Entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para grupo de rádios de Goiás
TRANSMISSÃO | Entrevista do presidente Lula a rádios de Goiás
Locutora Ravena — Autorizada a entrevista. Neste momento com a gente Rádio Líder FM, Rádio Morada do Sol, Rádio Interativa. Nesse momento eu quero aqui, né, agradecer a todas as rádios que já estão integradas com gente. Dá um bom dia para Buriti Alegre, Itumbiara, para Catalão, Jaraguá, Jataí, São Luís de Montes Belos, Santo Antônio do Descoberto. E também vamos transmitir esta entrevista, parte desta entrevista, para as emissoras de TV que integram o Grupo Sucesso de Comunicação, a TV Sucesso Record. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muito bom dia. Seja bem-vindo, né, ao estado de Goiás. Amanhã a gente vai receber o senhor aqui para inaugurar uma importante ferrovia, uma obra que estava parada há mais de 20 anos, há mais de duas décadas e agora, finalmente, o setor produtivo será beneficiado. O setor produtivo vai agradecer a inauguração dessa obra. E a gente vai falar aí, claro, da sua chegada aqui amanhã no estado de Goiás, especialmente na cidade de Rio Verde. Muito bom dia, presidente.
Presidente Lula — Bom dia, Ravena. Bom dia, ouvintes da Rádio Sucesso. Bom dia, companheiro José Luís. Bom dia, ouvintes da Rádio Interativa. Bom dia, Costa Filho; e bom dia, ouvintes da Rádio Morada; e bom dia a Rádio Líder; e bom dia, Cairo Santos.
É um prazer, Ravena, estar falando com vocês. Eu queria começar dizendo pra você que eu estou à inteira disposição para vocês fazerem as perguntas que vocês entenderem que deva ser feita, porque amanhã eu estarei em Rio Verde para inaugurar, finalmente, a Ferrovia Norte-Sul.
E estou, inclusive, pretendendo levar o presidente Sarney, que foi ele que, em 1987, começou essa ferrovia lá no Maranhão. E essa ferrovia demorou 30 anos para ser feita, mas, finalmente, ela está pronta e eu estarei muito feliz amanhã para inaugurar essa ferrovia. Estou à disposição.
Locutora Ravena — Presidente, a primeira pergunta que eu faço: por que demorou tanto tempo para a inauguração de uma obra tão importante, já que o Brasil é agro?
Presidente Lula — Ravena, ela demorou porque tem muitos empecilhos para você fazer uma ferrovia desta magnitude, com a questão de licenciamento, com a questão das licitações. Eu quero te dizer que, no meu governo e no governo da Dilma, nós fizemos 90% dessa ferrovia, 5% foi feita pelo presidente Sarney, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo presidente Temer, e 5% foi feito pela empresa que é, hoje, a concessionária da estrada.
Se dependesse do governo Lula e do governo Dilma, essa ferrovia já teria sido inaugurada há muito tempo atrás. Agora, sempre tem muito empecilho, mas eu penso que ao invés da gente agora ficar reclamando porque demorou tanto; e eu trabalhei muito, fui muitas vezes nessa ferrovia pra fazer trechos e inaugurar trechos; eu estou feliz de estar de volta à presidência da República e exatamente no meu mandato a gente vai inaugurar, finalmente, a Ferrovia Norte-Sul, que começou em 1987.
Locutora Ravena — E agora, eu passo a palavra pro meu colega, pro jornalista Costa Filho, diretamente de Rio Verde, pra fazer a segunda pergunta.
Jornalista Costa Filho — Bom dia, Ravena. Bom dia, presidente Lula. Presidente, nos dois governos da presidente Dilma Rousseff ela deixou um benefício incalculável, de forma positiva, para o interesse público, para as pessoas que dependem das rodovias federais. Ela duplicou de Goiânia, passando por Rio Verde, até a cidade de Jataí, 310 quilômetros. Agora, como o senhor disse bem, a expectativa que é muito grande da chegada do senhor, sobre a questão da rodovia, que a Ravena já colocou muito bem aí. A população quer saber se o senhor vai retomar aquela sequência da presidente Dilma e duplicar a BR-452, ligando Rio Verde à Itumbiara, ligando a Minas Gerais? Antes desse avanço na ferrovia aqui, a estrada já está intransitável, com muitos acidentes e congestionamento. O que que o senhor tem a dizer sobre isso, presidente?
