Entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à Rádio CBN Recife
Presidente Lula concedeu entrevista à Rádio CBN Recife, conduzida pelo jornalista Elielson Lima
Elielson Lima: Quero aproveitar e saudar todas as rádios agora: Carpina FM, 104 FM, Naso FM, Goiânia FM, Polo Santa Cruz, Rádio Cultura de São José do Egito, Farol de Taquaritinga, a Gazeta, Pajeú FM, Vila Bela FM, Salgueiro, Sertânia FM, Lagoa Grande FM, Petrolina FM, Rádio Olinda, Sete Colinas, Rádio Marano, Rádio Tabajara, Petrolina, Rádio Beto Som, Integração FM, Buíque, Atual de Vitória, Custódia FM, Litoral FM, Acauã, e também a Farol FM, Surubim FM, Rádio Vila Bela, Serra Talhada, e Rádio Tabocas. Presidente, muito obrigado por receber a gente aqui na sua casa, o Palácio da Alvorada.
Presidente Lula: Só isso de rádio?
Elielson Lima: É, pro senhor ver como Pernambuco está lhe ouvindo hoje.
Presidente Lula: Isso não é um pool, isso é uma... Não tem aí nenhuma rádio da França, nenhuma rádio da Inglaterra? A BBC de Londres não entrou no pool não?
Elielson Lima: Quem sabe na próxima...
Presidente Lula: Ô Elielson, bom dia, querido. É um prazer estar recebendo você aqui no Palácio da Alvorada para que a gente possa conversar um pouco sobre Pernambuco e um pouco sobre o Brasil. Vamos fazer desse programa, já que o Stuckinha tá gravando isso aqui e transmitindo em rede, você não faça um programa só para Pernambuco, vamos perguntar coisas do Brasil inteiro.
Elielson Lima: Pode deixar que aqui a gente pergunta tudo.
Presidente Lula: Se quiser falar sobre o Corinthians a gente fala um pouco, se quiser falar do Santa Cruz, vamos falar um pouco...
Elielson Lima: Eu queria começar perguntando, o senhor esteve recentemente em Pernambuco, foi à refinaria Abreu e Lima, foi bem significativo ali. E o senhor anunciou a retomada da refinaria Abreu e Lima. Qual o simbolismo de voltar a Pernambuco depois de muitos anos, eu fiz as contas, depois de 18 anos, o senhor voltou e tocou novamente esse importante empreendimento.
Presidente Lula: A primeira coisa que eu posso te falar é que a paralisia da Abreu e Lima foi um crime contra a economia brasileira, um crime contra a economia de Pernambuco, e um crime contra a independência de combustível do Brasil. Só para você ter ideia, essa refinaria vai estar fazendo o segundo trem que vai produzir mais 130 mil barris de petróleo. Ou seja, quando tiver pronto os dois barris essa empresa vai estar dando um faturamento anual de 100 bilhões de reais.
Só para o estado de Pernambuco, são quase 8 bilhões de reais só de ICMS. Ou seja, numa demonstração de que a irresponsabilidade da paralisia da empresa por conta de denúncia, nem sempre comprovada, levou o país a ter um prejuízo que a gente agora está tentando recuperar. O ideal, em qualquer país do mundo, é que quando você recebe denúncia, acusação contra uma pessoa, você pune aquela pessoa e não pune uma empresa. Aqui no Brasil se preferiu punir essa empresa. Então eu fiquei muito emocionado, porque aquela refinaria era um sonho. Era um sonho muito grande. Eu contei um pouco a história dela no meu discurso.
Era um sonho de Pernambuco que queria uma refinaria, o Ceará queria uma refinaria, o Maranhão queria uma refinaria. Então aquilo era um sonho que nós começamos a construir ainda no tempo de Jarbas Vasconcelos, depois Eduardo Campos. E ficou paralisada tanto tempo num prejuízo muito grande para o estado de Pernambuco. Ela agora está voltando a funcionar, estamos gerando por volta de 7, 8 mil empregos ali, ela vai gerar, ao todo, direto e indireto, 30 mil empregos. E o que é importante é que vai ajudar a distribuição de riquezas naquele estado, em todas as cidades vizinhas. Eu até falei pro João Campos que Recife vai ganhar muito, porque o povo ganha em Jaboatão e vai gastar lá.
Então, é uma coisa extraordinária. Eu fiquei muito emocionado, mais emocionados ainda estavam os trabalhadores. Eu pedi inclusive ao presidente da Petrobras para que, se possível, conseguisse localizar todas as pessoas que foram dispensadas e tentassem recontratar. E não é só a refinaria, não, Elielson. Veja, aquele estaleiro tem que voltar a funcionar. Não é possível que um país que tem uma costa marítima de mais de 8 mil quilômetros, um país que tem, sabe, 80% do seu transporte externo através de navio, não produza navio de qualidade para transportar as coisas que nós precisamos transportar. E nós já tínhamos aquele estaleiro funcionando com mais de 12 mil pessoas. Eu tive a oportunidade de participar da inauguração, e quero voltar a Pernambuco para que aquele estaleiro volte a produzir navio para este país.
Elielson Lima: Presidente, a gente percebeu que algumas coisas, como por exemplo, a Hemobrás, parece que já está bem avançada as obras. Já tem uma data prevista para voltar ao estado?
Presidente Lula: Parece que posso inaugurar em março a Hemobrás. A última informação que eu tenho é que possivelmente em março eu iria lá para inaugurar a Hemobrás. Que é uma coisa muito antiga, você está lembrando que isso começou quando Humberto Costa era ministro da Saúde. Ou seja, são 23 anos, cara, para que uma obra pudesse ser concretizada e agora finalmente, sabe, eu tenho tanta sorte na minha vida. Eu tenho tanta sorte, tanta benção de Deus, que começou no meu governo, ficou paralisada por muito tempo e agora vai ser inaugurada no meu governo.
