Entrevista coletiva do presidente em exercício, Geraldo Alckmin, na 24ª Conferência Anual Santander
Pergunta — Gostaria de começar com uma visão. Primeiro os oito meses, oito meses de 48. Como o senhor vê? O que já conseguiu tá encadeado? O que o governo conseguiu encaixar na pauta junto dos três poderes? É uma grande construção. O que que a gente já conseguiu ter pro país nesse novo governo e o que que o senhor vê que tá prestes a desenlaçar e se desencadear pra economia como um todo e, obviamente, para o país?
Presidente em exercício Gerando Alckmin — Olha, cumprimentar o Mario Leão, presidente do Banco Santander, mantenedores, conselheiros do banco, amigas e amigos. Agradecendo o convite, honroso convite pra trazer uma palavra aqui para vocês. Eu não sou economista. O Mário Covas [ex-governador de São Paulo] era engenheiro da POLI [Escola Politécnica da USP]. O Paulo Maluf [ex-governador de São Paulo] engenheiro da POLI, Lucas Nogueira Garcez [ex-governador de São Paulo], engenheiro e professor da POLI. Aí um dia, Mário Covas em uma reunião do secretariado falou: “olha, a salvação do governo são os engenheiros”. Falei: “governador, é verdade, mas se a coisa complicar chame o médico”. Uma satisfação estar aqui com vocês, trazer uma palavra aqui.
Eu acho que o primeiro ano do governo, ele é fundamental para a reformas mais estruturantes, especialmente mudança constitucional, PEC, que demanda maioria qualificada em duas votações na Câmara, e duas votações no Senado. Se não aprovar no primeiro ano, você terá dificuldade. Eu acho que duas reformas, elas estão bem encaminhadas. Uma, o arcabouço fiscal, que deve ser votado hoje. Ele já foi votado na Câmara, foi para o Senado, voltou pra Câmara, e é provável que seja votado hoje. Ele traz uma segurança fiscal. Ou seja, o ano que vem zera o déficit. Se tem déficit primário zerado.
É bom lembrar que 2020, o déficit primário brasileiro foi praticamente 10% do PIB (Produto Interno Bruto). Brasil gastou a mais do que arrecadou R$ 753 bilhões, em valores daquela época, foi a pandemia. Pandemia teve no mundo inteiro. O México fez superávit de 0,1%. Então, o déficit será o ano que vem zero e a partir de 2025 superávits primários, que levarão a uma queda da dívida em relação ao PIB. Esse é o primeiro projeto importante. E eu quero destacar aqui o empenho do presidente Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados], que realmente se comprometeu em votar e deve votar hoje o arcabouço fiscal.
O segundo modelo é o tributário. Nós temos um modelo tributário muito complexo. Eu brinco que o Brasil é um paraíso dos advogados tributaristas. O modelo tributário é muito complexo e é um passo importante. Não vai resolver tudo, mas tá no caminho certo de simplificação, troca cinco tributos sobre consumo por um IVA Dual, simplifica, ajuda a reduzir o Custo Brasil, desonera completamente investimento e desonera completamente exportação. Porque acaba com a cumulatividade. Então, tem o lado bom da simplificação, o lado bom de acabar com a cumulatividade, passa da origem para o destino. Como no mundo inteiro é imposto sobre consumo. É aonde consome que paga e não aonde gera. Isso diminui a guerra fiscal, torna a locação de investimento mais baseada na eficiência econômica. Então, diria que essa é uma reforma que pode fazer diferença em termos de atração de investimento pro Brasil e de buscar crescimento do PIB e mais eficiência econômica. Eu acho que as duas caminharam. Uma deve votar hoje e aí ir à sanção presidencial. E a outra está no Senado, expectativa de votar até outubro. Eu diria que duas reformas boas. Tem uma expectativa do mercado regulado de carbono, deve estar sendo encaminhado para o Congresso nas próximas semanas. Isso vai também ajudar a trazer mais investimento.
O Brasil é hoje uma grande opção para investimento. Nós já somos o segundo receptor de investimento estrangeiro direto. O Brasil. O país tem dimensões continentais. O quinto maior do mundo. Subsolo: petróleo, gás natural, nióbio, lítio, ouro, minério de ferro. Solo: somos o campeão do mundo da agricultura, da eficiência agrícola. Tem um parque industrial diversificado, tem escala, tem tamanho, população. Não tem litígio com ninguém. Então, o Brasil é um país que não tem, não faz guerra há 150 anos. Democracia consolidada. Então, eu queria aqui. Embora o mundo, aqui um pouco de preocupação.
