Entrevista concedida pelo presidente Lula a jornalistas no Palácio do Planalto
Nunca vi tanta gente assim.
Eu não lembro qual foi a última entrevista que eu dei aqui, faz tempo, acho. Primeiro, porque em setembro eu bati a cabeça e depois, dia 10 de dezembro, eu tive que fazer um procedimento e hoje eu estou aqui 100% recuperado, 100% preparado para todas as lutas que vierem a partir de agora.
Já voltei a fazer ginástica, já voltei a andar, já voltei a fazer musculação, já posso fazer as viagens que eu quiser para o país que eu quiser, para a quantidade de quilômetros que eu quiser. E eu penso que primeiro eu tenho que desejar feliz ano novo para vocês, porque é a primeira vez que nós estamos nos encontrando em 2025. A segunda, dizer para vocês que esse é o ano mais importante desse meu mandato.
E por que é um ano importante? Porque quando nós assumimos o governo, a gente tinha muita clareza das dificuldades que nós íamos encontrar, porque era público, pela divulgação de vocês, que o país estava desmontado. O Estado foi desmontado, as políticas públicas deixaram de existir, ministérios foram destruídos, instituições pararam de funcionar. Então nós sabíamos que tínhamos que recuperar tudo. E quando eu escolhi o companheiro Alckmin para ser o coordenador da Transição, era porque eu não queria uma transição que ficasse apenas falando do passado, mas eu queria uma transição que pensasse mais no futuro. Porque eu não sou daqueles que passa o governo inteiro tentando jogar a culpa em cima do outro e não penso no que vai fazer daqui para frente.
Eu resolvi, então, que a gente deveria pegar o país, a gente deveria reconstruir o país para que a gente pudesse, depois do mandato presidencial, entregar o país de forma mais civilizada possível, da forma mais democrática possível, com crescimento sustentável, com distribuição de renda e com a maior política de inclusão social que esse país já teve conhecimento.
E é por isso que eu digo para todo mundo que este ano é o ano mais importante do governo, porque é o ano em que a gente começa a grande colheita de tudo que foi plantado em 2023 e 2024. Na verdade, foi quase que uma reconstrução das coisas do país para que a gente pudesse fazer o país voltar a funcionar, o país voltar a ser respeitado no mundo, o país voltar a ser um país que tenha importância no cenário político internacional.
E é isso que nós, agora, queremos trabalhar com o povo brasileiro. Eu tinha até pensado que, no segundo mandato, eu ia fazer uma mañaneira [entrevistas coletivas concedidas pelo ex-presidente do México, Andrés López Obrador], como fez o López Obrador no México, todo dia, às 6 horas da manhã, das 6h às 8h, conversar com a imprensa, mas eu achei que aqui no Brasil a cultura nossa não permite, porque nem vocês terão perguntas todo dia, nem eu terei respostas todo santo dia. Então, é melhor a gente funcionar de forma abrasileirada, não como o México faz, porque para o López Obrador foi importante, a Cláudia [Claudia Sheinbaum, presidenta do México] está fazendo isso lá agora, e eu quero estabelecer com vocês que nós vamos ter mais conversa, eu quero me colocar mais à disposição de vocês para que a gente possa começar a derrotar definitivamente a mentira nesse país.
Não é possível o que está acontecendo no mundo com a democracia. A democracia, na verdade, será a grande derrotada se a gente permitir o crescimento da extrema direita no mundo inteiro, como está acontecendo, se a gente permitir a vitória da fake news, como está acontecendo, e se a gente permitir a mentira, sabe, vitoriosa, ganhando da verdade.
Então, este ano é um ano que eu vou me dedicar muito, mas muito, pode ter certeza que eu estou 100% pronto para começar a viajar ao Brasil, para começar a percorrer os estados brasileiros, para começar a visitar a sociedade brasileira e estabelecer uma conversa muito verdadeira para que a hora da verdade, sabe, possa dizer para o país como é que nós estamos.
Eu estou convencido que nós vamos terminar o mandato numa situação extremamente positiva. Vocês, jornalistas mais experientes que cobrem o Palácio do Planalto e que cobrem a política, vocês sabem o pessimismo que era este país quando eu cheguei na presidência. Primeiro o pessimismo era desde 2002, quando eu cheguei a primeira vez, os especialistas diziam que o Brasil estava quebrado, que o Brasil não podia fazer isso, que o Brasil não tinha dinheiro para pagar as suas importações, que o Brasil não controlava a inflação, e esse país terminou o meu mandato com um crescimento de 7,5%, o maior crescimento do PIB, e esse país terminou com a maior política de inclusão social.
Outra vez isso vai se repetir. Vocês estão lembrados que eu estava em Hiroshima, em janeiro de 2023, por ocasião do G7, quando o FMI disse que o Brasil só ia crescer 0,8%. E eu disse para ela: “olha, você não conhece o Brasil, você não conhece o tipo de governo que nós fazemos e você vai perceber que o Brasil vai crescer muito mais”.
O que aconteceu foi que o Brasil cresceu 3,2%. Agora, os especialistas dizem que o Brasil vai crescer apenas 1,5% em 2024. Nós vamos crescer 3,5% ou 3,7%. Isso é uma demonstração de que as coisas estão sendo feitas, as coisas estão sendo plantadas e nós vamos começar a colher. Há quanto tempo vocês não viam a indústria brasileira crescer? E a indústria brasileira voltou a crescer, com forte investimento público e privado, sobretudo a nova indústria brasileira, coordenada pelo companheiro Alckmin, que está tendo um sucesso extraordinário e a indústria chegou a crescer 3,4%. É esse Brasil que nós vamos discutir com o povo brasileiro em 2025 nas ruas desse país.
Eu digo sempre o seguinte: eu digo sempre que quem quiser derrotar a política do meu governo vai ter que aprender a fazer luta de rua, porque é mais fácil ficar na internet mentindo. Agora é muito difícil ter coragem de ir para a rua, conversar com o povo e discutir com o povo as coisas que estão acontecendo no país. Esse é o meu tipo de governar e esse é o meu tipo de fazer com que as coisas deem certo no Brasil.
Nós fizemos um G20 extraordinário, eu não tenho nenhuma humildade de dizer para vocês de que nós fizemos o mais importante G20 da história do G20. Nós agora vamos repetir o maior BRICS da história dos BRICS e vamos repetir a melhor COP já feita desde que foi estabelecida a primeira COP. E vamos fazer no coração da Amazônia, onde ninguém acreditava que fosse possível fazer, onde todo mundo dizia que não tinha infraestrutura, onde as pessoas ficavam preocupadas onde vão dormir as pessoas. As pessoas vão dormir onde tiver que dormir. Eu posso dizer que ninguém vai ficar acordado por falta de um lugar para dormir. Mas a gente quer fazer a COP no coração da Amazônia, porque em qualquer parte do planeta Terra as pessoas dão palpite sobre a Amazônia. Todo mundo é especialista sobre a Amazônia, todo mundo quer proteger a Amazônia. Então, nós vamos fazer lá, na cidade de Belém, para que as pessoas saibam o que é a Amazônia, para que as pessoas vejam as pessoas que estão lá, mas as pessoas vejam a grandeza da natureza da Amazônia.
E é isso que a gente vai fazer, porque nós temos que fazer uma luta muito grande nessa questão do clima, não é uma coisa pequena. Se a gente não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas, porque se aprovam as medidas, fica tudo muito bonito no papel e depois nenhum país cumpre. O Trump acabou de anunciar a saída do Acordo de Paris, mas os Estados Unidos já não tinham cumprido o Acordo de Quioto. Ou seja, os países se comprometeram a dar 100 bilhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento, em Copenhague, em 2009, e até hoje não deram.
