Conversa com o Presidente - Live do dia 26.set.23
Jornalista Marcos Uchôa – Bom dia. Muito bom ter vocês aqui de novo. Vocês devem lembrar que nessas duas últimas semanas a gente não teve “Conversa com o Presidente” porque a agenda estava muito complicada na Índia, quando teve a reunião do G20, e depois de Nova York com a reunião da ONU. Enfim, sem parar, muita reunião bilateral, muitos eventos. Então, a gente tá voltando agora, com saudade de conversar com o presidente. E hoje também um dia especial, que a gente tem aqui ilustres convidados: ministro Camilo Santana, da Educação, ministra Nísia Trindade, da Saúde, que hoje é um dia muito importante nessas duas áreas. Presidente, o senhor convidou, né, o senhor é o dono do programa. E era importante convidar os dois por quê?
Presidente Lula – Uchôa, aconteceu uma coisa importante. Eu, ontem, saí do Palácio e vim pra casa pensando em fazer uma entrevista com você falando da viagem, tanto do G20 quanto da ONU. Mas, aí, eu me dei conta que hoje nós temos dois eventos importantes. Nós temos, às 10 horas da manhã, um lançamento de um programa chamado Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico Industrial da Saúde. É uma coisa muito importante porque o Brasil hoje importa 20 bilhões de dólares das coisas que nós utilizamos na saúde. Se a gente tiver uma indústria produzindo isso ativamente — e a gente tem uma capacidade de consumo extraordinária por conta do SUS —, a gente vai desenvolver o Brasil, desenvolver uma indústria, gerar emprego de qualidade e atender a demanda interna.
Por isso, eu liguei 6 horas da manhã para a Nísia. Ela estava dormindo. Aí eu voltei a ligar seis e meia. E eu liguei para o Camilo às 6 horas da manhã porque nós temos hoje a assinatura do decreto que institui a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, ou seja, nós vamos conectar 138,4 mil escolas neste país. Tá? Até 2026, a gente vai deixar toda, toda a nossa meninada altamente conectada com Wi-Fi e tudo mais que for necessário. Então, eu acho que é importante a gente ouvir esses companheiros. Primeiro, ouvir a Nísia, sabe, que a gente vai lançar às 10 horas da manhã, às 11 horas, esse programa aqui que será uma revolução de inovação na área da saúde no Brasil. E eu espero que tudo isso como resultado do que a gente sofreu na pandemia, a gente possa daqui a três anos, quatro anos ter uma estrutura da saúde competitiva com qualquer empresa de saúde do mundo.
Jornalista Marcos Uchôa – Ministra, ministra, eu vou passar o microfone aqui para para a ministra. Agora, isso é extraordinário porque, primeiro, a gente deixa de importar. O dinheiro fica aqui para brasileiros e cria trabalho para brasileiro também, né?
Ministra da Saúde, Nísia Trindade – Exatamente. A nossa meta é trabalhar para, numa perspetiva de, em dez anos, nós podermos ter 70% da nossa necessidade produzida aqui. E os passos vão ser dados a partir de agora, retomando ações que começaram há 20 anos, quando, na primeira gestão do presidente Lula, foi criada a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação no Ministério da Saúde. Então, muitos programas são retomados, mas há novos programas também. E o importante é que essa nossa ação está alinhada à nova política industrial, que é uma política por missão, e a missão na saúde é atender as necessidades da população. Então, o nosso foco não é no produto, mas nas necessidades sentidas a partir do Sistema Único de Saúde.
Presidente Lula – Pergunta para ela o seguinte: quanto será investido na execução desse programa?
Ministra Nísia Trindade – Ao todo, estão previstos investimentos de R$ 42,1 bilhões, parte disso será no PAC, presidente. No PAC, nós teremos investimentos nos laboratórios públicos, investimentos voltados para a Hemobrás, voltados também para quadruplicar a produção de vacinas. Um grande instrumento para a saúde regularmente e para situações de pandemia. Nós vamos ter também R$ 23 bilhões de investimento do setor privado e mais financiamentos que virão do BNDES e da Finep. Ao todo, isso totaliza R$ 42 milhões e 100 milhões de reais. É o maior investimento nos últimos anos porque criamos esse sistema favorável.
Presidente Lula – Deixa eu fazer uma pergunta para você antes de passar a palavra para o Camilo. Que história é essa de que tem alguém querendo fazer projeto para que possa vender o sangue do povo brasileiro?
Ministra Nísia Trindade – É, existe uma PEC, uma emenda constitucional de comercialização do plasma porque o plasma faz parte do processo do sangue, o plasma é fundamental para o desenvolvimento de produtos que são usados para tratamento de doenças importantíssimas. Então, essa é a PEC, mas o sangue não pode ser comercializado, de modo algum. Não pode ter remuneração aos doadores e isso foi uma conquista da nossa constituição. O senhor lembra bem as pessoas que vendiam o sangue, e também hoje nós temos para o desenvolvimento desses produtos a Hemobrás, que é uma grande conquista também a partir da sua gestão, do seu governo. E que hoje vai já entregar o fator 8, que é para tratamento dos hemofílicos e já em 2025 fará a entrega dos outros produtos derivados do plasma. Então, nós estamos trabalhando exatamente para que o sangue não seja uma mercadoria.
Jornalista Marcos Uchôa – Ministra, uma curiosidade. Considerando que o SUS é tão grande, que o SUS é tão importante para a nossa população, de certa maneira essa criação desse complexo ele praticamente se basta, né? Porque o SUS, como freguês, ele já, digamos assim, paga, ele já é o freguês principal desse complexo, né?
