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Transmissão ao vivo realizada pelo CanalGov
Mariana Brasil (Folha de São Paulo) — Boa tarde, presidente, primeiro-ministro [Luís Montenegro], todos os presentes. Mariana Brasil, Folha de São Paulo. Eu sei o quão importante é a visita do primeiro-ministro de Portugal por aqui, mas eu preciso perguntar ao senhor presidente sobre a denúncia da PGR que saiu ontem contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a denúncia ao STF. Ele está acusado, junto a outras 33 pessoas, de uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do senhor em 2022. Eu queria saber a sua declaração acerca disso, não só sobre a denúncia, mas sobre as outras acusações em si, e se o senhor considera que ele está fora da disputa de 2026. E direcionando ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, boa tarde novamente. Referente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ele vem anunciando uma série de tarifas em produtos importados. Eu queria saber quais riscos o senhor enxerga nessa postura e o que o mundo pode e deve fazer para lidar com essa conduta mais ofensiva. Obrigada.
Presidente Lula — Olha, eu vou responder primeiro, porque a minha resposta é muito curta. A decisão de ontem é uma decisão da Procuradora-Geral da República. Ele indiciou as pessoas. Eu não vou comentar um processo que está na Justiça. A única coisa que eu posso dizer é que, nesse país, no tempo em que eu governo o Brasil, todas as pessoas têm direito à presunção de inocência. Se eles provarem que não tentaram dar golpe e se eles provarem que não tentaram matar o presidente, o vice-presidente [Geraldo Alckmin] e o presidente do Superior Tribunal Eleitoral [Tribunal Superior Eleitoral, à época presidido por Alexandre de Moraes, ministro do STF], eles ficarão livres e serão cidadãos que poderão transitar pelo Brasil inteiro.
Ora, se na hora que o juiz for julgar, chegar à conclusão que eles são culpados, eles terão que pagar pelo erro que cometeram. Portanto, é apenas um indiciamento. O processo agora vai para a Suprema Corte e eles terão todo o direito de se defender. É só isso. Não posso comentar mais nada do que isso.
[ resposta do primeiro-ministro português, Luís Montenegro ]
Pedro Sá Guerra (RTP) — Com licença. Muito bem. Antes de mais, gostaria de cumprimentar o senhor presidente Lula da Silva e o primeiro-ministro Luís Montenegro. As minhas duas questões poderão ser para os dois. Primeiro, senhor primeiro-ministro, o primeiro acordo que foi assinado aqui talvez seja aquele que é mais importante, o combate à criminalidade e ao terrorismo transnacional. A questão que lhe coloco é: as autoridades brasileiras já referiram que há mais de uma centena de elementos destas duas organizações na Europa e cerca de 70% estão em Portugal, nomeadamente na zona de Lisboa. Em concreto, o que é que vai ser feito? O que é que vai ser feito no terreno? E a outra questão tem a ver com a Ucrânia. O senhor primeiro-ministro vai ou não participar hoje na reunião de Paris, através de videoconferência? E gostaria de perguntar qual é a posição de Portugal e do Brasil sobre um eventual envio de tropas para a região. Muito obrigado.
[ resposta do primeiro-ministro português, Luís Montenegro ]
Presidente Lula — Olha, sobre a Ucrânia, eu vou apenas fazer um breve histórico. O Brasil repudiou a ocupação territorial pela Rússia. E o Brasil, desde o começo, se colocou à disposição, de que era possível colocar tanto o presidente Putin [Vladimir Putin, da Rússia] quanto o Zelensky [Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia] numa mesa de negociação e tentar encontrar uma saída. E a única saída é uma saída de paz. É uma saída que eu disse até durante muito tempo que ela poderia ser resolvida com uma pesquisa de opinião pública. Poderia a ONU ter contratado uma pesquisa e perguntado para o povo “você é russo ou ucraniano? Você é russo ou ucraniano?” E aí, acatava o resultado da pesquisa e estava resolvido.
Mas a relação humana não é assim. Eu conversei várias vezes com o Putin, eu conversei na ONU com o Zelensky, eu conversei com muitos países e com muitos presidentes de países sobre a guerra na perspectiva de criar um clima de paz. Muitos companheiros resolveram fazer muitas reuniões de paz, inclusive em vários países, até no Catar houve reunião de paz, mas as pessoas só chamavam o lado da Ucrânia. E aqui nós cansamos de dizer: “não tem paz se não chamar os dois e colocar na mesa. Não tem paz só de um lado”.