Eu vou lá, se Deus quiser, fazer a inauguração. Como tem muita coisa pra inaugurar. É importante lembrar que o PAC em Pernambuco tem uma previsão de investimento de praticamente R$ 47 bilhões entre o estado de Pernambuco, obras dentro do estado, e obras com os estados vizinhos. Isso é a possibilidade de uma geração de riqueza, de salário, de melhoria da qualidade de vida das pessoas, porque trata de todas as obras. Na construção de um projeto como o PAC, Elielson, a coisa mais importante é que não é um projeto pensado da cabeça do presidente da República, ou um projeto pensado do ministro do Transporte, ou do ministro da Integração. Não. O que nós fizemos foi convidar os 27 governadores de cada estado, e dizer pra eles: "apresentem quais são as obras mais importantes da sua cidade, do seu estado. O que é importante e o que é vital". Depois chamamos os prefeitos para apresentar.
É isso que permite que a gente consiga ter uma coisa que ande mais rápido. Porque eu não sei se você sabe, Elielson, mas nós começamos o governo em 2023, a gente não tinha nem orçamento. Nós tivemos que fazer uma PEC da Transição para que o Congresso passado aprovasse o orçamento para a gente poder trabalhar. E o que é mais interessante é que nós tínhamos quase 10 mil obras paradas. Eu vou repetir: quase 10 mil obras paradas. Só creche e instituto federal e UPAs, e posto de saúde, eram milhares que estavam paradas.
Elielson Lima: E está retomando agora, presidente?
Presidente Lula: Estamos retomando, inclusive retomando o Minha Casa, Minha Vida. Só em Pernambuco já foram 1.600 casas que nós retomamos que estavam paralisadas. Reconstruir uma coisa é mais difícil do que construir uma coisa nova. Agora que nós já fizemos a lição de casa, já semeamos a terra, já aramos, já colocamos semente, já colocamos adubo, já cobrimos. Agora é começar a colher.
O PAC já foi estruturado, já foi conversado, os projetos já estão quase todos feitos, faltam alguns projetos a serem feitos. E eu peço a Deus que nos dê força para que a gente possa, outra vez, ver esse país gerar 4 milhões de empregos que é o que nós queremos gerar com o PAC, numa combinação perfeita entre o poder público nacional, governo federal, o governo estadual, o governo municipal, e as empresas privadas. Ou seja, a construção de parcerias para que o Brasil não pare.
Daí porque você conhece a minha relação com a governadora Raquel Lyra, é muito boa. Eu não a conhecia, mas a relação que eu faço com as pessoas é uma relação federativa, de ente federado.
Elielson Lima: Então o senhor espera um retorno político dela também?
Presidente Lula: Veja, o que eu espero de retorno político é que ela faça um bom governo e atenda os interesses do povo de Pernambuco. Quando eu conheci a governadora, a primeira coisa que eu disse para ela, em um ato público, que o pessoal estava vaiando ela, e eu fui pedir pro pessoal, sabe, ter um pouco mais de respeito com a governadora. Afinal de contas, ela estava recém-eleita.
Eu disse pra Raquel: "Raquel, eu quero que você saiba que você será tratada como qualquer outro governador desse país, inclusive como se fosse uma governadora ligada ao meu partido. Eu não faço distinção de partido, de sexo, ou seja, você ganhou as eleições, você é a governadora, e Pernambuco vai ter o tratamento que eu sempre dei a Pernambuco, inclusive que eu dei a Eduardo Campos, que todo mundo sabe que foi uma relação muito produtiva para Pernambuco. E assim está funcionando. E a governadora sabe do respeito que ela é tratada no Palácio do Planalto, do respeito que ela tem dos ministros, da quantidade de ministro já que foi lá, e também tratar o João Campos em igualdade de condições, porque o João Campos eu conheço desde menino, desde moleque, é um moleque muito bem preparado, muito bem estruturado.
Elielson Lima: Naquele jantar lá, saiu algum acerto?
Presidente Lula: Sabe o que que foi o jantar? O jantar foi um encontro de família. Eu tinha uma relação com Dr. Arrais, e Madalena. Depois o Arrais se foi e ficou uma relação com Eduardo Campos, foi uma relação muito forte, era um companheiro da mais alta qualidade. Foi meu ministro de Ciência e Tecnologia, ele, Jaques Wagner, Marcelo Deda, que eram os governadores na época do PT, a gente era muito parceiro. E eu ia muito na casa do Eduardo Campos, e sempre que ele viajava ele levava a Renata e a gente conversava muito. Então, eu fiz questão de fazer aquele jantar, e naquele jantar a gente não discutiu política. Estava a Renata e os seus quatro filhos, a gente discutiu uma questão da família, a relação entre os filhos, o que cada um estava fazendo.
Eu já disse pro João Campos: "eu vou querer conversar com você sobre política". Vou convidá-lo para ir a Brasília para conversar sobre os projetos políticos daqui pra frente. E também a governadora eu quero conversar com ela sobre política. Eu quero conversar com a maioria das pessoas sobre política....
Elielson Lima: O senhor pretende ter os dois lados lá, presidente? Em 2016 o senhor fez isso.
Presidente Lula: Não, não se trata de ter lados. Eu acho que eu nunca mais vou conseguir repetir o que eu fiz com o Eduardo e com o Humberto Costa. Foi a primeira vez na história do Brasil que um candidato a presidente subia no palanque com dois candidatos a governadores, as duas torcidas lá, a bandeira amarela, eu falava dos dois, eu pedia pra ninguém vaiar ninguém e eu dizia que aqui era uma candidatura só. Aquele que o povo escolher pra ir pro segundo turno, o outro está junto. E foi o que aconteceu. Eu gostaria de repetir isso em todos os estados brasileiros, mas nem sempre é possível. E eu quero dar a Pernambuco um tratamento muito especial.