Ministra Nísia Trindade – Exatamente, o SUS é o maior sistema universal do mundo, que atende a mais de 200 milhões de pessoas. Tem o que a gente chama o poder de compra, as compras públicas do Estado. Então, isso faz com que o setor público e privado possam trabalhar juntos para esse atendimento. É uma garantia. E uma coisa muito importante nessa relação com o setor privado é a previsibilidade que o presidente vem tanto falando, né. Eu discuti com lideranças do setor, temos trabalhado nessa direção, para ter investimento em inovação e produção, é fundamental ter uma previsibilidade. E isso a partir de 2017 foi… o Brasil ficou numa vulnerabilidade muito grande e esses investimentos ficaram numa situação muito difícil. Eu, quando era presidente da Fiocruz, vivi isso na pele, posso dizer.
Jornalista Marcos Uchôa – Há uma estimativa de quantos empregos a gente vai criar com esses complexos?
Ministra Nísia Trindade – Esse complexo, ele tem a grande capacidade de criação de empregos. Eu não conseguiria te estimar isso agora, nesse momento, que esses números variam muito. Mas em toda a área de produção que nós vamos ampliar sempre implicam em geração de empregos e qualificação desses trabalhadores, o que é mais importante porque isso tudo significa novas tecnologias que são incorporadas, novos conhecimentos. E eu dou um exemplo da Alfaepoetina, que foi a entrada do Brasil nos biofármacos. Alfaepoetina foi fruto de um acordo com o governo de Cuba e nós, a partir desse acordo, aprendemos uma tecnologia que foi fundamental para produzir a vacina de vetor viral na Fiocruz durante a pandemia. Então, é um emprego e o emprego qualificado e a formação com novos conhecimentos tecnológicos.
Presidente Lula – Uma coisa importante, Nísia e Uchôa e Camilo, é que quando nós estamos prontos para assinar um acordo comercial Mercosul-União Europeia e tem uma coisa que eu já disse à União Europeia que o Brasil não abre mão, que são as compras governamentais. Porque são através das compras governamentais que a gente pode fazer com que pequenas e médias empresas brasileiras possam crescer e ficar grandes. Se a gente permite que a gente possa comprar produtos que a gente pode fabricar aqui no estrangeiro, significa que nós vamos matar a possibilidade do Brasil ter uma indústria na área da saúde. Então nós estamos tranquilos que isso aqui, a médio prazo, será uma revolução no Brasil, ou seja, o Brasil virar quase autossuficiente em quase todos os produtos que ele precisa na área da saúde. Alguns não porque a gente não tem tecnologia, não tem conhecimento, mas que a gente vai aprender. Este é um dado importante.
Outro dado importante é que o emprego é emprego de extrema qualidade. Como nós temos uma preocupação com a juventude brasileira, com o pessoal que tá terminando o ensino médio, com o pessoal que tá fazendo Instituto Federal, com o pessoal que está começando a faculdade e, muitas vezes, ele termina os estudos e não tem um mercado de trabalho, isso aqui é a possibilidade de, combinado com a educação, que é o Camilo que a gente vai fazer a próxima pergunta, sabe, a gente possa gerar os empregos que a meninada sonha. Eu digo sempre o seguinte: quando eu era jovem, a minha… o meu sonho era muito pequeno, eu sonhava ter uma profissão, sonhava ter um bom emprego, sonhava casar, constituir família. Hoje, a meninada pode até ter muito mais sonho do que eu porque tem muito mais informação do que eu, mas a verdade é que a possibilidade de realizar o sonho dele tá
mais difícil porque a competitividade é maior, o mercado tá mais difícil. Então cabe a nós, fazendo um projeto desses na indústria da saúde, fazendo um projeto desses de conectar a educação brasileira, fazer essa revolução que as pessoas tanto precisam.
Por isso, eu queria perguntar pro Camilo. Vou perguntar para você perguntar pro Camilo. Afinal, o que que é essa Estratégia Nacional de Escola Conectada, Camilo?
Ministra Nísia Trindade – Presidente, antes do Camilo falar, eu acho que tem uma coisa muito importante que eu queria dizer de novidade agora, que o senhor vai também valorizar muito, que é o fato desse programa do complexo ter um impacto também muito grande na assistência à saúde. De que maneira? Nós teremos um programa de modernização da assistência hospitalar, mas também na atenção básica. Na assistência hospitalar, permitindo que novas tecnologias menos invasivas para os pacientes possam ser adotadas e promovendo junto com a Ebserh, que é uma empresa do MEC, e com os hospitais, os hospitais universitários e os hospitais que atendem o SUS, como os filantrópicos, além dos públicos e outros privados, que possam ter uma modernização, processos de modernização que vão de equipamentos às compras, então há uma conexão. Por isso que eu falo que não é só o produto, é o processo levando mais saúde à população. Eu não quero me empolgar muito não, para deixar para o companheiro falar.
Jornalista Marcos Uchôa – Camilo, conexão, conetividade o que que essas escolas aí…
Presidente Lula – Até porque sem, até porque sem educação, sem investimento em formação profissional qualificada a nossa indústria não vai crescer como a gente quer que cresça.
Jornalista Marcos Uchôa – Uma coisa de cada vez. Camilo, vamos voltar pra escola então, explica pra gente o que que é essa escola com internet pro Brasil todo.
Ministro da Educação, Camilo Santana – Primeiro, bom dia, presidente; bom dia, Uchôa; bom dia, minha querida ministra Nísia; a todos os telespectadores que estão nos assistindo, presidente. Parabenizar aqui a Nísia, até porque, presidente, pela sua determinação saúde e educação estão trabalhando muito juntos na formação médica de residência, que é uma coisa importante para o país e para a qualidade da formação médica no Brasil. Mas presidente, Uchôa, o presidente nos determinou, nos orientou, juntamente com o ministro das Comunicações, sob a liderança do ministro Juscelino, que nós construíssemos uma política para conectar todas as escolas públicas desse país. Até porque a escola não é mais uma ilha, o mundo todo está conectado, a informação, ela é mais rápida, e a meninada, a garotada quer estar conectada, quer ter uma informação.
