Conversa com o Presidente - Live do dia 19.jun.23
TRANSMISSÃO | Conversa com o presidente
Jornalista Marcos Uchôa — Olá, pessoal. Bom dia, Brasil; bom dia, presidente.
Presidente Lula — Bom dia, Uchôa.
Marcos Uchôa — Temos aí mais uma segunda Conversa com o Presidente. O programa com duas novidades: uma vocês tão vendo, né, lugar lindo que a gente está, aqui no Palácio da Alvorada, no jardim, que o Stuckert armou pra gente um cenário muito especial. E é claro que a gente está tendo que pedir um pouquinho de desculpa, porque na semana passada, no primeiro programa, nós falamos que vamos nos encontrar sempre às terças de manhã, e, excepcionalmente, hoje está sendo segunda-feira, claro, porque o presidente está viajando hoje à noite ainda para Roma, vai se encontrar com o Papa, depois vai para Paris ter um encontro muito especial lá também, e tem muita coisa acontecendo. Antes de a gente falar do futuro, vamos falar do que aconteceu essa semana, do último programa pra cá. Presidente, uma reunião ministerial de quase 10 horas. Como é que foi essa maratona? Aliás, uma maratona dura duas horas e pouquinho, foram cinco maratonas quase, 37 ministros. Como é que funciona isso aí?
Presidente Lula — Na verdade, foi a melhor reunião que eu já fiz, porque eu queria ouvir todos os ministros e ministras. Eu queria ouvir aquilo que eles fizeram, o que estão se propondo a fazer, e o que que falta para eles entregarem a proposta completa daquilo que vão fazer até dia 31 de dezembro de 2026. Eu na verdade, Uchôa, ouvi 40 discursos. Porque além, além dos ministros, falaram o presidente do BNDES, o presidente da Petrobras, e o presidente da Caixa Econômica. Só não falou o Banco do Brasil porque estava viajando, mas aí falou o presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara.
E foi muito interessante porque a gente deu uma harmonizada na equipe do Governo, u seja, porque muitas vezes a gente não se reúne, cada um começa a falar alguma coisa, cada um começa a responder alguma fofoca de jornal, então é importante harmonizar a linguagem do Governo em torno de um objetivo único que é fazer o Brasil dar certo. A reunião pra mim foi extraordinária, excepcional, a primeira reunião que teve aplausos no final da reunião porque todo mundo saiu satisfeito.
Marcos Uchôa — Que é muito importante o outro saber que que o outro está fazendo também né, eu acho também que há não só a curiosidade, mas muitas vezes tem um trabalho ligado ao outro.
Presidente Lula — Porque nós falamos muito sobre transversalidade, ou seja, os ministros trabalharem juntos em vários assuntos, mas é muito importante que cada ministro saiba o que o outro está fazendo, porque quando o ministro da comunicação vai dar alguma declaração em um estado qualquer, ele está preparado para falar da cultura, pra falar do trabalho, pra falar da previdência, pra falar da economia, pra isso ele precisa ter informação. Então, nós vamos começar agora a preparar, e isso é responsabilidade da SECOM, e o Pimenta vai ter mais trabalho, é que o Pimenta vai harmonizar fazendo com que a SECOM emita um resumo para que todos os ministros publiquem no seu site oficial e para que a gente tenha conhecimento da totalidade de coisas que o Governo faz.
Marcos Uchôa — Presidente, como é que você faz? Obviamente, quando chega no trigésimo discurso você já esqueceu o primeiro. Você vai anotando, alguém do seu lado, você vai marcando alguma coisa que você acha mais interessante?
Presidente Lula — Primeiro eu anoto as coisas interessantes, aquilo que é novidade. Mas você sabe que eu estou habituado a fazer reuniões, porque no sindicato eu fazia isso também. Eu chamava comissão de fábrica, tinha 40 trabalhadores, e eu ouvia os 40 para que depois eu pudesse resumir o resultado da reunião. E eu tenho paciência para ouvir, gosto de ouvir, às vezes eu ouço coisas muito interessantes, coisas que eu jamais imaginei que a gente poderia ouvir. E essa reunião vai permitir que o Governo trabalhe agora de forma mais harmônica. É importante dar menos ouvidos a futrica e dar mais ouvido às coisas que são verdadeiras. Nós não podemos parar. Cada ministro vai ter que viajar esse país o tempo inteiro. Eu não quero ministro na Esplanada dos Ministérios. Eu não quero ministro dentro da sua sala. Eu quero os ministros viajando e fazendo por esse Brasil afora.
