Entrevista do presidente Lula à Rádio Difusora, em Goiânia (GO)
Jornalista Diego Joaquim (Rádio Difusora): Conversa com a gente aqui no Rádio Livre e não somente na Difusora Goiânia, né Edmilson?
Jornalista Edmilson Santos (Rádio Difusora): Isso, nós estamos também com as emissoras da Rede Vale FM de rádios, nós estamos falando para Rubiataba, estamos falando para Ipameri, estamos falando para São Luís de Montes Belos e estamos falando para a nossa ex-capital, a nossa Vila Boa, a Cidade de Goiás, através da Rádio Treze de Maio FM.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Então, presidente Lula, bem-vindo à Goiânia. Primeira vez esse mandato aqui presente, né?
Presidente Lula: A primeira vez.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Preparado para comer um pequi daqui a pouco?
Presidente Lula: A primeira vez, eu não sei se eu vou conseguir almoçar aqui, porque eu tenho uma reunião umas 14h30 em Brasília com o ministro da Justiça, com o ministro da CGU e o advogado-geral da União, e depois eu vou discutir um assunto delicado que eu sei que você vai me perguntar daqui a pouco sobre isso. Mas eu queria, antes de você fazer a pergunta, Edmilson, eu queria cumprimentar vocês dois, cumprimentar o companheiro Diego e você, Edmilson, cumprimentar os ouvintes da Rádio Difusora e dizer para vocês que é um prazer estar aqui.
Agradecer a presença do vice-governador, governador em exercício, porque o governador Caiado [Ronaldo Caiado, governador de Goiás] tirou umas férias, o Daniel Vilela aqui, obrigado pela presença. E dizer que eu estou aqui pela primeira vez para fazer pergunta para vocês também. Em todo estado que eu vou, eu costumo fazer uma pergunta simples, é o seguinte. Eu gostaria que vocês me falassem uma obra que o Bolsonaro fez no estado de Goiás. Eu gostaria que vocês me falassem qual foi o Plano Safra do governo passado com relação ao último ano de 2022, comparado com o primeiro Plano Safra do meu governo de 2023?
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Para o nosso ouvinte ter uma noção, a gente faz perguntas para o presidente Lula, simples, e ele responde. Aí ele faz umas perguntas para a gente que não tem resposta. Nem se googlar, esse novo verbo que a gente tem, vai ter resposta para isso, presidente.
Presidente Lula: Mas sabe o que eu tenho feito essa pergunta, Edmilson, em todos os estados que eu chego, em todos. É impressionante, é uma coisa que não tem explicação. Você não encontra, em quase nenhum estado, nenhuma obra de infraestrutura feita pelo governo passado. Eu fico imaginando o que foi feito em quatro anos.
Eu poderia te dizer, antecipando, em apenas 2023, esse é um dado que o ministro Renan [Renan Filho, ministro dos Transportes] me apresenta todo dia, apenas em 2023 nós investimos mais do que o governo passado em quatro anos. Apenas em um ano. Numa demonstração de que esse país não teve governo durante quatro anos.
Esse país teve alguém que preferia contar mentiras, fazer fake news, fazer provocação. Não visitava governador de nenhum estado, só conversava com quem gostava. Ofendia sindicalistas, ofendia negros, ofendia indígenas, ofendia mulheres. Ele tinha uma turma que era a turma do mal, que fazia parte do gabinete do ódio. E assim ele conseguiu viver quatro anos, gastando o equivalente a 60 bilhões de dólares para tentar ganhar as eleições. Foram 300 bilhões de reais entre desoneração, entre distribuição de dinheiro e entre isenção fiscal. Tudo na perspectiva de ser reeleito presidente da República e ainda tentou dar um golpe em 8 de janeiro.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente Lula, vamos falar desse assunto que hoje está todo mundo falando no Brasil, que depois a gente vai falar dos assuntos de investimento do governo federal aqui em Goiás, o BRT, inauguração ou lançamento de novos campi. O ministro dos Direitos Humanos do senhor, Silvio de Almeida, acusado de assédio moral, assédio sexual, e segundo a denúncia, a ministra não falou até agora, até a acusação da ministra Anielle, ministra da Igualdade Racial.
A gente está vendo informações de que o senhor teria uma reunião nessa tarde de hoje com os dois, com o ministro Silvio, com a ministra Anielle, para tomar uma decisão: fica, não fica. Nós temos inclusive alguns analistas políticos do Brasil falando que a gente tem uma indicação através de uma foto publicada hoje pela sua esposa, a primeira-dama Janja, que ela posta uma foto com a Anielle e aí as pessoas falam: não tinha nem motivo para postar. Mas está lá a foto. É um indicativo do que pode acontecer hoje à tarde, presidente?
Presidente Lula: Olha, o motivo de uma foto da Janja com a Anielle é a demonstração inequívoca de que as mulheres estão com as mulheres. E é o normal. Não tem uma mulher que fique favorável a alguém que seja denunciado de assédio. Então, o que vai acontecer? Eu fiquei sabendo disso ontem, pedi ao ministro advogado-geral da União [Jorge Messias] e ao Vinícius [Marques de Carvalho], controlador-geral da União, pedi ao ministro da Justiça que conversasse com as pessoas até eu chegar hoje às 14h30.
O que eu posso antecipar para você, Edmilson, é o seguinte: alguém que pratica assédio não vai ficar no governo. Eu só tenho que ter o bom senso aqui, é preciso que a gente permita o direito à defesa. A presunção de inocência, ele tem direito de se defender. Nós vamos colocar a Polícia Federal, o Ministério Público, a Comissão de Ética da Presidência da República para investigar. Porque, veja, eu estou numa briga danada contra a violência contra as mulheres. O meu governo tem uma prioridade em fazer com que as mulheres se transformem, definitivamente, numa parte importante da política nacional. Então, eu não posso permitir que tenha assédio.
