Conversa com o Presidente - Live do dia 1º.ago.23
TRANSMISSÃO | Conversa com o Presidente #8
Jornalista Marcos Uchôa — Bom dia a todo mundo. Mais uma Conversa com o Presidente e uma semana muito gostosa, muito boa, né? A gente…, números muito bons porque quando a gente fala com o cidadão médio, né? O cidadão se preocupa muito com o quê? A grana no bolso, com a coisa um pouco mais confortável, com a economia indo bem, porque isso se reflete na vida cotidiana, na vida, uma certa tranquilidade, uma certa calma, né? E a Fundação Getúlio Vargas lançou aqueles, soltou agora, recentemente, dois índices muito interessantes. Um era o Índice de Confiança do Consumidor e outro Índice de Satisfação sobre a Situação da Economia. Os dois índices melhoraram muito, presidente. Muito. Um, mais dois pontos e meio, quer dizer o melhor desde janeiro de 2019. O outro é o melhor desde outubro de 2014. Quer dizer, as pessoas estão com mais confiança e as pessoas estão com mais satisfação em relação à economia. E o senhor, confiança e satisfação?
Presidente Lula — Ó minha cara. Eu tô, eu tô, eu tô com muita confiança, Uchôa, porque quando a gente acredita naquilo que a gente faz e quando a gente tem ideia, sabe, bastante firme daquilo que vai acontecer no final. Eu sou um cara otimista – porque eu lembro que, em 2009, quando o pessoal da ONU fez pesquisa sobre o povo que tinha mais confiança, era o povo brasileiro que mais confiava no futuro do seu país. Era o povo mais animado, mais com perspectiva no futuro – e eu acho que quando o povo percebe que a economia está funcionando, os empregos começam a aparecer, o salário começa a aumentar, a inflação começa a cair, as pessoas começam a perceber que as coisas estão melhorando pra ele, individualmente, e ao mesmo tempo ele percebe que se está melhorando pra ele, está melhorando pro seu vizinho. E aí as coisas começam a ficar melhor, as pessoas começam a falar, a se cumprimentarem, a falar bom dia.
Marcos Uchôa — É o otimismo. Ele, ele fica mais simpático, né?
Presidente Lula — A falar bom dia no elevador. As pessoas não entram no elevador mais azedas, com aquela cara emburrada, as pessoas falam um “bom dia. “Foi na feira hoje? "Você viu o preço da carne? Você viu o preço da verdura?". E assim que a gente vai construir este país mais democrático, mais inclusivo, muito mais participativo. Eu tô, eu tô feliz e vou te dizer uma coisa, Uchôa: as pessoas vão se surpreender com o Brasil. O FMI, ele vai errar todas, todas as afirmações do FMI sobre PIB não vai dar certo. Porque o Brasil vai crescer, e vai crescer de forma sólida, vai crescer de forma confiável. E mais importante do que só crescer, nós vamos fazer uma coisa de crescimento distributivo, vai crescendo e vai distribuindo, vai crescendo e vai distribuindo, para que a vida das pessoas cresça de acordo com o crescimento do país. É isso que interessa ao povo brasileiro e é isso que vai acontecer. E não é um milagre não. É determinação de que as coisas começam a circular no meio do povo. Quando o dinheiro começa a rodar no meio do povo, quando as pessoas começam a ter um trocadinho no bolso, quando as pessoas... Você veja um negócio: nós já temos quase 80% das categorias organizadas que fizeram o acordo acima da inflação. No tempo anterior era 75 abaixo da inflação. Significa que é um pouquinho mais de dinheiro na mão das pessoas e isso vai acontecer sem muita pressa. Não sei se você tá lembrado, eu sempre uso exemplo da, do pé de jabuticaba. Quando você planta uma jabuticaba, não adianta você ficar embaixo, querendo que o fruto aconteça no dia seguinte. Não. Você tem que regar, tem que colocar fertilizante e quando passar um certo tempo você vai colher a jabuticaba. Nós vamos colher muita coisa nesse país porque nós plantamos corretamente, estamos adubando corretamente e o dinheiro vai circular na mão de milhões e milhões de brasileiros.