O primeiro ponto foi levantar todas as estruturas das escolas públicas brasileiras. São 138 mil, aproximadamente, 138,4 mil escolas públicas hoje no Brasil, toda a educação básica, para saber qual era a escola que tem internet, se tem internet de banda larga, qualidade. Porque o objetivo da internet é o professor poder passar um vídeo, às vezes a qualidade da internet não permite baixar um vídeo para passar pros alunos. Então a ideia foi levantar.
Para você ter uma ideia, presidente, nesse levantamento foi identificado que 4.600 escolas não têm energia ou então não têm energia renovável, ou seja, ainda é aqueles geradores. Há uma desigualdade muito grande no Brasil, a região Norte tem a metade de conectividade da região Sul nas escolas públicas no Brasil. Então quase um terço das escolas não têm banda larga suficiente para fins pedagógicos.
Presidente Lula – Eu estava vendo aqui, Camilo, 40,1 mil escolas sem acesso adequado à banda larga fixa; das quais 8.400 não tem nenhuma conexão à internet.
Ministro Camilo Santana – Então assim mais, mais da metade, por exemplo, das escolas não tem Wi-Fi dentro da escola. Tem escolas que têm conectividade, mas só tem na sala da direção, do diretor da escola, não tem acesso pro professor e pro aluno. Então a estratégia foi que o senhor vai criar um comitê através de um decreto hoje, vai participar vários mistérios, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Educação, da própria Casa Civil. Os recursos serão recursos do Fundo da Universalização do Sistema de Telecomunicações, que é o Fust, e também recursos do leilão do 5G que foi um compromisso de investir nas escolas. Então essa estratégia vai definir a gente levar não só a banda larga, porque a tecnologia diz que é preciso ter um megabits, aliás, 1000 megabits por aluno per capita na escola para garantir fins pedagógicos porque o objetivo da internet é complementar o aprendizado do aluno. Não é substituir o livro, é complementação, é ter acesso a informação, a consulta, vídeo, ajudar na gestão escolar, você ter a frequência digital, você ter o acompanhamento das notas dos alunos. Você, muitas vezes, poder mandar uma mensagem pro pai quando o aluno falta. Por que que o aluno tá faltando a escola? Então, isso é tudo mais automatizado, mais dinâmico, mais rápido, nós não queremos perder nenhum aluno mais nessas escolas públicas do Brasil, então tem esse fim também. Tem um fim do ponto de vista da formação do professor. Nós estamos trabalhando a cidadania digital, presidente, é importante que o aluno, que as pessoas saibam usar a internet, usar as plataforma digitais com fins para o bem, não para o mal como a gente vê tanto, às vezes, no submundo da internet.
Jornalista Marcos Uchôa – É que nessa ligação de educação com saúde a gente viu exatamente o problema na pandemia, que foi num momento em que a gente precisava de mais que as crianças tivessem acesso e muitas criança não teve acesso, não só na escola mas em casa, quer dizer, realmente, o senhor fala tanto em desigualdade, né, presidente, essa desigualdade bagunçou de mais a educação das nossas crianças.
Ministro Camilo Santana – Sem dúvida.
Presidente Lula – O Camilo, até 2026 a gente vai atingir isso?
Ministro Camilo Santana – A meta é, esse comitê vai trabalhar, a meta é até o final de 2026, presidente, sob sua orientação, nenhuma escola pública deixar de ter conectividade com fins pedagógicos. Não é só ter internetzinha lá com baixa velocidade. E que tenha equipamento que tenha um laboratório de informática, que pelo menos tenha laboratório de informática, que tenha tablets, que tenha computador, que tenha Wi-Fi na escola. Nós estamos trabalhando para, inclusive, poder o Wi-Fi poder funcionar, principalmente nos finais de semana, fora da escola, próximo ao bairro onde está a escola localizada.
Presidente Lula – Inclusive atendendo as UBS que estejam perto das escolas.
Ministro Camilo Santana – Eu ia falar. Esse programa também vai atender todas as Unidades Básicas de Saúde do Brasil porque, como você vai levar, porque a estratégia vai ser definida pelo Comitê. Você levar cabo de fibra ótica para essa comunidade, então, geralmente, tem Unidade Básica. Então vai levar até a Unidade Básica de Saúde que é fundamental a integração também das informações nas unidade básicas. Onde não tem possibilidade de levar o cabo vai ser via satélite pela Telebrás que vai levar, que já leva inclusive hoje a conetividade para algumas escolas, mas vamos universalizar. A ideia é garantir banda larga, velocidade para todas as escolas públicas com fins pedagógico, com acesso a equipamento, com formação digital dos professores. Às vezes, também tem professor que ele não tem, precisa da formação nesse sentido e a cidadania digital dentro da base comum curricular das nossas escolas. É fundamental que as pessoas compreendam a importância de usar, saber usar a internet e as informações como auxiliar para as informações dessa meninada. E é uma forma também, presidente, hoje, o jovem quer estar conectado, quer ter acesso ao computador, quer ter acesso ao Wi-Fi. Então isso é importante também para garantir, estimular o aluno também a estar numa escola, precisa despertar sempre o aluno querer ir pra escola, sentir bem na escola, receber bem o aluno na escola. E ter condições, ter internet, ter prática de esporte, e isso conecta muito, presidente, com o seu programa que o senhor lançou também, a Escola em Tempo Integral. O aluno passar o dia inteiro na escola — e quero dizer que 100% dos estados já aderiram a esse programa, 85% dos municípios já aderiram ao programa — então está muito conectado também a algumas políticas que o senhor tem definido como estratégias de seu terceiro governo na educação básica, como também alfabetização. Aliás, eu quero dar um dado importante que eu falei aqui naquele outro programa: 100% dos municípios, aliás, 100% dos estados aderiram, e 98% dos municípios brasileiros já aderiram à política da alfabetização na idade certa das crianças brasileiras. Então, isso é muito importante para o futuro da educação do país.
