Entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para radialistas de seis estados amazônicos
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - Vamos saudar o nosso presidente. Bom dia, presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Presidente Lula - Bom dia, Nonato. É um prazer participar desse programa, Nonato. E eu quero só começar dizendo o seguinte: vamos jogar o jogo da verdade aqui.
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - Vamos jogar.
Presidente Lula - Perguntem o que quiserem perguntar, querido.
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - Pois é, e eu vou começar essa rodada de perguntas fazendo a seguinte indagação ao senhor presidente: o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e o Governo do Estado do Pará anunciaram um pacote de R$ 5 bilhões em investimentos no Pará para projetos estratégicos em função da COP-30, que será realizada em Belém, no ano de 2025. Muito bem. A pergunta é a seguinte: de que forma os povos amazônidas serão beneficiados com esses investimentos? O que vai ficar, presidente Lula, de legado para nossa população da Amazônia?
Presidente Lula - Olha, primeiro, Nonato, só tem sentido você fazer esses investimentos se for para beneficiar o povo do Amazonas. Senão, não há sentido fazer investimento de 5 bilhões, para quê? Não é apenas para receber visitantes, é para melhorar as condições de trânsito, melhorar as condições de transporte, de moradia, de saneamento básico, ou seja, é um processo de investimento em infraestrutura que vai servir para a COP, mas vai servir para o estado do Amazonas, o do estado do Pará, vai servir para o estado de Rondônia, vai servir... Porque é um, é um grande investimento. Nós vamos lançar dia 11, no Rio de Janeiro, Nonato, e eu acho que você deveria acompanhar atento, é porque nós vamos lançar um grande programa de investimento em infraestrutura e dentro deste programa de infraestrutura está o projeto da COP-30, que será realizada no estado do Pará, em Belém, em 2025.
É um movimento extraordinário, é muito envolvimento. Nós sabemos das dificuldades da cidade, mas nós queremos contribuir para melhorar as condições do povo do Amazonas e, melhorando a condição do povo da Amazônia, a gente vai poder realizar uma COP muito mais extraordinária porque tudo que a gente fizer de benefício vai ficar como legado para o povo do Estado do Pará.
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - É quando o senhor fala de Amazonas, o senhor está falando, evidentemente, da Amazônia como um todo, de todos os estados da Amazônia Legal.
Presidente Lula - Falando de todos os estados da Amazônia.
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - Muito bem, presidente. Agora, nós vamos, senhor presidente, ao estado do Acre. O bom dia para Júnior César, da Rádio Difusora AM do Acre. Bom dia, Júnior.
Júnior César - Bom dia, Nonato; bom dia aos amigos de toda a nossa querida Amazônia; bom dia aos demais colegas. Nós estamos na nossa rede de rádios, estamos aqui em 13 emissoras, presidente. São sete emissoras FM e mais cinco emissoras AM nesse momento. Falamos aqui para parte da Bolívia e parte do Peru, a chamada Tríplice Fronteira, e parte dos estados de Rondônia e Amazônia, nossos vizinhos. Presidente, o senhor conhece o estado muito bem, pois conviveu com Chico Mendes [ativista ambiental falecido], tem dois acreanos no seu ministério, integrantes da sua equipe: o ex-governador e senador Jorge Viana; e também a ministra Marina Silva. E, presidente, a preocupação é geral no país em todo no que diz respeito à violência, sempre foi uma pauta nacional pela entrada de drogas pelas nossas fronteiras isso acaba ficando ainda mais difícil de ser combatido. Em todo o país, em especial aqui no Acre, onde nós fazemos essa Tríplice Fronteira, que eu acabei de citar, nós temos aí dois países produtores de entorpecentes, infelizmente, né, é uma realidade.
O governador do Estado do Acre, Gladson Cameli, defende evidentemente uma parceria com o Governo Federal, o qual ontem tivemos aqui, inclusive, a entrega de viaturas, por parte do Ministério da Justiça, armas e munições, equipamento de proteção. Há pouco mais de um mês, o ministro Flávio Dino [ministro da Justiça e Segurança Pública] teve aqui na Tríplice Fronteira participando de uma reunião e discutindo como melhorar essa segurança na fronteira e tentar barrar qualquer tipo de entrada de entorpecentes ou equipamentos ilícitos. Eu pergunto ao senhor presidente, o caminho é esse mesmo envolver todos, ou seja, o governo federal, governos estaduais e os municípios? Bom dia, presidente.
Presidente Lula - Bom dia, Júnior César; bom dia, povo do Acre. O objetivo é esse mesmo. Veja, nós queremos não apenas envolver os municípios e os estados, mas nós queremos envolver os países fronteiriços. O Flávio Dino apresentou uma proposta que vai ter uma base da Polícia Federal em Manaus, que vai ter uma atuação em todo, em todo, o território amazônico, em todo. E a gente quer combinar, inclusive, com a participação das Forças Armadas, a gente quer combinar com os ministros da Defesa dos países vizinhos fronteiriços e a gente quer combinar com as polícias também dos outros países. Porque não é apenas a questão do tráfico, a questão do crime organizado que tem tomado conta de muitas regiões da nossa querida Amazônia. E nós vamos, então, ser muito duros com isso. Nós vamos agora, você está acompanhando, vamos ter um grande encontro com oito presidentes amazônicos em Belém que começa dia sete, na verdade, começa no sábado já.
Mas nós vamos fazer um grande debate, vamos tentar convencer os nossos parceiros de que nós precisamos trabalhar de forma unida, de forma coesa para que a gente possa combater o crime organizado, o narcotráfico e para que a gente possa cuidar do nosso povo que moram nas florestas, dos nossos ribeirinhos, dos nossos indígenas, dos nossos pescadores. Ou seja, nós temos obrigação de ter consciência que cuidar da Amazônia não é apenas cuidar da floresta, é cuidar do povo amazônico que precisa viver com muita qualidade de vida, que precisa viver bem. Esse é um trabalho muito intenso que tá começando agora. Nós vamos ter reunião dos ministérios da Justiça de todos os países, depois nós vamos ter reunião dos ministérios da Defesa, depois nós vamos ter reunião dos Ministérios do Meio Ambiente, depois nós vamos ter reunião dos ministérios de políticas sociais, depois nós vamos ter reuniões das polícias de todos esses países para que a gente, de forma conjunta e coesa, pela primeira vez, assuma a responsabilidade de combater o narcotráfico, combater o crime organizado e combater a miséria e as coisas ilegais, desmatamento ilegal; madeira, os madeireiros que agem ilegalmente; garimpeiro, tudo isso nós vamos combater, porque nós vamos exigir a legalidade e o respeito ao povo do Amazonas.
Nonato Cavalcante (Rádio Clube do Pará) - Agora, nós vamos ao estado do Amazonas. Bom dia, Valdir Correia, Rádio Difusora FM.