Agora, a necessidade é 1 trilhão e 300 bilhões de dólares. Eu tenho certeza que eles não vão dar. E o nosso pessoal baixou, os ambientalistas baixaram para 300 bilhões, que também não vão dar. Então, é preciso que a gente faça uma discussão séria, se nós queremos discutir a questão do clima com seriedade, se nós queremos fazer com que haja uma transição energética de verdade, se nós queremos mudar o nosso planeta para a gente poder sobreviver nele e chegarmos a ter no máximo um grau e meio de caloria, ou nós vamos brincar, ou nós vamos brincar de falar na questão do clima.
Então, essa COP30, ela vai ser um balizamento do que nós vamos querer daqui para frente. Lá vão estar os indígenas para discutir, lá vão estar os quilombolas para discutir, lá vão estar os chefes de Estado para discutir, lá vão estar os especialistas para discutir e nós queremos uma coisa muito verdadeira para a gente saber se a gente está falando sério ou não está falando sério sobre a questão do clima. Quando as pessoas falam em dinheiro é porque os países ricos só falam o seguinte: nós vamos ajudar dando dinheiro, vamos ajudar dando dinheiro. Eles têm que saber que quando a gente fala que vai chegar ao desmatamento zero em 2030, as pessoas têm que saber que embaixo da copa de cada árvore tem um indígena, tem um ribeirinho, tem um pequeno trabalhador rural e essa gente precisa viver, essa gente tem que ter acesso às coisas que todo mundo tem, essa gente quer ter bens materiais que a civilidade conquistou. Então, é essa discussão séria que a gente quer fazer na COP30. E depois a gente vai fazer com que o Brasil construa tudo aquilo que nós prometemos que o Brasil vai construir.
Vocês vão ter surpresa, muitos de vocês vão sair daqui do Palácio e vão me acompanhar na viagem, porque nós vamos querer que a imprensa acompanhe, nós não queremos mais que a imprensa fique sentada numa sala querendo saber de notícias. Eu, sinceramente, eu quero saber o seguinte, eu não quero mais ver notícias: “ah, eu conversei com uma pessoa próxima do presidente que disse essa coisa”. Não, vai conversar com o presidente. Não precisa conversar com alguém próximo, conversa logo diretamente com o presidente, faz a pergunta que tiver que fazer para o presidente, porque assim fica melhor, fica mais verdadeiro, vocês ganharão muito mais credibilidade, eu ganharia muito mais credibilidade e o Brasil ficará muito melhor.
É esse Brasil que eu quero construir com a participação de vocês. E agora eu vou me colocar à disposição de vocês, porque senão eu fico falando muito, daqui a pouco eu respondo as perguntas que vocês vão fazer sem vocês fazerem as perguntas. O nosso companheiro Laércio vai coordenar, essa figura simpática, sabe, vai coordenar e eu estou à disposição de vocês. Por favor, não se restrinjam na pergunta. Eu vou repetir uma coisa que eu falo todo dia, não tem pergunta irrespondível, a não ser que eu não saiba. Aí eu vou dizer para vocês: “não sei”. Eu vou pedir, quem sabe, ajuda para os outros jornalistas que estão aqui. Mas não tem tema proibido, perguntem o que vocês quiserem, do jeito que vocês quiserem, que ela será respondida do jeito que eu sei. Está bem? Então, Feliz Ano Novo para todos nós.
Sofia Guiar – Broadcast: Oi, presidente, bom dia. Primeiro, muito obrigada por esse espaço, a gente concorda que tem que falar mais, tem que conversar mais e a gente espera que isso se repita mais vezes.
Presidente Lula: Fala com o microfone mais perto da boca, querida.
Sofia Guiar – Broadcast: Perdão. Eu sou a Sofia Aguiar, eu sou da Agência Estado, do Broadcast. E ontem, o Copom aumentou de novo a taxa de juros para 13,25% e manteve uma previsão de aumento em março. Essas sinalizações de aumento já tinham sido feitas sob a gestão do Roberto Campos Neto, do ex-presidente. Só que ontem foi o primeiro Copom do presidente Gabriel Galípolo, indicado pelo senhor para o cargo. O senhor acha que havia espaço para o Gabriel Galípolo fazer uma mudança nessa previsão de aumento? Obrigada.
Presidente Lula: Veja, eu de vez em quando acerto nas minhas previsões. Eu tinha certeza que essa pergunta viria, sabe, como uma das principais perguntas que vocês iam me fazer. Ora, veja, eu quero dizer para vocês que uma pessoa que já tem a experiência de lidar com o Banco Central, como eu tenho, tem consciência de que num país do tamanho do Brasil, com a responsabilidade do Brasil, o presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau, num mar revolto, de uma hora para a outra.
Já estava, já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros pelo outro presidente e o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer. Nós temos consciência de que é preciso ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central. Eu tenho certeza que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor, no tempo em que a política permitir que ele faça. Nós, aqui, como governo, temos que cumprir nossa parte, a sociedade cumpre a parte dela e o companheiro Galípolo cumpre a função que ele tem, que é de coordenar a política monetária brasileira e entregar para nós, dentro do possível, a inflação mais baixa, os juros mais baixos possíveis. É isso que vai acontecer.
Eu já esperava por isso, isso não é nenhuma surpresa para mim, e acho que vocês também da imprensa já esperavam por isso. O que eu posso dizer para vocês é que agora nós temos um presidente do Banco Central da maior competência, muito competente do ponto de vista econômico, e é um companheiro que, quando eu chamei ele para o Banco Central eu disse: “Galípolo, você é meu amigo, mas você vai ser presidente do Banco Central. E no meu governo o presidente do Banco Central vai ter autonomia de verdade, porque o Meirelles já teve durante oito anos. Não foi um dia, foram oito anos do Meirelles quando o Meirelles tinha total autonomia. E você vai ter autonomia. Faça o que for necessário fazer”.
Agora, o que eu quero que você saiba é que o povo e o Brasil esperam que a taxa de juros seja, de tudo possível, controlada para que a gente possa ter mais investimento e mais desenvolvimento sustentável, gerar mais empregos, e gerar mais distribuição de riqueza nesse país. É isso. Eu não esperava milagre, eu esperava que as coisas acontecessem da maneira que ele entendeu que deviam acontecer.
Sérgio Roxo – Jornal Globo: Bom dia, presidente Lula, tudo bem? Feliz ano novo para o senhor. Sérgio Roxo, do Globo. Nessa semana, dois presidentes de partidos da base, que têm ministérios, fizeram críticas ao governo. O Gilberto Kassab disse que o senhor não é favorito, não vê o senhor como favorito se a eleição fosse hoje, em 2026, e falou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é fraco. E o Marcos Pereira, que é o presidente do Republicanos, falou que o governo está sem rumo e que também imagina o partido dele em outro caminho, em 2026. Eu queria saber: o senhor teme perder o apoio desses partidos até 2026? E como é que o senhor pretende contemplá-los na reforma ministerial?
Presidente Lula: Você sabe que quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Porque, como ele disse, se a eleição fosse hoje, eu perderia, eu olhei no calendário e percebi que a eleição ia ser só daqui a dois anos, eu fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição. Segundo, eu acho que o Kassab foi injusto com o significado do companheiro Haddad no Ministério da Fazenda. É importante a gente lembrar. Eu posso não gostar pessoalmente de uma pessoa, eu posso ter crítica pessoal àquela pessoa. Mas não reconhecer que o companheiro Haddad começou o nosso governo coordenando a PEC da Transição, porque a gente não tinha dinheiro para governar o país em 2023.
E nós conseguimos, num governo, num Parlamento totalmente adverso, totalmente, porque o meu partido só tinha 70 deputados em 513, a gente conseguiu aprovar a PEC da Transição, que permitiu a gente ter dinheiro para cuidar das políticas, pagar, inclusive, dívida do governo passado, e ainda teve política para fazer mais investimento em educação e também no Bolsa Família.
Então, é uma coisa que eu acho, que o Haddad é um ministro extraordinário e está fazendo. A segunda coisa é o arcabouço fiscal, ou seja, o companheiro Haddad coordenou com o Congresso Nacional, sabe, uma indicação de uma seriedade administrativa estupenda. Ou seja, ele convenceu todo o governo e o Congresso Nacional de que, além da gente cumprir o arcabouço fiscal, a gente não poderia gastar mais de 2,5% em investimento.
