, sabe, o fato dela ser prefeita e ela cobrar, obviamente que ela tem que cobrar que haja um acordo na dívida, porque ela sabe que se Minas Gerais tiver que pagar a dívida toda como tem que pagar, será o dinheiro que vai faltar nos municípios.
E como o Governo Federal não quer prejudicar ninguém, a gente quer ver se é possível construir acordos em que todo mundo possa ganhar alguma coisa. Nós estamos com disposição, com muita disposição, de negociar a dívida dos estados. São os quatro estados mais ricos do Brasil que mais devem. Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados que mais devem e nós vamos tentar negociar. Como também eu estou predisposto a negociar a dívida da Vale, não com Minas Gerais, a dívida da Vale com o povo da região que foi solapada pela barragem.
A Mariana e o Brumadinho, aquele povo tem que receber suas casas, aquele povo tem que receber a indenização, o rio tem que ser recuperado e a Vale tá lá com o dinheiro aplicado, sabe, sem querer pagar. Nós vamos também fazer acordo para que a Vale pague essa dívida e a gente zere os nossos problemas em Minas Gerais.
Cinthya Castro: Presidente, em relação à dúvida de Minas, que o senhor comentou, ontem o senador Rodrigo Pacheco ele também disse aqui em Belo Horizonte que está faltando um aval do Governo Federal para a proposta que foi apresentada, proposta que inclui a federalização de algumas estatais. E aí eu queria, estando aqui com o senhor, perguntar qual esse aval que falta, o senhor consegue vislumbrar, por exemplo, um prazo, o senhor já disse que está próximo de resolver, para que esse assunto saia da pauta de Minas e se resolva essa questão da dívida.
Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Se eu der para você agora um prazo, eu estarei mentindo. Eu não vou fazer isso. O problema é o seguinte. Nós sabemos do problema da dívida. O Pacheco me procurou. Tivemos uma reunião com o Pacheco. O Pacheco apresentou uma série de propostas. Essas propostas estão sendo discutidas com o ministro Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] e com o pessoal do Tesouro. Quando o pessoal do Tesouro tiver uma proposta elaborada, aí me procuram, me comunicam a proposta, para ver se eu concordo ou não.
Eu disse pro Pacheco ontem, o Tesouro está se reunindo. O Pacheco teve uma reunião com o pessoal do Tesouro essa semana. Se na semana que vem o Tesouro tiver a proposta pronta, elaborada, eu vou discutir. Quando eu discutir a proposta, se eu falar “bom, vamos fechar? Vamos”. Aí vou chamar os governadores para fechar a proposta. E é importante lembrar que o Pacheco foi o companheiro que primeiro fez a proposta de negociação. O Pacheco não chegou cobrando o governo, ele chegou fazendo uma proposta.
O estado tem que dar à União determinadas coisas em pagamento, porque você não pode simplesmente o cara ficar sem pagar 170 bilhões e ganhar como prêmio o não pagamento. Não é possível. Então nós vamos tentar fazer um acordo, porque o interesse total, ô Thalita e Cinthya, o interesse total é ajudar o povo a viver um pouco melhor. E nós vamos fazer isso com muito carinho, por isso que eu não posso dar uma data. Mas eu posso te dizer que na semana que eu receber a proposta do Tesouro, e eles me convencerem que a proposta é boa, eu vou reunir o Pacheco, vou conversar com ele outra vez, porque ele é o autor das propostas, e depois vamos chamar os governadores para ver se é possível fazer um acordo. Vai ser assim que vai acontecer, e eu acho que vai acontecer bem.
Thalita Marinho: Presidente, mais uma vez, em uma visita do senhor, o governador Romeu Zema não participou. Quando o convite chegou até o Governo do Estado, de acordo com o Governo do Estado, o governador já tinha uma agenda fora. Mas ontem o vice-governador, o professor Mateus [Simões], fez uma postagem nas redes sociais dizendo que estava no evento em Contagem, mas que não deixaram que ele falasse com o senhor. Chegou alguma coisa para o senhor? De fato, ele foi impedido de conversar com o senhor em algum momento?
Presidente Lula: Quem?
Thalita Marinho: O vice-governador Mateus Simões.
Presidente Lula: Eu conversei com o vice, ele sentou no palanque, ele sentou na mesma fila de cadeiras que eu sentei. Eu conversei com ele na chegada, eu conversei com ele na entrada, eu conversei com ele na saída. Eu ainda procurei ele para dizer para ele: “olha, diga ao governador que nós estamos cuidando da questão da dívida e estamos cuidando da questão da Vale. Eu disse para ele. Obviamente que eu gostaria que os governadores estivessem presentes. Eu nunca na minha vida, nunca na minha vida, eu fui a algum estado em que eu deixei de convidar o governador. Nunca.
Ele tem o direito de ir ou não ir. E eu respeito também. Não precisa inventar muita coisa. É só comunicar que não pode ir, que está tudo bem. Eu vou fazer as coisas no estado de qualquer jeito. Mas por que é importante o governador estar presente? Porque é uma demonstração, é uma fotografia para a sociedade que mostra o seguinte, essa gente está preocupada com o problema do povo desse país. Eles estão juntos tentando resolver. Na hora que a gente se separa, no governo anterior, o presidente da República viajava e não convidava nenhum governador.