Jornalista Marcos Uchôa – Ministro, uma curiosidade: quando a gente fala de redes sociais e internet, quer dizer, é um mundo que teoricamente é maravilhoso, tem um lado maravilhoso, mas tem um lado danoso, tem um lado complicado. A gente pode pensar em eventualmente no currículo — lá atrás, a gente teve aulas de moral e cívica; eu tive aula de moral e cívica —, a gente podia ter uma aula de cidadania, uma aula que a gente também ensinasse a essa criança, esse jovem, dos perigos da internet e de como usar a internet, do respeito às meninas, porque isso é um problema muito sério hoje na sociedade.
Ministro Camilo Santana – Uchôa, nós vamos distribuir aqui esse, esse… fizemos um folder aqui, dentro da estratégia, a primeira estratégia fala do currículo, ou seja, a formação do nosso aluno. E nós queremos criar a cidadania digital, que o aluno e que o professor saiba como usar para o bem, para informação porque isso é fundamental hoje, a velocidade que a informação chega. Isso está dentro da estratégia, portanto a estratégia não é só levar a internet. A estratégia é todo um conjunto de ações, de formação, da gestão escolar, é todo um conjunto. E dizer, presidente, que inclusive esse comitê também participa o BNDES porque quem gerencia o custo é o BNDES, inclusive o presidente do BNDES tem, toda a equipe do BNDES ter participado também, a Anatel, a Telebrás, todos esses órgãos que vão operacionalizar e também tem uma questão interessante, presidente, que através do site nós vamos instalar o medidor da sua escola. A escola entra lá no site do MEC e vai poder baixar um medidor que vai medir qual a velocidade da conectividade da sua escola para dizer se ela tá na velocidade adequada. Então esse medidor vai ser uma ferramenta importante para cada escola poder mensurar a qualidade. Já está funcionando, então a escola pode já baixar através do site do MEC esse medidor gratuitamente para poder saber qual a velocidade da minha escola, para saber se está suficiente para os fins pedagógicos. E também esse programa vai ser por adesão até porque este é um regime de colaboração entre os entes federados, município, estado e União . Então, como foi na alfabetização, como foi no tempo integral, os municípios vão aderir através do sistema Simec do MEC, dizer que quer que as suas escolas estejam (inaudível).
Presidente Lula – Agora, ô Camilo, isso significa que o Ministério da Educação tem que cuidar com muita responsabilidade do conteúdo que o jovem vai ter acesso. Eu, por exemplo, acho, já falei duas vezes, mas nunca falei com você, mas vou falar agora pelo microfone que é o seguinte: nós precisamos colocar no currículo escolar brasileiro a questão do clima. A questão do clima não é um problema menor, é um problema muito sério o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, não é normal o que está acontecendo no Rio Madeira agora com a seca, não é normal. Tem região que está com dificuldade de receber alimento porque o barco não consegue chegar lá. Ou seja, a gente tem visto a temperatura mudar, faz frio aonde só fazia calor, chove aonde não chovia, sabe, faz calor aonde só fazia frio, ou seja o planeta está nos dando um alerta.
Então, se na nossa idade a gente não aprendeu a cuidar do clima, é importante que através da escola a gente prepare as crianças e os adolescentes para educar os pais. Quem sabe uma criança saiba dizer pro pai o que que é seletivo, da questão do lixo, fazer coleta seletiva porque nem todas prefeituras fazem, mas isso não implica que a gente não faça dentro de casa. Significa aproveitar a água de forma mais adequada. Eu acho que nós vamos chegar ao dia, Camilo, em que a água que você dá descarga do banheiro não pode ser água potável. Não tem, não tem nenhuma explicação, não tem nenhuma explicação. Então, é preciso a gente começar a trabalhar a questão do reúso da água para que a gente não utilize água potável, sabe, para usar no banheiro. Então essas coisas se não tiver no currículo escolar, se a criança não aprender com 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 anos essas coisas, quando ele tiver na minha idade ele vai ser quase que um analfabeto climático, um analfabeto na questão ambiental. Então eu queria que você pensasse nisso porque acho que nós temos que colocar e via internet é muito mais fácil hoje a gente fazer um currículo desses.
Ministro Camilo Santana – Sem dúvidas, presidente, eu queria só dizer que eu tenho discutido isso com a ministra Marina para a gente discutir qual modelo pedagógico e o formato disso nas escolas brasileiras. Já tem experiências em várias escolas espalhadas pelo Brasil, tanto públicas do ensino básico, no ensino médio, fundamental como no ensino médio. Até porque esso é um tema fundamental para o planeta, pro Brasil e o Brasil precisa despertar, fortalecer essa questão do meio ambiente, é fundamental.
Jornalista Marcos Uchôa – A gente está vivendo essa onda de calor absurdo essa semana no Brasil inteiro. A gente está em setembro e um calor que nunca ninguém viveu nessa época e é muito interessante…
Ministro Camilo Santana – …Implementar a disciplina pro Pará, onde vai acontecer a COP, já implementou no ensino médio uma disciplina específica para questão, para tratar da questão do meio ambiente.
Ministra Nísia Trindade – Sabe que eu ia comentar, Camilo, uma coisa muito interessante. Eu tive a experiência até de coordenar esse projeto há mais de 20 anos, mas ele continua, felizmente, é bom quando a gente começa uma coisa e continua, que é a Olimpíada Brasileira de Saúde e Ambiente que as escolas apresentam projetos e é uma beleza, porque é uma adesão enorme em todo o Brasil, é um dos projetos mais bonitos que eu participei e continua aí, com relação com a educação com apoio, é uma sugestão.
Ministro Camilo Santana – Nós temos três escolas concorrendo às melhores escolas do mundo em experiências e ações dos próprios, da própria comunidade escolar, e duas são brasileiras. Uma de Belo Horizonte e a de Belo Horizonte foi exatamente por uma experiência na coleta de lixo seletiva realizada na comunidade, lá numa comunidade de Belo Horizonte. Não lembro o nome do bairro. E a outra no Ceará, também por experiência na área. Eles avaliam projetos que extrapolam a sala de aula, que trabalham a comunidade, no entorno, porque a escola não é mais um um local isolado, uma ilha isolada, ela precisa estar conectada com os problemas da comunidade.
