Entrevista coletiva do presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, na sede do MDIC
TRANSMISSÃO | Entrevista coletiva do presidente em exercício, Geraldo Alckmin
Não há oposição do governo ao Banco Central e nem ao Copom. Agora a crítica, ela é importante, qualquer instituição pública pode ser criticada, e eu queria dizer que esta manutenção da taxa Selic não prejudica apenas a atividade econômica, na medida em que inibe investimento, dificulta o comércio; ela prejudica a indústria, o setor do agro; mas ela também tem outro impacto que é do ponto de vista fiscal, porque quase metade da dívida pública brasileira é “selicada”.
Então, cada um por cento da taxa Selic custa R$ 38 bilhões. Então, não há nada pior para a questão fiscal do que uma Selic desnecessariamente elevada: R$ 38 bilhões a cada um por cento.
Então se você tem uma taxa Selic 5% acima do que deveria estar, isso custa praticamente R$ 190 bilhões. Você fica fazendo economia de R$ 1 bilhão, de meio bilhão, e acaba gastando aí quase R$ 200 bilhões a mais, em razão de ter uma taxa Selic nessa altura.
O mundo hoje tem juros negativos, a inflação está em queda, o IGP, há uma deflação no IGP de deflação em 12 meses de mais de 6%. Então você tem todos juros futuro em queda e essa taxa Selic acaba tendo impacto fiscal.
Se a preocupação fiscal, é com a dívida, não há nada pior do ponto de vista fiscal do que isso. Porque quase metade da dívida brasileira é “selicada” e cada 1% custa praticamente R$ 38 bilhões no serviço da dívida.
Fica difícil de entender. Veja que em 2020, a inflação era maior. Hoje está em 3,9%, a inflação era um pouco acima de 4% e a taxa Selic era 2%; você tinha juros negativo de 2%. Inflação de 4%, taxa Selic de 2%.
É claro que em determinados momentos você tem que subir. O problema é manter por tanto tempo, essa é que é que questão.
Eu estive com ele, mas já faz algumas semanas, para discutir o CCR, Convênio de Crédito Recíproco, porque nós poderemos melhorar o comércio na região. Melhorar o comércio aqui na América Latina reativando CCR, o Convênio de Crédito Recíproco.
Vou explicar para vocês: se eu exporto para ele 10 bilhões [de reais] e ele me exporta 8 [bilhões de reais] -- Brasil e Colômbia, eu exporto 10, ele exporta 8 pelo Convênio de Crédito Recíproco: 8 nós matamos, e a diferença são 2. Então eu tenho que financiar 2 bilhões [de reais].
Se eu não tenho o Convênio de Crédito, que existia desde a década de 80, eu tenho que financiar 18: os 10 meus para ele e os 8 dele para mim. Dezoito. Quando eu tenho o crédito recíproco, os 8 matam os 8 e eu tenho que financiar 2. Isso estimularia o comércio na região.
Para ter uma ideia da importância disso, Canadá, Estados Unidos e México, entre eles quase 50% é comércio intrarregional. União Europeia, os 27 países, entre eles quase 60% de comércio intrarregional. Ásia, quase 70% do comércio intrarregional. A América Latina, 26%.
E o que é claro é que a lei diz que é preciso controlar a inflação, a estabilidade de preço, e preservar o emprego. Quer dizer, essas coisas precisam ter bom senso, você precisa ter as duas coisas. Aliás, o modelo americano, primeiro, não é por um ano a meta; segundo, não leva em consideração por exemplo combustível -- que isso oscila não depende dos juros -- não leva em consideração alimento - eu tenho uma seca, do que adianta eu amentar juros?
Então é diferente, é preciso sempre ter o foco. E o foco é reduzir a inflação, manter preços estáveis, corretíssimo, mas também a economia poder avançar, poder respirar. E no caso nosso, onde mais quase metade da dívida é a taxa Selic, isso tem um impacto fiscal.
Não há nada pior para a responsabilidade fiscal do que você ter uma Selic fora do patamar. O objetivo não é. Isso que eu quero é chamar atenção para um outro aspecto, ela não apenas inibe a atividade econômica, mas ela também prejudica a questão fiscal. Se nós temos uma preocupação de natureza fiscal, estamos até aprovando o novo regime fiscal, isso precisa ser levado consideração.
É difícil penetrar na consciência das pessoas, eu não vou fazê-lo. Agora eu quero mostrar o fato: o mesmo Banco Central, em 2020, com inflação de 4%, tinha 2% na taxa Selic. Hoje nós estamos com quase 14%, 13,75%. O problema não é ter ido a 13,75, mas é mantê-la por tanto tempo.
O acertado foi R$ 500 milhões de reais. Isso é a decisão de hoje: R$ 500 milhões e limitado aos R$ 500 milhões. Essa é a decisão e está indo muito bem. Houve uma procura enorme, baseada em 3 critérios: ambiental, menor poluição, motores com melhor eficiência energética; social: carro mais barato; e industrial: densidade industrial.
O ônibus e o caminhão, o valor é o dobro, não são R$ 500 milhões, é R$ 1 bilhão, porque são veículos mais caros. E aí vai mais devagar, porque a ideia foi renovação de frota -- eu tirar o ônibus muito velho da rua que, além de poluir muito, há a segurança, a mesma coisa o caminhão. Então, tem que comprar um antigo e aí ganha o crédito, para você estimular a renovação de frota para ter mais eficiência, mais segurança e poluir menos.
Aliás, vamos na origem do problema. O que é que aconteceu com o caminhão e ônibus? Ele ficou 15 a 30% mais caro este ano. Por quê? Porque o Conama, lá atrás, disse não pode ter motor Euro 5, só Euro 6. Até março vendeu o que tinha de estoque do Euro 5, na hora que acabou o estoque não pode mais fabricar. Entrou o Euro 6 muito mais caro não vende nada.
Na prática, vai ficar caminhão e ônibus andando com 25 anos de uso, poluindo 20 vezes mais. Uma boa intenção, mas que na prática não ia atingir o seu objetivo. O que é que fez o governo? Vamos atingir o objetivo da decisão do Conama que é renovar uma frota antiga muito poluente por uma frota mais nova.
Toda vez que você muda tecnologia, você tem este problema, porque encarece. Evidente. Encareceu 15 a 30%. Esse é o objetivo. Está caminhando também.
A partir de ontem, anteontem liberou para pessoa jurídica, vai ter agora um crescimento mais rápido.