Ora, então, é o seguinte, nós vamos ter que apurar corretamente, mas eu acho que não é possível a continuidade no governo, porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso, à defesa das mulheres, à defesa, inclusive dos direitos humanos, com alguém que esteja sendo acusado de assédio.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): No mínimo, né, presidente, poderia ter um afastamento, aí vai ter lá os processos dos diversos organismos que a gente tem na Justiça, na Comissão de Ética da Presidência. Provou a inocência, pode voltar com ele.
Presidente Lula: É isso que eu vou decidir hoje à tarde. Primeiro, eu vou conversar com meus três ministros, vou conversar com mais duas mulheres que estão no governo, que são ministras, e depois eu vou conversar tanto com o Silvio quanto com a Anielle, e vou tomar a decisão. Porque é o seguinte, o governo precisa de tranquilidade. O país está indo bem, as coisas estão funcionando bem, a economia está crescendo, o emprego está crescendo, o salário está crescendo, o nosso comércio exterior está crescendo. Só de mercados novos para os produtos brasileiros foram abertos 183 novos mercados em apenas 19 meses.
Eu não vou permitir que um erro pessoal de alguém ou um equívoco de alguém vá prejudicar o governo. Nós queremos paz e tranquilidade. E assédio não pode coexistir com a democracia, com respeito aos direitos humanos e, sobretudo, com respeito ao subordinado.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Vamos falar então desses bons números da economia, presidente. O PIB surpreendeu, o índice que foi divulgado há pouco. Buscam explicar: foi sorte? Inclusive, da expectativa do senhor com relação a essa mudança na gestão do Banco Central no ano que vem.
Presidente Lula: Olha, tem algumas coisas que a gente tem que ter consciência do que vai acontecer no Brasil. Em janeiro de 2023, eu fui a Hiroshima participar do encontro do G7. Ao chegar lá, eu encontrei com a diretora-geral do FMI e ela veio me dizer que a economia brasileira ia crescer só 0,8%, não sei das quantas e tal. Eu falei para ela: olha, eu queria lhe dizer que a senhora está 100% equivocada. A economia brasileira vai crescer mais. E nós crescemos 4,3%.
Agora, no começo do ano, outra vez, os sabidos, os especialistas desse país começaram a dizer que a economia ia crescer 0,8%. Como nós crescemos no segundo trimestre 1,4%, dá um crescimento de mais de 3,4% no ano, o que seria o segundo maior crescimento do mundo. Ou seja, não é que é um grande crescimento, é que diante da crise que o mundo atravessa, é um bom crescimento.
E eu tinha certeza que isso ia acontecer. Eu tinha certeza, sabe por que eu tinha certeza? Porque o dinheiro começou a circular. Eu vou dizer uma coisa, Edmilson e Diego, para vocês. Quando eu saí da Presidência da República em 2011 e eu comecei a viajar o mundo para fazer palestra, todo mundo que perguntava para mim: “presidente Lula, qual foi o sucesso do seu governo?”, eu dizia: o sucesso do meu governo se deve ao fato de que o pobre deixou de ser problema e passou a virar solução, quando nós incluímos o pobre no orçamento da União.
O que está acontecendo agora é exatamente isso. Qualquer empresário, qualquer empresário de qualquer parte do mundo, ele só vai investir se ele fizer pesquisa de mercado e naquele lugar tenha possibilidade de consumo do produto que ele fabrica, senão ele não vai fazer um frigorífico onde não se come carne. Ele não vai vender gasolina onde não tem carro. Ele não vai fazer as coisas se não tiver consumo, então as pessoas precisam compreender.
Durante muito tempo teve uma briga imbecil nesse país. “Ah, o Lula defende muito o consumo, o Lula precisava defender a industrialização, ele estava defendendo muito o consumo”. Olha, eu defendo o consumo porque somente com o consumo é que vai ter industrialização. Somente quando o povo tiver o direito de comprar, ele puder se vestir bem, se calçar bem, comprar material para os filhos de boa qualidade, fazer sua casinha, ele vai comer melhor, vai ter uma geladeira, é isso que gera consumo, é isso que gera riqueza.
Então o que está acontecendo é o seguinte. Vocês são jornalistas, vocês podem contratar o melhor professor de economia da Universidade Federal aqui, mandem fazer qualquer pesquisa para saber a quantidade de dinheiro que está circulando, do Banco do Nordeste, do Banco da Amazônia, do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. A quantidade de coisas que estão circulando nesse país, o chamado.
As pessoas gostam de discutir macroeconomia, mas o que faz esse país crescer é a chamada microeconomia. E eu dou um exemplo de economia, agora virei professor de economia, e eu só tenho uma tese que é a seguinte: muito dinheiro na mão de poucos significa concentração de miséria, sabe, para a maioria do povo. Ou melhor, significa concentração de riqueza para os poucos e miséria para os muitos.
Agora veja o contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário, significa distribuição de renda, significa aumento do consumo, significa geração de emprego. Se você quiser fazer um exemplo, você pega um pacote de 10 mil reais e vai numa assembleia de mil pessoas e pega aqueles 10 mil reais e dá para uma pessoa só, o que é que vai acontecer? Aquela pessoa vai correr para o banco, vai depositar aquilo na conta que vai lhe render mais e vai ficar vivendo dos juros. Agora faça o contrário, pegue esses 10 mil reais, dê, quem sabe, 100 reais para cada pessoa para ver o que é que vai acontecer.