Presidente Lula – Essas coisas são importantes a gente mostrar para todo o povo brasileiro porque, quem sabe, outros estados, outras cidades, seguirão o modelo destas escolas e a gente pode ter centenas de escolas ajudando a fazer esse trabalho de cuidar do bairro, de cuidar da cidade. Camilo, é o seguinte…
Ministro Camilo Santana – Inclusive, presidente, nesse projeto lá em Belo Horizonte, a comunidade colocava o lixo no saquinho no chão e vinham os cachorros e rasgavam. Então eles criaram uma espécie de cada, um número para cada casa e um armador, uma coisa simples, ele pendura o saquinho na parede – e aí não tem mais aquela coisa do lixo estar… Foi um trabalho assim, eu assim…
Presidente Lula – Assim vai acabar com o vira-lata, não é vira-lata, é vira saco. Deixa eu dizer uma coisa, ô Camilo, nesse plano estratégico de escolas conectadas, o que que é as outras coisas mais importantes que vai acontecer no Brasil a partir do lançamento desse programa? O que é que você acha que vai acontecer?
Ministro Camilo Santana – o que vai acontecer é que nós vamos dar a oportunidade para melhorar o método pedagógico da aprendizagem dos nossos alunos nas escolas, porque hoje é diferente só o professor estar numa lousa com o aluno. Você vai poder usar uma lousa digital, poder passar um vídeo, levar mais informações para os jovens. O professor pode, pode construir a sua, a sua aula também através do computador, a meninada poder também ter aula de cidadania digital usando um tablet, usando o computador.
Presidente Lula – Deixa eu te fazer a pergunta que para mim é a curiosidade: apesar de tudo isso, é muito importante a presença do professor na sala de aula.
Ministro Camilo Santana – Sem dúvida, isso não substitui o professor nem substitui o livro. Isso é complementar, são ferramentas complementares para o modelo pedagógico dentro das escolas públicas brasileiras. E pra gestão.
Presidente Lula – Você tocou num assunto muito importante que é a questão do livro. Nós estamos precisando fomentar a leitura neste país. Nós precisamos criar condições de fazer um programa que a gente possa incentivar as pessoas a ler. A primeira coisa que nós temos que ver é se é preciso baratear, se tem imposto para as empresas que fazem os livros, as editoras, para a gente tentar baratear o máximo possível o livro para que as pessoas tenham acesso porque o livro às vezes é caro.
Ministro Camilo Santana – Presidente, o senhor está falando em duas ações importantes. Uma está dentro do Programa de Alfabetização. Nós estamos passando recursos para escolas. Toda escola de ensino fundamental vai ter uma espécie de cantinho da leitura dentro da escola, dentro da sala de aula, cada sala de aula. É um cantinho com uma estante com livros porque a criança precisa ser estimulada desde os primeiros anos. O estímulo nos primeiros anos de vida é que faz as pessoas ter o hábito da leitura, então, e também para alfabetização é fundamental.
Presidente Lula – Mas algumas pessoas dizem: Lula, você está ultrapassado. Você tá… você fica falando de livro quando as pessoas estão lendo no celular, as pessoas estão lendo no tablet ou seja…
Jornalista Marcos Uchôa – É, mas na verdade, presidente, não é isso não. Até o que tá acontecendo em países como a Suécia estão voltando a livro e caderno, escrever à mão em sala de aula, porque estão descobrindo que para o aprendizado é muito importante essa coisa de você fixar o que se aprende escrevendo. Então, tá se tirando muito de computador de dentro de sala de aula. É muito importante a internet, obviamente, não tem ninguém negando isso, mas na sala de aula, para a criança, o livro, o caderno e o lápis ainda é muito importante.
Ministro Camilo Santana – A Unesco agora nesse ano lançou um relatório sobre, sobre educação digital no mundo mostrando os cuidados que precisa ter e a necessidade de se manter a leitura, o livro nas escolas. Agora, como a gente tem o Brasil muito desigual, a gente está trabalhando uma plataforma gratuita para acesso a livros no Brasil, qualquer um pode ter acesso.
Presidente Lula – Você viu que nós provamos que cada conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida vai ter uma pequena biblioteca, que é para tentar estimular as pessoas a lerem.
Jornalista Marcos Uchôa – Até porque o exemplo para os filhos muitas vezes são os pais, então os pais lendo o filho também e a filha querem ler.
Ministro Camilo Santana – Mas se isso não for plantado desde o início dos primeiros anos na escola, estimular o jovem, a criança a ler, quanto mais aumenta a idade mais difícil esse hábito.
Presidente Lula – No fundo, no fundo, depois desse lançamento do Plano Nacional de Escolas Conectadas eu penso que a gente pode afirmar ao povo brasileiro que a partir de 2026 a gente vai ter um outro país. A gente vai ter um país mais bem informado, mais conectado, as pessoas recebendo conteúdo de mais quantidade, mais qualidade. Eu penso que a gente pode melhorar, inclusive, a qualidade da sociedade civil que a gente vai criar nesse país, porque eu me preocupo muito com a questão do humanismo, ou seja, que ser humano que a gente tá criando. Se é um ser humano humanista, se é um ser humano carinhoso, se é um ser humano solidário, se é um… os filhos que obedecem aos pais, que se preocupam com os pais ou são pessoas rebeldes que não obedecem a ninguém, que não obedece professora, que xinga professor, que bate em professor. Tem muito disso no Brasil.
Então, eu penso que essa estratégia de escola conectada a gente tem que ter em conta que tipo de ser humano a gente tá formando para o Brasil. A gente quer combater a mentira, a gente quer combater a fake news, a gente quer que as pessoas sejam tomadas pelo simbolismo de uma sociedade verdadeira, de uma sociedade que pensa com o coração, que age com o coração, que seja mais solidária. Esse é o meu sonho e por isso eu estou jogando muitas fichas minhas nesse projeto de escolas conectadas.