Essa é uma coisa extraordinária, porque isso foi feito contra todas as pessoas que querem, sabe, investir mais. Não é gastar, é investir mais. E foi aprovado no governo, foi aprovado no Congresso Nacional.
Depois, o companheiro Haddad coordenou uma coisa que o mundo vai agradecer e o Brasil vai agradecer, que foi a aprovação da reforma tributária. Jamais houve uma reforma tributária feita num regime democrático, jamais. Uma política tributária aprovada com o Congresso funcionando da forma mais independente, com o Senado trabalhando da forma mais independente, com a imprensa fazendo a crítica que quiser fazer, e com a organização da sociedade totalmente livre, nós conseguimos a proeza. Foi, na verdade, um milagre que nós conseguimos fazer uma política tributária que vai entrar em vigor em 2027 para que o Brasil passe a ser um país mais atrativo para investimentos de estrangeiro e mais seguro para os investimentos nacionais. Ou seja, na verdade, só por isso o Haddad deveria ser elogiado pelo Kassab. Agora, eu não posso pedir para o Kassab elogiar se ele não quer elogiar.
Então, eu acho, primeiro, que não tem eleição agora, então, eu estou tranquilo, sabe. É como se falasse agora que o Corinthians vai perder o campeonato de 2026. Deixa chegar o campeonato para ver se ele vai perder. Outra coisa é o Marcos Pereira. É importante lembrar que eu não tive apoio de muitos partidos desses na época das eleições. Muitos deles não me apoiaram nas eleições. Daí porque a indignação de muita gente de achar que eu não teria condições de governar, porque tinha muitos partidos que não tinham votado em mim e que eram maioria no Congresso Nacional contra os 70 do PT, os 10 do PCdoB, os 10 do PSD. Nós éramos muito poucos.
E o que aconteceu? Foi o momento em que nós aprovamos mais Projetos de Lei e Medida Provisória na história desse país. Numa demonstração de muita capacidade de conversa, de muita capacidade de articulação, de muita competência de ceder naquilo que você pode ceder, porque quando a gente manda um projeto para o Congresso Nacional, esse projeto não é obrigatoriamente votado do jeito que a gente quer. Nós compreendemos que o Congresso tem o direito de mudar, de fazer emenda. Se for colocado “jabuti”, eu veto. E, mesmo assim, o Congresso tem o direito de derrubar o meu veto. E, mesmo assim, eu tenho o direito de recorrer à Suprema Corte para manter o meu veto. É assim que funciona a democracia. É assim que funciona a democracia. Então, se os (membros do) Republicanos vão me apoiar ou não em 2026, deixa chegar em 2026. Deixa chegar, gente. Não vamos tentar antecipar dois anos. O meu problema agora é fazer com que 2025 seja o ano da melhor colheita política desse país para o meu governo, da melhor política de obras públicas para o meu governo, da melhor colheita possível de inclusão social do meu governo, em todas as áreas. Em todas as áreas.
E vocês, eu tenho certeza, irão participar desse resultado da forma mais extraordinária possível, porque o que nós fizemos e vamos fazer na saúde, o que nós estamos fazendo na educação, o que nós estamos fazendo no transporte... Ontem eu participei de um ato de transporte. Vocês sabem que em dois anos, em apenas dois anos, nós já fizemos o dobro do que foi feito em quatro anos no governo passado? Vocês sabem que nós vamos fazer 41 licitações com empresas privadas para consertar as estradas brasileiras contra seis que foram feitas em quatro anos no outro governo? Então, essas coisas é que vão mostrar a diferença entre o Brasil de agora e o Brasil do futuro e o Brasil do passado. O Brasil da democracia e o Brasil da antidemocracia. O Brasil da democracia e o Brasil do golpista. O Brasil da verdade contra o Brasil da mentira.
É esse país que a gente vai mostrar e eu quero que vocês acompanhem da forma mais democrática possível, para vocês poderem escrever aquilo que vocês querem sem que o presidente fique ofendendo vocês, sem que o presidente fique desacatando vocês. Porque tem gente que acha que jornalista bom é aquele que escreve um artigo favorável ao governo. Eu penso diferente. Eu acho que jornalista bom é aquele que escreve a verdade. Contra ou a favor, mas que seja a verdade. Então, há uma diferença muito grande de comportamento do Estado brasileiro hoje no governo com relação ao tratamento da sociedade.
E vocês têm que saber de uma coisa: para mim, a democracia é a coisa de maior relevância nesse instante na humanidade. Não é (só) no Brasil. A democracia é a coisa mais importante. Ou a gente mantém a democracia funcionando ou a gente vai ter Estados autoritários mais do que Hitler e mais do que o fascismo. E é por isso que a democracia é um valor incomensurável na minha vida daqui para fora.
Eu tenho dito para os trabalhadores, eu tenho dito: ao invés de vocês ficarem fazendo pauta de reivindicação, façam quantas vocês quiserem, mas coloquem a democracia, porque só com democracia é que vocês conquistam as coisas. Só com democracia, com o direito de greve, com o direito de xingar governo, com o direito de fazer passeata, com o poder de fazer tudo. Se a gente perder isso, a gente perde a coisa mais extraordinária que é a democracia.
Eu gosto tanto da democracia, porque jamais no regime autoritário um metalúrgico seria presidente da República, jamais. Jamais um índio seria presidente da Bolívia. E a democracia é extremamente importante, porque ela permite o contrário.
Ela permite uma aliança como eu e o Zé Alencar, ela permite uma aliança como eu e o Alckmin, quem é que imaginava que eu ia fazer uma aliança com o Alckmin? E eu fiz, e sou agradecido pelo extraordinário serviço que ele está prestando ao Brasil e ao meu governo.
Renan Truffi - Valor Econômico: Presidente, Bom dia. Eu sou o Renan Truffi, do Valor Econômico. Eu queria perguntar para o senhor o seguinte: Nesta semana, foi noticiado que o senhor autorizou o aumento do diesel, e esse é um produto que interfere principalmente no frete, em relação aos caminhoneiros. O governo do senhor está monitorando a possibilidade dos caminhoneiros fazerem outro protesto, pararem as estradas e algo do tipo, ou não? Como é que o senhor vê isso?
Presidente Lula: Repita a pergunta, por favor.
Renan Truffi - Valor Econômico: Vamos lá. Nesta semana, foi noticiado que o senhor autorizou o aumento do diesel para Petrobras. E isso é uma questão que interfere nos caminhoneiros.
Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Eu não autorizei aumento do diesel, porque desde o meu primeiro mandato, que eu aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo, derivado de petróleo, é a Petrobras e não é o presidente da República. Essa é a primeira verdade que eu quero dizer. Eu já aprendi há muito tempo isso. E aprendi uma outra coisa.
Se a Petrobras tiver que fazer um reajuste, e veja a diferença, eu falei reajuste e você falou de aumento. É porque se ela tiver que fazer um reajuste, ainda assim, não levando em conta o aumento da inflação de 2023, 2024, sem contabilizar a inflação, se colocasse a inflação no preço, se ela fizer reajuste, ainda assim, será menor do que dezembro de 2022. Só para você entender, quem está aumentando é o COFINS, que está reajustando, o COFINS em 2006,75, uma coisa mais ou menos assim.
Esse é aumento. O que nós estamos fazendo, se ela decidiu fazer e se ela for fazer, é um reajuste, que ainda assim vai garantir que o preço do diesel fique abaixo daquilo que era em dezembro de 2022. É isso que eu sei, pela imprensa, inclusive. Li muito hoje o que vocês escreveram ontem, sabe, mas ainda não fui avisado se ela vai aumentar ou não, e ela não precisa me avisar. Se ela tiver uma decisão de que para a Petrobras é importante fazer o reajuste, ela que faça e comunique à imprensa.