Mas o Brasil pode ter o crescimento importante. O que que falta aí pra gente poder avançar mais ainda? Eu acho que o mercado regular de carbono, pode ser a próxima pauta. Sempre ajuste do lado de gastos é importante. Sempre você procurar fazer mais com menos dinheiro. A reforma política, ela é necessária. Nós estamos com 23 partidos com representação na Câmara. Isso vai melhorar com as eleições, porque a cada eleição a cláusula de desempenho, ela sobe. Então, isso deve reduzir. Já foi de 30, a tendência é que haja uma redução. Mas eu diria que tem aí um caminho interessante e positivo, e que possamos ter aí um crescimento melhor da economia.
Pergunta — Muito bom, presidente. O senhor falou brevemente do tema do investimento. Investimento não é só estrangeiro, é doméstico também. Como o senhor avalia os próximos anos do ciclo de investimento no setor industrial? Quais setores podem se beneficiar dessa sub alocação global dentro de mercados emergentes, dentro de portfólios globais? No Brasil isso já acontece há muitos anos. Como o senhor vê esse investimento estrangeiro aumentando em escala no Brasil e o próprio investimento doméstico destravando com a queda dos juros e uma confiança cada vez maior do empresário?
Presidente em exercício Gerando Alckmin — Olha, você tem três fatores importantes. Juros, câmbio e imposto. O imposto, a carga tributária brasileira é elevada, mas ao menos vai simplificar. E deve ter uma trava para não aumentar mais. Simplificando, desonerando, tirando cumulatividade já vai ajudar. O juros é elevado, mas a tendência é de queda. Mais do que reduzir meio ponto da Selic foi – a decisão do Copom – a sinalização de uma tendência de queda de juros. A inflação tá menos de 4%. A inflação no Brasil. Então, eu diria. O câmbio tá competitivo. O câmbio 4,80, 4,90, 5 reais. O câmbio competitivo. Então, eu acho que a situação macro ela tá, tá positiva. A agricultura vai super bem. Foi o que impulsionou o PIB. E ela pode crescer muito mais. Nós batemos recorde: 300 milhões de toneladas de grãos. Só a produção de milho, só de milho, nos Estados Unidos é maior que a nossa. A safra de milho nos Estados Unidos é de 380 milhões de toneladas. Então nós já estamos batendo recorde. Tá indo muito bem. O clima ajudou. O clima ajudou. Mas a tendência é de podermos avançar muito mais com ganhos de eficiência, ganhos de produtividade, podemos avançar mais.
A indústria brasileira é que sofreu muito. Eu sou de uma região muito industrializada, o Vale do Paraíba, comparado ao Vale do Ruhr, da Alemanha. Se pegar Dutra [Rodovia Presidente Dutra] é uma fábrica do lado da outra, caminhão, ônibus, avião, chocolate, química, metalúrgica, siderurgia. E nós tivemos uma desindustrialização precoce. A indústria representava 30% do PIB, hoje é 11%. Como é que a gente recupera isso? Com o "neo", com a nova industrialização. Eu destacaria, Manoel, agroindústria. Agroindústria. Eu acho que nós temos aí um universo para avançar. Inaugurei nesses últimos meses três fábricas de biodiesel. Uma em Goiás, outra no Paraná, na Lapa, e outra em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Biodiesel. Ou seja, nós somos o maior produtor de soja, o maior exportador de soja do mundo. Vamos esmagar essa soja pra fazer farelo, vai sobrar óleo de soja. E substituímos a importação de diesel, porque o Brasil exporta petróleo bruto. A segunda pauta de exportação brasileira é petróleo bruto, mas importamos derivados do petróleo. Diesel. Então, deixa de importar diesel e coloca bio: óleo de soja, óleo de mamona, óleo de dendê, gordura animal. Então você tem aí uma possibilidade grande na agroindústria. Aliás, como vai muito bem papel e celulose. Porque nós temos uma competitividade na silvicultura fantástica. Então, não há lugar no mundo que tenha tanto sol, água, solo, então a indústria de papel e celulose. Então, eu diria que agroindústria tem um espaço enorme.