Valdir Correia - Bom dia, presidente Luiz Inácio Lula da Silva; bom dia a todos colegas da rede. Eu diria inicialmente, senhor presidente, que vai para a história esse pool de emissoras hoje. É a primeira vez ao longo da minha vida que eu vejo a Amazônia ser tratada com tanta responsabilidade. Nós precisávamos trazer para o povo brasileiro o que representa a Amazônia. Muitos não conhecem, presidente, o que é a Amazônia de fato. Quando viajamos: "ah, você é lá da Amazônia". Eu disse "não, nós somos do Amazonas, faz parte da Amazônia". E muitos pensam, presidente, o senhor sabe disso, de que a Amazônia é o Amazonas. A Amazônia, ela abrange países do Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, se eu não estiver enganado, depois os colegas vão me corrigir, por tabela.
Presidente Lula - E a Guiana Francesa, Valdir.
Valdir Correia - E a Guiana Francesa. Muito bem. É preciso que se passe ao povo brasileiro neste momento histórico com o titular da nação, que é o senhor presidente, de que nós temos falado bastante, mas não explicamos pro povo o tamanho da Amazônia. O tamanho da Amazônia se fosse um país em território já seria o sexto país do mundo. Como esse pacto vem, e parabéns pela iniciativa do senhor, da sua equipe. Eu pergunto, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se o senhor já conversou com os representantes do Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela e no nosso lado Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Goiás e Tocantins? E realmente essa conversa já foi feita ou o pontapé vai se iniciar, realmente pra valer, a partir da próxima reunião? Bom dia, presidente.
Presidente Lula - Bom dia, Valdir, é um prazer imenso falar com você, falar com os ouvintes da Rádio Difusora do Amazonas. Olha, ô Valdir, tem uma coisa muito interessante que é o seguinte: a Organização do Tratado dos Países Amazônicos existe há 45 anos, mas é a primeira vez em 45 anos que nós vamos fazer uma reunião com a presença dos oito presidentes da República desses países. Eu convidei, inclusive, o Macron [Emmanuel Macron, presidente da França] para participar, porque o Macron deve saber que a Guiana, que a França faz divisa, faz fronteira com o Brasil, e tem um pedaço amazônico. Eu convidei os dois Congos, porque são dois países com muita floresta; e convidei o presidente da Indonésia, que vai mandar o ministro. Nós queremos preparar uma proposta, Valdir, para levar para a COP-28, que se dará no final do ano, em, em, nos Emirados Árabes.
Ou seja, todo mundo fala da Amazônia. A Amazônia é o menino dos olhos do mundo inteiro, aonde se voltou a falar da Amazônia. Por isso é que nós decidimos fazer em Belém essa conferência, essa COP-30, para que as pessoas possam conhecer de perto o que que é a Amazônia. As pessoas têm que conhecer não apenas a floresta, nossa fauna, as pessoas precisam conhecer o nosso povo, e aí é que nós vamos agora nesse encontro, com a participação dos governadores.
Nós vamos querer ter uma ação conjunta. Não adianta, ô Valdir, eu querer ficar brigando do desmatamento aqui de Brasília, se eu não convencer os prefeitos das cidades aonde acontece as queimadas, aonde acontece desmatamento, a serem parceira do governo. Então, ao invés de apenas proibir, nós precisamos estabelecer com eles uma forma de premiar as cidades e os prefeitos que melhor conterem o desmatamento e evitar, sabe, que haja queimadas. Então nós vamos fazer uma reunião com todos os prefeitos, sabe, das cidades amazônicas, vamos discutir com eles uma política de combater, sabe, tudo que for ilegal. Vamos colocar a Polícia Federal com uma base central em Manaus para que a gente possa atuar em conjunto com todos os outros estados. Vamos fazer convênio com os países fronteiriços para que a gente possa combater, o que eu já falei agora há pouco, o combate ao crime organizado, ao narcotráfico, ao garimpo ilegal, às pessoas que estão, os madeireiros ilegais, ou seja, nós vamos dar um pouco de cidadania a esse povo.
E quando nós marcamos a COP no estado do Pará é porque tem muita gente no mundo que fala da Amazônia. Um dia desses eu conversei com uma jornalista, ela me disse que quando ela era pequena, o pai dela mandava ela comprar um título, não sei da onde, para tomar conta da Amazônia. Ela nem sabe onde que é a Amazônia, ela nunca veio na Amazônia. Então, nós temos interesse de trazer essa gente pra dentro da Amazônia para eles perceberem que tratar da Amazônia não é só cuidar da floresta, cuidar da biodiversidade, cuidar do ecossistema, cuidar da água — isto é vital e é muito importante —, mas cuidar da Amazônia é cuidar do povo da Amazônia.
As pessoas que moram no Amazonas têm direito de trabalhar, têm direito de comer, têm direito de se vestir, têm direito de passear, têm direito de viver bem e é por isso que nós estamos fazendo essa reunião em Belém, é por isso que vamos trazer o encontro mundial para Belém e é por isso que nós vamos fazer grandes investimentos. E você sabe que eu estou indo a Parintins porque nós vamos dar ordem de serviço do Linhão Manaus-Boa Vista. Isso acontecendo nós vamos interligar todos os estados brasileiros no Sistema Único. Depois, nós vamos pegar a linha de Guri, na Venezuela, que funcionava e que parou, vamos reinaugurá-la para que a gente possa interligar também com a América do Sul, e vamos fazer uma coisa extraordinária. Você sabe que quando eu fui ao estado do Amazonas, logo que eu tomei posse em 2003, eu fui na festa, eu fui na festa de Parintins, fui lá visitar o Caprichoso e o Garantido e lá tinha um problema de apagão e eu prometi que a gente ia acabar com o apagão. Eu saí da presidência em 2010 e agora vou voltar para inaugurar, sabe, Parintins e Itacoatiara. Com essa inauguração, nós estamos tirando 500, estamos economizando R$ 500 milhões que é gasto em óleo diesel e vamos fazer com que o país economize praticamente R$ 12 bilhões. Vai ser uma coisa extraordinária o que vai acontecer, e eu espero amanhã em Parintins poder, quem sabe, te encontrar, Valdir, e a gente continuar a nossa conversa.
Eu estou muito otimista com essa tomada de posição de cuidar da Amazônia de forma civilizada, sabe, ouvindo os governadores, ouvindo os prefeitos, ouvindo os políticos locais, ouvindo os cientistas locais para que a gente não possa errar. A gente não pode só ficar brincando, só fazendo denúncia, só cobrando. A gente precisa construir parceria para que a gente possa compartilhar as coisas boas que a gente pode fazer para toda Amazônia.
Nonato Cavalcante - No seguimento da entrevista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a vez agora do estado do Amapá. Bom dia, Luiz Melo, Rádio Diário FM.