Se tiver uma movimentação de caminhoneiros, eu vou fazer o que eu sempre fiz a vida inteira. Nós vamos conversar com os caminhoneiros. Nós vamos colocar tanto o ministro do Transportes, como a ministra da Gestão, a Esther [Esther Dweck, ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos], para conversar. Nós não temos nenhuma preocupação, nós vamos conversar com todo e qualquer setor que tiver qualquer problema com o governo. Então, é isso. Nada que seja alarmante se a gente tiver disposição de conversar. E nós temos disposição de conversar, e os caminhoneiros só têm que saber da verdade. Eles têm que saber o preço do diesel em dezembro de 2022 e o preço do diesel agora. Eles sabem que está mais barato. Está mais barato o diesel, está mais barata a gasolina, está mais barato o gás de cozinha. E vão continuar mais baratos. É isso.
Marcos Amoroso - RedeTV: Olá, presidente. Bom dia. Marcos Amoroso, da Rede TV. Nesta semana, o senhor teve uma reunião com o presidente da Vale, o Gustavo Pimenta. Eu gostaria de saber como é que foi esse encontro, porque o senhor, no ano passado, chegou a tecer várias críticas com a mineradora. Eu queria saber se foi feito algum acordo, se há uma melhoria dessa relação. Como foi esse encontro, de maneira geral? Se cela um novo momento do governo com a mineradora?
Presidente Lula: Deixa eu falar uma coisa para você. Tanto eu tenho problema de ouvido, como nós temos um problema do som aqui. Se você falar perto do microfone, a gente entende de forma...
Jornalista: Assim está melhor? Eu estou aqui.
Presidente Lula: A culpa é do Stukert, viu?
Marcos Amoroso - RedeTV: Presidente, o senhor me escuta melhor agora? Vamos lá. Vou repetir desde o começo. Marcos Amoroso, da Rede TV, repórter. O senhor, essa semana, teve uma reunião com o presidente da Vale, Gustavo Pimenta. Eu gostaria de saber como é que foi esse encontro. No ano passado, o senhor chegou a tecer algumas críticas com a mineradora, principalmente relacionado aos acordos. Eu queria saber, saiu algum acordo dessa reunião? Houve uma melhoria dessa relação? Como é que vai ser a relação do governo com a Vale a partir de agora? Ou se nada muda?
Presidente Lula: Olha, primeiro, eu tenho noção da importância da Vale para o Brasil. Muita noção. E tenho noção de que a Vale foi governada, em determinado período, de forma muito, mas muito irresponsável. A Vale não conversava com o governo e não discutia com o governo os projetos que ela pode participar nesse momento de transição energética, nesse momento da gente explorar os minerais críticos, que é muito importante. E a Vale agora se dispõe a ter um novo comportamento.
Nós tivemos uma reunião. Eu fiquei muito, muito contente com a impressão que me passou o presidente da Vale. E nós queremos discutir várias coisas que nós temos que discutir para fazer com que a Vale volte a produzir mais minério e ela voltar a ser a primeira ou a segunda no mercado internacional. Ela caiu muito no mercado internacional. Ela perdeu muito. E eu acho que nós precisamos fazer com que a Vale recupere, porque ela é importante para o Brasil. O Brasil é importante para a Vale, mas a Vale também é importante para o Brasil. Então, acho que foi uma conversa extraordinária.
Havia aquela tensão maluca porque a gente não tinha feito o acordo de Mariana. Há nove anos que estava parado o acordo de Mariana. Havia gente que achava que era impossível. E nós conseguimos fazer o acordo de Mariana funcionar. Foi aprovado aqui no Palácio. E agora nós temos que ter cuidado porque o dinheiro começou a surgir e nós temos que estabelecer como é que o BNDES vai fazer com que esse governo chegue na ponta. Porque todo o acordo foi feito para que o dinheiro chegue na ponta e para que o dinheiro possa preservar e recuperar o nosso querido Vale do Rio Doce.
Foi boa a reunião e nós vamos fazer uma reunião que eu vou convocar para a gente discutir como é que a gente vai vencer os obstáculos de mineração que a Vale está enfrentando.
Plínio Aguiar - R7: Bom dia, presidente. Plínio Aguiar, do R7, site da Record. O senhor cobrou dos ministros medidas para conter a alta do preço dos alimentos. Uma das propostas em estudo é a redução da alíquota de importação. Ela é suficiente? Eu gostaria de saber também o que mais o governo está pensando para conter, frear esse aumento do preço dos produtos.
Presidente Lula: Olha, eu tenho em mente que o aumento dos preços de comida que vão na cesta básica é sempre muito ruim, porque eles afligem exatamente as pessoas mais pobres, os trabalhadores mais humildes que a gente quer proteger. Então, não tem sentido você fazer um sacrifício enorme de fazer políticas públicas para fazer com que o dinheiro chegue na ponta e depois esse dinheiro será comido pela inflação.
Também nós não queremos aqui dizer, e eu faço questão de dizer para vocês, eu não tomarei nenhuma medida daquelas que são bravatas. Eu não farei cota, eu não coloquei helicóptero para viajar à fazenda e prender boi como foi feito no tempo do Plano Cruzado. Eu não vou estabelecer nada que possa significar o surgimento de mercado paralelo.
O que nós precisamos trabalhar com muito carinho é o seguinte: é aumentar a produção de tudo aquilo que a gente produz, fazer com que a chamada, sabe, pequena e média agricultura, que sou responsável pela produção de quase 100% dos alimentos, possam produzir mais. Para isso, a gente tem que fazer mais financiamento, a gente tem que fazer mais financiamento para a modernização da produção dessa gente. Nós queremos discutir a questão... Eu, quando cheguei na presidência, o preço do óleo de soja tinha caído para R$ 4 e agora subiu para R$ 9 ou para R$ 10.
Ou seja, qual é a explicação do óleo de soja ter subido? Eu não tenho outra coisa a não ser chamar os produtores de soja para saber. Por que o preço da carne caiu 30%? É importante lembrar que em 2023 a picanha caiu 30%. É importante lembrar. Ela voltou a subir por quê? É apenas a exportação? É a questão da matriz, porque todo ano que você mata muita vaca, porque você cresce as exportações, no ano seguinte, um ano e meio depois, você não tem bezerro para matar? Então aumenta o preço da carne. Então eu quero saber, se eu souber, a gente pode tomar alguma medida junto com os empresários para a gente fazer com que o mercado volte à normalidade. Não falta alimento no Brasil.
Acontece que também nós temos que ter em conta que o Brasil virou o celeiro do mundo. Aquilo que a gente falava 20 anos atrás, que parecia um sonho, demagogia, virou verdade. O Brasil virou o celeiro do mundo. Prova é que nós abrimos 300 mercados novos em dois anos de governo. Vocês algum dia já imaginaram um país abrir 300 mercados novos? E ainda o acordo com a União Europeia, que não é uma coisa para amanhã, é uma coisa que ainda tem que ser muito debatida, é o maior bloco comercial do mundo. Porque são da Europa, sabe, praticamente 722 milhões de pessoas junto com o Brasil. É uma quantidade enorme de consumidores. E, ao mesmo tempo, um PIB extraordinariamente elevado.
Então nós estamos conscientes de que esse é o papel do Brasil. Agora, nós vamos querer continuar exportando e vamos querer continuar trabalhando para que o alimento possa ser produzido. Eu, por exemplo, quero saber se a soja para o biodiesel está criando problema. Eu quero saber se o milho para o etanol está criando problema. E eu só posso saber disso se eu chamar os empresários da área para conversar, para ouvir deles, ao invés de ficar falando coisas sem conhecimento.
Eu, na minha idade, não posso fazer bravata. Eu preciso ter mais calma, contar até 10 e depois dizer o que eu vou fazer, sabe, de preferência junto com aqueles que são responsáveis pela produção. Ontem, por exemplo, nós fizemos uma reunião extraordinária com os bancos para discutir a questão do crédito consignado para o setor privado. Parecia uma coisa impossível, parecia uma coisa assim. Há seis meses estamos discutindo. Ontem, nós chegamos a um acordo.