Presidente Lula — Olha, meu caro Costa Filho, obrigado pela pergunta. O que eu posso te dizer antecipadamente é o seguinte: nós estamos retomando 14 mil obras que foram paralisadas desde o momento em que houve o impeachment da Dilma. São 14 mil obras, quatro mil delas em escolas. Só para você ter ideia o que vai acontecer. Este ano nós temos R$ 23 bilhões para investir na área de transporte, contra R$ 20 bilhões que foi investido nos quatro anos passados.
Ou seja, nós vamos, este ano, fazer mais investimento do que foi feito nos quatro anos do governo passado. Isso porque a gente não sabe o que é que foi feito no governo passado, a não ser fake news, a não ser mentira, a não ser provocação, porque as coisas não acontecerem. Em cada estado que eu vou, eu pergunto se alguém lembra de alguma coisa que foi feita, ninguém lembra de nada que foi feito. O que eu posso te dizer é que o nosso ministro Renan Filho está retomando todas as obras.
Eu já vou aí amanhã mesmo, enquanto eu estiver inaugurando a Ferrovia Norte-Sul, terminar, o nosso ministro vai sobrevoar o contorno de Itajaí, que também será inaugurado. E nós vamos retomar todas as obras, definindo prioridade.
Você se lembra que quando tomei posse, logo em seguida eu convidei uma reunião dos 27 governadores de estado, e o governador Caiado foi, para que a gente fizesse o levantamento das principais obras de interesse de cada estado. Esses projetos foram mandados.
Eles estão estudados e, agora, a partir do dia 2 de julho nós vamos anunciar o novo PAC, ou seja, uma nova, sabe, um novo começo de reconstruir tudo que ficou parado neste país e aquilo que precisa ser feito de novo. Porque tem muita coisa para ser feita nesse país na área de transporte e nós vamos aproveitar esse mandato para que a gente possa recuperar o nosso país e fazer com que a sociedade brasileira tenha cada vez mais a certeza de que o Brasil vai voltar a sorrir outra vez.
Locutora Ravena — Eu quero cumprimentar agora o colega, o jornalista José Luiz, da Rádio Interativa, que também vai perguntar ao presidente. José Luiz, bom dia.
Jornalista José Luiz — Bom dia, Ravena. Bom dia, Costa. Bom dia, Caio, emissoras que, orgulhosamente, fazem parte da nossa associação. Presidente, nós temos uma associação, que é a AGORA, a Associação Goiana de Rádios Comerciais, na qual eu tenho orgulho de ser presidente. Então, eu saúdo essas três emissoras que compõem com a gente a nossa associação: Morada do Sol, Líder, de Rio Verde; e Rádio Sucesso, de Goiânia. Saúdo os companheiros. E, presidente Lula, a gente tá chegando agora aos seis meses de seu o governo. Um governo que começou, todo mundo se lembra, de uma forma muito conturbada, uma tentativa de golpe no 8º dia de governo. Aquele primeiro mês foi praticamente perdido aí com aquele tumulto todo. Estamos chegando aos seis meses, onde o senhor tem visto aí várias notícias positivas com relação à economia. Muita coisa boa acontecendo, inclusive, surpreendendo. Números com relação à inflação caindo, PIB subiu mais do que aquilo que estava previsto, o varejo ainda não deslanchou. Temos muitos outros problemas. E o senhor sabe que Goiás, por exemplo, é um estado onde o senhor, sabe, teve cerca de 41,3% dos votos no segundo turno. Rio Verde, onde o senhor vai estar, que é uma cidade altamente influenciada pelo Agro, o senhor teve 37,7% dos votos no segunda turno lá. O senhor sabe que esse é um segmento que o senhor tem que conquistar. O segmento do Agro e, inclusive, estas pessoas que tinham terror que o senhor ganhasse, entre outras coisas, muitas delas disseminavam que: "não, se o Lula ganhar, a propriedade privada, as fazendas não vão ser respeitadas, vão invadir tudo, etc." O que o senhor, além do Plano Safra, que a gente sabe que vai ser lançado, e das ações que já estão sendo feitas pelo seu governo para conquistar esse segmento do Agro, o interior de Goiás. O que o senhor pretende fazer para tentar reverter esse quadro desfavorável nessa área?
Presidente Lula — Olha, primeiro, companheiro José Luiz, eu quero agradecer aos ouvintes da Rádio Interativa, que estão nos ouvindo. E dizer pra você, primeiro com relação à economia. Eu tive a semana passada, em Hiroshima no Japão, discutindo política econômica com o G7. E lá eu tive a oportunidade de conversar com a diretora do Fundo Monetário Internacional, que fazia uma previsão de crescimento de 0,9% do PIB aqui no Brasil.