Energia renovável, eólica, solar, biomassa, você tem aí um espaço gigante. E fortalecer o parque industrial que já existe. Indústria automobilística. Nós temos capacidade de produzir 4,5 milhões de veículos. Chegamos a vender 3,8 milhões. Hoje, 2,1 milhão. O que que aconteceu? Eu comprei um carrinho lá atrás, um fusca, 48 parcelas, depois dei o upgrade, troquei por uma Brasília, 48 parcelas. Sempre foi assim, hoje 70% dos veículos é à vista. Quem não tem dinheiro pra comprar à vista, não compra. Então, você vende menos. Então, por isso que lançamos um programa de renovação de frota. Pra veículos foi um sucesso. Esgotou em 40 dias. Nós chegamos a vender num dia, dia 30 de junho, quase 27 mil veículos, num único dia. Recorde histórico. É só baixar um pouquinho o preço que vende. E fizemos o critério social, ambiental e industrial. Um crédito até R$ 8 mil, o crédito. Baseado no critério social. Não vou dar crédito pra quem compra carro de R$ 300 mil, mas pro carrinho de 68 mil você dá o crédito, até 120 mil.
Ambiental, motor que polui menos, maior eficiência energética. Menor emissão, estimulando uma energia mais limpa. E industrial. Eu só monto no Brasil. Você fabrica no Brasil, você tem mais densidade industrial. O crédito é maior. Esgotou tudo em 40 dias. Continua caminhão e ônibus. Saindo daqui eu tô indo pra Araçariguama, na Gerdau. O Brasil, o Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente] decidiu que o motor Euro 5 não pode mais fabricar no Brasil. Só Euro 6, é o que menos polui. É o mais eficiente dos motores. Poluição mínima. Só que ficou mais caro, 20 a 30% mais caro. O caminhão e o ônibus. Aí, começo do ano vendeu o estoque de Euro 5, acabou o estoque, não pode mais fabricar. Decisão do Conama lá atrás, não vende o Euro 6. O que nós fizemos? Um estímulo da renovação de frota. A frota tá meio envelhecida. Então você compra um caminhão velho, mais de 20 anos, dá baixa, reciclagem e siderurgia, tira da rua, segurança e menos poluição e ganha o crédito de 33 mil até 100 mil reais. Noventa e nove mil e seiscentos pra comprar um novo. Então, hoje na Araçariguama, 100 caminhões vão para reciclagem e siderurgia. E entra 100 novos no lugar. Você renova a frota. O governo colocou 1 bilhão 300 milhões pra crédito tributário para renovar os ônibus urbano, interurbano e rodoviário, inclusive elétrico. E 700 milhões pra renovar caminhão, desde o pequenininho até aquele grandão, de 74 toneladas. Enfim, eu acho que tá caminhando aí. Acho que tem uma neoindustrialização baseada na inovação e verde. Muito na questão de energia renovável.
Pergunta — Obrigado, presidente. Só um comentário antes da minha próxima pergunta, sobre o tema dos financiamentos. O Santander, se me permitir um breve merchan, somos a maior financeira de veículos do Brasil, Financeira Aymoré, aqueles que seguem a mais tempo, que semana que vem vai completar 60 anos. Ela é mais antiga do que o Santander no Brasil. Temos 40 e a Aymoré vai fazer 60 anos dia 29 e nós vamos celebrar devidamente. A Aymoré só não financia mais por conta do arcabouço, da recuperação, das garantias, que é um tema que já tivemos chance de falar, eu e o senhor, e o marco legal das garantias sabemos que temos o seu apoio. Vai dar um passo fundamental, não só pra Aymoré, mas para o sistema financeiro como um todo. Financiar mais as pessoas físicas, jurídicas, por conta de todo arcabouço relacionado às garantias. Então, só um registro breve aqui. Eu queria aproveitar um dos pontos que o senhor comentou do tema do verde. O Brasil já é uma potência verde e pode ser mais ainda e pode se destacar como grande protagonista da economia de baixo carbono. E o senhor na sua posse fala sobre isso. De criar mecanismos pelos quais o Brasil se desenvolve muito mais rápido, de forma muito mais ambiciosa. Com protagonismo global, mas também com protagonismo de cada um dos líderes que estão aqui nos assistindo hoje. O que o senhor vê que a gente já progrediu nesse sentido e quais são os próximos grandes passos que vamos dar na direção da economia cada vez mais verde e descarbonizada?