Porque é uma coisa que as pessoas têm que entender. Eu saí de Pernambuco em 1952 por causa da fome. Minha mãe saiu com oito filhos, na busca de tentar encontrar o direito de comer dos seus filhos. E eu nunca me conformei, Elielson, é uma coisa que eu tenho, que eu sinto orgulho, eu nunca me conformei em ver o Nordeste ser tratado como se fosse uma região de segunda categoria, de segunda classe.
Quando eu via no jornal que o Nordeste é o local com maior evasão escolar do Brasil, o Nordeste é o lugar que tem mais desnutrição infantil, onde mais morre criança de fome, onde tem mais analfabeto, onde tem menos universidades. Eu ficava, ainda adolescente, em São Paulo, eu ficava doido. "Que diabo de região é essa que está sendo castigada por Deus?" E aí eu descobri que não era castigo de Deus, era incompetência das pessoas que governavam esse país. Porque até antes da chegada do Rei Dom João VI aqui, o Nordeste tinha mais importância. Quando a coroa veio para o Rio de Janeiro, o Nordeste perdeu a importância.
O que eu quero devolver ao Nordeste é o direito igual a todo mundo. "Ah, mas o governo Lula deu benefício para empresa se implantar e produzir carro lá em Goiana". Ora, meu Deus do céu, todas as empresas automobilísticas tiveram muito incentivo fiscal para vir para o Brasil. Por que que você não tem que dar incentivo para uma empresa ir para o Nordeste? Para você criar uma mão de obra qualificada, para você criar um mercado. Na hora que o Nordeste crescer, o nível salarial das pessoas, a formação intelectual, a formação profissional, aí não precisa de benefício nenhum. Aí o pessoal vai escolher qual é o lugar que está melhor, é por isso que investimentos em universidades, em institutos federais, para garantir que o nordeste esteja mais ou menos igual às outras regiões do Brasil, preparado para receber investimentos.
Porque quando um cidadão vem do estrangeiro para investir no Brasil, pra onde ele olha? Ele olha pro centro-sul do país, ele olha pra São Paulo, 42 milhões de habitantes, é um estado que tem universidades, que tem mão de obra qualificada, poder aquisitivo maior, estrada maior, é estado que tem o porto maior. Então o cara fala: eu vou investir em São Paulo. Cabe ao governo criar as condições para que os investidores vejam que o Brasil tem outras regiões.
Eu tô muito feliz, to muito feliz porque eu não quero tirar nada de nenhum estado. Não quero tirar uma pena, apenas quero dar ao Nordeste as condições de competitividade que ele tem direito de ter. E é por isso que eu trato o Nordeste com um carinho muito especial, porque eles ficaram atrasados.
Eu lembro que teve governo em que Miguel Arrais não recebeu um centavo durante o mandato dele. Eu lembro da perseguição que foi feita no último governo aos estados do Nordeste. Era pão e água e nada mais. Eu não faço assim. Não faço assim com Santa Catarina, com Rio Grande do Sul, com São Paulo. Eu trato todo mundo na mais perfeita educação e respeito.
Agora, eu tenho que tentar levar em conta que aqueles estados que mais precisam no Norte, no Nordeste, no Amazonas, no Pará, eu tenho que tratar também com carinho especial porque essa região também precisa se desenvolver. Então é isso que a gente faz, e eu tô muito feliz porque a gente vai crescer outra vez. Eu tenho dito que quero entregar esse Brasil, no dia 31 de dezembro de 2026, crescendo, aumentando salário do povo, a molecada com mais qualidade na educação, a molecada alfabetizada no tempo certo, o pessoal de escola técnica estudando, porque você viu que nós criamos agora uma bolsa…
Elielson Lima: Antes de o senhor falar da bolsa, presidente, nós temos que contemplar as rádios que estão com a gente. Eu queria falar com a Rádio Pajeú. Bom dia Nil, bom dia ouvintes da Rádio Pajeú.
Nil Júnior: Bom dia, Presidente Lula. Presidente, no final do ano passado, pelos menos os últimos três, quatro meses, foram marcados por um amplo debate em todo o estado, e no país, entre prefeitos sobre os repasses obrigatórios, inclusive o fundo de participação dos municípios. Isso também gerou um debate político, prefeitos aliados alegando que isso tinha relação com isenções fiscais do governo anterior. Prefeitos adversários questionando e cobrando dos prefeitos que o apoiaram essa posição. Eu queria que o senhor dissesse aos prefeitos de Pernambuco, especialmente das cidades médias e menores, qual a perspectiva, qual será o tratamento em relação aos repasses obrigatórios, especialmente FPM, e outras parcerias institucionais com gestores do estado.
Presidente Lula: Uma coisa importante e que eu tenho muito orgulho, é que eu acho que nunca antes na história desse Brasil um presidente tratou os prefeitos com o respeito que eu tratei de 2003 a 2010. Nunca os prefeitos do país, de todos os partidos políticos, tiveram tanto respeito e tão bom tratamento quanto tiveram no meu governo. A mesma coisa eu vou fazer agora. Ora, o que acontece, todo mundo sabe que o governo passado fez para ganhar as eleições. Diminuindo os ICMS dos estados, e quando diminui o ICMS, diminui o dinheiro das prefeituras.
O que que eu garanti em 2023? Eu garanti que nenhum prefeito receberia em 2023 menos do que recebeu em 2022, e vou dizer mais ainda, nenhum município de Pernambuco teve queda de FPM em 2023, ao contrário, os municípios de Pernambuco receberam R$ 7,4 bilhões em transferências do FPM em 2023. R$ 345 milhões a mais do que em 2022.