É por isso que nesse sábado, enquanto eu estava em Belém, eu visitei Belém e visitei Abaetetuba, o Pimenta e o ministro Waldez, da integração, estavam em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, discutindo as enchentes. E eu quero mais ministros viajando, quanto mais ministro viajar, mais o Governo estará presente vivendo a realidade que o povo tá vivendo, e tentando fazer de tudo para atender às suas necessidades. É esse o Governo a partir de agora. Eu disse o seguinte: esse segundo semestre é o momento de a gente apresentar à sociedade aquilo que a gente vai fazer até o dia 31 de dezembro de 2026. Trabalho, trabalho e trabalho.
Porque nós queremos mais emprego, emprego, emprego. Mais emprego significa mais salário, mais salário significa mais consumo, mais consumo significa mais emprego, mais salário, mais trabalho, e assim esse país vai voltar a crescer de forma virtuosa. Como diria o Celso Amorim, esse Brasil vai voltar a ser ativo e altivo, para que a gente nunca mais tenha tristeza.
Marcos Uchôa — Voltando nessa coisa das viagens, o ministro Pimenta e o Waldez Góes foram lá no Rio Grande do Sul, na fronteira com Santa Catarina, é uma tristeza, né? Porque a gente já teve essas chuvas horrorosas em São Paulo, no Maranhão também, agora, no Rio Grande do Sul esse furacão, esse tornado, e isso está cada vez mais comum, cada vez mais violento, cada vez mais frequente. E é uma preocupação que liga um pouco com a sua viagem a Belém, no sentido que você estava lançando ali a questão da COP. É bom explicar pras pessoas que a COP é uma reunião anual que acontece em algum lugar do mundo que trata dos problemas do meio ambiente no planeta. E a gente está vivendo isso aqui agora. Primeiro, eu queria que você comentasse um pouco dessa novidade, porque 20 anos atrás eu acho que não era um problema tão candente num governo do senhor, acompanhar toda hora um desastre desses.
Presidente Lula — Olha, primeiro esses desastres estão acontecendo e cada vez mais forte, e cada vez acontece mais desastre. Isso eu acho que é um aviso à humanidade, é um aviso aos governantes e um aviso à toda humanidade, ou seja, nós estamos ferindo o planeta. É engraçado porque o ser humano é a única espécie animal que trabalha de forma muito rápida para destruir o mundo em que ele vive. Ou seja, se a gente não tomar cuidado com o planeta, se a gente não cuidar da nossa água, se a gente não cuidar da nossa floresta, se a gente não cuidar de evitar emissão de gases de efeito estufa, se a gente não cuidar das coisas que o planeta necessite e os seres humanos precisam, se a gente não cuidar do ar que nós respiramos, nós estamos nos condenando ao fim.
Então, eu queria até chamar atenção para que as pessoas comecem a ter certeza de que a questão climática é uma coisa verdadeira. Nós precisamos ter mais responsabilidade, é por isso que, aqui no Brasil, nós assumimos a responsabilidade de chegar ao desmatamento zero em 2030. Vai ser um trabalho muito grande, mas nós vamos cuidar da Amazônia, nós vamos cuidar do Pantanal, nós vamos cuidar da Caatinga, nós vamos cuidar do Cerrado, nós vamos cuidar da Mata Atlântica pra preservar aquilo que existe. Esses dias não sei quem queria aprovar uma lei para construir um gasoduto na Mata Atlântica. Ora, uma coisa que não tem nexo, não tem sentido. Ou seja, a ganância do ser humano precisa ter limite, e o limite é o bem estar do restante da sociedade. Você não pode utilizar o planeta para meia dúzia de pessoas.