E eu disse para ela que eu queria encontrar com ela no final do ano, porque eu vou no final do ano na Índia, numa reunião do G20. E eu quero, no final do ano, provar para ela que ela estava errada com relação ao PIB brasileiro. Nós vamos crescer mais do que 0.9%, nós vamos crescer acima de 2, 2,5%. E se acontecer o que eu tô pensando a gente pode até crescer um pouco mais. Por quê?
Porque a primeira coisa que nós fizemos foi retomar todas as políticas sociais que estavam funcionando corretamente, ou seja, políticas sociais que vão irrigando dinheiro na base desse país, para o pequeno produtor, para o pequeno empreendedor, para as pessoas do Bolsa Família, para as pessoas que estão na Previdência Social esperando a sua fila para se aposentar. Ou seja, esse dinheiro começou a voltar, inclusive voltar o dinheiro para a cultura. Então, eu estou convencido, eu quero você grave o que eu estou te falando. Se você quiser, no final do ano, José Luiz, você me ligue, para mim fazer outra entrevista na Rádio Interativa que eu vou mostrar pra você que o PIB cresceu, a economia brasileira vai tá estável, o Brasil reconquistou credibilidade internacional.
E aí, todo mundo vai imaginar que o Brasil vai voltar a ser aquilo que ele foi em 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, quando a gente crescia muito, 7,5%, e o comércio varejista vendia acima de 10%. Isso vai voltar a acontecer, obviamente que não hoje, porque governar é como plantar uma semente de uma árvore, você tem que irrigar e esperar brotar, pra depois começar a dar frutos. Com relação ao Agronegócio, eu não trabalho assim.
Eu não trabalho tentando agradar um setor, outro setor, porque senão você fica maluco. São milhares de setores no Brasil. Eu trabalho para criar condições melhores para o trabalho de 215 milhões de brasileiros, dentre eles o Agronegócio. Se você conhecer uma pessoa do Agronegócio, em Rio Verde, pergunte pra ela se teve algum momento na vida dela, se teve algum momento, eu vou repetir: Se você conhecer alguém do Agronegócio, alguém que é muito reacionário, alguém que é contra o Lula, alguém que é contra o PT, pergunte pra ele, colocar na mesa números, se houve algum momento na história dele que o Agronegócio recebeu tantos recursos como no governo do PT. Pergunte para eles.
Pergunte para eles quanto é que eles pagavam uma máquina destas colheitadeiras, toda automatizada, no governo do PT. Eles pagavam 2% de juro ao ano. Hoje eles pagam 14% ou 18% de juro ao ano. Então, você, eu tenho noção do que nós fizemos, eu tenho noção que o problema deles conosco é ideológico, não é um problema de dinheiro a mais no Plano Safra. Nós vamos fazer um bom Plano Safra, porque nós queremos que a agricultura brasileira continue produzindo, continue plantando cada vez mais, pra gente continuar exportando cada vez mais.
Eu não quero saber se o produtor rural gosta de mim ou não. Não é isso que tá em jogo. O que tá em jogo é a gente recuperar a capacidade produtiva desse país e aumentar a capacidade produtiva desse país, sem desmatamento e sem queimada na Amazônia. É preciso ficar claro isso, que nós não precisamos derrubar uma árvore para criar uma cabeça de gado ou para plantar um hectare de soja. Nós temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas e que a gente pode dobrar a nossa produção agrícola.
É preciso que a gente tenha consciência da racionalidade que tem que prevalecer na nossa política internacional. Porque, eu não sei se você percebeu, ontem o Senado francês, o Parlamento francês, disse que não vai votar o acordo Mercosul-União Europeia por causa da quantidade de veneno utilizado nos produtos agrícolas brasileiro.
É importante a gente levar em conta que ser racional, cuidar da agricultura de boa qualidade é uma necessidade competitiva do Brasil, para a China e para França, para os Estados Unidos e para a Alemanha. E é assim que eu quero tratar o Agronegócio. Eu quero tratar o Agronegócio como eu quero tratar o pequeno produtor rural. Nós temos mais de 4,6 milhões de propriedades até 100 hectares. Essas pessoas produzem a galinha caipira que a gente come, o ovo que a gente come, o leite que a gente toma, o feijão que a gente come. Essa gente também tem que ser tratada com muito respeito, porque se um do Agronegócio tem um valor extraordinário para produzir commodities pra gente exportar, o outro tem uma extraordinária coragem de plantar aquilo que a gente vai comer.