Que presidente da República chamou prefeito para apresentar projeto? Nós agora fizemos, no estado de Pernambuco, quase que 90% dos prefeitos se inscreveram para participar do Escola em Tempo Integral. A gente quer fazer política junto com o prefeito. Eu aprendi na vida, numa campanha de 1985, uma cidade parece pequena se comparada a um país, mas é na cidade que a gente é feliz, porque é na cidade que o povo reclama, que o povo quer ônibus, quer escola, quer saúde, então por que eu não iria tratar bem os prefeitos? Nós trataremos bem todos os prefeitos, e todos os prefeitos brasileiros sabem. Se quiserem fazer política, façam. Se quiserem falar mal, falem. Se quiserem falar bem, falem. O dado concreto é o seguinte: ninguém do governo federal faltará com respeito a nenhum prefeito desse país, independente do partido que ele for e do discurso que ele fizer. Se tiver direito e tiver projeto, vai ter recurso.
Elielson Lima: Presidente, vamos pra outra pergunta. Francisco Júnior, lá de Carpina. Bom dia, Francisco, bom dia aos ouvintes da Carpina FM.
Francisco Júnior: Bom dia Elielson, bom dia Presidente Lula. A gente fica feliz em ter essa oportunidade de questioná-lo, representando a Carpina FM, o programa Francisco Júnior, a mata norte pernambucana. Presidente, dois pontos. Primeiro a gente sabe que no governo do PT, Pernambuco foi contemplado com a Jeep, essa empresa que tem nos trazido a possibilidade de gerar vários empregos aqui na região da mata norte. Agora precisa ser ampliada, porque esses sistemistas eu espero que no seu governo a gente consiga contemplar outras cidades também da mata norte.
Outro questionamento também é em relação à duplicação da BR-408, que é essa BR importante que liga a região da mata norte até o estado da Paraíba, e nossa população almeja essa duplicação. Queremos saber o que que seu governo tem voltado pra esses dois sentidos, que a gente sabe que o governo do PT tem um olhar diferenciado para o Nordeste, mas falo em especial para a mata norte de Pernambuco?
Presidente Lula: Você vai me encontrar aí, eu vou estar aí logo logo porque nós vamos inaugurar a fábrica da Hemobrás, que é também em Goiana. Essa fábrica ainda foi pensada no tempo do Humberto Costa como ministro da Saúde, e só agora que ela ficou pronta eu devo ir inaugurá-la. Essa BR-408, você sabe, que a Dilma Rousseff, ela trabalhou nessa estrada muito. Então, o que nós queremos fazer agora é que para fazer a duplicação e levar até a Paraíba, é preciso projeto. E tem dinheiro colocado no PAC para que seja feito o projeto para que a gente consiga concluir a 408. Foi até bom você perguntar, porque eu vou tratar com as pessoas que cuidam do PAC disso, porque eu sei que tem dinheiro disponibilizado pra projeto, e nós vamos tentar fazer essa e outras estradas. Porque, tudo que é importante pros estados que foi colocado no PAC, nós vamos tentar terminar. Tudo. Ou pelo menos começar, se não der pra começar, que entre outro governo e não paralise, que continue as obras. Porque eu quero fazer uma integração sadia e produtiva de todo o Nordeste.
Nós estamos agora, outra vez, terminando a Transnordestina, que é uma desgraça. Era pra inaugurar em 2012, não inaugurou por problema do próprio empresário naquilo. E finalmente me parece que nós vamos terminar essa Transnordestina tão interessante, e vai até Suape. E tão interessante para Pernambuco, Ceará e até um pouco para o Piauí.
Elielson Lima: Presidente, a última pergunta. CBN Caruaru. Nosso companheiro de rádio, Remir Freire.
Remir Freire: Bom dia, Elielson, bom dia, presidente, bom dia a todos que nos acompanham. O estado de Pernambuco, infelizmente, é o estado que mais sofre quando a gente fala de abastecimento hídrico. Alguns levantamentos, como por exemplo o do Instituto Data Brasil, aponta que esse número pode chegar a 6 milhões de pernambucanos que sofrem direta e indiretamente com esses problemas de abastecimento. Quando a gente fala de pessoas que vivem sem água, esse número pode ser em torno de 1/3. A gente vive na região do agreste que infelizmente é a região que mais sofre, existem famílias que passam meses sem receber uma gota d'água dentro de casa. Eu quero saber do senhor o que tem sido feito pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, e o que pode ser feito em parcerias com governo do estado, liberação de recursos, e obras importantes para que a gente possa sanar esse problema que ainda persiste nos dias de hoje?
Presidente Lula: Você deve ter acompanhado todo o trabalho que nós tivemos para começar a fazer a transposição do Rio São Francisco. Uma guerra que demorou mais de 100 anos, Dom Pedro não conseguiu fazer, e nós conseguimos fazer. Na verdade, o projeto do São Francisco é para levar água para 12 milhões de pessoas do semiárido. Mas essa água precisa ser distribuída corretamente, ela vai preenchendo os açudes e nós vamos fazendo os canais, no Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Nós estamos juntos com a governadora, trabalhando em algumas adutoras, algumas já estão 60% prontas, outras estão 70% prontas. Você sabe que nós fizemos 1 milhão e 400 mil cisternas para combater a questão da seca no Nordeste.
Tudo que for possível fazer. No PAC, inclusive, tem um programa chamado Água Para Todos, que era para gente tentar fazer com que cada município que tem dificuldade de abastecimento, a gente criar condições ou com cisternas ou com outras tentativas de puxar canal para lá a gente fazer.
Porque nós entendemos que é um problema tecnológico, é um problema de governo, é um problema político, não é um problema da natureza. Seca, ela existe em qualquer lugar do mundo, mas a gente tem condições de resolver.