Marcos Uchôa — É. E os números não são simplesmente opiniões de instituições aqui no Brasil, né? Porque o FMI fez também um, divulgou também um número de que o crescimento de 30 países, o principal que iria crescer mais era o Brasil: 2,1. Os Estados Unidos eram 1,8, e a gente crescendo muito. A agência Fitch também melhorou o rating do Brasil. Quer dizer, são coisas lá de fora, julgando o que tá acontecendo aqui. O que mostra que mesmo esse olhar, ainda que o senhor seja mais otimista do que eles, mas isso lá de fora também é importante para investidores, etc e tal.
Presidente Lula — Eu sou mais otimista. Eu estava em Hiroshima, e nós fomos no jantar oferecido pelo primeiro-ministro japonês, e lá eu encontrei com a diretora-geral do FMI. E eu falei pra ela: "você vai se surpreender com o Brasil. É bom vocês não ficarem citando números do Brasil porque vocês vão se surpreender. O Brasil vai crescer mais do que a previsão do FMI". E isso vai acontecer. E, e tem gente que fala que: “O Lula tem sorte”. “Porque Lula tem sorte”. “Porque não sei das quantas.” Então, gente, se é por causa de sorte, me elejam sempre porque esse país precisa de sorte. Quem é que quer um goleiro que não tenha sorte? Quem quer um centroavante que não tenha sorte? Não. Todo mundo tem que ter sorte. E quem tem sorte é o povo brasileiro de ter escolhido certo: a democracia para governar esse país. Porque, pra mim, a inclusão social é a mola mestra, é a coisa crucial para o desenvolvimento do Brasil. Eu vou repetir uma frase pra você nunca mais esquecer: muito dinheiro na mão de poucos, como era antes, é concentração de riqueza; pouco dinheiro na mão de muitos, é distribuição de riqueza. Quando todos tiverem um pouquinho, a gente vai perceber que a coisa vai melhorar. Eu não vou falar "tiquinho" porque Tiquinho é o centroavante do Botafogo, que é o artilheiro.
Marcos Uchôa — Que tá com muita sorte.
Presidente Lula — Eu não vou falar. Ele tá com muita sorte, qualquer chute que ele dá entra no gol. Então, eu acho que é isso, Uchôa. Eu acho que nós estamos passando por um momento de autoestima recuperada, a gente percebe que o povo está recuperado a autoestima. Eu fui a uma festa no Sindicato dos Metalúrgicos, sabe, uns dez dias atrás. O ânimo do povo, a crença do povo, o otimismo do povo é muito grande, sabe. Nós estamos acabando com aquele baixo astral, aquela coisa azeda, que ninguém gosta de ninguém, ninguém ri, ninguém…sabe, isso tem que acabar, gente. Tem que acabar. Você por acaso algum dia brigou com seus parentes, você brigou com o pai, o pai brigou com você, você brigou com a sua tia, sua tia. Recupera a amizade, vá lá abraça, e fala "ô gente, vamos junto, tamo junto, porque o Brasil vai dar certo". É esse país que nós queremos. O país do ódio, o país do horror, o país da mentira acabou. E acabou de verdade porque o povo brasileiro quer que acabe, apenas alguns querem continuar, que continue, mas vão quebrar a cara porque o povo brasileiro tá cansado. Ele tá cansado de tanta mentira, de tanto engodo, de tanto ódio, de tanta brutalidade, de tanta ofensa. A gente quer apenas isso: trabalhar, viver decentemente com a nossa família e cuidar do futuro dos nossos filhos. É isso que a gente quer.
Marcos Uchôa — Esse, esse, essa, esse espírito que você tá falando, de certa maneira tem a ver e tem tudo a ver com política. Você acha que também a relação com o Congresso, a relação com os partidos também tá indo nessa direção? Quais são os próximos passos aí que você tá tentando fazer, conversar com o pessoal dos Republicanos, do PP. Talvez muitos políticos também queiram distender um pouquinho, acalmar um pouco os espíritos e fazer as coisas que o Brasil precisa?