Luiz Melo - Bom dia, bom dia, presidente Lula. Prazer grande em ter o senhor nessa sabatina, presidente. Em nome do Davi Alcolumbre, que é nosso senador aqui aliado do senhor; em nome do Lucas e em nome também do Randolfe Rodrigues, que é o líder do seu governo, inclusive. Mas eu gostaria de pegar esse gancho aqui da pergunta formulada pelo Júnior César, do Acre, que tem tudo a ver com a ministra Marina [Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], que eu considero, inclusive, como um dos melhores quadros do seu governo, presidente, mas ela tem a ver, e muito a ver, com a pergunta que eu vou formular agora. A União, presidente, pela caneta do Ibama, nos tirou o direito de explorar a nossa reserva petrolífera na costa do Amapá. Resumindo, presidente Lula, ainda podemos continuar sonhando com petróleo jorrando progresso para o Amapá ou essa decisão é mesmo, essa decisão do Ibama é mesmo definitiva?
Presidente Lula - Bom dia, Luiz Melo; bom dia ao povo do Amapá. Eu vou dizer para vocês que vocês podem continuar sonhando e eu também quero continuar sonhando. Veja, nós tínhamos a Petrobras com uma plataforma preparada para fazer pesquisa, sabe, nessa região. Houve um estudo do Ibama que disse que não era possível, mas este estudo do Ibama não é definitivo porque tem, eles apontam falhas técnicas que a Petrobras tem o direito de corrigir. Nós estamos discutindo isso. Veja, eu acho que é uma decisão muito importante, uma decisão que o Estado brasileiro tem que tomar, mas o que a gente não pode é deixar de pesquisar.
Primeiro, nós temos que pesquisar, nós temos que saber se tem aquilo que a gente pensa que tem e, quando a gente achar, a gente vai tomar uma decisão do Estado brasileiro. O que que a gente vai fazer, como é que a gente pode explorar, como é que a gente vai evitar que um desastre qualquer possa prejudicar a nossa querida margem, sabe, do Oceano Atlântico na Amazônia. Isso nós vamos ter todo o cuidado, mas pode continuar sonhando porque ainda há uma, há uma discussão, o Ibama não foi definitivo. O Ibama apresentou propostas para ser corrigidas. Essas coisas vão ser levadas em conta pelo governo, vão ser levadas em conta pela Petrobras. Nós estamos vendo o Suriname explorando, sabe, petróleo, estamos vendo a Guiana explorando petróleo e eu acho que Trindade e Tobago já tá explorando. Nessa margem equatorial deve ter petróleo e ela fica a uma distância muitos quilômetros longe da margem, sabe, e nós vamos então pesquisar.
Nós estamos no processo de discussão interna agora e eu acho que logo, logo a gente vai ter uma decisão do que que a gente pode fazer. A gente, primeiro, tem que explorar, tem que fazer a pesquisa. Se a pesquisa constatar que a gente tem o que a gente pensa que tem lá embaixo, aí, sim, nós vamos fazer a segunda discussão: como fazer para explorar sem causar nenhum prejuízo a qualquer espécie amazônica. É isso que está em jogo na verdade.
Nonato Cavalcante - No seguimento da entrevista com o presidente da República, vamos agora a Rondônia. Bom dia, Rando Silva, Rádio Rondônia FM.
Rando Silva - Bom dia, Nonato Cavalcante; bom dia, nobres colegas de profissão; bom dia, presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Uma entrevista histórica aqui. Nós da Rádio Rondônia, do Sistema Rondônia de Comunicação, aqui na capital Porto Velho, com esta entrevista com os nossos rádio-ouvintes. Presidente, uma, a primeira pergunta aqui é sobre a BR-319, a rodovia que liga Porto Velho a Manaus está praticamente intrafegável há mais de 30 anos. Uma parte da BR-319 precisa ser concluída, precisa ser asfaltada ligando aí o Amazonas e Rondônia pela Transamazônica. Existe algum projeto, presidente, para que isso ocorra e qual o prazo? É a pergunta, presidente.
Presidente Lula - Ô Rando, bom dia, querido; bom dia ao povo de Rondônia. Você sabe que eu discuti muito essa BR-319. Ela foi uma rodovia que já funcionou, depois ela ficou numa situação muito, muito esquisita porque ela tem um pedaço pronto de Rondônia até o meio, tem de Manaus até o meio e tem 400 quilômetros no meio que está totalmente destruído e não funciona há muitos anos. Nós tentamos fazer isso de 2007 a 2010. Tinha um problema sério porque a questão ambiental é muito crítica nessa parte da Amazônia. O que que nós decidimos agora no PAC? Ao invés de a gente colocar de forma precipitada ou a gente dizer que não vai colocar de forma precipitada, o companheiro Rui Costa [ministro da Casa Civil da Presidência da República], que está coordenando o PAC, nós decidimos construir um grupo especial para dar a palavra definitiva: a gente pode ou não pode fazer a 319? Quais são os problemas que a gente vai criar de verdade e o que que a gente pode evitar?
Eu, na minha opinião pessoal, eu acho que a gente pode fazer com muito cuidado a 319. Você pode montar ponto de fiscalização, você pode colocar até, até fazer, colocar gente das Forças Armadas para tomar conta desse pedaço da estrada, para tomar conta da floresta, para evitar que haja transtorno, que haja invasão, que haja ocupação, que haja garimpeiro, que haja madeireiro. Ou seja, o que nós precisamos é dar garantia à sociedade do que que a gente vai fazer. E por que que é delicado, Rando? É delicado porque o mundo hoje está muito mais exigente, o mundo hoje tá cobrando muitas coisas e o Brasil é um grande exportador de alimentos, sobretudo, para o mundo e nós não queremos que haja qualquer veto às exportações brasileiras por conta de uma atitude precipitada nossa.
A questão ambiental ganhou muita importância no mundo. A questão ambiental, a questão do clima ganhou uma importância que você não tem noção, Rando. Eu acabei de participar de uma reunião com 60 países na Europa, em Bruxelas, só se fala na questão do clima, só se fala na questão da Amazônia. Eu vou, eu vou viajar agora para a África do Sul, na reunião dos BRICS, eu tenho certeza que a Amazônia será o tema. Eu vou viajar depois para a Índia, na reunião do G20, eu tenho certeza que a Amazônia será, sabe, o tema principal. Então, o que nós precisamos é dar garantia. Primeiro ao povo de Rondônia, ao povo do Amazonas, que nós vamos tratar com responsabilidade para se tivermos que fazer essa estrada, fazermos ela com o maior critério de exigência que possa ter para que a estrada possa funcionar. É isto que vai acontecer, Rando. E você sabe que as brigas que nós tivemos para fazer as duas hidrelétricas, Santo Antônio e Jirau, sabe, quanta briga nós tivemos para fazer.