Cada pessoa que pegar os 10 reais vai no supermercado, vai numa padaria, vai comprar alguma coisa para dentro de casa, o dinheiro começa a circular e ele volta, 34%, volta para o próprio Estado. Então é preciso a gente ser simplista quando se trata de economia: o dinheiro tem que circular, o dinheiro tem que passar pela mão do povo. Quando o povo tem possibilidade de consumir, a economia dá certo e é isso que está acontecendo no Brasil.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, quando nós anunciamos na Rádio Difusora de Goiânia que o presidente Lula iria conceder uma entrevista para a gente, nós recebemos uma série de perguntas da população falando: “olha, pergunta para o presidente Lula isso”. E nós tivemos um ouvinte que pediu assim para perguntar para o presidente Lula: “presidente Lula, falando em dinheiro, o senhor garantiu que não teria cobrança de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais até o final do mandato. Vai cumprir essa promessa?
Presidente Lula: Vou cumprir essa promessa. Em 2026, na hora que for mandado o Orçamento para o Congresso Nacional, estará lá a rubrica de que quem ganha até 5 mil reais não pagará imposto de renda. Isso é um compromisso que eu tenho ao longo da minha história, porque nós precisamos aos poucos fazer uma inversão. Hoje, proporcionalmente, a pessoa que ganha 3 mil reais, 4 mil, paga proporcionalmente mais imposto do que um rico. Eu vou te dar um exemplo.
O trabalhador, ele trabalha e no final do ano ele recebe participação no lucro da empresa. Ganha 10 mil, 15 mil de participação no lucro. O imposto de renda vai lá e cobra 27% dele. Agora veja o contrário. Os acionistas da Petrobras receberam 45 bilhões de dividendos. Sabe quanto Imposto de Renda eles pagaram? Zero. Então alguma coisa está errada. O cara que recebe bônus, o cara que recebe dividendos, e você sabe que no Brasil tem muita gente vivendo de dividendos, essa gente não paga imposto. Agora o pobre, você, por exemplo, você, Edmilson, você, Diego, recebe um contracheque no final do mês, está lá o descontinho do seu Imposto de Renda.
Não tem nem como reclamar, não tem nem como reclamar. Agora o cara que vive de bônus, o cara recebe, o cara trabalha no banco, ganha 2 milhões de bônus no final do ano, zero de imposto de renda. A coisa é tão maluca nesse país que veja uma coisa. Um cidadão nos Estados Unidos, se ele tiver um patrimônio, quando ele deixar a herança, a herança paga simplesmente 40% de imposto de renda. Aqui no Brasil é só 4%. Como o pobre não tem herança...
E é engraçado porque só o pobre casa com comunhão de bens. Você reparou, eu fiquei… Rico não casa com comunhão de bens, rico faz contrato. Agora o pobre que não tem nada para repartir, ele casa com comunhão de bens, quem sabe para dividir a despesa, porque se a mulher não trabalhar para ajudar no orçamento familiar, é um miserê só na nossa vida. Então o que nós queremos, Diego e Edmilson, é tentar mudar um pouco a fisionomia desse país. Esse país é muito grande. Esse país tem um potencial extraordinário de crescimento.
Eu já provei no primeiro mandato, eu já provei que a gente pode fazer com que os pobres comam. Eu vou te dar um exemplo: nós acabamos com a fome nesse país, reconhecida pela FAO em 2014, no governo da Dilma. Quando eu voltei, 15 anos depois, a gente tinha 33 milhões de pessoas passando fome. Em um ano e nove meses, já tiramos 24 milhões e meio da fome e terminarei o meu mandato de 2006 com zero de pessoas com fome nesse país. Com zero. Porque é sagrado na Bíblia, é sagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e é consagrado na nossa Constituição: todo mundo tem direito a tomar café, almoçar e a jantar todo dia.
E é o Estado que é o responsável de garantir isso. Ou gerando condições para as pessoas estudarem, ou gerando condições de ter emprego, ou o Estado tendo política social para garantir que nenhuma criança vá dormir nesse país sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um café com pão com manteiga para comer.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, vamos falar um pouquinho aqui do nosso estado de Goiás, do investimento que o Governo Federal faz no nosso estado, para a gente falar de obras, até falar do BRT. Antes, presidente, uma pergunta mais na área política. Nós temos um governador aqui que ele mesmo se reconhece como um governador de direita. O senhor é um presidente de esquerda. Como é que é essa convivência, Lula - Ronaldo Caiado?
Presidente Lula: Primeiro, eu queria te dizer que eu conheço o Caiado desde a Constituinte de 1988, quando o Caiado era muito jovem e era o grande líder da UDR nesse país. Era o Caiado que instigava o agronegócio, uma parte da sociedade contra os Sem Terra, contra o PT, contra a CUT. Então eu conheço o Caiado muito, inclusive quando o Caiado dizia que não queria ser político. “Eu não gosto de político, eu não vou ser político”. A primeira coisa que ele fez foi ser candidato a presidente em 89.
De lá para cá, eu acho que o Caiado amadureceu muito. Ele foi um senador atuante e eu acho que é um governador muito civilizado. Eu, sinceramente, não tenho queixas na minha relação com o Caiado. Eu não peço para ele falar bem de mim, ele não tem que pedir para eu falar bem dele. Ele tem um pensamento ideológico, eu tenho outro. Mas acontece que ele é o governador do estado e eu sou o presidente da República. Nós temos que ter uma relação civilizada, nos tratar com respeito, porque quem ganha isso é o povo. Eu não posso admitir que a gente vá no estado e o governador não esteja presente.