Você não sabe o orgulho que eu tenho, o orgulho que eu tenho de ter sido o presidente da República que teve a coragem de aprovar o canal de São Francisco, de fazer e de levar água para todos os estados.
Agora mesmo, vamos ter uma reunião com os governadores para discutir a utilização dessa água. A coisa é tão desagradável que uma bomba do São Francisco quebrou e ela ficou mais de dois anos paralisada. Mais de dois anos, sem nenhum interesse de fazer. Esqueceram de fazer cisternas, esqueceram de mandar os caminhões-pipas do Exército e encher as cisternas no lugar.
Porque é o seguinte, meu caro, tem um tipo de político nesse país que só lembra dos pobres em época de eleições. Então, nós vamos tratar de fazer essas coisas que tem que ser feita. Nós vamos trabalhar junto com a governadora. Em todo lugar que for possível a gente levar água, a gente vai levar, porque foi por falta d'água que em dezembro de 1952 eu saí de Caetés e fui morar para São Paulo.
Elielson Lima: Presidente, ontem a Polícia Federal fez uma operação que envolve o filho do ex-presidente Bolsonaro em uma possível célula da Abin, trabalhando paralelamente ali. O ex-presidente chegou a dizer em uma emissora de televisão que o seu governo estaria perseguindo ele. O que o senhor pode falar em relação a esse assunto?
Presidente Lula: Eu posso falar que ele falou uma grande asneira. O governo brasileiro não manda na Polícia Federal, muito menos o governo brasileiro manda na justiça. Ou seja, você tem um processo, investigação. Você tem decisão do ministro da Suprema Corte que mandou fazer busca e apreensão sob suspeita de utilização com má fé pela Abin. Dos quais o delegado que era responsável era ligado à família Bolsonaro. E a Polícia Federal foi cumprir um mandado da justiça. Eu não vejo nenhum problema anormal se é uma decisão judicial.
O que eu espero é que as pessoas que estão sendo investigadas sejam investigadas. Que essas pessoas tenham o direito à presunção da inocência que eu não tive. E eu acho que as pessoas que não devem não temem. Eu acho que o cidadão que está acusando ele foi presidente da República, ele lidou com a Polícia Federal. Ele tentou mandar na Polícia Federal. Ele trocava a superintendência a bel-prazer. Sem nenhum respeito ao que pensava o próprio diretor-geral da Polícia Federal. O que pensava o ministro da Justiça.
E eu não, eu acho que tem que funcionar as coisas de acordo com os interesses da instituição. A Polícia Federal é uma instituição muito importante para o Brasil. A chamada polícia da inteligência, é a chamada polícia do combate ao crime organizado, do combate à lavagem de dinheiro, cuidado, sabe, com o tráfico de drogas, com nossas fronteiras.
Então eu tenho um profundo respeito e sempre tive respeito. E acho que a Polícia Federal não pode exorbitar em fazer pirotecnia. Todo mundo sabe o que eu penso, tanto a Polícia Federal quanto o Ministério Público. Quer investigar, investigue, mas não faça show pirotécnico. Não fique divulgando nome das pessoas antes de ter prova concreta contra a pessoa. Não fique destruindo as imagens das pessoas antes de você apurar.
Elielson Lima: Presidente, mas você tem segurança da Abin de hoje. Ali é um relatório da Abin do governo passado. Mas a Abin de hoje, o senhor tá seguro de que está tudo?
Presidente Lula: Não, veja, a gente nunca tá seguro Elielson. Veja, o companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi meu diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e por isso eu chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro da equipe dele tinha um cidadão, que é o que tá sendo acusado, sabe, que mantinha a relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin do governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin.
Ora, se isso for verdade e está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar, sabe, na polícia. Mas antes de você fazer, simplesmente, a condenação a priori, é importante que a gente investigue corretamente, que a gente apure, que a gente garanta o direito de defesa.
Porque se você, muitas vezes, se deixar levar apenas pela manchete de jornal, você muitas vezes, sabe, é teoricamente contra a pena de morte, mas você tá matando as pessoas sem dar chance das pessoas se defenderem. E eu acho que todo mundo é inocente até prova em contrário.
Então há uma acusação contra você, Elielson. Alguém te acusa de alguma coisa, antes de condenar Elielson, antes de colocar ele no corredor da cadeira elétrica, dê a ele todo direito de se explicar com o mesmo tempo de resposta, com o mesmo tempo na imprensa para gente poder não cometer crimes.
Elielson Lima: Presidente, vamos falar um pouquinho de política para encerrar a entrevista?
Presidente Lula: Estava esperando você falar de política e de futebol.
Elielson Lima: De futebol a gente fala depois da entrevista. A Folha de S. Paulo trouxe domingo, em uma coluna, uma especulação de que a deputada Tabata Amaral poderia integrar seu ministério e, em troca disso, acelerar o apoio ao seu candidato lá, o Boulos, na capital paulista. Como é que o senhor pode falar sobre isto?
Presidente Lula: Eu posso falar que é uma desfaçatez de quem fez a matéria. Primeiro porque não conhece minha relação com a Tabata, e eu tenho uma relação de muito respeito com uma jovem, uma jovem que tem futuro político nesse país, e eu jamais iria tentar corrompê-la com um cargo para ela não ser candidata a prefeita.
Ela sabe o que ela pode fazer, ela tem noção do que é São Paulo. Se ela quiser ser candidata a prefeita, e ela vai ser candidata a prefeita porque ela tem um partido político que vai decidir, não é o Presidente Lula que vai impedir.
Todo mundo sabe que eu tenho um candidato em São Paulo, que é o Boulos já da outra vez. Todo mundo sabe que eu trabalhei para que a Marta Suplicy voltasse para o PT, e vai entrar no PT dia 2 agora de fevereiro e vai ser candidata a vice do Boulos.