Então, nós vamos cuidar da agricultura com o respeito que a agricultura merece. Inclusive, vamos a recuperar a Conab para que a gente tenha, sabe, o estoque regulador, para que a gente possa garantir preço mínimo pro cidadão que vai plantar cebola, que vai plantar alho, que vai plantar feijão, para que ele não tenha prejuízo no ano por conta de qualquer intempérie. É assim que a gente vai tratar. E o recado que eu dou é esse: eu não estou preocupado com que fulano, sicrano pensa de mim. Eu estou preocupado que essas pessoas forem honestas consigo mesmo, as pessoas têm que dizer em alto e bom som: "nunca antes na história do país" a agricultura foi tão bem tratada como foi no governo Lula.
Locutora Ravena — Você está acompanhando uma coletiva de imprensa, né, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega a Goiás amanhã, sexta-feira, para a inauguração de uma importante obra, a Ferrovia Norte-Sul, que vai impulsionar o setor produtivo do estado de Goiás. Estamos transmitindo para Rádio Interativa, juntamente aqui em Goiânia, também com a Rádio Líder e também a Rádio Morada do Sol, em Rio Verde. E o Grupo Sucesso de Comunicação está divulgando, está transmitindo essa coletiva de imprensa para Buriti Alegre, Itumbiara, Catalão, Jaraguá, Jataí, São Luís de Montes Belos e também Brasília e todo o entorno de Brasília. E vamos transmitir também parte dessa entrevista pra as emissoras de TV afiliadas da Record, a TV Sucesso Record. Vamos transmitir também pra Canápolis, Minas Gerais; Camaçari, na Bahia; e Rio de Janeiro. Vamos agora passar a palavra para o jornalista Cairo Santos, que faz a pergunta. Cairo, bom dia.
Jornalista Cairo Santos — Bom dia, Ravena. Bom dia, Zé Luiz. Bom dia ao colega Costa Filho, né. E um bom dia especial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quero dizer, meu presidente, que Rio Verde está muito feliz por recebê-lo aqui amanhã e dizer também que a gente fica mais feliz ainda pelo senhor ter escolhido a nossa cidade para estrear a sua visita ao estado. Então, muito obrigado mesmo por estar a vindo a Rio Verde. Eu quero falar de política, viu presidente Lula, e na área de articulação. Circula nos bastidores que lideranças petistas estariam insatisfeitas com a demora do governo em nomear os ocupantes dos cargos federais aqui no estado. Inclusive, estão temendo que aliados de última hora, aqueles que chegaram nos parabéns, ocupem cargos até mais importantes do que os petistas aqui no estado. Outro ponto, presidente, o estado, Goiás esteve muito presente na agenda da última gestão federal, na agenda do presidente Bolsonaro. Essa visita a Rio Verde é um indicativo de que o estado vai continuar prestigiado pelo Governo Federal, o senhor vai vir mais vezes ao estado, presidente?
Presidente Lula — Olha, Cairo, bom dia, querido, bom dia a você. Bom dia aos ouvintes da Rádio Líder. E eu queria dizer pra você que o meu tratamento ao estado de Goiás é o mesmo tratamento que eu darei ao estado do Rio, ao estado de São Paulo, ao estado do Maranhão, ao estado de Pernambuco, ao estado da Bahia, porque um presidente da República quando ele mantém uma relação com o governo do estado é uma relação entre federados, é uma relação institucional.
Eu não tenho nenhuma preocupação porque o Caiado é de um partido político adversário do meu. O que importa para mim é Caiado foi eleito governador do estado de Amazonas, de Goiás. O que importa para mim é que ele foi eleito pelo povo. Então, eu vou tratá-lo com o respeito que eu tratarei qualquer outro governador e o estado de Goiás receberá os recursos de acordo com os projetos que forem apresentados ao Governo Federal.
É por isso que eu disse na outra pergunta que a primeira coisa que eu fiz foi convocar uma reunião dos 27 governadores. É a terceira reunião que eu faço em seis meses, contra nenhuma nos outros seis anos. E, eu faço isso porque eu não acho possível a gente governar o país sem ouvir os governadores.
Ontem eu fiz uma reunião com os prefeitos. Eu não acho possível governar o país sem ouvir os prefeitos, porque nos prefeitos é aonde tá o problema da saúde, da educação, do transporte. É ali que o povo reclama, é ali que o povo xinga, é ali que o povo tem contato com o prefeito. Então, tenho que respeitar os prefeitos, respeitar os governadores e tratá-los da forma decentemente. Você vai ver que todas as vezes que eu vou a Goiás, e eu vou muitas vezes a Goiás, porque já fui muitas vezes a Goiás, eu vou tratar o governador Caiado como se ele fosse a pessoa mais próxima de mim possível. E assim farei com todos os governadores do Brasil porque o que me interessa é o respeito pelo voto que ele recebeu e por isso eu vou tratá-lo com muita dignidade.