Eu convido todos os governadores, todos, todos, todos, sem distinção. Governadores e prefeitos. Pode ter falado mal de mim na semana passada, se eu for no estado dele, ele será convidado como um ente federativo que tem voto, que foi eleito e, portanto, eu tenho que respeitar. Porque essa é a relação que nós precisamos no Brasil, uma relação civilizada, em que os opostos possam conversar, os opostos possam trabalhar juntos em alguns projetos.
E eu, sinceramente, essa pergunta que eu fiz para você, essa pergunta que eu fiz: me mostra uma obra do Bolsonaro. Eu quero falar para o Caiado quando eu encontrar com ele, porque eu vou convocar o Caiado e vou convocar os outros 26 governadores de estado dentro de no máximo 15 dias, porque eu quero fazer um Plano de Segurança Pública nesse país e quero fazer em parceria com os 27 governadores, como fizemos o PAC. Você está lembrado que, em janeiro, eu convoquei uma reunião com os 27 governadores e fiz uma pergunta para todos: eu quero que vocês me digam quais são as obras prioritárias para vocês. E todos eles mandaram proposta e todas as propostas foram aceitas.
Aqui para Goiás, o PAC em investimento total, não só em obra direta, mas em obras na fronteira com os outros estados, o PAC aqui são 67 bilhões de reais e já foram executados 12 bilhões de reais. Eu poderia fazer uma outra pergunta para você, Edmilson e Diego, uma pergunta que eu faço também em qualquer estado. Presta atenção no que eu vou falar.
Vocês podem pesquisar, vocês podem estudar e depois me dar a resposta. Eu duvido que, em algum momento da história do Brasil, um presidente da República colocou no estado de Goiás a quantidade de dinheiro que eu e Dilma Rousseff colocamos. Vou repetir, eu duvido que, em algum momento da história do Brasil, um presidente da República colocou tanto dinheiro em investimento de infraestrutura e política social como nós colocamos aqui.
E eu falo isso no Rio Grande do Sul, eu falo isso em São Paulo, eu falo isso para o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Eu duvido que tenha na história de São Paulo um presidente da República que passou a quantidade de dinheiro. Eu lembro que o Fernando Henrique Cardoso não conseguia sequer fazer empréstimo do BNDES para o Mário Covas e agora, só com o Tarcísio, eu tenho 14 bilhões de [reais em] obras que nós vamos financiar.
O Tarcísio é meu opositor, o Tarcísio pode ser o que quiser, mas ele é governador de São Paulo, ele tem que ser tratado com respeito, porque eu tenho que respeitar é o povo de São Paulo, que, independentemente de quem ele votou, ele merece ser tratado com respeito. É assim que eu faço política, é assim que eu trabalho. Eu não pergunto qual é a religião do governador, do prefeito, eu não pergunto qual é o time que ele torce, eu não pergunto se ele é de que partido.
Eu quero saber o seguinte, você é governador, eu trato com respeito. E, nesse aspecto, o Caiado tem tido um comportamento exemplar.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Presidente, o senhor vem hoje a Goiânia para uma entrega, que é a obra do BRT, que beneficia Goiânia, Aparecida de Goiânia, mas que demorou 12 anos para ser entregue. Será que essas diferenças aí de governo ao longo dos anos ajudam a entender por que uma obra tão importante demorou tanto para ser entregue?
Presidente Lula: Ô, meu caro Diego, se eu falar para você, você vai ficar estarrecido. Nós voltamos à Presidência da República e, hoje, eu tenho viajado ao Brasil, eu tenho entregue conjunto habitacional que tinha sido começado a ser feito em 2013. Eu tenho inaugurado hospital universitário que tinha começado a ser feito em 2012, 2011, 2008. Eu tenho inaugurado, porque eles deixaram 6 mil obras paralisadas na questão das escolas, mas outras milhares de obras na saúde e um monte de obras de infraestrutura que eles não mexeram. Olha, é um absurdo, é um absurdo. Eu tive problema com o aeroporto aqui de Goiânia, eu não esqueço.
Eu tive problema com o aeroporto de Goiânia, eu tive problema com o aeroporto do Espírito Santo e esse BRT parou, eu tenho que perguntar por que ele parou. Porque ele começou, e era para ter terminado, como a Transnordestina que eu comecei para entregar em 2012 e agora eu vou entregar, porque ela foi paralisada, porque o cidadão que governou esse país não governou. Essa é a verdade, esse país ficou abandonado, ficou um barco à deriva, porque a única coisa que funcionava era o gabinete do ódio, em que se mentia, se ofendia todo mundo a todo instante.
E eu tenho que pegar essas obras e recuperar, então eu vou recuperar muitas coisas que eu comecei a fazer e é com muito orgulho que eu venho inaugurar o BRT. São os primeiros 17 quilômetros, vou inaugurar e espero que seja resolvida a pendenga que tem da construção do segundo que nós vamos também querer terminar. Porque obra parada custa muito caro ao povo e custa muito caro ao Estado. Ela funcionando, gera emprego e quando estiver pronta, vai significar melhoria de conforto para a sociedade de Goiânia. Então, Goiânia é uma cidade grande, quase com 1 milhão e 400 mil habitantes, 1 milhão e meio, é uma cidade que precisa ter uma mobilidade muito grande para que o povo tenha mais conforto.
Então, eu sei que o Renanzinho já veio aqui inaugurar várias BRs, sabe, e eu posso te dizer isso porque esse é um compromisso nosso: é fazer com que esse país atinja um padrão de país desenvolvido, um país respeitado. Não sei se você está lembrado, em 2006, em 2008, a gente chegou a ser a sexta economia do mundo, quando eu peguei de volta era a 13ª e já somos a oitava e vamos voltar para a sexta. Eu vou dar um dado para você que você vai ficar estarrecido.