Ela foi feita, está funcionando, está ajudando o Brasil a se transformar numa grande potência e eu acho que a estrada pode contribuir. A única coisa que eu te garanto, Rando, é que nós vamos ter que ter responsabilidade, não apenas com o nosso povo, não apenas internamente, mas vamos ter que ter responsabilidade em apresentar ao mundo de que nós falamos de preservar a Amazônia, de cuidar da Amazônia, de cuidar da biodiversidade, de cuidar da nossa floresta, nós não apenas falamos; nós cuidamos de verdade. E eu sei que é isso que o povo de Rondônia quer. Eu sei que é isso que o povo do Amazonas quer e é assim que a gente vai cuidar. Tem um grupo especial que vai dar um parecer para a Casa Civil se a gente vai colocar no PAC ou não, ou quando a gente começa ou não.
Nonato Cavalcante - Vamos dar seguimento então à entrevista com o presidente da República. Agora, é a vez de Roraima. Bom dia, Vanderleia Ferreira, Rádio 93 FM.
Vanderleia Ferreira - Bom dia; bom dia a todos; bom dia, presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Prazer estar participando dessa entrevista. Bom, o presidente Lula já conhece alguns problemas de Roraima, temos vários problemas pendentes a serem resolvidos aí pelo Governo Federal, e com certeza um dos maiores problemas é a questão energética. Roraima é o único estado do Brasil que não está interligado ao sistema nacional. O senhor anunciou que amanhã deve assinar aí a ordem de serviço pro início das obras do Linhão de Tucuruí. Mas a questão presidente é que a população de Roraima espera há anos, né, por essa obra para a energia segura. Porque sem energia, não há desenvolvimento. E aí a pergunta é: O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva vai ficar marcado na história de Roraima como o presidente que de fato tirou o Linhão do Tucuruí do papel? Nós vamos poder comemorar realmente essa energia do Linhão de Tucuruí?
Presidente Lula - Bom dia, Vanderleia, bom dia. Eu não sei porque, Nonato, que deixou a Vanderleia por último. Por ser mulher, por ser mulher, ela tinha direito de responder a primeira e a última pergunta. Ô Vanderleia, deixa eu te falar uma coisa. Olhe, isso já poderia ter sido feito, é que nós tivemos anos obscuro no país. A destruição da linha de Guri até Roraima atrapalhou muito a vida do povo de Roraima. Nós vamos não apenas amanhã dar a ordem de serviço de Manaus a Boa Vista, não apenas a ordem de serviço, como a gente tá assumindo o compromisso de recuperar a linha que vem da Venezuela – que foi inaugurada pelo Fernando Henrique Cardoso [ex-presidente da República do Brasil], pelo Chávez [Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela] e o Fidel Castro [ex-presidente de Cuba] estava presente – que está hoje sem funcionar. Nós vamos reinaugurar essa linha Guri - Boa Vista para que a gente apresse a questão da energia em Boa Vista para ninguém viver de apagão o tempo inteiro.
Você pode ter certeza, querida, que nós vamos dar ordem de serviço. O trabalho vai, vai começar e eu espero que antes de terminar o meu mandato eu possa voltar a Boa Vista para que a gente possa inaugurar, sabe. Ao invés de Boa Vista ser uma cidade que fica no escuro, vai ficar, vai ser chamada de Cidade Luz, porque vai ter muita energia para o povo de Boa Vista, sabe, viver dignamente e para todo o povo de Roraima. Isso vai acontecer de verdade e amanhã nós estaremos em Parintins anunciando isso.
Nonato Cavalcante - Você está acompanhando entrevista com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Vamos à segunda rodada de perguntas, senhor presidente. E eu começo esta segunda rodada de perguntas. Presidente, hoje assume o Ministério do Turismo o deputado paraense Celso Sabino. Comenta-se nos bastidores políticos de Brasília que outras mudanças de fato vão ocorrer no ministério. Essas mudanças acontecerão, aí é a pergunta, em que pastas?
Presidente Lula - Você quer saber se tem ouro ou não antes de garimpar. Ô, Nonato, ô Nonato, deixa eu te falar uma coisa. Nós vamos, eu vou fazer ajustes no governo porque nós temos interesse de construir uma maioria para que até o final de 2026 a gente possa votar as coisas importantes, de interesse do povo brasileiro. E por isso a troca de ministro não pode ser vista como uma coisa absurda, como uma, uma coisa menor, é uma coisa muito importante. Nós temos partidos importantes que querem participar do governo, que querem fazer parte da base do governo, então nós vamos conversar com esses partidos. Eu não, não, não estou com pressa. As pessoas sabem que eu vou fazer e sabem que o presidente da República tem que tomar muito cuidado e muita responsabilidade, porque quando você mexe no tabuleiro, você não pode mexer numa peça errada ou colocar uma peça errada. É por isso que eu trato com muito carinho isso.
É verdade que eu vou fazer mudança no ministério, mas é verdade que isso ainda não tá definido por mim, aonde que eu vou mexer, que o ministério que eu vou entregar, que estado que vai ser beneficiado. Isso eu vou fazer, eu vou agora para, para o estado do Pará e, quando eu voltar, semana que vem, eu vou então definir o que é que eu vou fazer no governo.
Nonato Cavalcante - Vamos ao estado do Acre. De volta ao estado do Acre. Júnior César, Rádio Difusora AM.
Júnior César - Muito Obrigado Nonato. Presidente, em 2017 nós conversamos nessa mesma rede de rádios aqui, durante mais ou menos um hora, foi um excelente bate-papo, talvez a melhor entrevista que nós já fizemos aqui foi com o senhor. Presidente, naquela ocasião o senhor falava quanto a questão de geração de empregos e renda. A política, a crise política gerou milhões de desempregados no país durante os últimos anos. Naquela ocasião o senhor mesmo disse que eram 14 milhões de desempregados e algo tinha que ser feito. Pergunto pro senhor, presidente. Aumentar o salário mínimo acima da inflação e garantir com que a gente mude esse cenário de desempregados pelo Brasil, principalmente pelos estados na Amazônia, que é mais difícil de gerar emprego e renda para a empresas, no caso da carteira assinada, porque a gente tem ainda muito a informalidade, isso é uma realidade que tem sido combatida, seja com campanha ou mesmo com fiscalização, mas que garanta o direito, como mesmo o senhor disse, de ensinar o amazônida a pesca, não dar o peixe pra ele, apesar da abundância que nó temos aqui, o senhor sabe muito bem disso. Qual o legado que a gente pode esperar do seu governo e da sua equipe pra essa realidade, presidente?