Sabe, e será maravilhosa a disputa política democrática. Se a Tabata for candidata e o Boulos for candidato, quem for melhor e for para o segundo turno, eu estarei apoiando. Se os dois forem para o segundo turno, aí sim vai ter divergência. Mas o que nós precisamos é derrotar o bolsonarismo na cidade de São Paulo.
Elielson Lima: A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esteve recentemente em Pernambuco e ela foi muito enfática. O PT quer ser o vice de João Campos. O senhor concorda com a Gleisi?
Presidente Lula: Olha, eu não quero ser enfático. Eu acho que nós temos que trabalhar a nossa aliança com o PSB com muito carinho a nível nacional. Eu acho que Pernambuco é um estado que a gente tem condições de fazer aliança política. É importante lembrar que na última reunião para o governo do estado, o companheiro Humberto Costa, que estava no meio do mandato do Senado, portanto, poderia ser candidato a governador, sabe, que não ia perder nada, ele retirou para que a gente fizesse aliança com o PSB.
Eu acho que o João Campos tem clareza de que é importante uma aliança com o PT. Então, o que eu espero é que eles façam uma composição de chapa. Eu acho que eles têm que se acertar em Pernambuco porque eu não tenho nome para indicar.
Agora, é importante que a gente ouça o prefeito porque tem duas visões importantes: uma é saber se o João Campos vai ser candidato a governador em 2026, tá? Aí, quem for candidato a vice será prefeito de verdade. Nós temos que levar em conta isso na conversa com o João Campos
Se ele não for candidato a governador e for terminar o mandato dele até 2028, sabe, o vice pode ser um. Se ele for candidato, na perspectiva de disputar as eleições, o candidato pode ser outro.
Agora, isso, Elielson, tem que ser acertado em uma mesa de conversa. Não é nem em Brasília, é em Pernambuco. É o companheiro João Campos que está tendo um trabalho extraordinário. Ele é uma surpresa agradabilíssima para o povo de Recife. Um jovem talentoso.
Eu acho que ele tem, ao mesmo tempo, a matutês, sabe, do avô, sabe, do Miguel Arraes, e tem a sabedoria do Eduardo Campos, sabe. Ele é muito preparado politicamente; ele é um extraordinário gestor; ele é competente para montar uma equipe. Ele está com a cabeça política muito no lugar. Eu acho que vai ser possível a gente construir essa aliança.
Elielson Lima: O senhor falou da governadora, mas eu queria trazer de volta dessa parte política. O senhor tem dito aí em tapete vermelho para Raquel aqui no Palácio do Planalto, mas na política, o que o senhor tem visto da governadora, o que o senhor tem esperado da governadora? Porque ela hoje está no PSDB ainda, mas falaram que ela pode vir para sua base. Alguns partidos da sua base estão conversando com ela. Qual é a sua visão do governo Raquel Lyra e dessas possibilidades? Imagina João Campos e Raquel em 2026?
Presidente Lula: Você sabe, Elielson, que a gente ouve muita coisa aqui. Eu, na conversa que eu tive com a governadora, eu disse para a governadora que em política, a gente não pode errar na política. Ela começou o governo com alguma dificuldade de relação com a Assembleia Legislativa; isso todo mundo sabe em Pernambuco. E eu tenho dito que é importante uma relação bastante harmônica e civilizada com o Congresso, mesmo com a oposição.
A gente não precisa viver de favores, mas a gente também não precisa viver de rancores. Sabe, a gente tem que estabelecer da forma mais civilizada possível. Eu preciso das coisas para serem aprovadas na assembleia, e eu tenho que pedir para gente que não gosta de mim. As pessoas que não gostam de mim não vão votar porque fui eu que fiz, sabe.
Você veja, eu só tenho 70 deputados em Brasília do PT, e tem 513 deputados. Então, a gente vive conversando, porque se não for assim, a gente não vai
Como a Raquel está no seu primeiro ano, a gente tem que entender, sabe. Essa mulher é uma mulher bem formada; ela é procuradora, ela é delegada da Polícia Federal. Ela teve uma coisa, sabe, no dia da campanha que foi a morte do marido, um trauma imenso essa mulher. Está cuidando sozinha da sua família. Nós temos que compreender também o estado emocional com que essa companheira assumiu o governo do estado, sabe.
Nós aqui em Brasília, a ordem que os meus ministros têm é tratar todos os governadores, independentemente, pode ser o governador que tenha mais falado mal de mim, não tem nenhum problema. Ele chegando em Brasília, ele será tratado da forma mais decente possível. O que nós vamos levar em conta é se ele tem projeto bom, se o projeto é viável, se o projeto é uma coisa que pode ser executada. Isso vale para o governador e vale para o prefeito.
Então, a Raquel é bem tratada aqui, como é tratado o companheiro João da Paraíba, como é tratado o companheiro do Rio Grande do Norte, como é tratado o companheiro do Ceará, o companheiro da Bahia, todos. De São Paulo, do Rio do Sul, do Rio de Janeiro.
Quem vier a Brasília será tratado da forma mais civilizada, democrática e respeitável do mundo. Então, é assim que eu trato a Raquel, sabe. E eu acho que isso tem dado certo. Eu não vejo ela falando mal do governo federal em lugar nenhum, sabe, e isso é um bom sinal. Ela pode cobrar de nós aquilo que ela achar que deva cobrar, mas eu sempre manterei com ela uma relação muito respeitosa, até porque eu fui amigo do pai dela, João. Eu fui amigo do tio dela, Fernando Lira, sabe, que foi um grande parceiro.
Então, eu acho que é assim para a gente governar, Elielson. Esse país precisa de paz, esse país precisa de paz. Eu não quero briga com nenhum governador. Se ele quiser falar, que fale. Se eu tiver que fazer a coisa no estado, eu vou fazer.