Em 2012, esse país vendia 3 milhões e 800 mil carros por ano. Quando eu voltei, 15 anos depois, esse país só vendia 1 milhão e 800 mil carros, menos da metade. Onde foram esses trabalhadores? Por que parou a venda de carro? Ora, parou porque caiu a renda do povo, porque na hora que o povo está tendo renda. Nós agora estamos em uma situação privilegiada, 90% das categorias profissionais tiveram aumento real acima da inflação. O salário mínimo já teve dois aumentos acima da inflação e vai ser assim daqui para frente.
Não adianta falar: “o Lula não pode aumentar o salário mínimo, porque vai pagar para os aposentados”. Ora, o salário mínimo é o mínimo do mínimo. Ora, a gente dá a recuperação do que foi inflação, a reposição inflacionária, mas aí a economia cresce 3%. Por que a economia cresceu? Porque o Lula é bonito? Não. A economia cresceu porque o povo é trabalhador.
Então é justo que eu pegue esse PIB, que é o crescimento da economia, que é resultado da produção de todo mundo, e divida para esse povo, que ele tem uma participação. Então como é que eu vou deixar de dar aumento para o salário mínimo? Aí o tal do mercado financeiro de vez em quando fala: “não, mas aí vai aumentar o gasto do governo”. E eu digo sempre: salário não é gasto. A pergunta que eu te faço, Edmilson, é a seguinte: quando essa Rádio Difusora te dá um aumento, é gasto ou é investimento?
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): O melhor investimento que ela faz, o melhor investimento que ela faz.
Presidente Lula: É investimento porque ela está primeiro reconhecendo o teu trabalho, segundo ela quer que você seja mais eficiente, que você goste mais do seu trabalho e que faz um trabalho melhor. Então é preciso parar com essa bobagem. O que é gasto nesse país é que em 10 anos a gente pagou 4 trilhões e 700 bilhões [de reais] de juros.
Isso é gasto. Agora, aquilo que a gente investe na saúde, aquilo que a gente investe na educação, não tem investimento melhor do que a educação. Quando você forma uma pessoa, que ele tem um diploma, que ele tem uma profissão, um título de doutor, ele é um ativo do país, é uma coisa extraordinária para o país, Então, nós temos que parar com essa bobagem que os donos do mercado criaram.
Tudo que você faz fora de pagamento da taxa de juros é gasto, tudo, tudo, vai investir. Nós agora aprovamos mais três Institutos Federais para Goiás. Mais três institutos. E vamos fazer isso porque, para mim, a educação é a única possibilidade que nós temos desse país um dia ser um país exportador, não apenas de carne, não apenas de soja, não apenas de milho, não apenas de minério de ferro, mas que seja um país exportador de conhecimento, de inteligência, porque é isso que vai dar futuro para o Brasil.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Falando em carne, falando nessas exportações, quando a gente fala do aumento do PIB, a gente fala da economia do Brasil crescendo tanto, a gente lembra do agronegócio. Goiás tem essa marca nacionalmente aí do agronegócio. E quando o presidente Lula foi candidato, quando venceu a eleição, a gente escutava muito “ah, mas o presidente Lula e o agronegócio não se dão bem, agora o agronegócio vai ter toda uma dificuldade a mais no governo do presidente Lula”. Está resolvido isso, presidente? O presidente Lula e o agronegócio, para a Janja não ficar com ciúme, mas estão em lua de mel?
Presidente Lula: Olha, eu não diria que a gente está em lua de mel, porque a razão pela qual uma parte do agronegócio rejeita o PT não é por uma questão de dinheiro ou financeira, é por uma questão ideológica. Há quantas décadas os Sem Terra não invadem uma terra produtiva nesse país? Entretanto, o agronegócio tem ódio dos Sem Terra, que são tão úteis ao Brasil quanto o agronegócio, porque um produz com coisa qualidade e facilita com que o Brasil ganhe mercado para exportação, e os outros, se você pegar quase 5 milhões de pequenas propriedades até cem hectares, é essa gente que produz os alimentos que nós comemos, que produz o frango, que cria o porco, que planta pepino, que planta cebola. São todos pequenos proprietários, e essa gente é importante.
Eu não faço distinção, eu acho que eu estou favorável que os dois convivam harmonicamente e democraticamente. Então eu tenho dito o seguinte, é um ódio, é uma discordância ideológica, ela não tem nada de financeira, porque é um outro dado que vocês podem pegar aqui com o governo do estado, vocês podem pegar com a universidade. Exatamente no governo do PT, Lula 1, Lula 2, Dilma 3 e Lula 4, exatamente no governo, é o momento em que o agronegócio teve o Plano Safra maior da sua história.
Eles não podem esquecer que em 2008 eu fiz uma medida provisória de 778 bilhões de reais para salvar o agronegócio desse país. Eles sabem disso. Então o problema deles comigo não é falta de dinheiro, o problema deles é o seguinte, é ideológico, é preconceito.
E eu convivo com isso tranquilamente, eu vou continuar fazendo o que eu acredito que é possível fazer, porque independentemente da pessoa não votar em mim, eu estou trabalhando para o Brasil, não estou trabalhando para as próximas eleições. E vou continuar fazendo, e é por isso que eu estou aqui hoje, para anunciar coisas que outros governos deveriam ter anunciado. Estou aqui fazendo uma coisa que eles poderiam ter inaugurado, mas não inauguraram porque não trabalharam.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Antes do senhor anunciar essas obras, eu quero trazer aqui ouvintes, porque quando a gente anunciou que ia conversar com o presidente, trouxeram aqui reclamações, e eu vou sintetizar aqui a fala da Luzia Soares e da Carla. Carla inclusive que é deficiente visual, falando da situação das mulheres que são assistidas em situação de vulnerabilidade social, algumas que não têm ainda acesso ao Bolsa Família e outras que estão perdendo o benefício por conta do pente fino. O que dizer para essas situações, presidente?