Eu vou te dizer uma coisa: quando o cidadão quer cortar uma árvore que tem 300 anos de vida, uma árvore que não pertence a mim, não pertence a você, não pertence a ninguém. É uma árvore do mundo, do planeta, ou seja, por que um cidadão quer se dar ao luxo de pegar uma motosserra, ir lá e cortar essa árvore para ele vender, para fazer móveis? Para fazer mesa, pra fazer cadeira, pra fazer cama. Olha, se esse cidadão quer cortar uma madeira, ele que plante, ele que floreste uma área qualquer e deixa a planta crescer e corte, e faça o móvel que ele quiser. É preciso que a gente seja muito duro no cumprimento da lei para que as pessoas aprendam a preservar aquilo que Deus nos deu.
Marcos Uchôa — O senhor acha que, de certa maneira, porque no Rio Grande do Sul que a gente estava falando, né, recentemente tava com problemas de seca na área, em áreas do estado, que prejudicaram muito a agricultura lá, né, são extremos: muita falta d'água, água demais, causando tragédia dos dois lados. Isso tem a ver com a Amazônia, às vezes as pessoas no Rio Grande do Sul não pensem no quanto a Amazônia tem a ver com o dia a dia dela, não tem a ver o quanto a importância da floresta em relação a isso. Aí, você, pô, Belém não podia estar mais distante do Rio Grande do Sul, né, mas como estão ligados os dois estados e como a natureza de um impacta na natureza do outro.
Presidente Lula — É importante, Uchôa, que o ser humano se dê conta, sobretudo nós brasileiros, da importância da Amazônia. A Amazônia não é importante para quem mora na Amazônia. A Amazônia é importante pro Brasil e pro mundo, ou seja, porque dela reflete, sabe, as mudanças climáticas.
Marcos Uchôa — Que eles chamam de "rios de água", que eles chamam de chuva (...)
Presidente Lula — Isso, dela pode mudar o clima no Rio Grande do Sul, mudar o clima em Santa Catarina, em São Paulo, em qualquer lugar do planeta pode ter mudança por causa da Amazônia. O lado cientificamente que a gente tem que cuidar. Quem é que tem floresta Amazônica? Brasil, aqui na Latina, na América do Sul são oito países, que nós vamos fazer a reunião agora em agosto com Equador, Bolívia, Venezuela, Peru, Bolívia, Colômbia, Brasil e ainda Guiana Francesa e faz parte o Suriname. Nós vamos fazer um encontro em Belém para que a gente cuide da Amazônia da América do Sul, e ao mesmo tempo vamos ter que conversar muito com o presidente do Congo, e vamos ter que conversar muito com o presidente da Indonésia, que também são dois países que tem floresta muito, muito, muito densa, e que ajuda a controlar o planeta.
Se a gente conseguir fazer isso e os países ricos pagarem aquilo que eles prometem desde a COP de 2009, que era dar US$ 100 bilhões por ano para se cuidar do clima, e não estão dando, e nós, agora, vamos cobrar outra vez, quando tiver a COP nos Emirados Árabes, no final do ano, a gente vai cobrar porque se não tiver dinheiro para desenvolver os países em desenvolvimento, para desenvolver os países que tem floresta ainda a ser preservada, se não tiver dinheiro, sabe, é normal que o povo pobre que more nesses estados ainda continuem, sabe, com muita necessidade; e nós precisamos convencer numa economia baseada na emissão cada vez menor de gases de efeito estufa, a gente vai ter que discutir a chamada agricultura de baixo carbono, para que a gente possa garantir ao mundo que nós, seres humanos, vamos cuidar do nosso planeta e isso significa que estaremos cuidando da nossa casa.
Marcos Uchôa — Agora, a decisão do senhor de oferecer e conseguiu né, que a COP de 2025 seja em Belém, e o Belém do Pará é um estado que tem problemas bastante grandes em relação a isso né; desmatamento, e a questão de como mudar um pouco a economia do estado e também e de toda a região. Como é que foi lá em Belém, como que foi o encontro com as pessoas? E o Mauro Vieira foi lá apresentar para os empresários locais, né, um pouco dessa dificuldade de fazer um encontro mundial numa cidade que, claro, não está acostumada a receber tanta gente de fora. Como é que você pensa, temos aí dois anos e pouco para preparar a casa, né?