Presidente Lula - Olha, Júnior, você pode se preparar para fazer uma entrevista comigo quando eu for aí. Eu tô pra ir ao Acre. Eu tenho escola para inaugurar aí, eu tô tentando ver uma data com o ministro da Educação. Eu, na verdade, era pra ter ido hoje ao Acre, era pra eu ter saído hoje ter ido do Acre, eu ia à Parintins, mas era muito cansativa e eu resolvi não fazer essa viagem pro Acre e depois para Parintins. Eu vou só pro Acre, tô marcando uma data com o ministro da Educação. Nós temos que fazer inauguração de escola técnica, de instituto federal e temos que fazer um processo de recuperação da BR-364, que parece que tá um pouco moribunda por falta de tratamento, por falta de recapeamento, por falta de manutenção por parte do governo. Então, eu vou ao Acre, lá você me faz essa pergunta. Ora, qual é o legado?
Companheiro, você sabe uma coisa muito importante. Você sabe que não existe, Júnior, nenhum momento na história do Brasil que teve um presidente da República que investiu a quantidade de recursos que eu investi no Acre. Não tem. Você pode pegar de Marechal Deodoro da Fonseca até, sabe, o último que passou por aí, você vai perceber que ninguém colocou a quantidade de recursos que eu coloquei, sabe, no estado do Acre. E isso eu não fiz por caridade não, eu fiz porque o povo do Acre, o povo da Amazônia toda merece se desenvolver. Quando nós aprovamos, sabe, a ideia da interoceânica ligando Assis Brasil até Lima no Peru, que é uma estrada extraordinária, eu também imaginava que essa estrada pudesse fazer com que houvesse mais industrialização do estado do Acre e mais exportação para outros países via a interoceânica. O legado, o legado que nós vamos deixar pro Acre é o legado que a gente vai deixar pro Brasil inteiro. Nós vamos retomar a geração de emprego. Você já percebeu que o desemprego diminuiu, já tá em 8%, é o menor desde 2014. Você tá lembrado que o salário mínimo vai aumentar. Nós já recuperamos 40 políticas públicas de inclusão social que a gente tinha e que foi desmontada pelo governo anterior, nós estamos colocando em evidência e nós vamos cuidar dos estados, dos estados todos em igualdade de condições, porque o presidente da República não tem que olhar com mais carinho para um ou para outro não. Tem que olhar, sabe, com o mesmo olhar para todos os 27 estados como se fossem, sabe, da família. E o Acre é um estado que eu tenho um apreço muito grande.
Eu posso te dizer, Júnior, você sabe disso, que nunca na história do Brasil um presidente foi tantas vezes ao Acre como eu fui. Eu vou ao Acre desde 1980, já fui muitas vezes, muitas vezes e pretendo ainda este ano ir ao Acre inaugurar escolas e, ao mesmo tempo, fazer uma visita na manutenção da BR-364.
Nonato Cavalcante - Presidente Lula, vamos agora de volta ao Estado do Amazonas. Valdir Correia.
Valdir Correia - Muito bem. Presidente, como é bom falar direto com o povo brasileitro através do rádio. O brasileiro não vive sem rádio. Deu pra perceber presidente Lula do seu carinho, eu diria da sua determinação de gerenciar a Amazônia, puxar essa responsabilidade pro governo brasileiro, que é a maior nação de toda América do Sul. Muito se fala, aliás o senhor até citou de uma moça que quer comprar um título pra cuidar da Amazônia. Muito bem. Por que dessa preocupação? É bom lembrar presidente Lula, que aproximadamente 6,74 milhões de quilômetros quadrados, que se estende por oito países, nós temos o levantamento, o Bioma Amazônia é quase o tamanho da bacia, com 6,7 milhões de quilômetros quadrados, então, a maior parte desse bioma, 60,1% está em território brasileiro. Eu percebi que o senhor está determinado dizer: “isso o Brasil tem competência pra gerenciar.” Mas agora presidente é que eu vou pra pergunta. Vamos lá. Eu achei o tempo pouco pra gente, isso era conversa pra cinco horas. Presidente Lula, nós acompanhamos a sua caminhada do dia a dia, e no dia 8 de julho, mês passado, o senhor participou do encerramento da reunião técnico-científica da Amazônia, lá em Leticia, e ouviu o presidente colombiano, que é o Gustavo Petro, a proposta de desmatamento e mineração zero na Amazônia. Por falar na Amazônia, eu tenho que falar do nosso Amazonas, hoje tem a maior reserva de potássio, minério importante para a indústria nacional de fertilizante e para o agronegócio. A Petrobras — vou emendar — vê perspectiva de explorar petróleo na foz do rio Amazonas, já falamos há pouco com o nosso colega lá do Amapá, e eu vou para a ligação terrestre entre o nosso estado e o resto do país, como a melhoria no escoamento da produção da nossa Zona Franca de Manaus, que dependem, presidente, o senhor sabe disso, do destravamento do Ibama na BR-319. Aliás, já está… a rodovia, ela existe, gente, ela existe, está esburacada e isso tem prejudicado muito a economia da região, presidente Lula.
Presidente Lula - Não é que está esburacada, ô Valdir, é que ela tem um trecho no meio de 405 quilômetros que está semidestruído. É preciso refazer nova estrada e aí a questão ambiental pesa muito. E como nós não queremos violentar as pessoas que trabalham e cuidam da questão ambiental e também não queremos violentar o povo de Rondônia e o povo do estado do Amazonas, nós criamos um grupo de trabalho para dar o veredito final se a gente vai ou não vai fazer e como a gente vai fazer. Essa é uma questão extraordinária. A outra coisa que é muito importante, que eu queria alertar, Valdir, é que eu tenho noção do que que nós fizemos no estado do Amazonas. Eu tenho noção da minha relação, sabe, com a política do estado do Amazonas, porque eu tenho um profundo respeito, muito respeito. E eu quero te dizer que a minha relação com a classe política de Rondônia, com todos os partidos políticos, com os aliados, com aqueles que são oposição, eu não faço diferença. Eu quando chego no estado não quero saber de que partido é o governador, o prefeito ou o vereador. Eu quero saber se eles foram eleitos pelo povo, se eles estão fazendo aquilo que o povo espera que eles façam. E é isso que eu quero. Por isso é que nós estamos tentando fazer uma nova política do Amazonas, não do estado, da Amazônia toda, compartilhada com os governadores de estado e compartilhada com os prefeitos. Eu volto a dizer para você: não adianta tentar ficar combatendo as queimadas aqui de Brasília.
Aqui de Brasília a gente faz a denúncia, a gente anuncia, a gente tenta montar com a Defesa Civil condições de diminuir e evitar a queimada, mas se a gente compartilhar as nossas decisões com os prefeitos das cidades dos estados amazônicos e esses prefeitos se sentirem motivados a participar junto com o governo, a gente vai ter muito mais resultado do que se a gente ficar apenas denunciando.