No Nordeste ele destratava todo mundo, desrespeitava todo mundo. Assim você não faz política. Então eu lamentei que o Zema não estava, ele estava trabalhando, ótimo. Eu virei outras vezes, eu espero que outra vez ele esteja presente. Ele não é candidato a nada, eu não sou candidato a nada, não tem eleição esse ano para nós. Então não tem por que a gente não se encontrar e não conversar e fazer as coisas conjuntas. É o seguinte, ô Thalita e Cínthya, eu faço as coisas independentemente de quem é governo. Eu tenho tanta coisa para Minas Gerais. Se vocês soubessem o que tem para Minas Gerais, é uma coisa muito grande.
Inclusive uma coisa que nós vamos anunciar hoje é que nós vamos retomar a BR-381, a famosa “Estrada da Morte”, que nós fizemos um leilão e deu vazio, não compareceu ninguém, porque aquela parte que chega até João Monlevade é muito delicada. Então nós tomamos a decisão, nós vamos fazer com o orçamento da União aquela parte delicada da estrada e vamos leiloar o restante para que a gente possa concluir definitivamente essa estrada e ela esqueça o nome Estrada da Morte e passa a ser o nome Rodovia da Vida, Rodovia do Progresso, Rodovia do Desenvolvimento.
Isso nós vamos anunciar também numa demonstração de que... Se vocês pegarem os dados, vocês são bem informadas, vocês vão perceber o que nós fizemos num ano aqui em Minas Gerais de recuperação de estradas estragadas foi quatro vezes mais do que foi feito no governo passado. Porque no governo passado era só lero lero, era só xingamento, era só fake news, era só desaforo, era só ofensa. Ofendia mulher, ofendia negro, ofendia sindicato, ofendia Suprema Corte, ofendia a Câmara, ofendia o Senado, ofendia a mulher do Macron. Ou seja, é assim. E eu quero mudar. Eu quero mudar, ou seja, você tem que governar isso mostrando o que você vai fazer em cada cidade.
Eu vou ao estado, quarta-feira eu vou. Eu saio daqui hoje, saio de Belo Horizonte, vou à Juiz de Fora, de Juiz de Fora eu vou a São Paulo amanhã fazer anúncio de 12 Institutos Federais, de uma faculdade da Zona Leste de São Paulo, vou assinar uma estação de metrô, depois eu vou sair de São Paulo, vou pro Rio de Janeiro domingo de manhã, vou inaugurar um conjunto habitacional, depois do Rio de Janeiro eu volto pra São Paulo, aí eu vou pra Bahia na segunda-feira de manhã, na segunda-feira de manhã eu vou à Feira de Santana, à tarde eu vou em Salvador fazer o anúncio de coisas em Salvador.
No dia 2 é o dia da Independência, 2 de julho eu vou fazer a caminhada até a Igreja do Bonfim, e depois eu vou pra Recife entregar cheque de indenização de pessoas que estão há 30 anos esperando porque suas casas caíram no famoso processo de uns prédios chamados “Prédios-Caixão”. Vocês já ouviram notícias disso. Ou seja, nós vamos entregar cheque depois de 30 anos, vamos pagar a indenização das pessoas.
Aí na quarta-feira eu volto, sabe pra onde que eu vou? Eu vou pra Goiânia, anunciar investimento na Universidade Federal de Goiânia. E assim vai ser daqui pra frente, vai ser assim. Daqui pra frente quem quiser me encontrar, só pegar minha agenda e ir pro estado me esperar, porque eu vou estar em algum lugar desse país. Então vai ser assim a minha vida daqui pra frente e por isso eu estou muito feliz aqui em Minas Gerais, muito, muito. Eu espero que vocês possam participar do encontro que nós vamos ter daqui a pouco no Minas Centro.
Thalita Marinho: Presidente, eu queria que o senhor adiantasse pra gente. Já que o senhor falou da questão da 381 que, de fato, é uma demanda muito forte para o mineiro. O senhor até já adiantou o nome que a gente tem, infelizmente, e eu falo infelizmente porque como o mineiro é vergonhoso, como uma mineira é vergonhoso a gente ter a Rodovia da Morte no nosso estado. Mas além da 381, o que mais o presidente hoje anuncia aqui em Minas Gerais?
Presidente Lula: Nós viemos anunciar as obras de Contagem, obras de saneamento básico em Contagem. Nós temos o entorno de Contagem. Uma coisa que eu esqueci de anunciar ontem, eu vou anunciar em primeira mão: o CEASA não vai ser privatizado. A gente tirou o CEASA da privatização e vamos fazer o CEASA, aqui em Contagem tem muito forte, ou seja, para que o CEASA seja um instrumento para ajudar a melhorar a qualidade do nosso alimento, a distribuição do nosso alimento e o preço do nosso alimento.
Nós anunciamos também casas, nós anunciamos também aqui em Minas Gerais, nós vamos anunciar oito institutos, nós vamos anunciar muitos investimentos de energia. Se vocês tiverem uma ideia do que nós vamos fazer aqui em Minas Gerais, eu poderia dizer para vocês, primeiro, vocês estão lembrados que eu anunciei o PAC aqui. O PAC tem para Minas Gerais 125 bilhões de reais, dos quais 47 bilhões serão só dentro do estado de Minas Gerais, o restante é com parceria com outros estados.
Nós temos só de projetos regionais 82 bilhões e temos investimento executado já de 18 bilhões no estado em 17 meses de governo. Nós temos infraestrutura, nós temos equipamento de saúde, esporte, cultura, universidade. Nós vamos investir, só para você ter ideia, educação fundamental, 884 milhões de reais, institutos federais, 377 milhões de reais, e universidades federais, 671 milhões. Só nisso aqui nós vamos investir quase 5 bilhões em Minas Gerais.