Pois bem, o Brasil e a China fizeram um protocolo para tentar encontrar uma forma de paz. Esse protocolo foi discutido com muitos países, mas me parece que as pessoas não deram muita importância ao protocolo. Agora, o Trump ganha as eleições e o Trump começa a conversar com o Putin. E agora a preocupação de algumas pessoas é que o Trump tem que chamar o Zelensky para a mesa de negociação, porque agora só está o Putin negociando. E eu também acho errado.
Não é nem chamar só o Putin ou chamar só o Zelensky, tem que chamar os dois, colocar numa mesa de negociação e encontrar um denominador comum que possa estabelecer a paz. O Brasil não só repudiou a invasão, como o Brasil repudiou o genocídio na Faixa de Gaza, como o Brasil repudia o bloqueio à Venezuela, o bloqueio à Cuba. Porque nós temos uma tradição de tentar promover sempre a paz, sempre a convergência, nunca a guerra e a divergência. Por isso, eu acho que o problema da Ucrânia será resolvido numa mesa de negociação.
Acho que o papel do Trump de negociar sem querer ouvir a União Europeia é ruim, é muito ruim. Porque a União Europeia se envolveu nessa guerra com muita força, com muita força, e eu acho que agora a União Europeia não pode ficar de fora da negociação. Eu penso que é possível, e eu acho que, se o Trump estiver jogando de verdade e querer a paz, ele pode conseguir. Acho que a China pode ser um parceiro importante, acho que a Índia pode ser um parceiro importante, o Brasil pode contribuir... Mas não tem outro argumento, não tem outro argumento.
Eu lembro que o primeiro-ministro Olaf Scholz [da Alemanha] veio aqui uma vez tentar comprar uns canhões brasileiros para dar para a Ucrânia. E eu disse ao meu amigo Olaf Scholz: eu não vou vender arma para matar um russo ou para matar qualquer pessoa. Então eu quero pedir desculpa, mas o Brasil não venderá as armas que você precisa.
Porque eu queria paz. E se eu queria paz, eu não posso fomentar a guerra, eu não posso ter um lado privilegiado. Eu tenho que criticar os dois lados que entraram em guerra e tenho que favorecer todos aqueles que querem paz. Essa é a posição do Brasil, ela continua intacta. Nós queremos paz entre a Rússia e a Ucrânia. Agora, só é possível se os dois estiverem numa mesa de negociação.
Fernanda Rouvenat (GloboNews) — Oi, boa tarde, presidente. Boa tarde, primeiro-ministro. Presidente, eu queria começar perguntando se, num contexto, pelo que a gente tem acompanhado, de baixa popularidade do governo, o senhor pretende agilizar a reforma ministerial e se o senhor também acredita, ou atribui, as medidas que mais desgastaram o governo às que foram adotadas pelo Ministério da Fazenda. E aproveitando a presença do primeiro-ministro e complementando também a fala dos senhores sobre a guerra na Ucrânia, ontem o senhor conversou com o presidente da França, Emmanuel Macron, e Macron também se mostrou favorável a essa posição do Brasil, que sempre foi de colocar os dois países à mesa para entrar numa discussão por um consenso. O senhor acredita, primeiro-ministro, que a Europa tem mudado essa visão e está aberta a colocar esses dois países numa mesa de negociação também para tentar chegar a uma posição de fim da guerra? Obrigada.
Presidente Lula — Olha, eu acho que a primeira pergunta só vai mudar quando você mudar o seu comportamento. Se alguém, se alguma empresa de pesquisa for fazer alguma pergunta para você, você fala bem do governo que aumenta a popularidade. Se você não fala bem, não vai aumentar a popularidade.
Mas eu queria, essa brincadeira à parte, eu quero dizer uma coisa para vocês. Primeiro, quem me conhece sabe que eu nunca levei definitivamente a sério qualquer pesquisa feita em qualquer momento. Uma pesquisa serve para você estudar, para você saber se você tem que mudar de comportamento, para você saber se tem que mudar de ação.
É isso que eu faço. A única coisa que eu posso dizer é que eu tenho um mandato, até 31 de dezembro de 2026, e eu quero entregar o país que eu prometi durante a campanha eleitoral. E vou entregar esse país talvez melhor do que eu prometi.
Eu estou dizendo para vocês que 2025 é o ano da colheita. Nós passamos dois anos arrumando a casa, arrumando o país, fazendo o manejo da terra, jogando semente, adubando, e você pode acompanhar de perto: 2025 será o grande ano da colheita desse país, de políticas públicas que você nunca sonhou. Esse é um compromisso meu e dizer para você mais ainda que quando nós voltamos, além de não ter muito ministério, nós tínhamos 33 milhões de pessoas passando fome outra vez, e vamos entregar em dezembro de 2026 sem nenhuma pessoa passando fome nesse país. Então, é um compromisso meu, mais do que um compromisso público, é uma profissão de fé que eu tenho com o povo brasileiro.