Presidente Lula: Olha, eu vou dizer duas coisas. Primeiro, quem faz a inscrição para participar do Bolsa Família não é o Governo Federal. O Governo Federal paga. Quem faz a inscrição das pessoas são as prefeituras. Segundo, o que a gente tem que fazer de tempos em tempos? Você tem que fazer uma operação, nós chamamos de operação pente fino, para a gente saber se as pessoas que perderam o direito ao benefício estão recebendo.
O que é o ideal é que chegue um determinado momento em que a pessoa está ganhando além daquilo que a gente projetou, que é a linha de corte para a pessoa receber o benefício, você tem que tirar quem está mais para colocar quem está menos. Eu sei que é sempre desagradável alguém ser cortado, mas a pessoa já atingiu uma renda que não precisa mais do Bolsa Família, nós temos que tentar substituí-lo por uma pessoa que precisa e que ainda não entrou.
O que eu posso dizer para vocês é que o nosso cuidado com o povo brasileiro é uma coisa que está na minha origem. Ou seja, o Brasil poucas vezes teve um presidente que enxergasse a invisibilidade do povo pobre desse país. Então, hoje, nós temos quase 22 milhões de pessoas recebendo o Bolsa Família. Nós já tiramos 24 milhões da fome e, mais importante agora, vamos criar um programa do gás, em que as pessoas vão receber o gás, vai sair de 5 milhões de pessoas para 22 milhões de pessoas que vão receber o gás.
E vamos continuar cuidando disso. Obviamente que o mundo que eu sonho não é o mundo em que a gente precisa dar esse... O mundo que eu sonho é que todo mundo tenha um emprego e possa viver do seu emprego, do seu trabalho, do seu suor. Mas eu queria dizer para as mulheres que nós temos uma relação muito privilegiada com as mulheres.
O Minha Casa, Minha Vida, quase todas as escrituras são feitas em nome da mulher. O Plano Safra, nós temos o Plano Safra Mulher também, ou seja, para garantir que a mulher seja o sujeito da história, que ela seja a mais importante. Então, eu tenho um privilégio de dizer para as companheiras que fizeram a pergunta e que podem ter certeza que o meu governo leva muito a sério essa questão da mulher.
Primeiro, a minha luta contra a violência contra a mulher. Segundo, a minha vontade que as mulheres tenham uma profissão, porque as mulheres tendo uma profissão, elas não ficam dependendo de um marido que às vezes até maltrata ela. Ela não fica dependente de uma pessoa porque coloca o almoço dentro de casa. Eu sei, por exemplo, da minha mãe. Minha mãe teve a coragem de largar do meu pai, com oito filhos pequenos e nunca mais voltou e criou os oito filhos. E fez até o caçulinha dela virar presidente da República.
Então, eu digo para as mulheres: podem ter certeza que nós temos vocês na primeira conta. Todo e qualquer benefício nosso em primeiro é a mulher. E, sobretudo, agora que eu estou empenhado numa luta contra a violência contra a mulher, contra o aumento do feminicídio, para que a mulher seja tratada com respeito.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente Lula em Goiânia hoje. Daqui a pouquinho a gente vai ali para o lado aqui de onde a gente está que vai ter a inauguração oficial do BRT. Presidente, a gente está chegando aqui ao final do tempo combinado com a sua assessoria de 40 minutos. Nós cumprimos o tempo. Nós aqui na Difusora cumprimos o trato. E aí, presidente, nós precisamos falar um pouquinho da relação do presidente Lula, da relação do Brasil também, com a Venezuela. Tem gente que fala assim, ó: por que o presidente Lula não chama aquilo lá de ditadura? E aí eu pergunto para o presidente Lula, aquilo é uma ditadura, é uma democracia ou é um rolo que não dá para definir hoje, presidente?
Presidente Lula: Eu acho que é mais um rolo. Eu quero te agradecer essa pergunta, porque eu convivo com a Venezuela desde que eu tomei... Na verdade, eu comecei a conviver com a Venezuela quando o Fernando Henrique Cardoso ainda era presidente, porque no final do governo do Fernando Henrique Cardoso, teve uma greve na empresa de petróleo da Venezuela e o Chávez pediu um navio de gasolina. Eu já tinha sido eleito, mas não tinha tomado posse, e o Fernando Henrique Cardoso pediu para o Chávez ligar para mim, porque ele não podia permitir o navio de gasolina sem a minha autorização.
Eu comecei a ter relação com a Venezuela aí. Depois eu tive uma grande relação com a Venezuela. Nós tivemos um superávit comercial de quase 5 bilhões de dólares com a Venezuela. A Venezuela consumia tudo o que a gente produzia nesse país. Depois o Chávez morreu, entrou o Maduro e as coisas começaram a ter um comportamento diferenciado. Quando o Maduro tomou posse pela primeira vez, eu mandei uma carta para ele pela presidenta Dilma, tentando dizer para ele como é que ele deveria proceder para aproximar ele à oposição.
Quando eu tinha 15 dias de mandato em 2003, eu criei um grupo de amigos da Venezuela para tentar fazer com que o Chávez pudesse governar da forma mais civilizada, democrática, e conseguimos paz durante alguns anos, inclusive um referendo, que foi feito na Venezuela. E coloquei no grupo de amigos os Estados Unidos e a Espanha, que os venezuelanos do Chávez odiavam. E por que eu coloquei? Porque a oposição gostava deles, e a gente só ia encontrar paz se a gente conversasse entre a situação e a oposição.