Presidente Lula — Duas coisas importantes, Uchôa. A primeira foi a participação do ministro de Relações Exteriores para explicar a empresários, sobretudo, empresários do turismo, o significado de uma COP. Uma previsão de quantas pessoas estarão presentes, tem gente que fala que vai ter mais de 50 mil pessoas, outros falam de 80 mil pessoas, além da quantidade de chefes de estado que vão comparecer nessa COP. E por que isso? Porque é a primeira COP feita na Amazônia. Olha, as pessoas falam tanto da Amazônia no mundo inteiro, agora vão ter que falar da Amazônia dentro da Amazônia. Vão conhecer o Rio Amazonas, vão conhecer o Rio Tapajós, vão conhecer a nossa floresta, vão conhecer como é que vivem os nossos indígenas, os nossos povos ribeirinhos, para, aí, eles começarem a discutir com base na realidade. Essa é uma coisa extraordinária.
Outra coisa fantástica é que o Governo começou a fazer a política de concessões e de parceria para ajudar a transformar Belém numa cidade capaz de receber a COP. É preciso ter uma rede hoteleira, é preciso fazer uma drenagem no rio para que navios, sabe, transatlânticos de turismo, possam atracar lá para que a gente possa ter eles como hotel. Nós fomos fazer convênio com o prefeito para fazer canal em alguns lugares da cidade, e fomos também fazer a concessão do aeroporto, sabe, que está abandonado, para ser o grande palco do nosso encontro da COP 30 em 2025. Então, as coisas estão acontecendo, o governador está muito motivado, o prefeito está muito motivado, e eu acho que nós corremos o risco de fazer a COP mais bonita que já foi feita. Porque uma coisa é discutir a Amazônia no Egito, outra coisa é discutir a Amazônia em Berlim, outra coisa é discutir a Amazônia em Paris.
Agora não. Agora nós vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia. Nós vamos discutir a questão indígena vendo os indígenas. Vamos discutir a questão dos povos ribeirinhos vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem. Porque quando a gente fala em preservação, uma coisa que nós temos que preservar são 50 milhões de pessoas que moram na Amazônia da América do Sul, e que são pessoas que querem viver dignamente, que querem comer, tomar café, almoçar, jantar, que querem passear, que querem se vestir e tudo isso nós temos que cuidar, porque isso é garantir o meio ambiente. A gente não pode esquecer que para cuidar do meio ambiente a gente começa cuidando do povo pobre que mora nessas regiões.
Marcos Uchôa — Isso é uma parte que muitas vezes a gente não nota nessas discussões. A gente fala do meio ambiente como se ele não impactasse diretamente, né, a pessoa muitas vezes corta uma árvore porque muitas vezes ele precisa disso para sobreviver. Quer dizer, o garimpeiro pobre tá ali tirando ouro porque tem de comer, né.
Presidente Lula — Eu tenho provocado a discussão sobre a questão do clima. Normalmente a gente falar da Amazônia, a gente fala da Mata Atlântica, o que é normal, mas é importante a gente lembrar que é preciso discutir as palafitas. É preciso discutir o processo de degradação que move o ser humano. Aquele negócio de Paris, do prefeito fazer uma casa de 15 metros quadrados. Se essa moda pega, se essa moda pega de fazer casa de 15 metros quadrados daqui a pouco estaremos construindo poleiro...
Marcos Uchôa — células
Presidente Lula — (...) para que o povo possa morar. Isso é o absurdo do absurdo do absurdo. É preciso que a gente, dentro dessa política ambiental, a gente não perca a noção de dignidade do povo pobre desse país, ou dos países em desenvolvimento que têm as reservas florestais. Então, sempre que a gente falar na questão ambiental, nós temos que lembrar das pessoas que moram nessas regiões que precisam viver dignamente.
Marcos Uchôa — Porque de certa maneira é quase simbólico: Minha Casa, Minha Vida é o planeta, né. A nossa casa é o planeta, é a nossa vida é o planeta, né. E a casa mínima é a casa que a pessoa precisa pra viver de uma maneira com dignidade.
Presidente Lula — Nós fomos inaugurar a casa e ao mesmo tempo lançar um programa de fazer até dia 31 de dezembro de 2026 mais de 2 milhões de casas. Essas casas serão não apenas casas para as pessoas mais pobres, mas, nós também vamos construir casas para o setor médio da sociedade, o trabalhador que ganha oito, nove, aquele pequeno empreendedor, aquela pessoa que trabalha por conta própria...