Chegamos a um acordo que é possível a gente fazer sem prejudicar nada, atendendo as coisas que são necessárias a serem atendidas e vai ser o maior programa de crédito da história desse país. Então, se preparem, porque houve uma bomba boa de crédito nesse país, porque eu acho, e eu já disse para vocês muitas vezes, que pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda e que muito dinheiro na mão de poucos significa miséria. Então, nós vamos fazer com que o dinheiro chegue na ponta, porque quando o dinheiro chegar na ponta, o cara que receber um pequeno crédito, ele não vai depositar em dólar, ele não vai explorar no mercado, ele vai comprar material de construção, ele vai comprar comida, ele vai comprar roupa, e esse dinheiro volta rapidamente para o mercado.
Então, essa é uma novidade que a gente vai anunciar nos próximos dias. Faltam alguns ajustes de linguagem jurídica na lei que nós queremos mandar. Estamos de acordo com os bancos e isso vai ser muito importante. Quem é que imaginava o governo Lula fazer um acordo com os bancos? Pois está feito. Está feito e vai ser uma medida extraordinária.
Lucas Teixeira - Portal UOL: Bom dia, presidente. Tudo bom? Lucas Teixeira, Portal UOL. Presidente, a presidenta Gleisi [Gleisi Hoffmann, deputada federal, presidenta do PT] vai ser ministra do governo? Se sim, em que cargo? Se não, há possibilidade de mudança aqui no Planalto, quem sabe Pacheco [Rodrigo Pacheco, senador, atual presidente do Congresso] ou Lira [Arthur Lira, deputado federal, atual presidente da Câmara] saindo das presidências, vindo para o governo? Obrigado.
Presidente Lula: Pelo seu sorriso, eu tenho a impressão que você sabe de alguma coisa que eu não sei. Porque é o seguinte, veja, trocar ministro é uma coisa que é da alçada do presidente da República. Mas, no Brasil, a gente tem o hábito de que o presidente toma posse, monta o governo, um ano depois, toda a imprensa brasileira já está tratando da reforma política. Todo mundo, vai ter reforma, vai ter reforma, vai ter reforma. Então, eu, sinceramente, fiz a melhor reunião de ministério que eu já fiz em todo o meu tempo de governo, no começo do ano. Acho que foi dia 7 ou dia 8. Foi a melhor reunião de ministro que eu fiz. E uma coisa importante é que eu aprendi que em cinco minutos a gente pode falar tudo o que a gente quiser falar. Eu viajo para o G7, eu viajo para o G20, eu viajo para os BRICS, e chega lá, cada presidente da República só tem direito a cinco minutos.
Então, a gente, em cinco minutos, coloca tudo no papel, você termina falando tudo o que você queria falar. Então, na reunião de ministério, todos só falaram cinco minutos. Ninguém falou mais. E todo mundo disse aquilo que eu queria ouvir. Ou seja, a safra está plantada. A safrinha do milho, a safrona, da soja, do milho, do emprego, está tudo plantado.
Agora, é cuidar que não venha nenhuma seca e nenhuma fonte de incêndio, e que a chuva continue do jeito que está chovendo em Brasília, que nós vamos fazer com que esse país dê um espetáculo de crescimento outra vez. Eu vou lembrar que, em 2005, eu utilizei a frase espetáculo do crescimento. E eu fui muito criticado na época, porque "onde já se viu, o Lula está doido, ele está delirando". E, naquele ano, o crescimento foi 5,8%. Eu vou dizer para vocês: nós vamos continuar crescendo. Nós vamos continuar crescendo.
As políticas de inclusão social vão continuar se fortalecendo, a massa salarial vai continuar crescendo e o salário mínimo vai continuar sendo ajustado acima da inflação. Isso tudo, sem que a gente crie nenhum problema na chamada estabilidade fiscal. Vocês também já ouviram eu cansar de dizer, não é uma vez nem outra, foram centenas de vezes, eu aprendi a estabilidade com a dona Lindu, que ela pegava dinheiro dos oito filhos.
Minha mãe não sabia ler, minha mãe não sabia diferenciar um O de um R, mas ela sabia contar dinheiro. Então, a gente chegava em casa, os oito filhos dela, cada um com o seu envelope de dinheiro, ela pegava aquele envelope, colocava tudo junto, contava tudinho, pegava as papeletas das nossas dívidas, ela falava, isso aqui é para pagar, isso é para pagar aquilo. Se sobrasse um pouquinho, ela falava, isso aqui é para o transporte, para namorar, isso aqui é não sei para quantas. Como eu era o caçula, nunca sobrava nada para mim, nunca.
Mas é assim que eu governo esse país. Não pode gastar mais do que a gente tem capacidade de arrecadar. Se a gente tiver que fazer investimento para construir um novo ativo que aumente os ativos brasileiros, nós vamos, então, fazer uma dívida saudável. É uma dívida para construir algo que seja benéfico ao país e à população brasileira. Fora disso, se a gente começar a gastar aquilo que a gente não tem, chega um dia que a gente quebra.
Quem usa cartão de crédito sabe do que eu estou falando. Quem usa cartão de crédito vai gastando um pouco mais, acompanhando um pouco mais. Hoje é mais fácil ligar para a internet e comprar uma coisinha de 50 reais, outra coisinha de 60 reais. Chega no final do mês, o cartão de crédito estoura. Eu não vou fazer com que o Brasil estoure. Uma coisa que me deixa triste, às vezes, é que, às vezes, tem pessoas ou setor que querem ter uma predominância na formação da opinião pública.
Vocês sabem o quanto nós passamos de apuro com as pessoas dizendo não, porque é um déficit fiscal, porque é um déficit fiscal, porque é um déficit fiscal. O que aconteceu com o déficit fiscal? O que aconteceu? 0,1%. 0,1% é zero. Não é 2,5% como nós recebemos, é zero. E vai ser assim, vai ser assim porque eu tenho muita responsabilidade na minha casa e tenho muita responsabilidade com esse país. Eu sei porque eu vivi 27 anos da minha vida dentro de uma fábrica e sei porque eu vivi 10 dentro de um sindicato.
Eu sei como é que o povo sofre a irresponsabilidade de um governo. E quando eu falo que a gente vai controlar a economia desse país, é porque se a gente não acertar, quem sofre é o povo. A hora que o país quebrar, sabe que vão cortar do povo. É o povo que vai ser vítima. É a gente que ganha bilhões e bilhões querendo que a gente corte tostão do povo trabalhador. E é por isso que eu tenho responsabilidade. Já provei isso em oito anos de mandato e vou provar outra vez em quatro anos de mandato.
Ah, meu Deus. Era a pergunta principal e eu esqueci. Primeiro, deixa eu dizer para vocês o seguinte. A companheira Gleisi, ela já foi ministra, chefe da Casa Civil da Dilma [Dilma Rousseff, ex-presidenta da República e atual presidenta do NDB]. Eu estava preso e eu fui um dos responsáveis para que a companheira Gleisi virasse presidenta do nosso partido. A Gleisi é um quadro muito refinado. Politicamente, tem pouca gente nesse país mais refinado que a Gleisi. O pessoal fala: "mas ela é muito radical para ser presidente do PT". Ora, para ser presidente do PT, ela tem que falar a linguagem do PT. Se ela não quiser ser assim, ela é que vá para o PSDB, ela é que vá para (outro) partido político. Para ser do PT, ela tem que ganhar confiança do PT. Então, ela tem condições de ser ministra em muitos cargos.
Até agora, não tem nada definido. Eu não conversei com ela, ela não conversou comigo. Eu ainda não sentei para ficar pensando se eu vou ou não trocar alguns ministros. Agora, vocês podem ter certeza que o dia que eu trocar, vocês saberão em primeira mão. E não vai saber por um furo ou de um articulista, não. Sabe aquele furo? Não alguém perto do governo, alguém próximo do presidente, alguém que toma café com o presidente, não. Vocês vão saber, porque eu vou comunicar a vocês se nós vamos trocar A ou B, e se vai entrar C ou D. Mas eu quero dizer que a Gleisi é um quadro que ela tem competência para ser ministra em qualquer país do mundo.