Só para você ter ideia, sabe, nós vamos fazer obra em todos os estados da Federação, eu disse para você. Em Pernambuco, são R$ 46,8 bilhões de investimento no PAC. Uma parte, que é dentro de Pernambuco, R$ 18,2 bilhões, e outra parte, que é em fronteira.
Então, isso, qualquer que seja o governador, isso vai acontecer. Aqui, sabe, em São Paulo eu vou dia 2 no Porto. Nós vamos anunciar um túnel entre o Guarujá e o Santos, sabe. Possivelmente, tem parceria com o governador. Não tem problema que o governador seja aliado do Bolsonaro. Ele é governador do estado de São Paulo; é um estado importante. Eu não posso ficar de briguinha com o governador. Eu tenho que fazer as coisas pensando no benefício desse país e no benefício do povo.
Eu vou dia 2 anunciar investimento da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Fazia tempo que as empresas não investiam. Quando eu deixei a presidência da República em 2010, a indústria automobilística brasileira produzia 3 milhões e 700 mil carros. Eu voltei em 2023, a indústria automobilística produz menos que dois milhões de carros.
Ou seja, nós empobrecemos, nós diminuímos, nós nos enfraquecemos. Agora, eu estou com uma quantidade: eu tenho quatro indústrias automobilísticas oferecendo, as quatro juntas, R$ 28 bilhões de investimento em novos carros.
Estamos com carro elétrico na Bahia da China, que vai ser um sucesso extraordinário. A Toyota tentando fazer carro a hidrogênio. Ou seja, nós estamos incentivando essas empresas todas a fazer investimento. Investimento gera emprego; emprego gera salário; salário gera consumo; consumo gera crescimento econômico, e é tudo que o Brasil precisa.
Por isso, esse cidadão que vos fala quer paz, quer muita tranquilidade. Quem tiver ódio, que guarde na sua gaveta, porque eu não vou compartilhar.
Elielson Lima: Presidente, eu percebi na live do ex-presidente Bolsonaro, no domingo, ele reforçando essa polarização. O senhor acredita que essa polarização que ficou das eleições passadas vai chegar nas eleições municipais também, ou não?
Presidente Lula: Eu acho que a polarização sempre vai existir; sempre vai existir, não tem jeito. Em Pernambuco, sempre existia polarização entre um candidato e outro candidato. Agora, aqui no Brasil, também vai ter polarização. E eu acho bom que tenha polarização, nós somos uma sociedade viva. Essa polarização deve acontecer nas capitais; nas capitais, deve acontecer quem é candidato bolsonarista e quem não é o candidato bolsonarista, tá? Em São Paulo, será muito visível isso.
Possivelmente, não sei se em Recife vai ter candidato bolsonarista. Se tiver, vai pegar, sabe. Como é que fala: a cobra vai fumar.
Mas o que é importante é que, quando você é eleito, você é eleito para trabalhar. Você não é eleito para ficar falando bobagem. O ex-presidente já está mais do que provado: ele não sabe fazer política civilizada. Ele é estimulador do ódio, estimulador da mentira. Ou seja, ele vive contando mentiras através das fake news 24 horas por dia. Não há uma coisa que tenha substância no que ele fala. É sempre bobagem, é sempre bobagem, é sempre desaforo, é sempre ofensa. Quem tem responsabilidade não pode entrar nesse jogo.
Eu fui eleito para governar; eu vou governar. Eu quero ser julgado quando eu terminar o meu mandato. Eu plantei várias jabuticabeiras; eu quero saber quantas jabuticabas a gente vai colher no final do meu mandato. Por isso que eu tenho que ficar irrigando toda hora, tenho que ficar tirando carrapicho de perto do pé, sabe, e eu vou trabalhar. Pode ficar certo, povo de Pernambuco, que eu vou trabalhar muito para que esse país volte a ser grande, volte a ser respeitado.
Aliás, a coisa mais extraordinária, Elielson, é o respeito que nós conquistamos no mundo nesse primeiro ano de governo. O Brasil não conversava com ninguém; ninguém conversava com o Brasil, ninguém dava a menor importância para o Brasil. Hoje, o Brasil voltou a ser um país a ser levado em conta. O Brasil faz parte da política internacional.
Esse ano, a gente vai trazer para cá o G20, em novembro, que é a reunião das 20 maiores economias do mundo. No ano que vem, nós vamos trazer a COP, que vai ser o maior encontro climático do mundo. E vamos trazer os Brics, que é o Sul Global representado mais pela China, Índia, Brasil, África do Sul e tantos outros países. Então, esse país tem que dar certo, Elielson. O meu compromisso com a minha consciência e com o povo brasileiro é para que esse país dê certo.
Eu estava no lançamento do programa da poupança para o ensino técnico, e depois que terminou, uma pessoa me perguntou: mas presidente, o senhor não acha que é muito gasto? Porque cada jovem vai receber 200 reais por mês, no final do ano vai ter mil reais depositado em uma poupança, ele não pode retirar os mil reais, tá? Aí no segundo ano vai ter mais 200 por mês e mais mil, sabe, no final do ano. Quando chegar no final do ano, ele tem 3 mil que tá rendendo juros. Se ele for aprovado, ele vai tirar os 3 mil. Mas ele tem que ter uma presença de 80% nas aulas, senão ele perde. E ele tem que passar nas provas todo ano, senão ele perde também.