É por isso que nós vamos fazer, eu vou repetir, uma grande reunião com todos os prefeitos das cidades dos estados amazônicos pra gente compartilhar com eles. Ao invés da gente punir, a gente premiar aquelas pessoas que fizeram o bem para a preservação da nossa fauna, da nossa floresta, da nossa água, para que as pessoas denunciem as queimadas, para que as pessoas denunciem o garimpo ilegal, os madeireiros ilegais.
Eu acho que vai dar certo e também, eu já falei, nós vamos construir pela primeira vez uma relação civilizada e uma bem organizada entre todos os países fronteiriços, que tem estados amazônicos, para que a gente possa combater o narcotráfico, o crime organizado e combater também as coisas ilegais que, muitas vezes, acontecem na Amazônia. É um novo tempo que vai acontecer e eu posso dizer ao povo de Manaus, sabe, hoje, amanhã eu vou a Parintins. Mas logo, logo, eu vou estar, na verdade, em Manaus porque eu preciso fazer uma visita a Manaus, porque eu quero ver se eu visito pelo menos as principais capitais dos estados brasileiros ainda este ano.
Nonato Cavalcante - Presidente Lula, agora é a vez do estado do Amapá, Luiz Melo, de volta.
Luiz Melo - Pronto, eis-me aqui. Presidente, ainda pouquinho nós pagamos o gancho do colega lá do Acre e agora quero pegar carona da colega de Roraima, que falou sobre a reivindicação do linhão de Tucuruí para lá, que vai levar energia que, por sinal, vai sair das nossas hidrelétricas daqui. Eu queria perguntar pro senhor o seguinte, presidente, a propósito disso, energia elétrica, cabe à União privativamente legislar sobre energia elétrica, né? Claro, sobre exploração do serviço, sobre o regime das empresas concessionárias e permissionárias desse mesmo serviço, logo, sobre a política tarifária, claro. O Amapá, presidente, possui quatro hidrelétricas, quatro usinas hidrelétricas, e o senhor conhece muito bem essa realidade, e gera energia para todo o restante do país. No entanto, os seus habitantes pagam, estão pagando atualmente, sempre pagaram uma das tarifas mais caras do Brasil, puxado inclusive por tributos, supostamente, que ultrapassam o valor, o valor, muitas vezes, dessa conta. Isso é apenas o introito, vou agora ao cabo, a pergunta: o que a União, presidente, pode fazer para dar benefícios e, consequentemente, reduzir as tarifas dos estados que geram energia elétrica como o Amapá, por exemplo?
Presidente Lula - Eu não sei, eu não sei qual é o preço da energia no Amapá. Por conta da tua pergunta, quando terminar esse debate, eu vou ligar para o ministro das Minas e Energia para saber o custo da energia no Amapá e por que, e por que que a energia do Amapá é mais cara do que a de outros estados brasileiros? Não há, não há nenhum sentido, não há nenhum sentido a energia ser mais cara do que a de outros estados.
Ou seja, a energia, ela tem hoje no Brasil, se a gente tem hidrelétricas, se a hidrelétrica já está paga, a energia pode ser mais barata. Aliás, o ministro de Minas de Energia tem me dito que os empresários que compram energia no mercado livre compram mais barato do que o povo pobre paga a energia. Essa é uma coisa que a gente vai tentar corrigir. Nós vamos, eu tô dizendo pra você que nós vamos lançar um grande programa, um grande programa chamado PAC e dentro do PAC tem a questão da transição energética. Nós vamos anunciar muitos investimentos na questão energética, na eólica, na solar, no biodiesel, no etanol, no hidrogênio verde. Ou seja, e tudo isso a gente vai fazer na perspectiva de produzir energia mais barata para o povo brasileiro. Não adianta você tirar o povo da escuridão levando energia e depois ele não poder pagar a conta, sabe.
Então nós vamos cuidar disso, você poderá ter novidade. Eu vou me informar e prometo que nós vamos voltar. O Stuquinha [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Presidência da República] vai voltar a te ligar e eu vou te falar, sabe, da questão da energia no Amapá, porque que ela é mais cara. Eu, hoje, eu não saberia dizer pra você porque que a energia do Amapá é cara, mas te prometo que voltarei a falar com você.
Nonato Cavalcante - Presidente, vamos agora a Rondônia, Rando Silva.
Rando Silva - Olá, Nonato Cavalcante, mais uma vez, bom dia a todos, bom dia, presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diretamente aqui dos estúdios da Rádio Rondônia FM 93,3, capital Porto Velho, a maior rede de rádios do estado, através do sistema Rondônia de Comunicação. Estamos aí com abrangência de quase 96% da cobertura da programação da Rádio Rondônia em todo estado, presidente. E a segunda pergunta, para Vossa Senhoria, é: recentemente, presidente, todas as viações aéreas diminuíram aí a frota de voos para o estado de Rondônia, inclusive, atualmente, o voo direto de Rondônia para o Amazonas, Manaus, que leva em torno de uma hora, uma hora e 10, foi retirado também. E agora tem esta conexão com São Paulo ou Brasília, tornando os valores elevadíssimos e esses preços também estão ocorrendo para outros estados do Brasil, para que temos aí os valores mais elevados do país. Qual que é a providência que será adotada e tomada com relação a esses voos que foram retirados, diminuídos aqui do nosso estado de Rondônia, presidente?
Presidente Lula - Querido Rando, há mais ou menos 15 dias atrás, eu fiz uma reunião com o ministro dos Portos e Aeroportos e eu pedi para que o Márcio França fizesse para a presidência da República um estudo sobre a questão da aviação. Nós temos um problema que não tem muita explicação. Tem dia que você paga uma passagem São Paulo-Rio três, quatro mil reais. Se você comprar com três meses de antecedência, você paga R$ 200, ou seja, muitas vezes é mais barato viajar de Brasília a Miami ou de São Paulo a Miami do que viajar de um estado brasileiro para outro estado. Eu tava viajando e a minha, a minha comitiva, sabe, estava em Alagoas, ou seja, eu ia pro Rio Grande do Norte e não tinha avião de Alagoas pro Rio Grande do Norte. Teria que ir a São Paulo para voltar para o Rio Grande do Norte. É uma loucura. Então, eu espero esse estudo do companheiro Márcio, ele ficou de conversar com a ANTAQ e nós vamos chamar as empresas de aviação para discutir o que que está acontecendo de verdade na aviação brasileira.