Ranielle Veloso - TV Meio: Bom dia, presidente. Ranielle Veloso, da TV Meio. Gostaria de saber se o governo ainda tem pretensão de apresentar ainda cortes na área fiscal. O senhor acabou de falar de estabilidade, mas teve um déficit de 0,1%. O senhor disse que é pequeno, mas teve um déficit e há essa preocupação com as contas públicas. Nos 45'' do segundo tempo, no ano passado, o Congresso aprovou o pacote de corte de gastos. Foi suficiente ou o governo tem outros planos?
Presidente Lula: Olha, você sabe que quando a gente manda um orçamento para o Congresso Nacional, a gente já manda um orçamento com todas as previsões do que possa acontecer no futuro. Eu volto a repetir, 0,1% é zero. As pessoas que passaram o ano inteiro falando do famoso déficit fiscal deveriam pedir desculpa ao Haddad.
"Haddad, desculpa, a gente não acreditou em você, a gente duvidou de você, desculpa". Não, mas não pedem, não pedem, porque as pessoas que falam coisas erradas e depois não acontecem, não têm humildade de falar:"nós erramos". Então, eu posso lhe dizer o seguinte: estabilidade fiscal é uma questão muito importante para esse governo e é uma questão muito importante para mim.
Eu acabei de responder na pergunta anterior. A gente quer responsabilidade fiscal e a gente quer fazer o menor déficit possível, porque a gente quer que esse país dê certo. E eu disse para vocês, se a gente tiver que fazer uma dívida, é para a gente construir um ativo novo que vai ajudar esse país a ser melhor ainda.
Então, isso é pensado quando a gente prepara o orçamento. O orçamento de 2025, e o orçamento vai ser aprovado, não foi aprovado ainda, com todas as restrições possíveis a qualquer gasto, mas nenhuma a qualquer investimento. Eu não tenho outra medida fiscal. Veja, se se apresentar durante o ano a necessidade de fazer alguma coisa, nós vamos reunir o governo e discutir. Mas eu posso lhe dizer que, se depender de mim, não tenho outra medida fiscal. O que nós vamos agora é pensar no desenvolvimento sustentável desse país, continuar mantendo a estabilidade fiscal desse país e sem fazer com que o povo pobre pague o preço de alguma irresponsabilidade de um corte fiscal desnecessário.
Heloísa Vilela - ICL: Bom dia, presidente. Heloísa Vilela, do ICL. Eu queria saber o seguinte: no ano passado, o senhor viajou um bocado, andou dando entrevistas para as rádios do interior do país, isso se refletiu positivamente nas pesquisas de opinião, inclusive. E agora a gente está aqui muito grato de vê-lo começando um novo, me parece, um novo sistema de comunicação conosco e com a população brasileira. Eu queria saber se é isso, se veio para ficar, e se esse é o contra-ataque do governo para divulgar melhor as entregas e os feitos do governo.
Presidente Lula: Olha, você me conhece e eu lembro que quando o companheiro Pimenta estava na comunicação, de vez em quando o Pimenta me aparecia com uma pesquisa dizendo o que o povo estava pensando. E eu falava: “Ô, Pimenta, mas é assim mesmo”. Ou seja, você tem o primeiro ano de governo que, como você ganhou as eleições, o povo tem muita expectativa, sabe? E o povo está muito tranquilo. No segundo ano, seja para o presidente, para o governador ou para o prefeito, começa o povo a saber se a expectativa que ele tinha está sendo cumprida. Eu dizia para o Pimenta: “Não se preocupe com pesquisas, porque o povo tem razão. A gente não está entregando aquilo que a gente prometeu”. Então, como é que o povo vai falar bem do governo se a gente não está entregando? É preciso ter muita paciência. Primeiro, porque eu sou um cara que não me preocupo com pesquisa. A pesquisa, ela não é feita para você gostar ou não gostar. A pesquisa é feita quando você é responsável para você analisar ela, verificar se aquilo tem um fundo de verdade e você começar a fazer as correções necessárias.
É muito cedo para você fazer pesquisa sobre 2026 e é muito cedo para você avaliar o governo com dois anos de governo. É muito cedo. Eu só queria lembrar você que eu deixei a Presidência, em 2007, com 87% de bom e ótimo. Eu tenho consciência do que nós estamos fazendo, mas muita consciência. Por isso é que eu não gosto de fazer bravata.
Eu tenho consciência e cada coisa que eu falar para vocês, eu quero que vocês anotem, porque cada coisa que eu falar, nós vamos entregar. Porque não é apenas um programa de governo, é uma profissão de fé. Você acha que eu seria eleito presidente da República, outra vez, se eu não tivesse no horizonte que eu tenho que fazer mais do que eu fiz em 2003 e 2010? Para quê eu ia voltar se eu não tivesse noção de que eu posso ser melhor e fazer mais?
Então, eu posso te garantir, na reunião ministerial que eu fiz dia 7, eu cheguei à conclusão de que, em dois anos de governo, nós preparamos esse país mais do que nos oito anos meus. Só o PAC é um trilhão e oitocentos bilhões de reais que vão ser jorrados nesse país para gerar emprego, para gerar ativos produtivos, para gerar estrada, pontes. Isso vai acontecer. Não tem choro e nem vela.
Vai acontecer isso porque nós estamos bem organizados, nós temos uma equipe de ministério na infraestrutura da melhor qualidade e as coisas vão acontecer. Por isso que eu não me preocupo com pesquisa. Eu posso dizer para vocês que, o dia que eu estiver preocupado com pesquisa, eu vou convocar uma coletiva para dizer para vocês que me preocupei com a pesquisa.
Então, o meu papel é trabalhar para entregar o que eu plantei agora. Então, eu quero convidar vocês, sabe? Nós até estamos fazendo, em maio, uma reunião com todos os ministros do continente africano, da agricultura, porque a gente quer ver como é que a gente pode ajudar. Vai ser a primeira reunião, a primeira, sabe, do Pacto do Combate à Fome e à Pobreza, que nós aprovamos no G20. Ou seja, nós vamos fazer uma reunião para mostrar o que nós temos de bom no Brasil, levar eles a campo para ver o que está acontecendo de bom e depois vamos fazer uma reunião técnica aqui coordenada pela Embrapa, pelo Ministério das Relações Exteriores, para a gente poder transferir um pouco de conhecimento para os nossos companheiros africanos para ver se a gente combate a fome de verdade.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza vai ter o seu primeiro grande evento, sabe, em maio, com todos os ministros da Agricultura dos países africanos.
Matheus Schuch - Rádio Gaúcha: Presidente, bom dia aqui. Eu queria falar sobre a sua relação com Donald Trump, saber se o senhor vai fazer um contato direto com o novo presidente dos Estados Unidos, seja uma ligação, um encontro presencial, e como o senhor vai agir se ele cumprir a promessa de taxar produtos brasileiros, tendo em vista que o país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Presidente Lula: Veja, é muito simples. Se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos americanos. Taxar os produtos que são exportados para os Estados Unidos é simples, não tem nenhuma dificuldade. Veja, eu já governei o Brasil com um presidente (do Partido) Republicano, já governei com um presidente (do Partido) Democrata, e a minha relação é sempre a mesma. A minha relação é uma relação de um Estado soberano com outro Estado soberano. O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e eu mandei na carta para ele que eu espero que ele tenha uma boa governança para os Estados Unidos.
Eu fui eleito para governar o Brasil. Eu quero respeitar os Estados Unidos e quero que o Trump respeite o Brasil. É só isso. Se isso acontecer, está de bom tamanho. A nossa exportação para os Estados Unidos não é essa supremacia que as pessoas pensam que é. Ele é superavitário com relação ao Brasil, é mais ou menos, 40, 45 bilhões, sabe? E nós temos que procurar manter isso e melhorar.