Por que nós fizemos isso? Porque tem milhões de jovens desistindo do ensino médio. Sabe, são muitos jovens e se a meninada desiste de estudar quando estão com 14, 15, 16, 17 anos, o narcotráfico pode ganhar esses meninos, a vadiagem pode ganhar, a droga pode ganhar. Então a jornalista perguntou: mas o senhor não está gastando dinheiro? Não, eu estou fazendo investimento. Gastar eu vou gastar se esse menino virar um bandido, se esse menino virar um narcotraficante, se ele virar um usuário de droga. Aí eu vou gastar, porque eu vou ter que fazer cadeia e vou ter que gastar com ele preso o que eu deveria ter gastado com ele na escola. Enquanto eu estiver investindo para ele estudar, eu estou fazendo investimento. E eu tenho fé em Deus que a gente vai colher bons frutos com essa poupança para o ensino médio.
Elielson Lima: Presidente, eu queria agradecer muito por receber aqui.
Presidente Lula: Esse Stuckert é muito chato.
Elielson Lima: Foi o Stuckert aqui no meu ouvido.
Presidente Lula: Só para você ter ideia, nós torcemos para times diferentes em Pernambuco. Eu sou Náutico. Me pergunte por que que eu sou Náutico. Náutico é o time dos granfinos lá em Pernambuco.
Elielson Lima: É verdade.
Presidente Lula: Tinha o Eduardo Costa. Mas por que eu sou? Porque, em 1962, em São Paulo, onde eu morava, o meu irmão mais velho inventou de fazer um time de futebol e colocou o nome de Náutico. Aí eu passei a conhecer um Náutico. Eu sei que você é Santa Cruz. Está na Série C?
Elielson Lima: Está mais que isso, presidente.
Presidente Lula: No nacional? Mas continua a melhor torcida de Pernambuco. O meu Corinthians também não está bem. O meu Corinthians não está bem. O meu Corinthians está triste.
Elielson Lima: Em São Paulo, eu torço para o Corinthians, acredita? Porque eu tinha um tio que todo ano trazia a camisa do Corinthians para gente.
Presidente Lula: Eu sou agradecido, mas o Corinthians está mal. Eu, sinceramente, não consigo ver o Corinthians ir para frente do jeito que está. Não contratou jogador, sabe. Já perdeu dois jogos.
Elielson Lima: A impressão que eu tenho é que o senhor está mais vivo. Eu acho que esse casamento com a Janja deu uma repaginada no senhor.
Presidente Lula: A Janja foi uma coisa de Deus que aconteceu na minha vida. É sempre assim. Por isso é que a minha mãe dizia: “não desanime nunca”. Minha mãe dizia: “se hoje não tem, amanhã vai ter”.
Então, quando você fica viúvo, você pensa que acabou o mundo. Mas depois, você descobre que é possível encontrar uma pessoa que possa te fazer voltar a ser feliz. E a Janja é aquilo que eu precisava, sabe.
Ela é uma companheira de extraordinária qualidade, cabeça política boa, muito boa. Muito preparada para o debate político. Então, eu estou feliz. Me sinto um jovem. Quantos anos você tem?
Elielson Lima: 32.
Presidente Lula: Eu me sinto com 30.
Elielson Lima: Mais novo que eu.
Presidente Lula: Sabe que horas que eu levanto todo dia? Eu levanto às 6 horas para fazer esteira, para fazer musculação, cara. Senão, como eu vou dar conta da Janjinha e dar conta do Brasil?
Você acha que é fácil aturar o Pimenta? Você acha que é fácil aturar o Stuckert? Há 22 anos no meu pé.
Elielson Lima: É um casamento.
Presidente Lula: Pior que um casamento, nós estamos divorciados umas 30 vezes, mas ele não tem vergonha, ele volta. Nós vamos resolver isso.
Mas olha, querido Elielson, foi um prazer conversar com você. Agradeço por você ter vindo a Brasília. E dizer para você que, possivelmente em março, eu vou a Goiana para inaugurar a Hemobrás. Falta só a data. Eu quero visitar o Porto de Suape, que vai ter muita obra também. E ainda vou na Transnordestina.
Eu vou voltar muitas vezes a Pernambuco. Eu vou voltar na Bahia, eu vou voltar na Paraíba, no Rio Grande do Norte, ajudar nossa companheira Fátima, sabe.
E queria agradecer a você e dizer pra você que se tem uma coisa que eu gosto de fazer é entrevista de rádio. E mais do que entrevista de rádio, é assim tête à tête. Perguntando as coisas. Eu achei legal.
Elielson Lima: Eu que agradeço, presidente. Obrigado mesmo por nos receber na sua casa. O senhor falou hoje literalmente para todo estado de Pernambuco.
Presidente Lula: Eu quero agradecer o povo de Pernambuco. E pode ter certeza que eu trato os 27 estados do Brasil com o mesmo carinho, mas quando olho para Pernambuco é como se fosse um filhinho caçula que eu tenho que fazer um denguinho a mais.
Elielson Lima: Para ninguém ficar com ciúmes.
Presidente Lula: Não, ninguém fica com ciúmes porque as pessoas sabem que é assim. Eu tenho muito na minha cabeça a imagem da minha mãe com oito filhos, esperando um pau de arara.
Eu ficava dois dias em uma bodeguinha esperando para vir embora para São Paulo em um pau de arara sentado. Um pau que não tinha encosto atrás não. Era um pau atravessado assim.
Imagina a dor no espinhaço que a gente sofria, comendo farinha e rapadura, treze dias dormindo embaixo do caminhão. Então, eu tenho muito isso na cabeça. E eu acho que o povo nordestino precisa ter chance.
Elielson Lima: Eu lembro que Eduardo, uma vez, disse a mim que colocou uma bandeira de Pernambuco em sua mesa. Ainda está lá?
Presidente Lula: Não, não está porque eu deixei a presidência.
Elielson Lima: Vou mandar trazer outra.
Presidente Lula: Pode trazer. Aliás, é a bandeira mais bonita do que outros estados. E todo mundo tem que respeitar.
Elielson Lima: Obrigado, presidente.
Presidente Lula: Obrigado a você, querido.