Eu, agora, não reconheci o resultado eleitoral na Venezuela, apenas exigindo que o Maduro tivesse entregado as atas para o Conselho Nacional Eleitoral, que tinha três membros do governo e dois da oposição. Ele preferiu não passar pelo colégio eleitoral e foi direto para a Suprema Corte. Então, eu me senti no direito de dizer que não reconhecia aquilo, porque não estava correto, como eu também não reconheço o fato que a oposição ganhou.
Ali só tinha uma solução, ou fazer uma nova eleição, ou fazer uma coalizão para que pudesse conviver democraticamente. Aqui no Brasil, o que aconteceu? Grande parte dos partidos que estão no meu governo não me apoiaram. E tem muita gente no meu governo porque, depois que eu ganho as eleições, eu tenho que governar. E para governar, eu tenho que ter maioria na Câmara e no Senado. E você veja, eu sou presidente de um partido que só tem 70 deputados em 513. E eu sou presidente de um partido que tem 9 senadores em 81. Então, eu tenho que conversar. E tenho que conversar com quem não votou em mim. Tenho que pedir voto.
E graças a Deus, até agora, aprovamos tudo que a gente queria no Congresso Nacional, inclusive uma Reforma Tributária que estava aguardando há 40 anos.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, a Venezuela pode não ser uma ditadura, mas parece, parece. Não parece, presidente? Parece uma ditadura, no mínimo.
Presidente Lula: Olha, eu acho que o comportamento do Maduro é um comportamento que deixa a desejar. Eu acho que, aqui no Brasil, a gente aprendeu a fazer democracia com muito sofrimento. E você veja que quando o cara é extremista, ele não aceita. O Bolsonaro ficou trancado dentro de casa chorando quase um mês, o que fazer para não deixar tomar posse. Como ele foi covarde, não teve coragem de assumir, foi embora para os Estados Unidos e deixou os bate-pau dele aí para ficar fazendo motim na porta dos quartéis militares na perspectiva de não deixar eu tomar posse. Iam fazer dia primeiro, mas não tiveram coragem, porque tinha muita gente. Aí esperaram o momento que a gente não estava mais esperando e resolveram dar um golpe.
Então, eu acho que o Maduro, como presidente, ele deveria falar o seguinte: “sabe de uma coisa, eu vou provar que eu sou o preferido do povo aqui, vou convocar uma nova eleição”. Mas ele não faz. Então, veja, nós estamos agora numa posição Brasil e Colômbia, a gente não aceitou o resultado das eleições, mas não vou romper relações. E também não concordo com a punição unilateral, o bloqueio. Porque o bloqueio não prejudica o Maduro. O bloqueio prejudica o povo. Eu acho que o povo não deve ser vítima disso.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Presidente, nós estamos chegando ao final da conversa, o senhor tem que seguir a agenda, tem que fazer anúncios, inaugurar o BRT, dar boas notícias para Goiás. Mas a Rádio Difusora, a TV Pai Eterno, a Rede Vale FM, são veículos de inspiração católica dos missionários redentoristas e nós queremos, como inclusive manda a Santa Igreja, rezar por aqueles que estão à frente do poder político para que governem com justiça.
E por isso, em nome do padre Marco Aurélio, que é o reitor do Santuário do Divino Pai Eterno, e a devoção querida do povo goiano, pedi ao padre Murilo para entregar aqui ao presidente Lula a imagem fac símile do Divino Pai Eterno, que é a expressão da fé do povo goiano para o Brasil, que possa abençoar, presidente, o seu trabalho à frente dos destinos do Brasil e trazendo aqui também bençãos para o estado de Goiás.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, entregando essa imagem para o senhor, a gente já faz aqui um apelo para a sua assessoria para que o presidente Lula possa vir visitar a nossa Romaria ao Pai Eterno. Sempre, ali no final do mês de junho, até o primeiro domingo do mês de julho, a maior festa religiosa da região Centro-Oeste do Brasil, uma das maiores do Brasil. Aguardo o senhor na Romaria, viu, presidente?
Presidente Lula: Obrigado pelo convite. Eu, sinceramente, espero que o meu assessor de gabinete, o chefe Marcola, está aqui, o meu chefe cerimonial, ouvindo o convite, eu espero que eles coloquem isso na agenda. Mas eu queria dizer para vocês dois que nós vamos não apenas anunciar o BRT, nós vamos anunciar três escolas, uma em Cavalcante, outra em Porangatu e outra em Quirinópolis, três institutos federais.
Um, a prefeitura deu o terreno, outra o proprietário deu o terreno, duas, na verdade, os proprietários deram o terreno para nós, terreno muito grande para que a gente faça um bom instituto. E eu acho que, além disso, a gente vai anunciar os projetos do Minha Casa, Minha Vida agora, porque os projetos do Minha Casa, Minha Vida agora vão ter biblioteca. Cada conjunto habitacional terá uma biblioteca, porque a gente quer que esse povo volte a ler, que esse povo volte a conhecer a nossa história, conhecer outras coisas para que o Brasil seja mais evoluído, que o Brasil seja mais culto, que a nossa juventude possa atender.
Nós agora vamos chegar a 3,6 milhões de jovens na escola de tempo integral. Nós agora fizemos um pacto com todos os governadores e prefeitos do Brasil para que a gente possa, até 2030, ter, pelo menos, no mínimo, 80% das crianças do ensino fundamental alfabetizada até o segundo ano da escola, para melhorar a vida e a oportunidade delas. E, ao mesmo tempo, nós criamos um programa Pé-de-Meia, que vocês não perguntaram, mas eu faço questão de falar.