E Goiás vai receber a quantidade de obra de acordo com a importância de Goiás. Goiás é um estado muito importante no trânsito dos produtos desse país, sobretudo, para agricultura. E nós iremos fazer tudo. E a inauguração dessa ferrovia, Cairo, é uma coisa extremamente importante, é muito importante. Eu vou com muito orgulho. Eu convidei o presidente Sarney, que eu quero levar ele, porque eu e a Dilma temos responsabilidade por 90% dessa obra, que já deveria estar concluída no próprio governo da Dilma, mas é que tem tanto empecilho, tanta coisinha, tanta coisa que atrapalha, se eu for falar para você aqui, eu vou passar um mês falando. Eu vivi muito isso. E eu acho que essa estrada vai ser, essa ferrovia, vai ser uma coisa extremamente importante para o transporte dos produtos que são produzidos no estado de Goiás.
E nós vamos continuar fazendo ferrovias em outros estados para que a gente possa, de uma vez por todas, ter um sistema intermodal de transporte em que a gente possa combinar a rodovia, ferrovia e também o transporte marítimo para que esse país possa, sabe, diminuir o Custo Brasil, porque um desses custos significa a má qualidade, muitas vezes, do transporte, sobretudo, da Região Norte do país. Nós vamos tratar com muito carinho, ô Cairo, você pode ter certeza. E eu te espero amanhã em Rio Verde, espero que você esteja lá para que a gente possa agradecer, inclusive, essa entrevista.
Locutora Ravena — Presidente, o colega Costa Filho até fez a pergunta, mas eu fiquei ainda na dúvida em relação a um sonho para os moradores da região Sudoeste, um sonho para os caminhoneiros e até mesmo para os produtores rurais, que é a duplicação da BR-364, que liga Jataí, aí, até Rondonópolis. Que seria, claro, facilitaria muito, aí, o escoamento de grãos, o transporte de grãos. O vice-governador Daniel Vilela, me parece, até que chegou a reunir com o senhor no mês de março. E o ministro do seu governo teria até dito que existe um estudo para essa duplicação. Nós sabemos que a BR-060 foi duplicada no governo Dilma Rousseff. E agora esse sonho, aí, dessa duplicação de Jataí até Rondonópolis. É uma via muito importante porque liga o estado de Goiás ao Mato Grosso, ao Mato Grosso do Sul. E, nós do Centro Oeste do Brasil, nós somos os responsáveis pela agricultura. O senhor tem aí uma expectativa de quando poderia ser iniciado essa obra de duplicação, presidente?
Presidente Lula — Ô, Ravena, amanhã vai estar comigo em Rio Verde o ministro dos Transportes e, se você tiver lá, eu vou pedir para ele falar para você, ou falar na fala dele o que que ele vai fazer no estado de Goiás, do ponto de vista de rodovia. Se essa rodovia tem a importância que você está falando, obviamente que ela será levada em consideração pelo Governo Federal. E eu penso que ela foi levada em consideração pelos projetos que Goiás apresentou na Casa Civil, na primeira reunião que eu fiz com os governadores. Então, se você tiver amanhã, vou pedir pro nosso ministro falar quais são as obras de infraestrutura prioritárias que nós vamos cuidar no estado de Goiás.
Ô, Ravena, eu quero pedir, pedir desculpas ao Cairo, porque o Cairo fez uma pergunta política e eu não respondi e eu não queria fugir da pergunta política que envolve o PT. Ô, Cairo, eu queria te dizer o seguinte aqui. A primeira coisa mais normal que existe na política é divergência. Agora, não existe divergência por distribuição de cargo no estado de Goiás com o PT, e o nosso ministro que é responsável de discutir essas relações políticas, que é o ministro Padilha.
Ou seja, nós estamos montando um governo, nós estamos tentando reconstruir o país. Você sabe que foi aprovada agora a lei para que seja, sabe, montado totalmente o nosso governo e nós vamos fazer tudo que nós assumimos de responsabilidade com os partidos aliados. Afinal de contas, quando a gente assume um compromisso, a gente cumpre. Porque se a gente não cumprir o compromisso fica muito mais cara a governança depois. E, obviamente, que o PT é o partido que elegeu o presidente da República, o PT participará do governo no Brasil e participará em Goiás. Então, eu não conversei com nenhum companheiro de Goiás ainda, mas, agora, depois da tua pergunta eu vou me interessar em conversar com os companheiros de Goiás para saber aonde é que o calo tá doendo. Porque eu penso que o Padilha trata todo o mundo com o máximo de respeito, com o máximo decência, e a gente não quer que ninguém fique lamentando pelos cantos. A gente quer, sabe, que tudo seja feito à luz do dia. Se o PT vai ter cargo em Goiás, o PT vai ter cargo em Goiás, mas os outros partidos aliados também vão ter cargos em Goiás. É importante que a gente repartiu a nossa vitória, nós temos que repartir a governança desse país.