Eu, eu, eu acho que eu sou um felizardo porque quando eu cheguei na Presidência da República, a gente tinha menos de 50 milhões de pessoas viajando de avião. Quando eu deixei, em 2010, tinha 112 milhões de pessoas viajando de avião, sabe. Se tiver avião, as pessoas viajam. Eu sei a dificuldade de vir do Acre pra Brasília, de Porto Velho pra Brasília, ou seja, viajar de Porto Velho pra Manaus, de Porto Velho pra Rio Branco, ou seja, não tem avião. Ou seja, eu quero discutir com as empresas porque que a gente não tem aviões regionais, porque que o voo é tão caro, a passagem é tão cara. Joga sempre a culpa no querosene. O querosene no governo anterior aumentou 121%, mas no nosso governo já caiu 32%. Então, eu quero, eu quero te dizer que quando eu tiver essa reunião, que eu tiver as informações corretas, eu vou te ligar em Rondônia para dizer pra você o que que aconteceu de verdade.
O que nós precisamos é ter uma interligação. Você não precisa ter avião grande, você pode ter aviões menores que façam voos regionais para garantir ao povo brasileiro o direito de ir e vir, more ele aonde morar. É inexplicável que a gente não tenha voo diário de capital para a capital. É inexplicável, sabe. Por isso que eu pedi esta reunião com o Ministério dos Portos e Aeroportos, para que a gente possa ver que política a gente vai fazer. Tem dia que as pessoas …, um ministro, um ministro pra ir para casa de Brasília para um estado do Nordeste, às vezes a passagem é R$ 3.500. Sabe, então, não é possível, não é possível que isso.
Que haja uma explicação. Por que que é tão cara a passagem dentro do Brasil? Tem pessoas que acham que é porque a gente não deixa empresas estrangeiras voar aqui dentro do Brasil. Ora, a gente quer que o nosso espaço aéreo seja nosso, que a gente possa controlá-lo, mas é importante que a gente discuta com muita realeza, esse é um dos compromissos meus: discutir a questão da passagem aérea, discutir a questão da quantidade de voos que nós temos de cidade para cidade, para que a gente possa normalizar o fluxo das viagens de aviões pelo Brasil afora.
Nonato Cavalcante - Presidente, para encerrar a nossa conversa nesta manhã. É a vez agora de Roraima de volta. Vanderleia Ferreira, é com você.
Vanderleia Ferreira - Bom, já que me deixaram por último aí nas duas rodadas dessa entrevista, vou fazer duas perguntas em uma. Roraima é estado fronteiriço com a Guiana e também com a Venezuela. Em relação à Venezuela, Roraima sofre desde 2017 com a questão da imigração e isso impacta diretamente o estado de Roraima, principalmente no sistema de saúde. Presidente, tudo isso em função do descontrole da fronteira, e em contraponto nós temos aí a Guiana que é uma oportunidade de desenvolvimento. E aí eu vou fazer a pergunta primeiro em relação à imigração na fronteira: até quando Roraima vai suportar esse descontrole da fronteira? E em relação a Guiana, o que nós temos de tratativas para o desenvolvimento, não só de Roraima, mas também de outros estados beneficiados, principalmente com a Zona Franca de Manaus?
Presidente Lula - Olha, primeiro, nós temos total interesse em fazer com que Roraima volte à normalidade, inclusive que tenha menos venezuelanos vindo para o Brasil. Nós estamos normalizando a nossa relação com a Venezuela. Já foi acertado com o presidente Maduro, ele estará em Belém e nós vamos voltar a conversar com ele. É preciso fazer um acerto de uma dívida que a Venezuela tem com o Brasil e nós estamos acertando isso. E nós queremos discutir, inclusive, a migração, sabe, nós vamos acolher todos que quiserem vir de qualquer lugar pro Brasil, mas é importante que as pessoas, a Venezuela voltando à normalidade, sabe, que as pessoas desejam, as pessoas podem voltar e nós também precisamos garantir o comércio e a relação. Eu sei da história dos caminhões que estão parados e que não podem entrar na Venezuela. Meu ministro das Relações do Exterior já foi falar com o governo venezuelano e foi pedido a ele para que a gente pudesse normalizar.
Só vou te contar uma história. Eu tinha 70 mil toneladas de carne no Oceano Atlântico indo para a China, que tinha sido proibida de entrar na China. Nós conversamos com o ministro, com presidente Xi Jinping e foi resolvido o problema. Eu, pessoalmente, vou conversar com o presidente Maduro que é urgente normalizar a nossa relação, é urgente a gente cuidar dos migrantes. É urgente a gente cuidar do nosso comércio para que as coisas voltem à normalidade. Se houve momento de excepcionalidade, de ódio, de raiva, de … acabou isso, acabou. Vamos voltar à normalidade. Vamos voltar a ter um pouco de paz, de alegria e vamos deixar que as pessoas vivam tranquilamente, sabe, felizes aonde elas quiserem viver. E o problema das pessoas venezuelanas que estão em Rio Branco, eu já disse ao governador: "o governo federal tem que assumir responsabilidade de ajudar a cuidar desse problema, porque não é um problema de Roraima, é um problema do Brasil".
Olha, com relação a Guiana, nós temos uma estrada para fazer na Guiana porque nós queremos tentar interligar. Para nós é muito importante porque será o acesso dessa região do Brasil ao porto, sabe, da Guiana, e a gente poder ter acesso às exportações produzidas nessa região no Brasil. Eu tive duas vezes com o presidente da Guiana, ele não apenas quer que a gente ajude a fazer as estradas, como ele deseja que a Petrobras possa prospectar petróleo na Guiana. É uma relação muito boa, uma relação muito amistosa e naquilo que a gente puder contribuir, a gente vai contribuir, porque a gente quer interligar o estado de Roraima aos seus vizinhos. A gente não quer que Roraima continue na ponta do Brasil, sabe, isolado.
Ao mesmo tempo, ao mesmo tempo, nós vamos ter uma política intensa na Amazônia, e aí em Roraima também, vamos discutir com o Maduro a questão da Venezuela, da nossa fronteira em Roraima, para que a gente possa cuidar da nossa floresta conjuntamente. Nós temos um problema sério que é cuidar dos Yanomamis, sabe, aquele povo quase foi, sabe, destroçado pela antipolítica indigenista que o Brasil tinha, e a gente quer tratar os indígenas da forma mais civilizada, da forma mais carinhosa possível porque no fundo, no fundo, não são eles que incomodam a gente, é nós que incomodamos eles. Nós é que chegamos depois deles no território brasileiro e nós precisamos saber que eles têm o direito de viver do jeito que eles quiserem e como quiserem e a gente vai ter que cuidar disso com muito carinho.
Nonato Cavalcante - Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muito obrigado pela sua participação nessa entrevista e pelos esclarecimentos que o senhor concedeu, assim por dizer, ao povo da Amazônia. Obrigado, presidente.