Então, quando as pessoas falam dos investimentos, eu queria dizer para vocês que esse investimento é importante porque ele gera empregos, o emprego gera salário, o salário gera consumo, o consumo gera comércio, o comércio gera mais emprego, que gera mais salário, que gera mais consumo. Então, o que nós queremos é fazer com que a economia brasileira seja uma roda gigante em funcionamento direto sem parar, por isso que nós temos que fazer muito investimento, porque cada investimento que você faz, ele gera emprego, gera oportunidade de comércio.
Eu queria contar uma coisa, Thalita e Cinthya. Quando a gente criou o programa do Luz para Todos, aqui em Minas Gerais a gente fez muita coisa com o Luz para Todos. Só que aqui o Aécio era o governador, eu vinha anunciar o Luz para Todos quando eu virava as costas era Luz de Minas. Ele mudava o nome aqui em Minas Gerais. Mas, de qualquer forma, quando a gente fazia o Luz para Todos, as pessoas falavam “ah, mas o Lula só atende os pobres, o Lula só governa para os miseráveis, o Lula só faz a coisa não sei pras quantas”. Eu falava “não”.
Essas políticas sociais, elas terminam na indústria. Por quê? Quando eu acendia uma luz dentro de uma casa no interior de Minas Gerais, no mesmo mês, aquela pessoa comprava uma geladeira, aquela pessoa comprava um televisor, aquela pessoa comprava uma bomba, aquela pessoa comprava uma casa de farinha, aquela pessoa comprava um liquidificador. Ou seja, um simples programa chamado Luz para Todos desenvolvia a indústria de televisão, a indústria de geladeira, a indústria de liquidificador, a indústria de bomba d'água.
Era uma coisa maravilhosa, era uma coisa extraordinária e tudo o que nós fazemos é pra isso, é pra fazer com que as pessoas subam um degrau na escala social e todo mundo possa melhorar de vida. Então os investimentos em Minas Gerais, só na questão da energia, só pra você ter ideia, só pra você ter ideia, energia fotovoltaica, nós vamos fazer investimento de 8 bilhões e 700 milhões de reais. O oleoduto, 209 milhões. Linha de transmissão, 33 bilhões de reais, dos quais me parece que 16 é só aqui em Minas Gerais.
Ou seja, é muita coisa. É muita coisa e nós vamos fazer isso, porque Minas é um estado grande, Minas é um estado poderoso, Minas é um estado que tem gente maravilhosa e tudo o que a gente puder fazer pra Minas Gerais, a gente vai fazer. É simples assim. Sabe que eu estou viajando o Brasil pra contar as coisas que a gente quer fazer. Eu, por exemplo, acredito muito em educação. Eu acho que a educação, pra mim a educação é uma obsessão. E eu falo sempre nos palanques. As pessoas me perguntam por que o Lula, que é o único presidente da República que não tem diploma universitário, é o presidente que mais fez universidade no Brasil.
É o presidente que criou o ProUni, criou o Reuni, recuperou o FIES. É o presidente que mais fez institutos federais. Você sabe, Thalita e Cinthya, que o Brasil, desde 1909, o primeiro instituto na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, foi em 1909. Quando eu cheguei na presidência da república, em 2003, tinha 140 institutos federais. Sabe quantos que eu vou deixar? 782 Institutos. Simplesmente isso. Nós estamos agora fazendo escola de tempo integral. Nós estamos criando. Por que o tempo integral? O tempo integral não só para a criança aprender mais, mas também para a gente dar uma certa mobilidade para a família.
Às vezes a mãe trabalha, às vezes sabe... Então, se a criança estiver na escola, a mãe está segura de que a criança está bem cuidada. Esse ano, já colocamos um milhão de pessoas na escola de tempo integral. Nós criamos um programa revolucionário chamado Pé-de-Meia. Não sei se vocês já ouviram falar. O que aconteceu? Nós descobrimos, que no ano passado, 500 mil alunos no ensino médio deixaram de fazer o ensino médio, porque precisavam ir para casa para ajudar no orçamento familiar. Então, nós tomamos a decisão de que o Estado brasileiro não poderia deixar jovens de 14, 15, 16 anos desistirem de estudar porque têm que ajudar no orçamento familiar.
Nós resolvemos criar um programa de poupança para esse jovem. Então, nós criamos uma poupança. A gente paga 200 reais por mês, durante 10 meses, para cada jovem. E, no final do ano, se ele tiver 80% de comparecimento na escola e ele passar de ano, a gente dá mil reais em uma poupança para ele. É uma poupança. No ano seguinte, ele foi para o segundo grau, ele foi para o segundo ano, ele vai receber mais 10 de 200 reais. Depois de 10 meses, se ele tiver 80% e se ele passou de ano, mais mil reais. Então, já são, na verdade, quase seis mil reais. No ano seguinte, mais 200 e mais mil. Quando ele terminar o ensino médio, ele vai estar com nove mil reais na poupança.
Não é uma coisa maravilhosa para ele começar a vida dele? Então, tem gente que fala “ah, mas isso é gastar dinheiro, isso é gastar dinheiro. Poderia ficar aí para pagar juros, poderia ficar para poder superávit primário”. Não, isso não é gasto, isso é investimento. Porque se eu não investir na educação agora, amanhã vou ter que investir em cadeia. Amanhã vou ter que investir em prisões para punir pessoas que o Estado teve a responsabilidade de não deixar ele estudar. Então, para mim, a educação é uma obsessão. E eu falo sempre o seguinte, como eu não tive direito de fazer universidade, não tive. Tenho frustração na vida por não ter tido universidade, mas também não fico chorando.