Locutora Ravena — E, agora, eu passo a palavra para o colega jornalista Costa Filho, que faz, aí, a sexta pergunta da nossa rodada de conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Jornalista Costa Filho — Presidente Lula, o senhor nos governos anteriores sempre prestigiou o povo pobre brasileiro, sempre o seu linguajar nesse sentido. Agora, o senhor volta ao poder e deu uma reanimada no povo pobre pra ter a oportunidade de comprar o seu carro, pra levar o filho, neto na escola, ir ao atacadista fazer compra, e essa coisa toda. E a gente, eu li nos jornais que está esbarrando em alguma coisa. O senhor tomou a decisão. E agora como é que tá essa situação? A Selic 13.75%, o senhor e o Roberto Campos Neto, visando o interesse público nacional, já acertaram os ponteiros, presidente Lula?
Presidente Lula — Ô, Costa Filho, obrigado pela pergunta. Olhe, a primeira coisa que eu digo para todo mundo é o seguinte: eu sou o presidente da República de 215 milhões de brasileiros, mas todo mundo tem que saber que a minha prioridade principal é alavancar, é fazer com que os mais pobres possam subir um degrau no ascenso, sabe, social desse país. É por isso que eu digo o seguinte: o milagre do meu governo em 2003 e 2007, até 2010, foi a inclusão dos pobres no Orçamento da União.
E nós estamos fazendo isso com o Bolsa Família, agora. Veja que nós começamos dando R$ 600 para a família, mais R$ 150 para cada criança até seis anos de idade. E amanhã começa outra vez, R$ 50 por cada filho até 17 anos. É porque nós queremos acabar com a pobreza definitivamente. É importante. Nós tínhamos acabado com a fome no Brasil em 2012, isso reconhecido pelas Nações Unidas e eu volto com 33 milhões de pessoas passando fome. Não tem explicação. Esse país é o terceiro maior produtor de alimentos do planeta. Esse país é maior produtor de proteína animal do mundo. Por que é que as pessoas têm que passar fome nesse país?
Então, nós vamos cuidar disso com muito carinho. E ontem, ontem, Costa Filho, eu fiz uma reunião com os varejistas do Brasil. Estavam presentes 40 representantes do varejo no Brasil e nós discutimos a questão de juro, a questão do emprego e a questão da retomada do crescimento da economia, que é tudo que eu preciso. Eu não quero um país, sabe, que seja um país com a maioria pobre, eu quero um país que a maioria seja de classe média. Eu quero que o povo trabalhador ganhe o suficiente para comprar aquilo que ele produz, para comer aquilo que ele quer, para vestir aquilo que ele gosta. Eu não fiz a opção para que o pessoal seja pobre. Ninguém gosta de ser pobre. Ninguém gosta de ficar vivendo de Bolsa Família. Ninguém gosta de ficar vivendo de favor.
As pessoas querem viver do seu trabalho, as pessoas querem sustentar sua família com o suor e o sangue do seu trabalho. E é isso que eu quero construir nesse país. É por isso que eu fiz uma reunião com os varejistas ontem e teve muita crítica, muita crítica à taxa de juro, porque não tem explicação nesse país uma taxa de juro a 13,75 com a inflação a 4,5%. Não tem nenhum sentido, não tem nenhuma explicação.
Nós não temos, não temos inflação de demanda, o povo não tá comprando, o povo não está comprando. O povo. Nós temos 72% da população brasileira endividada, e nós estamos, agora, fazendo um programa chamado Desenrola, pra ver se a gente consegue resolver parte destas pessoas que estão endividadas, para eles voltarem ao mundo do comércio outra vez e poderem comprar outra vez. As pessoas estão endividadas no cartão de crédito porque compraram comida. Então, nós temos que tentar ajudar essa gente. São 72% da população brasileira endividada que nós vamos tentar, nós estamos apenas esperando um aplicativo para que a gente possa colocar um fundo garantidor, para que os bancos possam comprar essa dívida, obviamente, que pagando mais barato, para que o povo brasileiro fique livre da dívida. E aí o comércio vai voltar a funcionar normalmente.