Presidente Lula — Ô, Uchôa, você é um dos jornalistas mais experientes desse país, mais extraordinário. Eu gostava muito de você, sabe, quando eu via você entrevistando alguém, falando de esportes. E você sabe que, às vezes, a imprensa contribui pro bem ou contribui pro mal. No caso da Lava Jato, apenas voltar nesse assunto, como um grande setor da imprensa se deixou enganar pelo Moro [Sergio Moro, ex-coordenador da Operação Lava Jato ] e pelo Ministério Público, eles não têm coragem de reconhecer que se enganaram. Então eles vão continuar contando a mesma história, com a maior desfaçatez do mundo. Não tem problema. Mas eu vejo o noticiário todo dia, e eu vejo que as pessoas falam que eu fiz o que eu não fiz. Às vezes, as pessoas inventam conversa que não teve. E quando a pessoa não tem o que falar, a pessoa fala: "segundo fontes, segundo uma pessoa, sabe, ao redor do Lula". Ora, se não tem informação, diga que não tem informação. A minha relação com o Congresso é a melhor possível. E eu não vou fazer, simplesmente, a política de é dando que se recebe, como alguns pensam. Eu vou fazer um acordo político de governabilidade pra esse país. Eu tenho que governar este país até dia 31 de dezembro de 2026. Eu quero entregar esse país pronto, esse país crescendo, o povo feliz, o povo ganhando mais, o povo mais, mais, mais, mais otimista do que nunca. E eu tenho que compor as forças políticas que vote as coisas que nós queremos mandar pro Congresso, sabe, de interesse do Brasil. E eu não posso fazer relação com os democratas americanos, com os sociais democratas alemão, eu tenho que fazer com o Brasil. Então, eu vou conversar com os partidos. E também eu não converso com o Centrão. O Centrão pra mim é uma construção, sabe, teórica. O que existe são os partidos políticos.
Marcos Uchôa — Pessoas e partidos…
Presidente Lula — E eu vou conversar com os partidos, vou conversar com os presidentes dos partidos. E vou tentar compor para que tenha tranquilidade nesse país. Eu estou convencido pelas conversas que eu tenho tido – inclusive com o presidente Lira [Arthur] e com o presidente Pacheco [Rodrigo], do Senado e da Câmara – que as coisas vão ser votadas naturalmente, de acordo com o tempo do Congresso Nacional. Não é de acordo com o meu tempo, é de acordo com o tempo dele. E a gente vai construir aquilo que o povo brasileiro precisa. Não é o Lula que precisa, não é o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] que precisa. O que nós estamos propondo são coisas que interessam ao povo brasileiro, ao povo que votou no PT, ao povo que votou contra o PT, ao povo que votou no fulano e que votou no beltrano. É o povo brasileiro que tá em conta e é por isso que nós vamos fazer as coisas corretas e por isso eu tenho certeza que o Congresso Nacional vai aprovar as coisas que nós mandarmos pra lá, dentro daquilo que eles compreendem que seja certo ou errado. Não é o que nós mandamos que é sempre certo. A gente manda pra discutir e na discussão a gente encontra um denominador comum que atenda aos interesses desse país.
Marcos Uchôa — O Congresso está voltando de recesso agora, né? Você tem os próximos passos? Assim, porque não tem uma data fixa de quando você quer realmente esse acordo, de certa maneira. Quais são os próximos passos?
Presidente Lula — Bem, veja. Eu tenho consciência que eu tenho que, agora que voltaram de férias, chamar os partidos outra vez para conversar e tentar estabelecer uma definição daquilo que eu quero propor aos partidos. É importante sanar que no acordo político no regime presidencialista é o presidente que propõe, não é o presidente que recebe a proposta. Então eu vou ver, vou conversar com os partidos e aí eu vou fazer as mudanças que eu tenho que fazer. As pessoas já estão preocupadas com a sucessão do Procurador-Geral da República, já estão preocupados com outro membro da Suprema Corte. Essa é uma coisa que é uma naturalidade. Ninguém nesse país, ninguém tem mais experiência de escolher procurador do que eu, que já escolhi três. Então, eu vou escolher no momento certo, na hora certa, vou conversar com muita gente, vou ouvir muita gente, sabe, vou atrás de informações de pessoas que eu penso, vou discutir se é homem, se é mulher, se é negro, se é branco. Tudo isso é um problema meu, que está dentro da minha cabeça, e quando eu tiver um nome, eu indico. É simples assim. Sem ficar aquela aposta "vai escolher amanhã, vai escolher depois, é fulano, é beltrano, ciclano". Ninguém tem que ficar tentando adivinhar. Eu vou escolher a pessoa que eu achar que é a melhor para os interesses do Brasil. Se der errado, paciência. Mas eu vou tentar escolher o melhor. E quero conversar com muita gente, ouvir muita gente, porque eu acho que as pessoas precisam aprender a fazer bem pra esse país. A gente não pode deixar de falar o seguinte: eu sempre fui uma pessoa, Uchôa, eu sempre tive o mais profundo respeito pelo Ministério Público, é uma das instituições que eu idolatrava nesse país. Depois dessa quadrilha que o Dallagnol [Deltan, ex-procurador da República] montou, eu perdi muita confiança. Eu perdi porque é um bando de aloprados, ou seja, que acharam que poderiam tomar o poder, sabe, atacando todo mundo ao mesmo tempo, atacando o Governo, atacando o poder Executivo, atacando o Legislativo, atacando a Suprema Corte, atacando todo mundo. Eles fizeram a sociedade brasileira refém durante muito tempo. Então, obviamente que eu vou escolher com mais critério, com mais pente fino para não cometer um erro. Eu não quero escolher alguém que seja amigo do Lula. Eu quero escolher alguém que seja amigo desse país. Alguém que goste do Brasil, alguém que não faça denúncia falsa, alguém que não levante falso sobre o outro. Porque quem denuncia uma denúncia falsa e depois não prova, deveria pagar as custas do processo, porque assim a gente consegue fazer as pessoas serem mais honestas e decentes nas suas decisões.