O que é que eu faço? Eu quero que os filhos dos outros, que eram igual eu era quando eu tinha 17 anos, 18 anos, possam estudar. Eu não pude, mas eu quero que o povo possa. Eu não pude, mas eu quero que o filho do trabalhador possa. Então, eu fico muito orgulhoso quando encontro com uma pessoa que fala: “Lula, minha mãe era empregada doméstica e eu sou agora engenheira, eu sou médica, eu sou advogada, eu sou dentista, eu sou psicóloga, eu sou filósofa, eu sou qualquer coisa”.
O crescimento interno da autoestima das pessoas. A pessoa se sente maior, a pessoa se sente enxergada. E é esse estado de prazer que a gente quer criar na sociedade brasileira. Um povo otimista, um povo que acredita, um povo que luta, um povo que persegue, um povo que persiste. Minha mãe dizia: “meu filho, teima, nunca desista das coisas, teima”. E precisa teimar pra gente conquistar as coisas. Então essa coisa pra mim é extraordinariamente importante, isso marca muito a minha vida. E eu fico feliz, muito feliz, você não tem noção.
Nós acabamos de criar a Faculdade da Matemática no Rio de Janeiro. Por que nós criamos a Faculdade da Matemática? Porque nós criamos em 2005 a Olimpíada da Matemática na escola pública. Ela só existia em escola privada, então nós criamos em escola pública. Hoje nós temos quase 20 milhões de jovens participando das Olimpíadas da Matemática. E tem aluno que ganha medalha de ouro, medalha de ouro, de prata e de bronze. Então nós temos aluno que tem 6 medalhas de ouro, 5 medalhas de ouro. Então o que a gente fez? A gente criou uma Faculdade de Matemática junto com o Instituto de Matemática Aplicada, o IMPA, no Rio de Janeiro. E a gente vai pegar por ano 100 jovens que ganharam medalha de ouro, nós vamos fazer um vestibular entre todos que ganharam e vamos selecionar os 100 melhores para fazer a Universidade da Matemática.
E essa gente vai estar no Rio de Janeiro, essa gente vai ter faculdade e vai ter lugar para morar. Já fizemos, inclusive, 100 apartamentos para que a gente possa colocar esses jovens lá dentro. Então isso é uma demonstração de que nós queremos segurar os nossos gênios aqui no Brasil. Não queremos que o nosso gênios vá trabalhar lá fora, queremos que ele seja brasileiro e que ele faça as coisas no Brasil. Então isso tudo me dá muito orgulho, me dá muito orgulho. Eu sinto que os meus netos irão viver um Brasil muito melhor do que aquele que eu herdei do meu pai. Muito melhor. É isso que eu desejo.
Cinthya Castro: Presidente, o senhor falou sobre essa questão do consumo, de melhorar o acesso das pessoas, e aí um ponto que eu queria tocar com o senhor é a questão do preço dos alimentos. Foi na campanha do senhor, o senhor tocou muito nisso, até brincava, falava que o brasileiro vai ter a picanha de novo na mesa. E hoje o que a gente percebe, o senhor acompanha, tem muitas críticas, inclusive em redes sociais, as pessoas que a gente conversa, sobre os preços dos alimentos. Eu queria que o senhor me falasse o que acontece e qual é a expectativa do senhor de melhoria nesse ponto.
Presidente Lula: Primeiro, eu queria dizer para você, ô Cinthya, que eu sei o custo da inflação na vida do povo trabalhador. Ainda ontem eu contei uma história. Eu estava dentro da fábrica quando a inflação era 80% ao mês. Eu recebia o meu pagamento, a gente pegava o pagamento e corria para um atacadista para comprar tudo que não fosse perecível, porque senão o salário desaparecia. Você imagina o salário se desvalorizar 80% ao mês. Então o preço do alimento para mim é uma coisa sagrada. Vamos ver o que está acontecendo.
Esses dias vocês viram muita notícia, eu decidi importar um milhão de toneladas de arroz. Por que eu decidi importar? Porque eu vi no supermercado um saco de arroz de 5kg a R$36,00, não é possível. Depois estava a R$33,00, não é possível. Um saco de arroz de 5kg tem que estar R$22,00, R$23,00. Tem que estar de acordo com o poder aquisitivo do povo mais humilde. O feijão é a mesma coisa, a carne barateou. A carne barateou. Eu posso dizer para você que a picanha já barateou. Mas ainda é preciso baratear tudo. Baratear tudo para que o povo possa ter acesso.
Ou seja, muitas vezes o alimento sobe porque você tem escassez de produção. Lamentavelmente é assim. Quando você tem escassez de produção as pessoas aumentam o preço e o consumidor final paga o prejuízo. Então nós precisamos controlar melhor. A Conab não tinha estoque de alimento. Nós agora estamos fazendo com que a Conab tenha estoque. Porque quando um produto estiver subindo, a gente coloca parte do estoque no mercado e barateia o preço. Quando a gente quiser que as pessoas produzam uma coisa, a gente dá uma garantia de preço mínimo para a pessoa produzir aquilo.
Então nós estamos equilibrando as coisas. E eu tenho certeza que nós vamos baixar o custo de vida para esse povo porque o povo precisa de alimento barato. Agora mesmo, na Reforma Tributária, nós estamos discutindo o que vai entrar para pagar imposto ou não. Então a grande discussão é o que vai pagar imposto. Eu acho que tudo aquilo que for da cesta básica, tudo aquilo que for elementar para o povo trabalhador comer, a gente não tem que cobrar imposto. Então, não é só um compromisso meu, não, é uma perseguição da gente baratear o alimento para o povo poder consumir o alimento de qualidades, alimento bom, e alimento que seja de preferência, orgânico, que não tenha tanta pesticida, como muitas vezes a gente compra alimento.