Da minha parte, o que eu quero é melhorar a nossa relação com os Estados Unidos, exportar mais, se for necessário. Importar mais, se for necessário, e a gente manter a nossa relação, que é de 200 anos. Eu, sinceramente, é isso que eu penso, é isso que eu espero. Não me preocupe se ele vai brigar pela Groenlândia, se ele vai brigar pelo Golfo do México, se ele vai brigar pelo Canal do Panamá. Ele só tem que respeitar a soberania dos outros países. É isso. Ele foi eleito para governar os Estados Unidos da América do Norte. E os outros presidentes foram eleitos para governar os seus países. É isso, civilidade.
Matheus Schuch - Rádio Gaúcha: Haverá um contato direto?
Presidente Lula: Veja, não há nenhum interesse agora, acho que nem meu e nem dele. Porque essas conversas só acontecem quando você tem interesse, tem alguma coisa para tratar. Eu mandei uma carta para o governo americano, dando os parabéns pela vitória. É isso. Se a gente não tiver a oportunidade de se encontrar, porque ele não participa dos BRICS, se eu for convidado para o G7, a gente tem chance de se encontrar. Se eu não for, a gente vai se encontrar na ONU. Se ele não desistir da ONU também, né? Obviamente que eu acho que esse negócio de descumprir o Acordo de Paris, de dizer que não vai dar dinheiro para a OMS, é uma regressão à civilização humana.
Luciana Lima - PlatôBR: Bom dia. Feliz Ano Novo para o senhor também. Luciana Lima, do Platô. Presidente, nos dois primeiros anos desse governo, o senhor teve uma relação com o Congresso, o governo teve uma relação com o Congresso muito baseada na liberação de emendas para aprovar os projetos de interesse do governo no Congresso. Isso na gestão do Arthur Lira e do Rodrigo Pacheco na Câmara e no Senado. Agora a gente tem um novo Congresso e com a perspectiva de eleição do Hugo Motta, na Câmara, e do Alcolumbre.
Presidente Lula: Ainda vai ter votação.
Luciana Lima - PlatôBR: Vai ter votação, mas são os favoritos. Do Alcolumbre ao Senado. Eu gostaria de saber do senhor o que o senhor espera da gestão desses dois favoritos aí. Se o senhor acha que esse padrão de relacionamento vai mudar ou vai continuar a mesma coisa entre o Executivo e o Legislativo.
Presidente Lula: Olha, eu não me meto em eleição da Câmara e eleição do Senado. A eleição da Câmara e do Senado é uma questão dos partidos políticos, dos deputados e dos senadores. O presidente da República não se mete nisso. O meu presidente do Senado é aquele que ganhar, e o da Câmara é aquele que ganhar. Quem ganhar, eu vou respeitar e vou estabelecer uma nova relação. Eu acho que nós já demos uma demonstração de que não tem dificuldade de você governar se você tiver muita disposição de muita conversa. Então, se Hugo Motta for eleito presidente da Câmara e o Alcolumbre for eleito presidente do Senado, ele será o presidente das instituições e é com eles que nós vamos fazer as tratativas que tiver que fazer.
Eu tenho uma boa coordenação política, eu tenho um bom líder no Senado, eu tenho um bom líder na Câmara, tenho um bom líder no Congresso Nacional e essas pessoas é que vão tratar de organizar a relação do Governo Federal. Todos os projetos que eu mandar para o Congresso Nacional, antes de mandar para o Congresso Nacional, eu discuto com os líderes aqui, com o coordenador político do governo, com o líder na Câmara e no Senado, e, quando o projeto chega na Câmara e no Senado, ele já está mais ou menos alinhado para ser aprovado. É assim que vai continuar sendo. E se eles fizerem mudança e essa mudança for pertinente, eu sancionarei. Se não for pertinente, eu vetarei. É isso. Simples.
Deixa eu lhe falar uma coisa. O governo não tem nada a ver com as emendas parlamentares. Foi uma conquista num governo irresponsável que não governava o país. Então, elas existem, nós estamos agora com decisões da Suprema Corte, do ministro Flávio Dino, e nós vamos negociar para ver se se coloca um acordo definitivo entre a Câmara, sabe, e o Poder Executivo para saber que, sabe, se tiver que dar emenda, vamos dar emenda subordinada e orientada a projetos de interesse do Estado brasileiro, sobretudo na área da educação, na área da saúde, na área do transporte.
É assim que a gente vai trabalhar. Até que a gente crie condições para que seja de forma diferente. Eu te confesso que eu não terei dificuldade na relação com o Congresso Nacional. Não terei. E também eu não sou daqueles que ficam esperando que a oposição me elogie, sabe? A oposição não foi feita para elogiar governo. A oposição foi feita para criticar. Eu lembro que o Fernando Henrique Cardoso dizia: “O PT vaia até o Hino Nacional”. Sabe? Então, a oposição é para isso, sabe. Nós fomos eleitos para governar. Eles foram eleitos para não deixar a gente governar. Mas nós vamos governar.
Laércio Portela [Secretário de Imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República]: Pessoal, nós encerramos as dez perguntas que tínhamos combinado. Eu queria pedir ao presidente se ele quiser fazer uma fala de consideração final. Eu sei que está todo mundo ansioso por mil perguntas aqui. Todo mundo dizendo. Vamos ter outras oportunidades também.
Presidente Lula: Eu pensei que era só eu que tinha vindo para cá mais civilizado, mas eu vi que todo mundo aqui está muito bem preparado para essas coisas. Eu só queria terminar dizendo para vocês o seguinte: Eu vou tentar fazer isso mais vezes. Porque se tem uma coisa que me irrita, é sair notícia da boca do presidente quando ele não falou, sabe? Por interpretação. Então, se vocês tiverem que fazer julgamento do presidente, faça depois de ouvir o presidente. A Délis parece que quer fazer uma pergunta. Eu abriria mais uma concessão também.
Laércio Portela [Secretário de Imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República]: Então, vamos fazer o seguinte. Vamos abrir mais duas, mais duas. Tá bom? Faz a Délis [Ortiz, repórter da TV Globo] e depois a Tereza [Maria Tereza Cruvinel, jornalista do portal BR247].
Delis Ortiz - TV Globo: Presidente, o senhor falou duas vezes sobre a questão do ajuste fiscal, do déficit fiscal. Mas, eu queria aprofundar um pouquinho, porque o que a gente está querendo saber é se o senhor entende que cumpriu a necessidade de contenção de gastos para o equilíbrio fiscal a longo prazo, porque o problema no mercado não é hoje, é o daqui para frente. O que a gente quer saber é se o senhor considera que cumpriu a necessidade de baixar o rombo fiscal, de resolver o rombo fiscal.
Presidente Lula: Olha, eu vou só repetir o seguinte. Não existiu o rombo fiscal. O rombo fiscal existiu no governo passado. No governo passado, houve rombo fiscal de quase 2,6%. No nosso não houve. Aliás, se não fosse o Rio Grande do Sul, nós teríamos feito superávit pela primeira vez em muitas décadas.
É importante lembrar, e eu gosto de falar sempre isso, que eu já fui presidente da República. E eu cheguei a fazer superávit de 4,25%. Uma demonstração de seriedade. Agora, o que eu não posso é levar o povo mais humilde a um sacrifício para contemplar os interesses de menos gente. Não vou fazer e o povo sabe que a estabilidade fiscal é um benefício para ele, porque se eu não fizer a estabilidade fiscal, quando eu for cortar, quem vai cortar o Congresso Nacional é do povo pobre.
Então, para mim, nós temos agora uma meta, uma nova política tributária que vai entrar em vigor em 2027. A gente pode ter muito mais capacidade de investimento, a gente pode ter muito mais capacidade de arrecadação e eu tenho que esperar cada período para saber como é que vai ser. A única coisa que eu quero é que as pessoas tenham certeza que neste governo não haverá irresponsabilidade fiscal. É isso. O meu histórico é a prova disso. É o meu histórico.