Marcos Uchôa — Tem a condição de ter a coisa um pouco melhor.
Presidente Lula — (...) nós vamos tentar criar condições de fazer uma casa para quem pode pagar um pouco melhor e também ter um sistema de financiamento.
Marcos Uchôa — Quando você encontra essas pessoas e entrega as chaves, porque, uma coisa, tipo de cerimônia que você já fez muitas vezes, mas imagino que no olhar (...)
Presidente Lula — Era uma casa que em 82 eu gravei um vídeo, com meus filhos jogando bola na rua, porque as pessoas diziam que eu morava no Morumbi.
Marcos Uchôa — Sério?
Presidente Lula — Então, eu gravei um vídeo para a televisão para mostrar que eu morava na rua Maria Azevedo Florêncio, 273, em São Bernardo dos Campos. Foi a primeira casa que eu comprei, uma casinha de 33 metros quadrados. E naquela casa morava eu, a minha mulher, três filhos e a minha sogra. Uma casinha de 33 metros quadrados.
Marcos Uchôa — E foi uma felicidade quando comprou, né?
Presidente Lula — É a realização de um sonho! Qualquer trabalhador, qualquer homem ou qualquer mulher, tem como sonho ter uma casinha, um lugarzinho, o chamado ninho para a gente saber todo dia aonde vai voltar, sabe, aquele negócio do caminho de volta. A casa é um desejo, é o maior desejo do ser humano é ter uma casinha, pelo menos das pessoas mais humildes, das pessoas mais simples. Talvez alguém que ganhe muito dinheiro, pense que pode pagar aluguel. Mas, para as pessoas que trabalham a casa é uma coisa sagrada. Pra mulher, então, é uma coisa sagrada e meia, porque todo desejo da mulher é ter a casinha (...)
Marcos Uchôa — Arrumar do jeito dela?
Presidente Lula — (...) pra cuidar dos seus filhos.
Marcos Uchôa — Vamos falar de uma outra coisa, então, que eu acho que é importante, porque, momento do serviço, gente. É o seguinte: o Ministério da Cultura ele tem, primeiro que é o maior orçamento que o Ministério da Cultura já teve, 3 bi e 800 milhões, mas tem um prazo, gente, no Brasil inteiro que a gente precisa lembrar pros governadores, pros prefeitos, que até dia 11 de julho todo mundo precisa apresentar seus projetos pro ministério pra poder usufruir desse dinheiro. Isso é uma das coisas muito importantes, que é a descentralização, né, não é o Governo Federal dando o dinheiro, mas o município vai decidir seus projetos importantes para suas prefeituras, pra os seus estados fazerem também. Então, 11 de julho é (não falta muito tempo) mas...
Presidente Lula — Uchôa, é o mais... aproveite, prepare seu projeto, mande para o Governo, que você vai receber pela primeira vez um bom dinheiro para a cultura.
Marcos Uchôa — São três semanas aí, gente, vamos correr todo mundo, os prefeitos, governadores, da área de cultura, aproveitando a Margareth Menezes, ministra de Cultura, tá aí empenhada, né, com a Lei Paulo Gustavo, entre tantas coisas aí, democratizar os acessos à cultura. Presidente, vamos falar um pouquinho da viagem pra frente, que a gente tá bem perto, indo pra Roma, encontro com o Papa, com o presidente da Itália, com o prefeito de Roma. Eu queria que você falasse primeiro do encontro com o Papa porque o Papa Francisco, eu estive lá há 10 anos atrás quando ele foi escolhido Papa, e é um Papa maravilhoso, uma pessoa muito preocupada com os pobres do mundo, muito tolerante com todas as religiões e as evoluções do mundo. Como é sua relação com ele, qual é a importância dele pro senhor?