Thalita Marinho: Presidente, ainda nessa questão de economia, a questão da taxa básica de juros, que foi mantida a 10,5%, como que o senhor recebeu essa informação dessa decisão que foi unânime?
Presidente Lula: Thalita, a vantagem que eu tenho é que eu já fui presidente oito anos. Eu já tive o presidente do Banco Central que eu tirava e que eu colocava a hora que eu tivesse. Não tinha estabilidade, não tinha mandato. Era o presidente da República que colocava, se ele fosse bem, ficava, se fosse mal, saía. E o Meirelles ficou oito anos comigo. Oito anos sem precisar de mandato. Então eu não tenho preocupação com essa coisa de ficar brigando com a taxa de juros. Eu sei que a taxa de juros é um instrumento para você poder tentar evitar o excesso de consumo, o excesso e controlar a inflação.
Mas peraí, mas a inflação está controlada. A inflação está a 4%, a inflação está dentro da meta. O Brasil tem um colchão de reserva de 355 bilhões de reais, que foi nós que fizemos. Eu e a Dilma. Nós é que fizemos uma reserva para dar estabilidade a esse país. Estabilidade econômica. Então, não tem necessidade de o juro estar desse tamanho. Não tem. Agora, também o presidente da República não pode ficar brigando com o presidente do Banco Central, porque ele foi escolhido pelo presidente anterior. É importante lembrar que ele é presidente do Banco Central do governo anterior.
É importante lembrar que ele pensa ideologicamente igual ao governo anterior. E é importante lembrar que eu acho que ele não está fazendo o que ele deveria ter feito corretamente. Sabe? Não está fazendo. Mas, de qualquer forma, ele tem um mandato até dezembro, ele é presidente do Banco Central. E somente a partir daí que eu vou escolher o meu presidente do Banco Central. E eu vou escolher uma pessoa que seja responsável. E a pessoa que é responsável, o presidente da República não vai ficar dando palpite, “baixa o juro, aumenta o juro”. Não, o presidente da República tem que confiar que a pessoa está lá, tem competência para fazer as coisas.
É isso que a gente tem que saber. E já foi assim, não é nenhuma novidade. Eu não sou um estranho no ninho. Eu sou um cara que já fui presidente oito anos e fui considerado o melhor presidente da história desse país. Eu deixei meu mandato com 87% de bom e ótimo, 10% de regular e 3% de ruim e péssimo, que deve ter sido no comitê do meu adversário. Então, para mim, não é novidade. As pessoas não têm que ficar levantando dúvida.
Você veja, eu brinquei ontem no pronunciamento que eu fiz para o Conselhão. No dia que eu fiz aquela entrevista no UOL, você viu que a manchete do jornal, meia hora depois é “Depois da entrevista do Lula, o dólar sobe”. Vocês viram isso? E aí, o que aconteceu? Nós descobrimos que o dólar tinha subido 15 minutos antes da entrevista. Eu nem tinha começado a entrevista e o dólar já tinha subido. E ontem eu fiz a denúncia. Por que o dólar está subindo? Porque tem especulação. Tem especulação com derivativos na perspectiva de valorizar o dólar e desvalorizar o real.
E o Banco Central tem a obrigação de investigar isso. É bem isso que eu falei e vou continuar falando. Porque se o presidente da República for eleito e ele não puder falar, quem vai falar? O cara que perdeu? Quem vai falar pelo Brasil? O presidente do Banco Central? Não. É o presidente da República. Foi eleito pra isso: pra falar e falar aquilo que é a linguagem do povo brasileiro. E vou dizer em alto e bom som: A taxa de juros de 10,50 é irreal para uma inflação de 4%. É isso. É importante todo mundo saber. Agora, eu não sou do Conselho Monetário Nacional. Eu não sou diretor do Banco Central.
Então, isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente que vai pro Senado [Banco Central] e a gente vai construir uma nova filosofia. Ontem vocês viram que nós reunimos e a gente manteve a meta. A gente manteve a meta porque a gente não quer brincar. Eu digo sempre o seguinte, pode acreditar Cinthya, pode acreditar Thalita, eu não brinco com a inflação porque eu vivi a inflação de 80% ao mês. O meu salário desaparecia em um mês. E eu quero que a inflação não coma o salário do trabalhador.
Você veja, de vez em quando, as pessoas falam “Ah, mas então o Lula precisa desvincular o salário mínimo da Previdência, porque na hora que aumenta o salário mínimo, a Previdência fica dando rombo”. Meu Deus do céu! O mínimo é o mínimo. Por isso é que ele chama salário mínimo. Não tem nada mais baixo que o mínimo. Ora, o que é que eu estou fazendo? Eu estou dando para o salário mínimo a reposição inflacionária, que é obrigação a gente dá, porque é recomposição do poder de compra das pessoas e estou dando a média do crescimento do PIB dos últimos dois anos
Então, se crescer 3% este ano e ano passado, eu vou dar 6% de aumento. Isso hipoteticamente, tá? O que é que é o PIB? O PIB é o crescimento da economia, feita por todos nós, feita por vocês, feita por mim, feita pela dona de casa, feita pela indústria petroquímica. Todo mundo que trabalha é responsável pelo crescimento do PIB. Então, quando esse PIB cresce, o que é que você tem que fazer? Distribuí-lo para 203 milhões de pessoas que moram nesse país. É simples assim. Não tem nada fora do normal. É apenas dar a chance das pessoas participarem do crescimento econômico do país.