O Pé-de-Meia é uma revolução na educação brasileira. Nós descobrimos que 480 mil jovens, quase meio milhão de meninos e meninas que estavam fazendo o ensino médio nas escolas públicas desistiam de estudar para ajudar no orçamento familiar. E eu acho que um país que deixa meio milhão de jovens por ano deixar de estudar, quando ele está na melhor fase de decidir o que ele quer ser na vida, é um crime.
Então, nós resolvemos criar um programa chamado Pé-de-Meia. É uma poupança que nós estamos fazendo. Está hoje atendendo quase 4 milhões de jovens, que é o seguinte: a gente vai dar 200 reais durante 10 meses para cada jovem. Se no final de 10 meses ele passar de ano e ele tiver comparecimento de 80%, ele vai receber mil reais. Então, são 10 de 200 e uma de mil. No segundo ano, a mesma coisa. No terceiro ano, a mesma coisa. Quando terminar o ensino médio, se ele poupou, ele vai ter 9 mil reais para seguir a vida dele. Esse é um programa que vai custar alguns bilhões de reais, mas é a segurança que eu tenho do investimento correto.
No estado de Goiás, nós vamos ter praticamente 92 mil alunos recebendo o Pé-de-Meia e só na cidade de Goiânia, nós vamos ter 12 mil estudantes recebendo o Pé-de-Meia. E a nossa ideia é que se os governadores quiserem complementar, a gente pode ultrapassar a linha de corte, que é o CadÚnico [Cadastro Único para Programas Sociais], e atender todas as crianças do ensino médio neste país, para que a gente tenha a garantia de que o futuro não é apenas mais um discurso, é uma realidade.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, obrigado por conversar mais uma vez com a Difusora Goiânia. Seja bem-vindo a Goiás. Não demore desse tanto de tempo mais para voltar aqui não, viu, presidente? Volta mais. Vem tomar café com a gente, comer pequi.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Comer pequi é bom.
Presidente Lula: Obrigado, Edmilson. Obrigado, Diego. Deixa eu te falar, o empadão. Empadão goiano. Eu comia muito aqui, faz tempo que eu não como empadão goiano. Espero que os meus amigos do PT me comprem empadão goiano.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Não é possível que vão deixar o presidente ir embora sem o empadão goiano. Lá no Palácio, presidente, lá tem um doce famoso, a Ambrosia. É famoso lá no Palácio.
Presidente Lula: Não sei se você conheceu, nos anos 80 e 90, aqui em Goiás, tinha um companheiro Aurélio, que era dono de posto de gasolina. E a esposa dele, a Sueli, tinha três filhos maravilhosos. Toda vez que eu vinha, eu ia dormir na casa do Aurélio. E lá a Sueli sempre comprava os empadão goiano para a gente comer. Depois morreu o Aurelio, depois morreu a Sueli, e eu perdi o contato.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): E perdeu o empadão goiano.
Presidente Lula: E perdi o empadão goiano.
Jornalista Diego (Rádio Difusora): Não tem cabimento.
Presidente Lula: Agora, você tem gente aqui que trabalha no Governo Federal, que trabalha com Padilha [Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais], que vai toda semana, que poderia ter, pelo menos, a gentileza de levar o empadão goiano. Eu vou voltar mais vezes ao estado de Goiás. Vou voltar mais vezes porque eu até quero ver se eu venho aqui fazer um comício para a minha candidata, para a Adriana Accorsi. Eu acho que a Adriana é uma pessoa que merece ser levada em conta pelo povo de Goiás e de Goiânia. Porque é uma menina bem preparada, além do que ela tem o histórico do pai, porque eu participei aqui da história do Accorsi.
O nosso governador deveria ser um menino. Acho que estava com cinco ou seis anos de idade. Mas a verdade é que o Accorsi ganhou as eleições em 1985. Eu vou contar uma história para vocês. Ele ganhou as eleições. Estava apurando e a gente estava ganhando. Aí, inventaram de parar a apuração e começava às oito horas da manhã. Os companheiros do PT concordaram. Vamos parar. Quando chegaram às oito horas da manhã, tinha sido apurado.
Aí, o Fernando Lyra era ministro da Justiça. Eu liguei para o Fernando Lira: Fernando Lira, pelo amor de Deus, aconteceu um roubo aqui contra o meu candidato a prefeito. Ele falou para mim, assim, cinicamente: “Ô Lula, já abriram as urnas?”. Eu falei: já e já contaram. “Então, não posso fazer mais nada”. Eu sei que é uma coisa que... Foi uma divergência que eu tive com ele. Depois, eu fiz uma bela relação com o Iris [Rezende, ex-governador de Goiás].
Mas a verdade, nua e crua, é que o Darci Accorsi foi roubado em 1985. Essa é a verdade. E hoje, eu acho... E ele foi, possivelmente, um dos melhores prefeitos da história de Goiânia. Depois, ele foi eleito por outro partido político. E a Adriana é uma menina extraordinária. Eu, sinceramente, acho que o povo de Goiânia pode fazer uma aposta extraordinária numa mulher competente. Ela foi delegada-geral aqui no estado de Goiás. Ela é uma defensora da criança, defensora da mulher. Portanto, eu acho que eu vou vir aqui fazer um comiciozinho para ela um dia desse aqui, que faz tempo que eu estou com vontade de subir num caminhão de som para fazer um comício aqui em Goiânia, que faz tempo que eu não faço.
Jornalista Edmilson (Rádio Difusora): Presidente, obrigado. Grande abraço. Seja bem-vindo. Volte mais vezes. Vamos lá para o inaugural BRT.
Presidente Lula: Obrigado, Edmilson. Obrigado, Diego. E obrigado aos ouvintes da Rádio Difusora.