Presidente em exercício Gerando Alckmin —Olha, primeiro destacar o marco legal das garantias. Isso pode reduzir muito o custo do crédito. Você diminui risco de inadimplência e cai bastante o custo de crédito, então, estamos otimistas aí que os próximos projetos que o Congresso vote seja o marco legal das garantias, ajudando a tornar o crédito mais barato. Em relação à economia verde, esse é o desafio do mundo. Mudança climática. Se alguém aqui for amanhã candidato a vereador, prefeito, deputado, é bom saber porque caiu. Eu fiz um debate uma vez como pré-candidato a prefeito de São Paulo e estava no debate Doutor Enéas, o médico; Fernando Collor de Melo, ex-presidente da República, ele ficou candidato a prefeito de São Paulo depois foi cassado lá na frente. E o Enéas perguntou ao Fernando Collor: “Candidato, distrito de Marsilac, zona sul de São Paulo, quero a composição do ar atmosférico, nitrogênio, oxigênio, monóxido, dióxido de carbono, argônio?”, e foi em frente. O Collor se enrolou inteiro. Então, na realidade, o ar atmosférico tem 80% de nitrogênio e 20% de oxigênio.
Em números redondos. Quando eu inspiro, 80% de nitrogênio e 20% de oxigênio. Quando eu expiro, os 80% de nitrogênio não mudam. Os 20% de oxigênio viram 15 e 5% é gás carbônico. E todos nós aqui, 20 vezes por minuto, de manhã, de tarde, de noite, dormindo, estamos consumindo oxigênio e colocando gás carbônico na atmosfera. Todo o reino animal. Gato, cachorro, peixe, ave, boi, vaca, todo mundo.
O reino vegetal faz o contrário. Pega o gás carbônico, fixa o carbono e libera o oxigênio. E o mundo, a natureza é perfeita, se mantém equilibrado. Entrou a mão humana, foi lá e pegou o combustível fóssil e aí toca carbono, carbono, carbono, carbono, carbono, afeta a camada de ozônio e o mundo começa a esquentar. Hoje está na primeira página de um dos jornais de São Paulo: Califórnia debaixo d’água praticamente, enchente pra todo lado. O Havaí, quase 100 pessoas mortas. Nova York, estado de emergência. O Norte do Brasil, Nordeste, enchente. No Sul, três anos de seca. Precisamos descarbonizar. Ou seja, segurar essa emissão absurda de carbono. Como é que descarboniza? Primeira coisa é desmatamento. Se eu somar todos os escapamentos de motocicleta, carro, ônibus, metrô, trem, navio, avião, caminhão, esgoto, boi, lixão, todos os chaminés de fábrica; dá 51%, praticamente. 50% é só desmatamento. Um hectare de mata cortada e queimada emite 300 toneladas de carbono. E o mundo hoje depende de três florestas tropicais: BIC, Brasil, Indonésia e Congo. Nas Américas, a floresta amazônica no Brasil; na Ásia, a Indonésia; e na África, a República do Congo. Então, a primeira coisa é segurar o desmatamento, que não é feito por agricultor. É grilagem de terra. Grilagem de terra. Caiu 50% já o desmatamento. Foi uma conquista aí, e vai cair mais. Então, zerar desmatamento ilegal.
A segunda é descarbonizar. Aí você tem ‘n’ rotas tecnológicas. Tá aqui conosco o doutor Uallace Moreira, que é o secretário da indústria. Nós vamos ter "n" possibilidades tecnológicas. Carro elétrico, carro híbrido, etanol, elétrico e etanol, biometano, hidrogênio verde. Você tem ‘n’ possibilidades. Aliás, se pegar o etanol, o álcool nosso do poço à roda, ele é menos poluente que o elétrico, dependendo de como você faça a bateria. A maneira que você faça a bateria. O Brasil já tem hoje produção de lítio. Nós fizemos, no mês passado, a primeira exportação de lítio carbono zero, no Vale do Jequitinhonha, no Amazonas, em Minas Gerais, Araçuaí, uma reserva importante de lítio. Já começamos a exportar lítio.