A segunda coisa é que mudar ou não mudar o governo é uma coisa que pertence, muito intimamente, ao presidente da República. Eu estou contente com o meu governo, muito contente. Acho que todo mundo cumpriu à risca o que era para fazer, e ao longo do tempo, que não precisa ser no meio do ano, pode ser no meio do ano, pode ser no final do ano, um presidente vai mudando pessoas na medida em que ele entende que deva mudar as pessoas.
Não faz parte do meu discurso, nunca nenhum jornalista me ouviu dizer que eu vou fazer reforma de governo, ministerial, nunca. Essa palavra não existe na minha boca, não existe porque eu mudo quando eu quiser, da mesma forma que eu convidei quem eu queria, eu tiro quem eu quiser na hora que eu quiser. É simples assim, não tem nenhum problema.
Eu queria te dizer que o Brasil hoje está infinitamente melhor do que nós pegamos, mas infinitamente melhor. Você está lembrado que quando nós chegamos na Presidência da República, a previsão da economia era a gente crescer 0,8%, nós crescemos 3,2%. Esse ano a previsão era que a gente fosse crescer 2,5%, nós vamos crescer 3,8%. E qualquer pesquisa voluntariosa que alguém tentar insinuar do crescimento vai ser derrotada porque a economia vai continuar crescendo, a inflação vai continuar controlada e tudo vai melhorar nesse país. O povo vai voltar a ganhar mais, vai poder comer mais, vai poder trabalhar mais, vai poder se divertir mais e, quando chegar na época da eleição, o povo vai exercer o seu direito democrático de votar em quem ele quiser. É assim que funciona a democracia.
É por isso que eu disse para o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que além de combater a fome nesse país, além de trabalhar para reindustrializar esse país, além de recuperar a indústria naval nesse país, além de garantir que as coisas funcionem nesse país, eu tenho mais duas tarefas: a luta pela democracia — eu transformei em uma profissão de fé — a luta pela democracia está correndo um risco no mundo e, mais ainda, a luta pelo multilateralismo.
Porque você não pode imaginar que um presidente da República eleito pelo voto do povo do seu país resolva mudar a regra do mundo. Resolva dizer que vai mudar tudo, que vai tomar tudo, que vai não sei das quantas. O país que mais falou em democracia, o país que mais falou em livre comércio é o país que agora fala menos em democracia e fala mais em protecionismo.
Então, a minha luta em defesa do multilateralismo e a minha luta em defesa da democracia é um compromisso meu com a minha consciência e com a democracia, porque é o melhor sistema de governo que foi criado até agora.
[ resposta do primeiro-ministro português, Luís Montenegro ]
Amanda Lima (Diário de Notícias) — Muito boa tarde. Amanda Lima, do Diário de Notícias e do Diário de Notícias Brasil. Cumprimento o presidente e também o primeiro-ministro. E as minhas perguntas são para o primeiro-ministro. Lendo a declaração final, há menções do combate conjunto à xenofobia. Pergunto se o governo português reconhece que, de fato, existem casos de xenofobia contra brasileiros em Portugal. E pergunto também concretamente o que vai haver de avanço em relação ao reconhecimento das habilitações profissionais, dos diplomas, porque esse é um problema enfrentado por muitos imigrantes que moram em Portugal, em especial a situação dos professores que não conseguem exercer a sua profissão em Portugal, mesmo sendo um país precisando de professores atualmente. E recordo que, em nome do meu colega Pedro Sá Guerra, da RTP, que não responderam sobre o envio de tropas na Ucrânia. Se também, ao final, puderem responder, agradecemos. Obrigada.
Presidente Lula — Você ou eu aqui? Eu? Eu vou apenas repetir a questão do Brasil nessa guerra. O Brasil não enviará tropa. O Brasil só mandará missão de paz. Para negociar a paz, o Brasil está disposto a fazer qualquer coisa. E é isso que o Brasil tem brigado exatamente há dois anos e o Brasil não mudará de posição. Quando os dois países quiserem sentar para conversar sobre paz, nós estaremos na mesa de negociação, se assim interessar aos países. Fora disso, o Brasil vai continuar daqui, de muitos quilômetros longe da Rússia e longe da Ucrânia, defendendo a paz.
[ resposta do primeiro-ministro português, Luís Montenegro ]