Jornalista Marcos Uchôa – Presidente, eu queria só juntar um pouquinho o que foi educação, saúde e meio ambiente, que o senhor fala muito nessa questão do meio ambiente e da Amazônia e da possibilidade de a gente aprender com essa Amazônia que a gente tá protegendo. Então, num complexo de saúde, quanta coisa não se pode aprender através da educação, de estudos de pesquisa, instituto federal, universidades através de coisas que a gente vai descobrir por causa desse Complexo Industrial de Saúde, né. Então liga tudo, educação, saúde, meio ambiente, quer dizer, essa necessidade de todo mundo conversar porque está tudo interligado, né, presidente?
Presidente Lula – Eu acho, aliás o que eu acho é essa, essa nova qualidade de conversação. Hoje, eu sinto que a humanidade está muito individualizada, muito, muito. A coisa que mais me assusta, Camilo, é você estar num lugar, ter duas pessoas sentadas, uma na frente da outra, cada uma conversando com outra parte do mundo e os que estão perto estão distantes. Então, eu acho que é extremamente importante a gente tentar ver se a gente consegue através da educação qualificar melhor a espécie humana que nós estamos criando. Se a gente não conseguir através da educação, tudo será muito mais difícil.
Ministro Camilo Santana – Por isso que eu defendo muito a questão da cidadania digital, exatamente com esse objetivo. E, presidente, um dos focos importantes que o ministério é na formação dos professores, inclusive nós lançamos agora a formação de professor da educação básica equidade porque o professor precisa ser um professor antirracista, precisa ser um professor que olha para as comunidades indígenas e quilombolas, a formação de professores para essas escolas há uma desigualdade enorme entre negros e brancos, entre índios e quilombolas nesse país. Então, a formação inicial de professores é fundamental para exatamente garantir o ensino humano, o ensino democrático, o ensino que acolha as pessoas, que olhe pros nossos jovens. É fundamental a formação dos nossos professores, humana, é fundamental.
Presidente Lula – Camilo, você pode prestar atenção numa coisa, isso é importante para os professores. Escola boa é aquela que o aluno levanta de manhã pedindo pra mãe pra ir para escola. Se o aluno começa a chorar e não quer ir a escola é porque alguma coisa não está certo na escola, se o aluno não gosta de um professor é porque alguma coisa tá errada,é preciso de investigar porque quando a escola é boa… Eu lembro, eu estou dizendo isso porque quando nós criamos as Olimpíada da Matemática em escola pública, em 2005, que nós fizemos a primeira grande inscrição, mais de 10 milhões de pessoas, a professora Suely Druck que era responsável na época, ela me contava coisas fantásticas. As crianças queriam ir para escola de domingo, as crianças queriam aprender, ou seja, quando a escola é motivadora, acolhedora, e não fica só ensinando que Cabral descobriu o Brasil, ou seja, tudo isso é importante saber, mas é importante que as crianças estejam conectadas com o seu mundo, com o dia a dia, com a vida dos seus pais, com os problemas porque se não as pessoas não aprendem a cidadania que nós achamos que todo mundo tem que ter.
Por isso, eu estou muito otimista. Eu acho que a partir desse programa, a partir do comitê, a partir do grupo de ministros a gente começa a fazer uma verdadeira revolução nesse país. Esse país não vai ficar devendo a nenhum país do mundo em palavra de conectividade. A gente vai se transformar. Quem você quer de exemplo? A Finlândia, a Noruega, a Dinamarca, a Áustria, a Suécia? Pois é, nós vamos ser igual ou melhor porque nós temos material humano e teve um povo extraordinário para isso. Só precisa a gente cuidar com carinho desse povo e é isso que a gente vai fazer na área da educação e na área da saúde.
Jornalista Marcos Uchôa – Perfeito. Então, presidente, a gente está encerrando o programa que já estamos aqui conversando, mas vamos falar um pouquinho…
Presidente Lula – Antes de terminar, eu só queria dizer uma coisa importante: a Nísia sabe que eu tenho uma reivindicação para ela desde que ela tomou posse como ministra. É o meu desejo de levar a todo o povo brasileiro o direito ao chamado especialista. O que é que é o especialista? Uma mulher, um homem, do Ceará, de Pernambuco, da Bahia, de Brasília vai ao médico, então, chega numa UPA, chega numa UBS, faz a consulta, o médico atende e detecta que ela tem uma doença grave. Tem um problema no olho, precisa do oftalmologista, tem um problema no coração, precisa de um cardiologista, ela tem um problema no ombro, precisa de um ortopedista e assim vai. Ou seja, quando essa pessoa sai desse primeiro atendimento e dizem para ela: a senhora tem que procurar o tal do especialista, aí começa o sofrimento porque são 9 meses, 10 meses, 8 meses de espera de um tal de um especialista que ele existe, mas ele não está conectado com o SUS porque nós temos um problema. É preciso que a gente tenha mais recursos no SUS e é preciso que a gente pague melhor as pessoas que vão prestar serviço porque eu não sei quanto que o SUS paga, mas não deve ser muito atrativo porque numa rua que você mora deve ter dez especialistas, mas o preço que o SUS paga é tão pouco que o cara fala: eu não vou fazer convênio com o SUS.
Então, esse é um problema que a gente pode levar saúde de primeiro mundo para todo mundo nesse país, e aí nós temos que ter em conta que saúde custa dinheiro, saúde de qualidade custa dinheiro e é importante. A credibilidade que o SUS conquistou durante a pandemia dá ao SUS o direito de dizer ao povo brasileiro que é preciso mais recursos para a saúde, recurso bem gerenciado, bem administrado por uma companheira que não é médica, que durante 6 anos foi presidente da Fiocruz, um dos institutos de pesquisa mais extraordinários que a gente tem no Brasil. Então, é importante que a gente tenha clareza que a gente pode levar esta qualidade de saúde. O que nós precisamos é, sabe, qualificar as pessoas e garantir ao povo brasileiro o direito de ser tratado com decência. Isso é importante saber: não existe, no planeta Terra, que é redondo, não é triangular, não é quadrado, não existe no planeta Terra nenhum país com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um Sistema Único de Saúde que tem o Brasil.