Marcos Uchôa — A gente viu recentemente, não só aqui como você tá citando Lava Jato em diante, a maneira como foi feita, mas em outros países também, o uso, o abuso da Lei dentro do aparelho do judiciário pra perseguir, pra atacar pessoas com esse verniz da Lei por trás e de Justiça, quando na verdade era uma decisão política?
Presidente Lula — Eu acho, eu acho que é mais grave do que a própria Lei foi o fato de que a sociedade brasileira, ou uma grande parcela dela, foi cooptada pela mentira. Se estabeleceu uma espécie de pacto que convenceu, sabe. As quadrilhas, seja o Ministério Público, seja o juiz Moro, eles convenceram a sociedade de que tal coisa era verdade e a sociedade embarcou através do meio de comunicação.
Era uma coisa unânime, ou seja, você não tinha pessoas que tinham coragem de resistir, tinham pessoas que eram tão importantes nesse país e viraram pó. Muitas empresas importantes se destruiu. Ou seja, você poderia punir a empresa ou o diretor da empresa, mas não punir a empresa. Você causar quase quatro milhões de desempregos nesse país, você quase que aniquilar a indústria de engenharia desse país, a indústria de óleo e gás, em benefício de quem? Não foi do povo brasileiro, não foi do povo. O resultado disso foi o maluco beleza que governou esse país durante quatro anos. O resultado disso foi o fascismo nesse país. Então, é importante dizer isso porque é preciso recuperar a democracia. A democracia é a coisa mais importante na história, sabe, da humanidade. Porque a democracia, ela pressupõe que você tem direito de fazer o debate, você tem direito de informação, direito de opinião, e aí vai ter uma decisão. Na hora que tiver a decisão, todos acatam aquela decisão que foi votada pela maioria. É assim. Eu digo sempre, a gente quando quiser comparar a democracia, você tá em casa assistindo a gente, você fala "mas eu não entendo esse negócio de democracia". Democracia é o que acontece na sua casa. Quando você casa e você tem filhos, você começa a exercitar a democracia. Você tem que fazer concessão pra sua mulher todo dia e ela tem que fazer concessão pra você, você tem que fazer pros seus filhos, ele tem que fazer pra você, porque se não houver cumplicidade a família se destrói. A democracia é isso. Se não houver respeito às instituições, se não houver concessões entre as partes que governam o país, entre estados, municípios e o governo, o país se autodestrói. Então é importante apenas ter em conta: a democracia é extremamente importante porque nela a sociedade pode participar. Nela a sociedade pode falar mal. Nela sociedade pode dar a sua opinião, coisa que no regime autoritário ela não pode dar.
Marcos Uchôa — O senhor falou sobre as empresas, e a questão do desemprego, né? Também é outra boa notícia, caiu 0,8%. Estamos em 8%. Um milhão e 400 mil pessoas se empregaram nesse período, neste último trimestre. Quer dizer. E é uma preocupação, acho que talvez a maior preocupação sua, né? As pessoas trabalhando, né?