É por isso que eu vou continuar aumentando o mínimo. É por isso que eu vou continuar e vou até o final do meu mandato. Quem ganha até 5 mil reais não vai pagar imposto de renda. Esse país é muito engraçado. A gente não consegue mudar as coisas com a rapidez que a gente quer. Você veja, você é trabalhadora, chega no final do ano, você recebe uma participação no lucro das empresas. Aí, quando você recebe uma participação no lucro, vem o fisco e te toma 27%. Aí, a Petrobras acaba de pagar 45 bilhões de reais de dividendos para os acionistas minoritários e ninguém paga um centavo de imposto de renda. É normal? É justo? Tem que ser assim? Não, não pode ser assim.
Então, nós temos que ir criando condições de fazer as mudanças necessárias para equilibrar um pouco o jogo. Ontem, em Contagem, eu coloquei um empresário chamado Mário Valadares para falar. Não sei se vocês já ouviram falar do Mário Valadares. Se vocês não ouviram, chamem ele para dar uma entrevista. É o único empresário, pegou o microfone ontem para dizer para mim: “Presidente Lula, eu comecei no seu governo, hoje eu sou um homem rico. Eu tenho um patrimônio de um bilhão, um bilhão de reais. Eu tenho duas filhas, Lula. Eu já falei para minhas filhas: metade desse um bilhão é herança para vocês. A outra metade eu quero financiar a educação para as pessoas pobres”.
É uma coisa extraordinária isso, porque nos Estados Unidos, como as pessoas pagam muito imposto de herança, as pessoas dão um prédio pro estado, as pessoas fazem fundação, fazem faculdade. Aqui no Brasil, não. Se você mora numa mansão que tem 90 quartos, que tem duas piscinas, que tem tudo. Quando você morrer, o herdeiro vai pagar só 4% de imposto de renda sobre o valor desse imóvel. Sabe quanto paga nos Estados Unidos? 40%. Então, peraí, precisa equilibrar o jogo, e o Haddad fez isso, com muita competência. É importante lembrar, o Haddad conseguiu fazer com que o Congresso Nacional aprovasse uma política tributária.
Agora estamos trabalhando para que no G20 a gente aprove uma regra que os muito ricos paguem mais imposto. Porque não é possível que os pobres sejam quem paguem imposto. Se um pobre compra um quilo de comida, ele está pagando proporcionalmente mais imposto do que o rico. Então é preciso ter uma inversão. Agora, isso tudo é muito difícil, porque, você sabe, não é o pobre que faz a página dos jornais. Não é o pobre que faz a opinião pública. Quem faz a opinião pública é quem financia o sistema de comunicação nesse país.
Vocês ouvem falar muito em mercado, né? Vocês devem levantar e deitar só ouvindo falar “mercado”. Mas que mercado? É o mercado financeiro? É o mercado varejista? É o mercado automobilístico? É o mercado da indústria de transformação? Porque o mercado que eu me preocupo, efetivamente, é o mercado de 203 milhões de consumidores. Esse é um grande mercado. Esse mercado de consumidores, porque quando essas pessoas estiverem consumindo, tudo vai melhorar. Thalita e Cinthya, tudo vai melhorar.
A hora que o pobre estiver comendo mais, a hora que ele estiver se vestindo melhor, a hora que ele estiver morando melhor, tudo vai melhorar. Vai melhorar a loja na esquina da vila, vai melhorar o salão de beleza da moça que mora no bairro, vai melhorar a qualidade do transporte, a qualidade do sapato. É esse país que eu sonho construir. Um país de classe média, um país onde todos têm o direito ao mínimo. O Brasil pode, o Brasil tem riqueza, muita riqueza.
Eu conto sempre uma história que o Brasil, entre 1950 e 1980, ele cresceu, em média, 7% ao ano. Entretanto, quando terminou essa fase do crescimento, a gente entrou na questão, sabe, da dívida mortal, que foi a dívida externa nossa, que foi, sabe, a década perdida. Por quê? Porque a riqueza não foi distribuída. Se quando crescer você não distribui, quando dá prejuízo, você vai distribuir miséria? Porque o pobre é que sofre. Quando a situação tá boa, alguns ganham. Quando a situação tá ruim, todos perdem. Que brincadeira que é essa?
Então, eu tenho uma filosofia de vida, que eu vou dizer pra vocês agora. Na minha cabeça, quando tem muito dinheiro na mão de poucos, o resultado é miséria, é prostituição, é analfabetismo, é violência, é mortalidade infantil. Agora, quando ao contrário, muitos têm pouco, tudo melhora, tudo melhora. Se você for na casa de uma pessoa que recebe o Bolsa Família, vocês vão ver o milagre que as pessoas fazem com tão pouco dinheiro.
Porque o povo sabe economizar, o povo sabe como gastar as coisas, ele sabe o que é importante pra ele. E isso seria tão fácil se tivesse mais empresário como o Mário Valadares, porque quando o empresário ganha muito dinheiro, ele fala “porque eu sou rico, porque eu trabalhei, porque eu trabalhei”. Ele nunca debita nas costas dos seus trabalhadores o fato dele ter ficado rico. É porque os trabalhadores que contribuíram para ser ricos têm direito a uma parcela.