Quando você vê a pessoa falar: “Não, fiz transplante do coração, transplante do fígado, transplante de rim”. A gente viu o Faustão agora. O cara pode estar no hospital mais chique do mundo, mas quem cuida disso é o SUS. É o SUS que é responsável por essa política de transplante, então é importante que a gente aprenda a gostar daquilo que a gente tem. Se tiver defeito, a gente conserta, mas vamos valorizar a virtude porque muita vez o SUS era atacado por causa de uma pessoa, duas ou três que não era atendido e se negava 1.000 que tinha sido atendido anteriormente. Não é que o SUS não tenha defeito, tem defeito, mas nós brasileiros, eu presidente da República sou grato ao SUS, grato aos médicos do SUS, grato às médicas do SUS, enfermeiros e enfermeiras, a todo o pessoal que trabalha porque essa gente, na mais grave pandemia que nós tivemos no século 21, essa gente se prestou a colocar a sua própria vida em defesa de nós, em defesa do outro e isso merece elogio e parabéns.
Por último, eu queria falar alguma coisa da viagem porque se não não tem sentido, o Pimenta preparou todo um discurso pra viagem, o Stuckert preparou as câmeras.
Veja, quando nós ganhamos as eleições, nós tínhamos uma primeira preocupação, era não só fazer uma radiografia do que tinha acontecido no Brasil e ao invés de ficar brincando com o que tinha acontecido, aquele negócio você fica xingando, chorando e jogando a culpa em ninguém. Nós resolvemos, ao fazer o diagnóstico, a gente resolveu cuidar do paciente. Ou seja, cuidar do povo brasileiro. Então, nós passamos o primeiro semestre recuperando todas as políticas públicas de inclusão social que a gente tinha acumulado ao longo de treze anos do governo do PT.
Ao terminar essa elaboração de recuperação, nós precisamos recuperar o prestígio do Brasil no exterior, aí eu tive que viajar. Eu participei do G20, eu participei do BRICS, eu participei do G7, eu fui a Hiroshima, fui a Nova Delhi, eu fui a Joanesburgo, ou seja, eu viajei muito o mundo para conectar, a palavra chique agora é conectar, para conectar o Brasil com o mundo. E depois tivemos a nossa participação na ONU, que foi uma participação memorável da delegação brasileira. Tivemos um encontro com o presidente Biden para discutir a questão do emprego decente. Eu achei extremamente importante essa reunião, porque significa que o governo americano junto com o governo brasileiro, as pessoas ligadas ao mundo do trabalho nos Estados Unidos e as pessoas ligadas ao mundo do trabalho no Brasil estão preocupadas em garantir que, mesmo as pessoas que trabalham em plataforma, que muitas vezes não conhecem o seu patrão e muitas vezes querem ser tratadas como empreendedor individual, nós queremos que a pessoa tenha sucesso com empreendedorismo individual, mas nós queremos é dar a garantia de seguridade para essas pessoas. Se essa pessoa estiver doente, se essa pessoa tiver infortúnio, nós sabemos que em algumas cidades esses meninos que trabalham entregando pizza, entregando comida de bicicleta, muitas vezes não têm banheiro para ir, sabe? Me contaram esses dias que tem garoto que vai trabalhar de fraldão, isso aí é impensável no século 21 a gente ter uma situação dessa. Então nós estamos atentos em construir uma proposta para cuidar dessa gente com carinho. Pode ser um cara que tem bicicleta, pode ser uma pessoa que tem uma motocicleta, o que nós queremos é que vocês sejam tratados com a dignidade que todo ser humano tem que ser tratado e receber um salário que permita a vocês comerem, pelo menos, a comida que vocês entregam. Porque também não é humano você carregar comida nas costas, cheirando a comida e estar com seu estômago vazio. É importante a gente cuidar disso com muito carinho. E nós, então, nós, então, fizemos um protocolo com o presidente Biden e eu acho que essas coisas vão andar daqui pra frente.
Então, depois que nós fizemos tudo isso, nós fizemos o PAC. O PAC é um grande projeto de investimento em infraestrutura levando em conta a questão da transição energética, da transição climática. O Brasil tem um potencial extraordinário. Eu, ontem, brinquei com a imprensa que o Brasil será, para a questão de energia verde, aquilo que a Arábia Saudita é hoje no mundo do petróleo. Ou seja, nós temos um potencial excepcional, nós temos terra, temos sol, temos gente competente, temos conhecimento tecnológico e temos mercado. O mundo vai precisar disso.
Eu, inclusive, liguei pro comandante da Aeronáutica porque, em 2010, eu fui visitar uma turbina de avião a etanol. O Brasil seria o quinto país do mundo a produzir energia. Esse projeto foi guardado. Eu saí da presidência, eu pensei que a gente já tava fazendo turbina e esse projeto desapareceu. Eu liguei pro brigadeiro e falei: "Eu quero ir ao ITA. Eu quero saber por que que esse projeto não andou". Porque agora que o mundo está precisando de combustível não fóssil, e nós somos imbatíveis nisso, tá na hora da gente fazer a nossa turbina a etanol e ser o quinto país do mundo a fabricar essa turbina. E, mais ainda, os navios. Os navios poluem muito o planeta. Então, é preciso também que a gente tenha combustível. E o Brasil, nesse aspecto, eu descobri que tem uma empresa brasileira, gaúcha, lá de Passo Fundo, que essa empresa produz biodiesel na Suíça. E, na Suíça, 100% dos caminhões são a biodiesel. Aqui no Brasil as empresas falam: "Não, porque estraga o motor, porque não sei das quantas tal". Lá, a empresa brasileira produz 100% do biodiesel. Coleta gordura, sabe, gordura que as pessoas fritam um ovo, frita um bife, o que sobra coloca num galão no muro, essa empresa passa recolhendo e paga. E produz combustível e o caminhão suíço, todos, 100%, utilizam biodiesel. Ontem eu falei com o ministro de Minas e Energia, pedi para ele conversar com a indústria automobilística porque eu quero saber por que que aqui no Brasil a gente não pode fazer isso. Se a Suíça pode, por que a gente não pode? Sabe? Então, possivelmente porque o motor não é brasileiro, o motor é estrangeiro e as empresas não querem. Mas nós vamos levar isso muito a sério porque, gente, eu queria terminar agradecendo a Nísia, agradecendo o Camilo, agradecendo o Uchôa.
