Entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao canal de notícias GloboNews
Presidente Lula – Foi aí que ele me disse o seguinte: “Presidente, eu tô preocupado porque pode ter uma chacina".
Presidente Lula – Alguém deixou de me contar a quantidade de ônibus que chegou do interior de outros estados no dia 7 à noite.
Presidente Lula – Quando eu chego no hotel à noite, começa uma bagunça - uma bagunça organizada, com a aquiescência da polícia de Brasília, com aquiescência de todas as autoridades daqui de Brasília. Porque as pessoas tocavam fogo em ônibus; as pessoas invadiram prédio da Polícia Federal.
Presidente Lula – Quando foi no domingo, tinha dado uma chuva muito forte em Araraquara, muito forte e tinha causado um buraco muito grande na avenida principal.
Presidente Lula – Então, eu falei para Janja: “Vamos passar em Araraquara antes de a gente chegar a Brasília, para a gente ver o que a gente pode fazer com Edinho".
Presidente Lula – Aí o Edinho me mostrou o pessoal começando a invadir; não tinham invadido ainda. Eu liguei para o Gonçalves, liguei para o Gonçalves para perguntar: “Gonçalves, o que está acontecendo?”
Presidente Lula – Ele disse: "Nada, está tudo sob controle, está tudo sob controle." Eu falei: "Gonçalves, as pessoas estão entrando. Eu estou vendo pela televisão".
Presidente Lula – "Não, pode deixar que eu vou dar uma olhada, mas não vai acontecer nada, está sob controle." Eu falei: "Gonçalves, não está sob controle. As pessoas invadiram o Palácio, não tem ninguém lá para dizer não. Não tem ninguém para fechar uma porta".
Presidente Lula – Alô, eles já estão dentro do Palácio. Eu não vi nenhum soldado, nenhum policial. Eu não vi ninguém até agora. É para tirar eles mesmo.
Presidente Lula – Você vê a polícia abrindo espaços para eles passarem, ou seja, houve uma facilitação que eu nunca tinha visto na história desse país.
Presidente Lula – Foi a Janja que marcou, sabe: "Não aceita GLO, porque GLO, tudo que eles querem, é tomar conta do governo”. Se eu dou autoridade para eles, eu tinha entregado o poder para eles.
Presidente Lula – Recebi, recebi e disse que não ia ter GLO.
Presidente Lula – Então, eu tomei a decisão de dizer para o Flávio Dino: "Vamos fazer o que tem que fazer, não tem GLO."
Presidente Lula – Foi uma pequena operação de guerra. Eu recebo pelo celular, mando o pessoal imprimir para mim, sabe, e aí assinei, e tudo bem.
Presidente Lula – Decreto a intervenção federal no Distrito Federal, fica nomeado para o cargo de interventor Ricardo Garcia Cappelli, que é o secretário-executivo do Ministério da Justiça.
Presidente Lula – Eu falei: "Não tem outra coisa a fazer a não ser prender esse governador. Ele está participando do evento, ele é cúmplice disso, ele concordou com isso, ele negligenciou, ele não agiu corretamente, ele não cuidou que a polícia cuidasse das coisas que estavam acontecendo durante todo o período". Todas as manifestações foram de uma semana antes e uma semana depois. Ele era conivente com o caso.
Presidente Lula – Ou a gente permite que cada um cumpra com a sua função, e essa função era da justiça brasileira, não minha.
Presidente Lula – O que era importante é que alguém assumisse o comando da polícia de Brasília; ela estava sem comando. As pessoas que estavam comandando eram favoráveis ao golpe.
Presidente Lula – Porque muita gente dizia: “Lula, não volta pra cá, não volta pra cá, porque eles sabem que você está no hotel”. Eu falei: “Não, eu vou voltar para aí e não vou para o hotel. Eu vou voltar aí e vou para o Palácio do Planalto”.
Presidente Lula – Eu saí do Planalto e fui para o Supremo. Nós já tínhamos visitado todo o Planalto e resolvemos ver o que estava acontecendo no Supremo. Quando cheguei lá, encontrei a Rosa Weber muito emocionada, ou seja, muito abatida. E quando entrei na Suprema Corte, sabe, fazia jus à tristeza que ela estava porque eles destruíram. Inclusive, tinha água para tudo quanto é lado. Ou seja, foi o ato de vandalismo mais forte que já aconteceu nesse país.
Presidente Lula – O comandante deu mais proteção a quem estava acampado do que proteção a quem estava do lado de fora, para tentar tomar conta da movimentação. E aí tinha ficado claro, estava ficando claro que o comandante do Eexército não tinha autoridade de mexer naquilo.
Presidente Lula – Foi aí que aconteceu a história de que ele disse: "Olha, se a gente for tirar agora, pode ter muito problema porque já é tarde da noite, já tinha gente bebido".
Presidente Lula – Foi aí que ele me disse o seguinte: "Presidente, estou preocupado porque pode ter uma chacina aqui. É muita gente, é tarde da noite".
Presidente Lula – Eu vi ele dar uma declaração de que falou comigo e eu concordei; lógico que eu concordei. Eu não queria que tivesse genocídio, eu não queria que tivesse violência. Por isso que eu falei: a gente vai cercar o acampamento, não vai deixar sair ninguém. E eles colocaram o tanque lá muito mais para proteger o acampamento do que para dar força para nós.
Presidente Lula – Não pode parar de investigar enquanto a gente não descobrir, sabe, quem financiou. Porque isso não foi de graça, isso teve gente que financiou.
Presidente Lula – Eu pedi para que os ministros fossem lá conversar com o Arruda para dizer para ele que era preciso acabar de uma vez por todas, sabe, com aquele acampamento. Que não era mais possível ficar aquele acampamento.
Presidente Lula – As pessoas mais sérias não brincaram em serviço; as pessoas mais sérias tomaram as posições que tinham que tomar. E estabelecemos uma normalidade. Tem muita gente que está na mira e pode ficar certo que vai ser encontrado; é apenas uma questão de tempo.