Já demos o segundo passo: refinozinho, carbonato de lítio. E estamos cutucando a Weg lá para ver se dá o outro passo, que é fazer a bateria. Então, você tem o lítio, o carbonato de lítio e a bateria. Então, eu diria que a questão das energias renováveis aí, a descarbonização, ela é fundamental. E o Brasil é o grande protagonista. A pergunta, Mário Leão, sempre foi: onde é que eu fabrico bem e barato? Eu quero comprar um produto de boa qualidade e acessível à minha possibilidade. Agora a pergunta é: onde é que eu fabrico bem, barato e compenso as emissões de carbono? É o Brasil. A possibilidade do Brasil de atrair investimento. E aí vem a importância do mercado regulado de carbono. Você tem uma empresa, você descarbonizou, é mais eficiente, você deu crédito de carbono; a outra empresa não conseguiu atingir a meta, ela vai ter que comprar crédito de carbono, então, você pode ter um mercado regulado de carbono, é maravilhoso.
São Paulo. Aqui, a USP está estudando hidrogênio, hidrogênio verde, que eu trocar combustível fóssil por hidrogênio feito a partir de energia fóssil, combustível fóssil, não adiantou nada, trocou seis por meia dúzia. E eu tenho que quebrar a molécula de água, hidrólise, para tirar o hidrogênio, com energia renovável, ou solar, ou eólica ou biomassa. Posso fazê-lo através da água ou o etanol, que é o que a USP tá estudando. O etanol tem cinco hidrogênios: C2, H5, OH. Cinco hidrogênios. Então, o Brasil pode fazer o hidrogênio verde com energia renovável e da água ou do etanol. Você tem aí um espaço enorme.
A outra que eu destacaria, Mario Leão, é o SAF. Nós vamos ter que trocar todo o querosene dos aviões. Altamente poluente. Vou trocar o querosene do avião pelo quê? Então, vem o Sustainable Aviation Fuel, o SAF, que é bio. Os Estados Unidos tá. Ou será os Estados Unidos ou o Brasil pra poder substituir o querosene, energia fóssil, por um óleo vegetal. Pode-se ter inúmeras possibilidades. Tá todo mundo aí debruçado na questão da pesquisa e do desenvolvimento.
Pergunta — Muito bom, presidente. Eu queria aproveitar e perguntar sobre o lançamento recente, dias atrás, do Programa de Aceleração do Crescimento. Dez dias atrás, 1.5 trilhão de investimento nos próximos vários anos. Queria sondar o senhor sobre oportunidades, setores que o senhor imagina que vão se desenvolver mais através desse PAC? E também desafios. Quais são as pedras que o governo e também o setor privado vão ter que quebrar juntos para realizar essa visão dos um tri e meio e do que vem junto desse investimento todo?
Presidente em exercício Gerando Alckmin — Olha, o PAC, o que que é? É você reunir o conjunto de obras estruturantes ou serviços que estimulem investimento privado e que estimulem o crescimento da economia. Então, você tem recursos da OGU, Orçamento Geral da União. Você vai pondo lá dinheiro. O Minha Casa, Minha Vida, porque construção civil gera muito emprego, é altamente empregadora. Infraestrutura. A América Espanhola se dividiu em ‘n’ países, desde o Uruguai até o México. A América Portuguesa se manteve unida num país continental. Nós somos o quinto maior país do mundo em extensão territorial. Nós temos 5.570 municípios. Um município, um, chamado Altamira, no Pará, tem 159 mil quilômetros quadrados. Um município é maior que Portugal. Um município brasileiro é maior que Portugal. Então, país continental. E a produção agrícola, pecuária, a proteína vegetal e animal está no Centro-Oeste, uma boa parte dela. E como é que faz para chegar no porto? Caminhãozinho, então, infraestrutura é fundamental. Ferrovia, hidrovia, aerovia, dutovia, rodovia, integração de modais. Se você tiver bons projetos de PPP [Parceria Público-Privada] e concessão, você vai fazer isso com investimento privado.
No estado de São Paulo há um "ranqueamento". Rodovia duplicada por quilômetro quadrado. Rodovia duplicada por quilômetro quadrado. Primeiro lugar do mundo: Alemanha. Segundo lugar do mundo: Espanha. Terceiro lugar do mundo: São Paulo. Terceiro do mundo, não tem um estado norte-americano que chegue perto. É só olhar: Fernão Dias, duplicada; Castelo, duplicado; Raposo, duplicado; Imigrantes, duplicado; Castelo Branco, duplicado; Bandeirantes, duplicado. Tudo. Infraestrutura faz diferença. Você faz com recurso próprio, concessão e PPP. Bons projetos, segurança jurídica, você vai atrair muito investimento. Então, o PAC vai ter recurso do governo, privado - grande parte-, estatais – a Petrobras tem uma capacidade de investimento impressionante –, estatais, financiamento, financiamento. Então, um conjunto de… E não só obra, mas também serviços estratégicos.
