Entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Jornal Folha de Pernambuco (PE)
Folha de Pernambuco — O senhor cumpre agenda em Pernambuco para retomar obras estruturadoras para o Estado e região como a refinaria Abreu e Lima. O que podemos esperar de anúncios de investimentos nesta visita e nas próximas?
Presidente Lula — Você não sabe a minha satisfação em anunciar a retomada da ampliação da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) e de investimentos no Complexo Industrial Portuário de Suape, que fazem parte do Novo PAC. Obras que já deveriam ter sido concluídas, mas que foram interrompidas por uma visão menor de desenvolvimento do Brasil, por um processo ensandecido onde se destruíam empresas e empregos ao invés de punir os criminosos. No final, as maiores vítimas foram o Brasil e seu desenvolvimento.
O investimento de R$ 8,6 bilhões vai ampliar o processamento da refinaria, dobrando a capacidade de refino para 260 mil barris/dia. Essas obras têm o potencial de gerar 30 mil empregos diretos e indiretos e R$ 1,2 bilhão de massa salarial por ano. Atualmente, há mais de mil trabalhadores nas obras.
E irão reduzir a dependência do Brasil de combustível importado. O país não tem porque ser mero exportador de óleo cru e importador de derivados. Temos tecnologia, temos profissionais para não ficarmos na situação que ficamos por anos com o preço da gasolina subindo em dólar.
No Porto de SUAPE, há um conjunto de ações que o consolidarão como o maior porto do Nordeste e um dos maiores do Brasil. Há 10 projetos estratégicos que preveem cerca de R$ 4 bilhões em investimentos para os próximos anos, sendo R$ 488 milhões do Novo PAC e outros R$ 3,6 bilhões privados.
E o Novo PAC está só começando. Até 2027, estão previstos investimentos de R$ 46,8 bilhões em Pernambuco. São R$ 18,2 bilhões em investimentos diretos no estado e R$ 28,6 bilhões em projetos regionais. Além da Refinaria de Abreu e Lima e do Porto Suape, estão incluídos no PAC a adequação da BR-423 (São Caetano - Lajedo) e da BR-104 (Caruaru - Divisa PB); as adutoras do Pajeú (2ª Fase) e do Agreste Pernambucano (1ª Etapa); recuperação do patrimônio histórico de Recife, Olinda e Fernando de Noronha; e conclusão da Fábrica da Hemobrás em Goiana. E muitos outros investimentos ainda virão, com base nos projetos encaminhados pelo governo estadual e pelos municípios em áreas como educação, saúde, cultura, mobilidade urbana, para citar algumas. Até o final deste mês, vamos anunciar os resultados das seleções do Novo PAC e o povo de Pernambuco será atendido em várias áreas.
Folha de Pernambuco — Podemos esperar o anúncio da Escola de Sargentos nesta visita?
Presidente Lula — Vejo com muita satisfação a decisão do Exército de construir uma das maiores escolas de formação de sargentos do mundo. O projeto é complexo, pois além da escola, serão construídos, um batalhão de comando e serviço e uma vila militar, onde estima-se viverão 6 mil pessoas. Estamos falando de um investimento de mais de R$ 1,7 bilhão, que deve gerar quase 12 mil empregos diretos e 18 mil indiretos só com a execução da obra. A escola será um centro de formação do mais alto nível, e o conjunto do empreendimento trará impactos positivos para seu entorno, estando prevista a injeção de R$ 200 milhões por ano na economia local só em folha de pagamento.
O Exército fez um estudo minucioso entre as possíveis localidades para sediar a escola, e fico feliz que tenha sido escolhido o estado de Pernambuco como o local mais adequado. E faremos todo o possível para evitar qualquer desmatamento desnecessário e para preservar a reserva de Mata Atlântica da APA Aldeia-Beberibe.
Folha de Pernambuco — O trecho de Suape até Salgueiro da Transnordestina é um pleito bastante aguardado por lideranças do Estado. Podemos ter algum anúncio em breve?
Presidente Lula — A Ferrovia Transnordestina é um empreendimento estruturante para o Nordeste que nós iniciamos, chegando a empregar 10 mil pessoas no semiárido. Infelizmente, os governos anteriores não priorizaram essa relevante ação e a obra ficou inacabada. Para tornar mais complexo o desafio, o Governo passado decidiu retirar da concessão o trecho pernambucano, de Salgueiro a Suape, excluindo o Estado de Pernambuco da estratégia de desenvolvimento regional. A Ferrovia Transnordestina está no PAC com o trecho Salgueiro-Suape. Meu governo possui o firme propósito de garantir uma solução definitiva para a conclusão da Ferrovia Transnordestina. Os trechos localizados no Ceará e no Piauí foram retomados e estão sendo intensificados.
Folha de Pernambuco — O senhor vem mantendo uma boa relação institucional com a governadora Raquel Lyra, mesmo o PT fazendo oposição em Pernambuco. Ao mesmo tempo, a governadora vem fazendo gestos de aproximação e elogiando as parcerias com o Governo Federal. O senhor acredita em uma aproximação política com a governadora, além da relação institucional?
Presidente Lula — Logo que eu assumi a Presidência da República pela terceira vez, defini como prioridade a reconstrução das relações republicanas entre o presidente e todos os governadores e prefeitos, independente de partidos. Nós fomos eleitos para cuidar de todos os brasileiros e brasileiras. Portanto, a excelente relação que tenho hoje com a governadora Raquel Lyra é fruto do entendimento comum de que as eleições passaram e que temos de trabalhar juntos pelo povo de Pernambuco. Tenho tido um bom diálogo com a governadora.
Folha de Pernambuco — Como o senhor acredita que vai ser a relação com o Congresso neste ano?
Presidente Lula — A relação no congresso, o diálogo, faz parte do trabalho do dia a dia. Assim como foi em 2023, quando aprovamos muita coisa e o pessoal que fica espalhando bobagem na rede social não achava que conseguiríamos. Aprovamos a Reforma Tributária depois de 40 anos de tentativas fracassadas, a política de valorização do salário mínimo e a recriação de programas sociais importantes como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Isso tudo é o resultado de trabalhar todo o dia, de muita conversa. Eu espero que a gente siga trabalhando juntos nas agendas boas para o país, de avanços sociais e econômicos, porque estamos todos juntos nesse barco.