Presidente Lula - Deixa eu dizer uma coisa, eu gostaria de continuar fazendo, Nonato, essa conversa, o Stuckert me deu aqui uma informação, que eu mandei pedir para o ministro de Minas e Energia, sobre o preço da energia no Amapá. E a informação que veio aqui é que o Bolsonaro privatizou a empresa de energia do Amapá e dentro dessa privatização permitiu o maior absurdo tarifário de todos os tempos, permitindo que a empresa pleiteasse ainda em seu governo que reajustes tarifários considerados, sabe, para todos… Não tá bem escrito aqui.
É o seguinte: eu vou definir aqui, companheiro, companheiro Rando, eu vou, vou estudar com carinho essa questão. Não, do Amapá, companheiro Luiz Melo. Vou estudar com carinho essa informação que eu recebi aqui do ministro das Minas e Energia. A empresa que privatizou, a empresa de energia no estado do Amapá, ela fez um assalto ao bolso do povo do Amapá colocando inclusive coisas do passado no preço tarifário. Você levantou uma pergunta, companheiro Luiz Melo, e eu vou, eu vou agora estudar esse assunto e prometo voltar a falar com você. Não se assuste, não se assuste quando tocar o telefone dizendo: "é o presidente Lula que quer falar com você". Não pense que é, que é trote. Eu vou ligar pra você e vou falar com você sobre essa questão da energia.
Luiz Melo - O senhor falou muito bem do Acre, eu considerava o Acre o estado mais queridinho do senhor... [trecho inaudível por problemas na transmissão]
Presidente Lula - Não. Sabe por que que o Acre é queridinho? Porque a primeira vez que eu fui no Acre, você sabe que eu que eu fui condenado há três anos e meio de prisão pela Lei de Segurança Nacional porque assassinaram um dirigente sindical em Brasiléia e eu fui no ato e no ato eu disse que eu estava cansado de chorar a morte de companheiros, que estava chegando a hora da onça beber água. Aí, a Polícia Federal entendeu que esse negócio de falar que "a onça beber água" era a senha porque, no dia seguinte, no dia seguinte, os trabalhadores mataram o fazendeiro que tinha matado dirigente sindical. Aí eu fui condenado em Manaus. Depois, a minha relação com Chico Mendes era muito forte, eu fui a Xapuri várias vezes. Depois, a minha relação com o Jorge Viana [ex-governador do Acre], com os companheiros do Acre, com muitos seringueiros, com a Marina; então, eu tenho uma relação com o Acre muito, muito, eu diria, sabe, sentimental.
O Chico Mendes era um grande companheiro meu. O Chico Mendes, só pra você ter ideia, em 1980 o Chico Mendes apareceu lá no sindicato dizendo, querendo falar com um tal de Lula. O tal de Lula era eu, que era presidente do sindicato. Aí o Chico Mendes falou: "olha, eu queria uma ficha para criar o PT no Acre". Aí, eu falei pro Chico Mendes: "aqui no sindicato não se trata de política, se você quiser discutir política, me espera no bar do Gordo". Era um bar que tinha próximo do sindicato. Depois das 8 horas eu saí, fui no Bar do Gordo, estava Chico Mendes e o João Maia, que ainda está vivo, está morando no Acre ainda. Aí, dei a ficha pro Chico Mendes, ele criou o PT no Acre. É por isso que eu tenho uma simpatia pelo Acre, porque tem uma, uma relação pessoal. Eu quero, eu quero…
Luiz Melo - Nessa época, se não me falha a minha carcomida memória, o senhor chegou a andar de trem aqui no Amapá, não andou?
Presidente Lula - Andei, eu fui até à Serra do Cachimbo. Eu fui.
Luiz Melo - Serra do Navio, onde a Icomi explorava manganês.
Presidente Lula - Eu já, eu já andei muito o Brasil e eu quero voltar a andar. Eu queria, ô Nonato, você que está coordenando essa entrevista, eu queria primeiro agradecer a todos os companheiros; agradecer a Vanderleia, agradecer a todos, ao Júnior, ao Luiz Melo, ao Valdir Correia, a Rando Silva e a Vanderleia pelo carinho. É a primeira vez que eu dou uma entrevista desse tipo, ou seja, com seis estados diferentes, discutindo as coisas que vocês perguntaram. Eu quero que isto se torne um hábito na minha vida política, tá, eu quero. Eu quero que se torne um hábito porque uma coisa para a qual eu voltei a ser presidente da República é porque eu quero construir a civilidade democrática no Brasil. Eu quero mostrar pras pessoas que as pessoas não são obrigadas a torcer pelo mesmo time, a votar no mesmo candidato, a visitar a mesma igreja. As pessoas sempre serão o que elas quiserem ser, mas o que eu quero, na verdade, é criar condições das pessoas se respeitarem.
Eu voto em tal partido político, mas eu respeito o candidato do outro partido político. Eu torço pro time tal, mas eu gosto, sabe, de respeitar o torcedor do time tal. Eu sou da religião tal, mas eu tenho que respeitar as outras religiões. Eu quero, na verdade, contribuir não apenas para melhorar a qualidade de vida do povo, fazer o povo comer mais, fazer o povo voltar — você tá lembrado que eu dizia na campanha –, fazer o povo voltar a comer uma picanha, um churrasquinho, uma costelinha assada, uma cervejinha gelada, que é uma coisa que todo mundo sonha. Quem não come carne, come salada.
E aí eu quero que o Brasil volte a ser feliz, que as pessoas se respeitem. Nunca eu vou perguntar para uma pessoa "você votou em mim ou não?". Não pergunto, jamais perguntei e não vou perguntar. Nunca vou perguntar se o governador gosta de mim ou não gosta de mim. Eu não vou perguntar, eu quero saber se ele é governador, se ele foi eleito; se ele é prefeito, se ele foi eleito; se ele é vereador, se ele foi eleito; e vou tratá-lo com respeito.
É este país que eu quero deixar quando terminar o meu mandato. Um país alegre, um país crescendo economicamente, o povo pobre melhorando de qualidade de vida e eu não quero muito, eu quero que os caras tenham café da manhã, almoço e janta. Eu quero que os caras tenham um emprego, eu quero que eles tenham uma casinha. Eu quero que seu filho estude numa escola com ensino de qualidade. Por isso, nós estamos implantando o ensino integral em todo o território nacional porque é disso que o povo precisa.
O Brasil precisa tomar consciência, sabe, que a gente não precisa ter gente brigando. Nesse outro período, você sabe, ô Nonato, pai que brigava com o filho, mãe que brigava com nora por causa de política. Não é possível. Nós não podemos ser tão ignorantes. A política termina quando tem eleição e a gente vai viver a nossa vida.
O que eu quero é cuidar do povo brasileiro com muito carinho e com muito amor, e isso eu vou fazer.
Muito obrigado, muito obrigado por essa entrevista a cada um de vocês e pode ter certeza que vocês ainda vão ter chance de conversar comigo quando eu botar o pé no território dos estados de vocês.
Um grande abraço, um beijo no coração de cada um.