E eu acho que nós precisamos construir um país onde todos, todos vivam do seu trabalho e todos tenham um padrão de vida de classe média. É isso que que quero. Não precisa ser a classe média rica, não. O que é que a classe média? É um trabalhador que ganha 6, R$ 7 mil, ele quer morar numa casinha melhor, ele quer ter móveis bons, quer ter um computador bom, quer ter um televisor bom, ele quer ter um carrinho. E nós temos que facilitar a vida dessa gente para que ele tenha acesso a essas coisas. As pessoas não podem viver mendigando todo dia o prato de comida que vai almoçar ou que vai jantar. Então, esse país nós já fizemos uma vez e nós vamos repeti-lo.
Esse país vai voltar a crescer, vai voltar a gerar empregos, vai voltar a aumentar salário, o salário mínimo vai aumentar todo ano acima da inflação. Isso vai acontecer porque é para isso que eu voltei e foi para isso que o povo me elegeu.
Locutora Ravena — Palavra para o jornalista José Luiz, que faz a pergunta.
Jornalista José Luiz — Presidente Lula, a gente sabe que, nos últimos quatro anos, a preservação do meio ambiente, ela tinha ficado em segundo, terceiro, quarto plano. E nós sabemos que, ao contrário do que muita gente pensa, reservar a natureza hoje significa, inclusive, a possibilidade de você ganhar e ganhar muito dinheiro. A gente tá muito focado, agora, no agro. O senhor vem a Rio Verde amanhã, vai lançar a Ferrovia Norte-Sul, estará nessa importantíssima região produtora do Brasil, que é aqui no Estado de Goiás. Como colocar na cabeça dessas pessoas que preservar a natureza e o nosso Cerrado. A gente fala muito Amazônia, da Amazônia, da Amazônia, e o Brasil está tendo de volta vários investimentos. O Fundo Amazônia volta praticamente a existir, com altos investimentos, inclusive de fora, para que nós preservemos a natureza. Agora, nós estamos no Cerrado, que é um bioma muito importante também. E o desmatamento no Cerrado, no ano passado, aumentou em mais de 32%. A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, que fazia parte do governo anterior, falou exatamente alguns anos atrás, o que o senhor disse em uma resposta anterior. "Nós para aumentarmos a produção não precisamos derrubar mais nenhuma árvore e nós não precisamos de tanto veneno como aprovaram nos últimos quatro anos." Como fazer para preservar o nosso Cerrado, que é tão importante quanto a Amazônia, e como fazer para conscientizar o agro de que colocar veneno não é importante, colocar veneno não é interessante, desmatar não é interessante, é um tiro no pé porque o agricultor, o pecuarista, sem água a propriedade dele não vale nada. Não vale nada para vender, não vale nada para produzir, porque sem água não existe pecuária, não existe agricultura. O que fazer para colocar isso na cabeça das pessoas e para tentar, assim como o senhor tá fazendo com seu governo para tentar salvar a Amazônia, o que fazer para tentar salvar o nosso Cerrado?
Presidente Lula — Zé Luiz, obrigado pela pergunta. Olha, eu queria começar dizendo que eu não conheço a ministra Tereza Cristina, mas eu tenho informações e tenho a impressão de que ela é uma mulher muito séria e ela deve ter falado a verdade. Porque ela era contra o desmatamento. Acontece que ela tinha um presidente que estava pouco se lixando para a preservação. O que ele queria era derrubar, sabe, as cercas para a boiada entrar em qualquer lugar, por pura ignorância, por pura ignorância.
Porque é o produtor rural, hoje no Brasil, aquela pessoa séria, aquela pessoa que vive da produção e da exportação, ele sabe que será prejudicial para os seus negócios a gente extravasar em queimadas e entrar em terras que não pode entrar e poluir rio que a gente não pode poluir. Eles sabem disso. Eu citei agora há pouco o exemplo do Parlamento francês que não quer fazer acordo com Mercosul porque ele quer mudança no comportamento brasileiro com relação à agricultura.
Todo agricultor inteligente e todo agricultor de bom senso sabe que a preservação ambiental é um valor a mais para os produtos que a gente tá produzindo para exportar. Então, eu queria te dizer o seguinte: nós assumimos um compromisso de desmatamento zero na Amazônia, mas nós temos que cuidar do Cerrado, temos que cuidar da Caatinga, temos que cuidar do Pantanal, temos que cuidar da Mata Atlântica. Esses dias queriam fazer um gasoduto na Mata Atlântica. Ou seja, é total irresponsabilidade de alguém que só pensa em ganhar dinheiro e não pensa na preservação do planeta. Nós queremos preservar o nosso planeta.