Então, esse mundo tá longe de ser construído. Eu tenho 78 anos de idade, mas eu sonho como se fosse um menino de 10. Sonho, e por isso eu tenho energia pra brigar. Eu sonho porque o homem que não tem uma causa, a pessoa que não tem um sonho, uma pessoa que levanta sem ter o que fazer, ela não tem o que fazer. É inútil. A gente tem que levantar tendo o que fazer. Se não tem, procura uma coisa pra brigar. Vai ajudar o mais necessitado, vai ajudar o vizinho a fazer uma laje, vai ajudar o vizinho a cavar um poço, vai ajudar a fazer rede elétrica na casa das pessoas. É assim que eu aprendi, é assim que eu cresci, é assim que eu vivi a minha vida.
Eu trabalhava toda semana, no sábado e domingo a gente ia na casa de companheiro bater laje, a gente ia na casa de companheiro fazer telhado, a gente ia cavar poço. Então, a gente tem que procurar as coisas pra fazer pra gente se sentir útil e motivado. É por isso que eu me sinto muito motivado. Querida, Cinthya, querida Thalita, eu sou um homem hoje muito motivado. E minha motivação chama-se Brasil. E dentro do Brasil, o povo brasileiro.
Cinthya Castro: Presidente, o senhor falou no início sobre a questão, dois pontos do Governo Federal com Minas. Uma é a questão do acordo por causa da tragédia de Mariana, que o senhor falou que espera que isso seja resolvido. Eu queria que o senhor nos falasse o que falta para que esse acordo seja fechado. E só voltando um pontinho da questão da dívida, na proposta de federalização, se tem alguma dessas estatais mineiras, Cemig, Copasa e Codemig, que mais interessam o Governo Federal.
Presidente Lula: Eu não posso especificar o acordo porque eu não conheço ainda. O que eu posso dizer para o povo de Minas Gerais é que a hora que a proposta de acordo que está no Tesouro Nacional chegar na presidência da República, nós vamos resolver esse problema. Tirar da nossa mesa e colocar outros problemas. Da mesma forma é a dívida da Vale. A Vale, vamos ser francos, a Vale está enrolando o povo de Mariana e o povo de Brumadinho.
Vamos ser francos, isso não é brincadeira, faz sete anos, criou uma empresa para fazer o quê? O que essa empresa faz? Essa empresa já fez as casas? Essa empresa já pagou a indenização? Então, ontem eu cobrei do ministro Alexandre Silveira, que está aqui, ele vai estar em Belo Horizonte. Pode até perguntar para ele, ontem eu cobrei dele. Eu quero saber como está o acordo da Vale. Ele me disse que está 90% resolvido, vai me apresentar semana que vem ou a outra para a gente bater o martelo e fechar esse acordo.
Thalita Marinho: A última pergunta que a gente já está encerrando, eu queria conversar com o senhor em relação a 2026. Rodrigo Pacheco, na opinião do senhor, seria o melhor nome para o governo do estado de Minas, e ainda em 2024, em relação a Belo Horizonte. Na entrevista que o senhor concedeu para a gente ao jornal impresso, ao jornal O Tempo, o senhor ainda não tinha batido o martelo no nome do Rogério Correia, por exemplo. Mudou alguma coisa de quinta-feira para cá?
Presidente Lula: Não, não mudou. O Rogério é o candidato do PT. O Rogério é um deputado que tem uma presença muito grande no Congresso Nacional, tem uma presença muito atuante em Minas Gerais. Ele é um quadro do PT muito respeitável, e é normal, nós temos eleições de dois turnos. É normal que todos os partidos não se candidatem. No final, aqueles que tiverem melhor condições disputam o final. Então, o Rogério continua sendo o candidato do PT, o meu candidato a prefeito de Belo Horizonte.
A respeito do Pacheco, eu tenho uma grata surpresa com o crescimento político do Pacheco. O Pacheco é um jovem, um advogado bem-sucedido, presidente do Senado. Eu acho que ele é hoje, publicamente, a figura pública mais importante de Minas Gerais. Eu acho que ele é uma figura muito importante. Obviamente que as coisas só vão acontecer se ele quiser. Eu não sei se ele quer ser candidato ao Senado, não sei se ele quer ser candidato a governador, não sei o que ele quer ser. Mas é o seguinte, eu acho que ele tem todas as condições de fazer uma disputa eleitoral aqui e ganhar as eleições.
Eu acho que tem, mas eu não posso decidir por Minas Gerais. Minas Gerais tem o meu partido, tem o partido do Rodrigo Pacheco. Eu acho que os partidos vão ter que se reunir e discutir. O que eu quero é muita tranquilidade. Muita tranquilidade nessas eleições agora. Ninguém precisa ficar fazendo maldade contra ninguém. E vamos nos preparar para o que vai acontecer em 2026. Vamos nos preparar para isso. Eu, a única coisa que eu tenho, é um compromisso de fé que eu tenho. É que eu quero terminar o meu mandato com o Brasil numa situação muito boa.
Eu tenho certeza que vai acontecer. Eu tenho certeza que a economia vai continuar crescendo. Eu tenho certeza que os salários vão continuar crescendo. Eu tenho certeza que a gente vai continuar investindo em educação, que a gente vai continuar investindo em saúde. Eu tenho certeza que a gente vai cuidar dos povos indígenas, que a gente vai cuidar do povo quilombola, que a gente vai fazer com que a sociedade brasileira seja uma sociedade mais harmônica, que não tenha mais preconceito contra a mulher, que não tenha mais violência contra a mulher, que não tenha mais agressões à mulher.