Presidente Lula — Olha, eu estive com o Papa Francisco duas vezes. Eu acho que não dá pra gente julgar se é o melhor Papa, ele, de forma inequívoca, é o Papa mais comprometido com o povo humilde do mundo, é ele. O trabalho de base dele na Argentina, da participação dele no movimento social, que permitiu com que ele fosse assim, sabe, tomasse posse diferente, sem a roupa luxuosa do Papa, morasse em um lugar mais humilde de que onde mora o Papa, e desse muita atenção. Ele, sobretudo, foi muito solidário a mim em todos aqueles meus processos, o Papa foi muito solidário. Eu telefonei pra ele, tomei iniciativa, liguei pro Papa, falei com ele que eu gostaria de ir a Roma fazer uma visita pra ele de agradecimento, inclusive, a tudo que ele fez por mim quando eu estava na Polícia Federal, e pelos atos de solidariedade. Muito, muito interessado em acabar com uma guerra da Ucrânia e da Rússia, eu também quero conversar com ele sobre essa questão da paz, e eu também quero conversar com ele sobre a questão da desigualdade.
Ou seja, quando eu saí da prisão eu fui falar com o Papa que eu queria fazer uma campanha mundial contra a desigualdade, mas quando eu voltei eu fui lá e depois eu fui no Conselho Mundial de Igreja. Quando eu voltei, a pandemia tinha começado e eu fiquei dois anos sem poder fazer as viagens. Eu vou voltar a conversar com o Papa porque eu quero aproveitar o meu mandato de presidente da República para tentar criar uma consciência mundial de que não é explicável que não nos indignarmos contra a fome, contra a falta de comida num planeta que produz mais comida do que consumimos. O problema não é falta de produção, é de falta de distribuição, de falta de dinheiro para comprar o alimento. Então, eu vou discutir isso com ele, sabe, vou discutir outros assuntos que ele quiser discutir.
Marcos Uchôa — O senhor falou em convidar ele pro Círio de Nazaré, será?
Presidente Lula — Eu pensei em convidá-lo. Eu vou tentar convidar ele, ele conhece a festa, sabe da importância da festa, sabe, não sei se um Papa correria o risco de ir numa festa que tem milhões e milhões de pessoas, (...)
Marcos Uchôa — É uma coisa impressionante...
Presidente Lula — (...) mas de qualquer forma seria uma visita extraordinária. Mas, aí precisa acertar com a Igreja Católica Brasileira, mas eu não me negarei de fazer um convite pra ele e de convidá-lo pra vir. Até porque eu vou, é a primeira vez que eu vou no Círio de Nazaré, e a Janja foi e ela achou maravilhosa, e ela me convenceu de que esse ano eu vou visitar o Círio de Nazaré com ela. E vou convidar o Papa. Bom, depois disso eu vou ter um encontro com o presidente da Itália, vou ter reunião com o prefeito de Roma, não sei se vai confirmar o encontro com a primeira-ministra, e depois eu vou pra Paris, onde tem vários encontros com vários presidentes e vai ter um debate que eu vou encerrar esse debate sobre uma nova economia, sabe, para o mundo.
Marcos Uchôa — Basicamente esse encontro tem muito a ver com dinheiro. Que é aquela coisa que o senhor falou dos 100 bilhões que foram prometidos em 2009, que nunca de fato viraram realidade, e em algum momento o mundo mais rico tem que coçar o bolso para ajudar os mais pobres.
Presidente Lula — E depois, Uchôa, eu vou almoçar com o Macron, e eu quero discutir com o Macron a questão do Parlamento Francês que aprovou o endurecimento no acordo Mercosul-União Europeia. Ou seja, a União Europeia não pode tentar ameaçar o Mercosul de punir se o Mercosul não cumprir isso ou aquilo. Ora, se somos parceiros estratégicos você não tem que fazer ameaça, você precisa ajudar. Isso eu vou conversar muito com o presidente da França, e depois disso vai ter uma coisa maravilhosa que eu vou participar de um evento público na frente da Torre Eiffel, convocado pelo pessoal do Coldplay, para fazer um ato público com vários dirigentes políticos, com vários artistas, e eu serei o orador final desse encontro para falar da questão ambiental.
Marcos Uchôa — Esse show vai ser embaixo da Torre Eiffel, no Campo de Mars, que vai se chamar "Power to the People", que Power é poder para o povo, mas Power também tem a ver com energia, tudo tem a ver com o setor de energia, essa transformação do que é energia no mundo para fontes renováveis e fontes mais verdes.