Eu sempre falo para vocês: como é que estava a indústria automobilística quando eu voltei para a presidência da República em 2023? Eu sempre falo, porque às vezes as pessoas têm memória curta. Quando eu deixei a presidência desse país, a indústria automobilística, em 2010, vendia 3,8 milhões de carros. Quando eu voltei, 15 anos depois, estava vendendo apenas 1,6 milhão de carros. Agora já chegou a 2,6 milhões.
Então, é isso que vai acontecer no Brasil. É isso que vai acontecer. Eu não tento discutir aquilo que meia dúzia de pessoas querem. Eu quero discutir aquilo que interessa à maioria das pessoas. É gerar emprego. É gerar renda para essas pessoas. Criar um país de classe média. É esse o país que eu quero criar. E vou criar. E vou criar. Para os meus adversários ficarem com muito mais raiva de mim, com muito mais ódio de mim. “Como é que pode esse metalúrgico de São Bernardo do Campo, de diploma primário, como é que pode esse cara fazer o que nós não conseguimos fazer?”.
Aliás, eu acho que vocês poderiam estudar uma coisa que eu vou pedir para vocês. Esse país teve a Proclamação da República em 1889. Vocês poderiam pesquisar em que momento da história esse país teve inclusão social de verdade. Poderiam pesquisar. Vocês vão perceber que teve com Getúlio [Vargas] e teve comigo. Procura outro momento qual foi que teve o político de inclusão social. O Getúlio, diziam que era ditador, mas foi ele que fez a CLT. Por isso é que a base industrial de São Paulo nunca fez sequer uma viela com o nome do Getúlio. Porque a CLT tirou o povo da escravidão e deu cidadania. E nós com a política de inclusão social.
O que é que eu tenho dito para os empresários? Gente, se você acha que pagar mil e 900 reais para o seu trabalhador é muito, porque você acha que é muito pagar, não olhe ele como o seu trabalhador. Olhe ele como o seu consumidor. Porque ele vai pegar o salário que você paga, ele vai em uma loja comprar o que você fabrica. O dinheiro que você pagou para ele vai voltar para você. Não dá para você entender isso? É simples de entender. Então, ao invés de pagar para o trabalhador, paga para o seu consumidor.
Se a gente fizer isso, esse país vai dar um salto de qualidade da forma mais extraordinária possível. Nós quase conseguimos uma vez. Uma coisa que me deu tristeza foi voltar à presidência com 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. Vamos acabar. Em 2026, quando eu tiver que entregar a presidenta da República, eu vou dizer para vocês: “Nenhum brasileiro ou brasileira está passando fome nesse instante”. É isso que eu vou fazer. Muito orgulhosamente.
Tereza Cruvinel - Brasil247: Bom dia, presidente. Tereza Cruvinel, Portal Brasil 247. Eu queria saber, em primeiro lugar, se o apoio à sua candidatura à reeleição ou a outro candidato apoiado por seu governo é uma condição para o partido integrar agora o governo na reforma ministerial. E se não é esse o objetivo, o que o senhor quer com a reforma ministerial? E abusando um pouquinho, atendendo a pedidos, se o senhor vai mandar, em breve, o projeto da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, promessa de campanha sua.
Presidente Lula: Olha, eu sempre costumo utilizar o futebol como exemplo de algumas coisas que eu falo. Você, muitas vezes, está assistindo um jogo de futebol e você vê, no segundo tempo, depois de 10 ou 15 minutos, o técnico substitui três, quatro e agora pode até cinco jogadores. E, muitas vezes, ele tira o melhor jogador que não está jogando bem. Como o melhor jogador não está jogando bem, ele tira para ver se coloca alguém que faça aquilo que ele queria que o jogador importante fizesse. É assim que a gente faz na política.
Se tiver uma pessoa que foi chamada para administrar uma área e essa pessoa, por qualquer razão, não estiver atendendo, contente, você troca. Então, isso será feito da maior liberdade possível, com o mesmo carinho que eu convoquei, eu posso tirar uma pessoa. E é o seguinte, Tereza, eu, sinceramente, não quero discutir 2026.
Eu só quero dizer para vocês uma coisa. Olhem bem o que eu estou falando aqui. Olhem bem, que eu estou mais elegante. Depois de consertar a cabeça, eu estou mais bonito. E vou dizer para vocês, que eu estou com muita jovialidade. Se você perguntasse para mim, ô Lula, quantos anos você tem? Eu ia falar para você, eu tenho 79 anos de idade, mas estou com a minha energia de 30 anos. Isso são os genes da Dona Lindu, isso é o DNA dela que me faz assim. Eu estou... Eu duvido que vocês, jornalistas, duvido, vocês estão convidados a fazer uma agenda comigo. E eu duvido que vocês aguentem a agenda que eu faço.
Eu tive um tempo, nas caravanas, que a imprensa se revezava para poder disputar e conseguir a agenda. O Stuckinha [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Secretaria de Comunicação da Presidência da República], que é o mais jovem meu aqui, se cansa de carregar aquela máquina pesada. Então, eu não tenho nenhum problema. Eu não tive doença. Eu tive um acidente. E eu digo todo dia, eu vou repetir para vocês, porque eu falo todo dia: um cara que nasceu em Caetés e não morreu de fome até completar cinco anos de idade, ele tem uma sorte na vida muito grande. Depois, um cara que teve um câncer, sabe, e esse câncer foi curado em apenas um ano e nunca mais voltou e não vai voltar, se Deus quiser.
Depois, um cara que passou cinco horas e meia dentro de um avião rodando com um motor só, no Aeroporto do México, sabe? Todo mundo preocupado. Imagina todo mundo como é que estava lá. E não morreu. Um cara que teve uma batida na cabeça que eu jamais imaginei ter, jamais. Sentado, cortando minha unha da mão, eu consegui o milagre de cair de costas. E estou aqui. Fiz uma cirurgia muito grave, muito grave. Fiquei quatro horas esperando o meu avião aqui no Hospital Sírio, com possibilidade de me dar coma, com possibilidade de eu morrer antes de chegar em São Paulo. E estou aqui. Estou aqui. Com muita disposição, com muita vontade de governar.
Se tem uma coisa que eu quero fazer é entregar esse país com o povo mais feliz, com o povo comendo mais, com o povo estudando mais, com o povo trabalhando mais, é esse país que eu vou entregar. E quero que todos vocês me acompanhem nessa longevidade de 120 anos que eu quero viver, tá?
No mais é o seguinte: olha, eu sou muito agradecido pela gentileza das perguntas. É engraçado, tem gente que acha que a imprensa é agressiva, mas vocês foram tão gentis e cordiais que eu acho que vocês vão ser repreendidos pelos editores de vocês. Por que você não apertou? Por que você não fez as coisas e tal? Mas eu também gosto de aperto, sabe? Na próxima você se prepare.
[Sobre a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000]
Está preparando para a gente mandar para o Congresso Nacional. Tem apenas um ajuste, sabe? Que toda vez que a gente for tirar uma coisa você tem que fazer a compensação. Está sendo feito um ajuste, ainda ontem eu conversei com o Haddad, e, logo, logo, a gente vai dar entrada no projeto de desconto de R$ 5 mil no Imposto de Renda, tá? Gente, um abraço.
Jornalistas: Lira e Pacheco podem ser ministros?
Presidente Lula: Eu não posso dizer quem é que vai ser, gente. Deixa eu lhe falar uma coisa. Eu, se pudesse falar, eu falaria. Mas o que eu quero é que o Pacheco seja governador de Minas Gerais. É isso que eu quero, tá?
Laércio Portela [Secretário de Imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República]: Tá bom, gente. Gente, senão a gente não termina. Vamos agradecer, obrigado. Vamos fazer outras entrevistas também depois. Queria agradecer a presença de todos. Valeu, até mais. Vamos lá, gente.