Eu sonho com esse país, Thalita e Cinthya, e eu brigo por isso. Vocês podem ter certeza que vocês têm um presidente da República que todo dia está preocupado com isso. Eu quero saber como é que eu vou deixar esse país quando eu não for mais presidente. É isso que eu quero. Na outra vez que eu deixei a Presidência e que eu entreguei o mandato para a Dilma, vocês estão lembrados,, eu desci a rampa e fui lá no meio do povo cumprimentar o povo. Eu não quero ser um presidente que saia pelo fundo. Eu não quero ser um Presidente que viaje para Miami.
Não, eu quero ser um presidente que vai descer a rampa com a cabeça erguida igual eu subi a rampa. E vou cumprimentar o povo. E agradecer de coração tudo o que o povo depositou de confiança em mim. E eu não posso trair essa confiança. Por isso, muito obrigado a vocês por essa entrevista. Eu só quero dizer pra vocês que quando vocês quiserem fazer entrevista, não fiquem esperando eu vir a Minas Gerais. Vocês podem pegar o telefone, ligar pra minha assessoria em Brasília. A gente pode fazer uma entrevista, vocês daqui e eu do meu gabinete, desse mesmo jeito. Tranquilamente.
Thalita Marinho: E com a nossa redação de Brasília também, presidente, que está lá também com a nossa equipe de O Tempo em Brasília.
Presidente Lula: Ah, então se tem redação de Brasília, melhor ainda que vai mais gente de Brasília pra lá.
Cinthya Castro: Presidente, assim, só quebrando o protocolo, aproveitando a presença do senhor, né? A gente já encerrou a entrevista, mas o senhor, como o seu coração é de corintiano, fala aí pra quem está nos ouvindo. Como é que está o coração do senhor aí nesse ano? O Corinthians vai melhorar, não vai?
Presidente Lula: Olha, eu ando muito preocupado. Eu ando preocupado com o Corinthians, ando preocupado com o Cruzeiro. Eu sou cruzeirense aqui em Minas Gerais.
Cinthya Castro: Recebeu ontem, inclusive, uma camisa do Cruzeiro, né?
Presidente Lula: Eu sou cruzeirense. Eu estou preocupado com a seleção brasileira. Eu estou preocupado. A nossa seleção é irreconhecível, né? Quem é brasileiro, que acompanha o futebol e sabe a quantidade de craques extraordinários que a gente tinha, hoje a gente não tem mais. Essa meninada vai tudo mundo muito jovem pra Europa, todo mundo fica muito rico, todo mundo, sabe? E essas pessoas não rendem aqui o que deveriam render.
Também se encontra só em época de convocação. Ou seja, eu acho que, até falei pro presidente da CBF, estava na hora da CBF dar uma chance aos jogadores que jogam no Brasileirão. Vai terminar o Brasileirão. Quando terminar o Brasileirão, faz uma seleção dos melhores jogadores do Brasileirão e faz um teste pra ver se eles dão conta do recado ou não. Eu acho que aqui no Brasil nós temos gente jogando bola, hoje, melhor do que alguns que foram convocados. Agora, me parece que para convocar só joga lá fora. Jogou lá fora tem, com exceção do lateral esquerdo do Atlético Mineiro.
Thalita Marinho: Presidente, muito obrigada pela entrevista do senhor. Agradeço também a Cinthya Castro, editora de política. E vou reforçar com o senhor que o espaço aqui da FM O Tempo, do jornal O Tempo, esses espaços estão abertos sempre pro senhor, pra equipe do senhor, porque o mineiro brasileiro precisa ter explicações como essas que o senhor nos trouxe aqui hoje.
Presidente Lula: Obrigado, Thalita. Obrigado, Cinthya. Quero dizer pra vocês que foi um prazer imenso participar dessa conversa. E sempre que vocês tiverem disposição ou tiver alguma coisa que vocês acham que vocês gostariam de participar, não se façam de rogadas. Telefone, mande a redação de Brasília procurar o nosso pessoal de comunicação e nós estaremos à inteira disposição.
Uma coisa muito simples, eu sou um cidadão que gosta de dar entrevista em rádio. Isso já é meio caminho andado para que a gente faça muito mais entrevistas.
Obrigado, muito obrigado, um abraço a todos vocês, um abraço ao povo de Minas Gerais. E vamos ao Minas Centro fazer a nossa explicação do que vamos fazer. Aliás, seria importante que vocês fossem no Minas Centro, porque eu vou propor para a Janja explicar o que é o ComunicaBR.
Nós temos um site chamado ComunicaBR, que se vocês duas quiserem, vocês escolhem a cidade de Minas Gerais. Minas Gerais tem mais de 800 municípios. Escolham o município. Espinosa, a terra da nossa ministra da Suprema Corte. Espinosa. Coloquem Espinosa no ComunicaBR, vocês vão perceber, vocês vão saber quantos dentistas tem lá do Governo Federal, quantos médicos, quantos agentes de saúde, quantas pessoas recebem aposentadoria, quantas pessoas se tratam.
Vocês vão saber cada centavo do Governo Federal em cada município brasileiro. Então nós estamos, cada vez que eu for agora no palco, nós vamos mostrar o ComunicaBR para as pessoas saberem.
Inclusive a oposição, a oposição tem que entrar no ComunicaBR para ele saber o que nós estamos fazendo. Quando quiser fazer crítica a gente, faça a crítica contundente em cima das coisas que nós estamos fazendo. Mas não fiquem ignorantes sem saber o que a gente está fazendo e criticando. Então, se vocês estiverem lá, vocês vão ver o que é o ComunicaBR do nosso governo.
Um abraço.