Vou te dizer uma coisa, Zé Luiz, nós vamos ser muito duro na fiscalização e na punição das pessoas. Nós vamos ser muito duro. A Polícia Federal vai agir, a Força Nacional vai agir, a Justiça vai agir e nós estamos, inclusive, contratando um novo concurso para o Ibama. Porque, quando eu deixei a presidência, o Ibama tinha 1.700 funcionários. Hoje, o Ibama só tem 700 funcionários. Não tem nem a capacidade necessária para fiscalização. Nós estamos monitorando isso agora, sabe, de forma extraordinária, via satélite, e nós vamos ser muito duro. Nós vamos ser muito duros, com aqueles que estão descumprindo a lei e vamos ter muito bom senso e tratar decentemente aqueles que estão cumprindo a lei, aqueles que sabem que a preservação é um valor a mais nos produtos que nós fazemos nesse país.
Locutora Ravena — O jornalista de Rio Verde, Cairo Santos.
Jornalista Cairo Santos — Presidente Lula, o senhor é oriundo do movimento sindical, conhece bem essa seara. Os sindicatos brasileiros, principalmente os pequenos, presidente, têm passado por muitas dificuldades de custeios, depois do final da contribuição sindical obrigatória. Qual é o projeto desse seu governo, desse seu terceiro governo, para ajudar, aí, os sindicatos, principalmente os menores, os pequenos que estão tendo muita dificuldade de custeio, presidente?
Presidente Lula — Olha, Cairo, eu estou com um movimento sindical, nesse instante, participando de uma comissão tripartite entre governo e empresários e trabalhadores para que a gente estabeleça um novo pacto entre capital e trabalho, para que a gente faça uma legislação trabalhista que seja condizente com o século 21, com a década de 20, e não com a década de 40. Nós pretendemos fazer com que o movimento sindical volte a ficar forte porque é bobagem alguém imaginar que o sindicato fraco ajuda, não ajuda em lugar nenhum do mundo. O sindicato tem que ser forte, tem que ser participativo, ele tem que ser duro na luta, porque somente assim os trabalhadores brasileiros serão respeitados. E nós vamos trabalhar isso com muito, com muito. Ontem, eu fiz a reunião com os varejistas, o Sindicato do Comércio participou e falou igual aos empresários. É preciso parar com esta pequenez de que acha que o Sindicato tem que ser pobre, tem que ser fraco, sindicato não pode fazer nada.
O sindicato quanto mais forte, mais democracia existe no país; quanto mais forte, mais os trabalhadores vão ganhar; quanto mais forte, mais a sociedade vai ganhar com o exercício da democracia brasileira. Por isso é que nós vamos fazer uma coisa muito importante, uma nova estrutura sindical, que eu espero que os dirigentes sindicais e os empresários tenham a competência de compreender o momento que isto é uma vivendo
Locutora Ravena — Bom, nós encerramos essa coletiva de imprensa por vídeo conferência agradecendo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo tempo ofertado para responder às dúvidas aqui da imprensa do estado de Goiás. Agradecer aos colegas, José Luiz, da Rádio Interativa de Goiânia; Costa Filho, da Rádio Morada do Sol, de Rio Verde; e Cairo Santos da Rádio Líder, de Rio Verde. E a gente aguarda o senhor aqui, presidente, amanhã, sexta-feira, para a inauguração da Ferrovia Norte-Sul. E, já tem gente de Jataí perguntando se o presidente vai dar um pulo lá na cidade, já que é tão pertinho, apenas 70 quilômetros, apenas uma hora de viagem, até porque tem também a inauguração de um anel viário ali; e perguntar se o senhor está com receio de ser mal recepcionado uma vez que aquela região, maioria votou no presidente Bolsonaro. Presidente Lula, muito obrigada pelo tempo tirado para nós.
Presidente Lula — Ravena, eu quero agradecer a você, ao José Luiz, ao Costa Filho e ao Cairo Santos. E quero te dizer, Ravena, que as eleições acabaram. A gente briga, a gente xinga, a gente disputa, quando a eleição acaba, a gente tem que governar, a gente não tem que ficar preocupando se eu tive 10 votos, 20 ou 30 numa cidade ou se eu tive mil. As pessoas serão tratadas porque são seres humanos brasileiros, que vivem nas cidades brasileiras, que produzem para esse país e que, portanto, nós temos que tratá-los dignamente. E assim será feito também em Rio Verde.
Por isso, Ravena, muito obrigado a todos vocês. E eu espero que a gente possa fazer uma nova entrevista quando vocês entenderem que é necessário.
Um abraço e um beijo no coração de todos vocês.