Eu acabei de chegar agora de Mauá, está no PAC o Reiq. Que que é o Reiq? Eu vou tirar PIS-Cofins de insumos da indústria química e petroquímica. A Indústria química é estratégica. O que que ela faz para competir? Eu vou ajudar retirando tributo de insumos para poder ela ter mais competitividade e a indústria química poder avançar. Então, o PAC é um conjunto de, estruturante. Ferrogrão, como é que eu tiro a soja do Mato Grosso? Eu preciso levar pro porto. Vou exportar pro mundo, pra China. E eu fiz a BR-163 em carro, de Cuiabá a Santarém, BR-163, a noite inteira. O motorista dizia: “falta 100 quilômetros, falta 50, falta 10, chegamos”. Eu falei: “volta pra terra. Puta, mas cada buraco”. Uma ferrovia você cai dentro do porto de Miritituba, em Itaituba, no rio Tapajós, Amazonas, e você vai pro mundo. Então essa integração de modais, o arco hidroviário do Norte é impressionante. Os rios todos são navegáveis. Então, você tem uma oportunidade enorme de reduzir Custo Brasil, reduzir Custo Brasil e melhorar a eficiência.
Mediador — Presidente, obrigado. A gente tá chegando ao final e eu quero respeitar a agenda de todos. Queria convidá-lo pra fazer as considerações finais e agradecê-lo mais uma vez. E agradecer a todos que tão aqui nessa plenária completa, dá muito gosto ter todos aqui de novo, nos todos do Santander uma honra, nossos clientes pessoas físicas, jurídicas; nossos clientes, empresas. Presidente, suas palavras finais.
Presidente em exercício Gerando Alckmin —Agradecimento ao seu convite, agradecer a vocês a honra da audiência. Não tem mágica, não tem bala de prata, tem tarefas que todo dia precisam ser feitas. Educação de qualidade, não é doutorado só, é educação básica, ensino infantil, creche, pré-escola, criança que faz o ensino infantil entra no primeiro ano alfabetizada. Já no primeiro ano. Então, educação de qualidade. Infraestrutura e logística, acordos internacionais, há uma grande possibilidade de celebrarmos este ano o acordo Mercosul-União Europeia. Nós estamos, Mercosul tá isolado. Nós temos acordo, acordo com Israel e Egito. Ponto. Quando você não faz acordo, você não ficou parado, você foi pra trás porque alguém fez e vai ter preferência na hora de vender os produtos. Então, se nós celebrarmos Mercosul-União Europeia, nós estamos fazendo acordo com 27 países, os mais ricos do mundo. Então, tem que ser esse ano porque o presidente do Mercosul é o presidente Lula, é o Brasil, e o presidente da União Europeia é a Espanha, que é menos protecionista, então, nós temos grande possibilidade de celebrar acordo. Reforma tributária, redução do custo de capital, desburocratização. Você tinha, você tem uma empresa, você importa três produtos por semana. Cada uma é uma licença, papel, dinheiro, taxa; exporta três, a mesma coisa. Criamos uma licença única, vale três anos pra exportação e quatro pra importação, quatro pra exportação. Uma única licença, portal único, então, desburocratizar, simplificar, tudo que puder. Inovação. Você vai ter Embrapii [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial], Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], recurso com TR [Taxa Referencial] pra poder fazer inovação. Digitalização, são 106 bilhões, enfim.
Então, eu acredito que um conjunto de tarefas vão tornar a economia brasileira mais eficiente e o Brasil melhora na agenda de competitividade. Porque o Brasil ficou muito caro, nós ficamos caro antes de ficar rico e precisamos ter uma agenda de competitividade. E de outro lado, cuidado social. Não é incompatível. Elas se somam. Elas são sinérgicas, elas se complementam.
Mas deixar um grande abraço e encerrar, até porque tá um pouco escurinho aqui. E eu me lembro de um crítico literário chamado Agrippino Grieco, que apresentado a uma moça disse a ela: “nós já nos conhecemos, nós já dormimos juntos”. Aí ela levou um susto. “É, foi na conferência do professor Pedro Calmon”.
Muito obrigado.