Presidente Lula — E depois eu quero mostrar ao mundo uma coisa engraçada, eu sempre falo: ninguém tem direito de dar palpite ao Brasil sobre energia. Da nossa energia elétrica, 87% da nossa energia é renovável, o mundo tem 27%. Da nossa matriz energética como um todo, envolvendo combustível, 50% da matriz energética brasileira é limpa e renovável. O restante do mundo só tem 15%. Então, pelo amor de Deus, ao invés de criticar o Brasil, se espelhe no Brasil. Porque, agora nós vamos fazer muito mais, nós vamos investir muito, mas muito, em eólica, vamos investir muito em energia solar, vamos continuar investindo em biomassa, e agora vamos investir muito em hidrogênio verde, porque o mundo está necessitando e o Brasil pode produzir para exportar hidrogênio verde pro mundo inteiro.
Então, o país hoje já é o centro do mundo quando se discute a questão da transição energética, de uma nova matriz energética. O Brasil já é o primeiro do mundo. O Brasil não tem ninguém que chegue perto do Brasil. E nós podemos melhorar, e melhorar muito, porque nós temos sol, nós temos terreno, nós temos vento, nós temos, sabe, um monte de coisa pra gente fazer energia da biomassa, e nós temos agora a capacidade para fazer o hidrogênio verde, o que é mais uma coisa importante pro Brasil se distanciar do restante do mundo no que diz respeito a produção de energia.
Marcos Uchôa — É, o combustível para mudar esse mundo é muito comunicação. Convencer as pessoas, mostrar pras pessoas as coisas que precisam mudar, e claro, um encontro com o Papa, um show embaixo da Torre Eiffel pro mundo inteiro ver, tudo isso é muita comunicação. É o presidente Lula Também. Lembrando uma coisinha, tudo tem a ver com pessoas que se conhecem, que conversam e dialogam, e o senhor falou ontem com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é uma pessoa que tem os mesmos pensamentos em relação a questão do meio ambiente. Como foi essa conversa?
Presidente Lula — Eu liguei pro Fernando Henrique Cardoso porque ele estava completando 92 anos de idade.
Marcos Uchôa — Parabéns!
Presidente Lula — E como eu sonho, como eu sonho viver (...)
Marcos Uchôa — Chegar lá.
Presidente Lula — (...) até 120, eu falei eu vou ligar pro Fernando Henrique Cardoso para adquirir um pouco de experiência de como que é chegar a 92. Eu achei ele muito bem, ele tava bom, sorridente, me agradeceu muito pelo telefonema. Eu já tinha encontrado com o Sarney no sábado porque eu convidei Sarney pra ir comigo na inauguração da Ferrovia Norte-Sul, porque o Sarney começou em 87 (...)
Marcos Uchôa — Sarney está com noventa e quantos?
Presidente Lula — Noventa e dois, também. Mas, o Sarney foi quem começou a ferrovia em 87, eu era constituinte, eu era muito crítico ao Sarney; e depois o meu Governo e o da Dilma, nós fizemos 90% dessa ferrovia. O Sarney tinha feito 5 com Fernando Henrique Cardoso e de lá pra cá depois que a Dilma saiu fizeram mais 5. Mas 90% foi feita pelos governos do PT, e a gente pensou: não vou inaugurar sem levar o Sarney e pedir desculpa pra ele até pelas críticas que eu fiz a ele. Mas, lamentavelmente, a gente não pôde porque estava fechado o aeroporto em Rio Verde, e a gente não pôde descer, mas vamos marcar uma outra data.
E eu penso que nós estamos vivendo num mundo, Uchôa, que toda vez que a gente puder transparecer na nossa atitude fraternidade, amor, bondade, solidariedade, nós temos que fazer; porque precisa acabar esse clima de ódio que foi criado no mundo e dentro do mundo, no Brasil.
Marcos Uchôa — O adversário não é inimigo, né?
Presidente Lula — A gente não estava acostumado a isso, a gente disputava eleição, perdia, ganhava e a vida continuava. Mas agora não. Agora os fascistas, já está provado que eles tentaram dar um golpe e coordenado pelo ex-presidente que agora tenta negar. Mas quando ele perdeu as eleições, ele se trancou dentro de casa para ficar preparando o golpe. Sabe, eu acho que nós vamos apurar isso com muita tranquilidade, todo mundo terá a chance de se defender, todo mundo terá chance de se defender. Então, eu quero que as pessoas fiquem tranquilas que nós vamos investigar. Quem tiver culpa no cartório vai pagar, vai ser julgado pela justiça comum e irá pra cadeia se tiver cometido crime, senão as pessoas voltam a viver sua vida com tranquilidade. Mas nós não vamos aturar as pessoas que tentaram dar golpe, destruir a democracia do nosso país.