Eu sempre fui uma pessoa de muita fé, eu sempre disse para vocês: eu tive uma mãe que, mesmo quando ela não tinha comida para colocar para oito filhos, ela não desanimada, ela não chorava, ela dizia: "Meu filho, amanhã vai ter". Então, eu fui um cara que nasci na minha vida aprendendo a ser otimista. Eu nunca tive um obstáculo intransponível. Eu não acredito. Eu sempre digo que a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode fazer. E eu estou convencido que o Brasil, em 2023, 2024, 2025, 2026, e o Brasil, daí pra diante, se respeitar a democracia, o Brasil tem tudo para se transformar numa das economias mais importantes do mundo. Oferecendo aquilo que todo mundo deseja: combustível não fóssil, energia não fóssil e fazendo com que as nossas empresas consumam energia verde. É esse país que a gente vai criar com boa política de saúde. É esse país que a gente vai criar com boa política de educação. É esse país que a gente vai criar com muita democracia e sem golpe. Um abraço a todos vocês. Obrigado, Uchôa.
Jornalista Marcos Uchôa – Obrigado, presidente.
Presidente Lula – Eu tô pensando que tô gostando tanto desse programa que talvez a gente faça mais que um por semana.
Jornalista Marcos Uchôa – Vamos, vamos fazer. Agora, é muito bom ver essa energia e é importante que, sexta-feira, muita gente sabe, o presidente vai fazer a operação no quadril e, obviamente, vai ter uma semana que vem sem dor. Né? Pelo menos, aleluia. A gente te deseja, acho que todo mundo te deseja que essa operação seja perfeita.
Presidente Lula – Tem muita especulação sobre isso. Tem muita gente tentando adivinhar. Veja, a verdade é que eu tô com essa dor desde agosto do ano passado. Durante o processo da campanha, naquela cena que você via eu pulando no carro de som, você não sabe a dor que eu sentia. Mas eu pulava porque era preciso animar as pessoas. Se o candidato está lá, de cabeça baixa, ele não passa otimismo para a sociedade. Depois, eu queria operar logo depois das eleições, mas eu falei: "Bom, se operar agora vão dizer que o Lula está velho, ganhou as eleições e já está internado". Não, eu resolvi, primeiro, recuperar o Brasil, politicamente, internamente, com a inclusão social e depois recuperar o Brasil na geopolítica internacional e dizer pro mundo inteiro: o Brasil voltou. O Brasil está de volta. Com muita vontade e com muito tesão, com muita força de ser uma grande economia e isso foi maravilhoso.
O G20 foi maravilhoso, foi maravilhoso nos BRICS, foi maravilhoso em Nova York, foi maravilhoso na reunião CELAC e América Latina e isso vai ser maravilhoso daqui pra frente. Então, eu tomei a decisão. Eu só vou viajar agora dia 29 de novembro, que é para os Emirados Árabes, que é para a COP 28 que vai discutir a questão do clima. Então, até lá, eu vou ficar aqui em Brasília, não vou poder pegar avião. Vou trabalhar normalmente. O Stuckert não quer que eu ande de andador, ele já falou: "Não vou filmar você de andador". Então significa que vocês não vão me ver de andador, vocês não vão me ver de muleta, vocês vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado. Mas eu vou ter que ter um pouco de cuidado, porque a operação parece simples, mas a recuperação, a fisioterapia e a dedicação no tratamento é fundamental.
Então, eu vou me cuidar com muito carinho, eu tô muito otimista, tô muito otimista, eu disse ontem numa entrevista que o que me preocupa sempre foi a anestesia, eu sempre tive medo de tomar anestesia e, esses dias, eu fui fazer um tratamento e falei: "Anestesia só se for local porque eu quero ficar acordado para ver". Doeu pra caramba, eu preferia ter tomado. Mas agora eu vou tomar e tenho certeza que eu vou voltar bem. Eu tenho que ter muita disciplina na recuperação, e eu vou ter, porque eu tenho um compromisso com esse país.
Eu falei pra vocês: eu não quero governar o Brasil, eu quero cuidar do povo brasileiro. Cuidar, cuidar de cada criança, de cada mulher, de cada homem, de cada trabalhador, de cada morador de rua que eu pretendo tirar da rua. De cada pessoa de palafita, que eu pretendo acabar com as palafitas. Ou seja, o que eu quero, na verdade, é um sonho que todo mundo quer: viver dignamente, viver com respeito, trabalhar, estudar, levar comida pra casa no final do mês às custas do trabalho do homem e da mulher e viver sorrindo porque a vida é um dom de Deus mais importante para o ser humano.
E a gente precisa, todo santo dia, agradecer a Deus por estar vivendo aquele dia e agradecer de noite por ter vivido aquele dia. E rezar para estar acordado no dia seguinte. É isso que eu faço e por isso que eu brinco que quero viver até os 120 anos, porque eu gosto muito da vida. Um abaço.
Jornalista Marcos Uchôa – Um abraço, presidente. Obrigado, Camilo. Obrigado, Nísia. Muito bom, tá? Até o próximo ‘Conversa com o Presidente’.