Marcos Uchôa — E vamos tentar recuperar essa boa convivência que o senhor tem com o Fernando Henrique Cardoso, com o Sarney, que é o normal da política.
Presidente Lula — Eu conversava com Sarney, conversava com o Itamar, conversava com o Collor, sabe. Agora, você tem um cidadão que não conversa com ninguém, que não quer conversar, só quer transmitir mentira, fake news, que só quer falar bobagem e agressão contra os outros. Isso tem que acabar. Esse país precisa voltar a gostar da paz, esse país tem que voltar a ser um país alegre, e o povo brasileiro tem que voltar a ter esperança. Você tá lembrado que durante a campanha eu falava: nós vamos abrasileirar o preço dos combustíveis porque não tem explicação o Brasil ter preço internacional. Começou a acontecer. Vai acontecer no combustível, vai acontecer no gás, e vai acontecer em muitas outras coisas aqui nesse Brasil. Os alimentos estão baixando, a carne baixou (...)
Marcos Uchôa — A inflação baixou.
Presidente Lula — (...) já baixou 27% em alguns lugares a carne; o arroz baixou, o óleo de soja baixou, as coisas estão baixando e precisam baixar muito mais. A inflação está baixando, o dólar tá caindo, sabe, apenas os juros precisam baixar, porque também não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque já sei porque que ele não baixa, mas explicar ao povo brasileiro e ao Senado, que o elegeu, porque ele mantém as taxas de juros de 13,75 num país que está com inflação anual de 5%.
Marcos Uchôa — Muita coisa vai acontecer aqui em Brasília enquanto você estiver viajando. Então, uma ótima viagem, bom encontro com o Papa, bom encontro lá em Paris também, bom show. E a gente se vê. Lembrando, pessoal, semana que vem, terça-feira, se Deus quiser, o dia normal da nossa conversa com o presidente será sempre às terças-feiras. Mas é claro, a vida do presidente Lula não para e do Governo também não.
Presidente Lula — O problema, Uchôa, é que as pessoas que fazem a minha agenda, se você pegar minha agenda de viagem não sobra um dia pra jantar, sabe, em algum lugar tranquilo. Não sobra um dia para almoçar, é tudo agenda, agenda, agenda. Me parece que as pessoas acham que eu não mereço um descanso.
Marcos Uchôa — E precisa, pra chegar aos 92 tem que (...)
Presidente Lula — É preciso pra chegar até 120 anos, você tem que ter um descanso.
Marcos Uchôa — 120 anos, você é ambicioso
Presidente Lula — Mas o ser humano que vai viver 120 anos já nasceu. E por que não pode ser eu?
Marcos Uchôa — Ahh, tem que ter ambição, né?
Presidente Lula — Se eu tenho sorte, então quem sabe eu tenha sido escolhido, muito escolhido.
Marcos Uchôa — Tá legal, presidente. Muito obrigado pelo papo.
Presidente Lula — Um abraço querido, um abraço
Marcos Uchôa — Até terça-feira que vem.
Presidente Lula — Não sei se você percebeu que o Stuckert está preocupado com o barulho de avião. Obviamente, que a gente não pode mandar o avião desligar o motor, porque senão ele cai. Então Stuckert, paciência. Aqui, passarinho, passarinho e avião têm muito. Então, toda vez que vier gravar um programa aqui a gente tem que tá tranquilo com a natureza. Olha o passarinho cantando, que coisa bonita! Ó ! Sabe. Aonde que você vê isso numa gravação do meu adversário, nas lives dele?
Marcos Uchôa — Natureza, né?
Presidente Lula — Lá é só ódio, aqui não. A aqui é beleza, aqui é natureza, aqui é tranquilidade e passividade. É isso que nós queremos pro Brasil.
Até a próxima terça-feira se Deus quiser.