Presidente Lula — Uchôa, é porque pra mim o emprego é a coisa mais extraordinária que pode acontecer na vida de um ser humano. O fato de você ter um emprego, você ir dormir toda noite com a certeza que você está trabalhando, que você vai passar o dia trabalhando e que no final do mês você vai receber um salário que vai permitir que você cuide da sua família, é a coisa mais sagrada. Ninguém quer viver de favor, as pessoas querem viver do seu salário. Por isso que o emprego é uma obsessão pra mim. O emprego é uma obsessão porque eu sei o que que é emprego. Já fiquei uma vez um ano e meio parado, saí todo dia de manhã, cinco horas, pra procurar emprego, voltava de tarde cansado, sem o emprego. Então, o emprego é uma coisa muito importante e eu quero te dizer que é a minha obsessão. A minha obsessão é garantir que todo mundo tenha o direito de trabalhar. Como é gostoso a gente levantar de manhã sabendo que a gente tem emprego, é muito bom, é uma coisa extraordinária, e é por isso que eu tô feliz com esse número. Ainda é alto, ainda é alto, mas a gente vai reduzir, vai gerar mais emprego, vai gerar mais salário, vai gerar mais emprego e assim o país vai voltar a sorrir.
Marcos Uchôa — Um setor que é muito rápido, porque uma das preocupações do senhor é a industrialização, né? A gente voltar a criar indústria, criar emprego. Um setor que traz empregos muito rápido é o turismo e o turismo tá com números muito bons. A gente tá, rendeu o turismo internacional, que veio pro Brasil, R$ 15 bilhões nesse primeiro semestre. Números de antes de 2019, a recuperação foi muito boa. Claro que você trocou o ministro agora, mas eu tô falando em relação à Embratur, o trabalho do Marcelo Freixo. A coisa tá indo muito bem e é um emprego muito rápido, né. Você tem um restaurante, tem muito freguês, você tem que contratar alguém para garçom, mais gente na cozinha. O turismo é uma preocupação também do senhor de tentar transformar o Brasil, porque lá atrás, Copa do Mundo, Olimpíada, que foram eventos que foram conseguidos no seu governo, alavancou de certa maneira a imagem do Brasil, mas a gente não colheu tanto, né?
Presidente Lula — Deixa eu te falar uma coisa. O Brasil, quando nós criamos o Ministério do Turismo, que foi o companheiro Walfrido dos Mares Guia, foi o primeiro ministro, foi uma coisa muito importante porque nós construímos um Plano Nacional do Turismo, que está sendo recuperado agora o novo plano pelo nosso ministro. Ora, o que acontece de fato é o seguinte: nós temos um grande turismo interno quando a economia tá bem, sabe. É muito gaúcho, é muito catarinense, é muito paulista viajando pro Nordeste, é muito nordestino viajando pro Sul, é muita gente viajando pro Norte, é muita gente do Norte viajando pra cá. Existe um turismo interno muito grande. O que nós precisamos é discutir como baratear o preço da passagem de avião pro povo viajar, porque está muito caro pra viajar. Às vezes, pra ir daqui de Brasília até São Paulo é mais caro do que daqui pra Miami. Não é possível. Então nós precisamos encontrar uma saída para reduzir os preços da passagem. A segunda coisa pra gente atrair turistas de fora é a gente fazer divulgação do Brasil lá fora, sabe. É preciso fazer propaganda das coisas bonitas, das coisas boas que o Brasil tem. Eu, uma vez tava em Johanesburgo, estava assistindo um canal de televisão do Brasil - não vou dizer qual -, e tava passando um programa que só tinha morte, era bandido matando bandido. Quem é que vai? Se o cara tá com a malinha pronta e vai, tá convencendo a noiva "nós vamos casar, meu amor e vamos passar a lua de mel no Brasil" e ele vê um programa desse, ele corre pra outro lugar. Então, eu fico. As coisas ruins são verdade, elas acontecem também. Mas é importante se a gente quiser atrair turismo, a gente não vai atrair dizendo que tem violência, que tem muito isso, que tem muito aquilo. Você vai atrair dizendo que tem coisas boas para a pessoa visitar aqui, que esse país tem democracia, que esse país tem uma culinária extraordinária, esse país tem uma cultura extraordinária, esse país tem música excepcional, esse país tem museu, tem floresta, tem praia de monte. Nós temos que dizer isso pra convencer as pessoas a virem pra cá. E que há infraestrutura, sabe. Nós vamos tentar estabelecer uma política de melhorar a infraestrutura do turismo, tanto interno quanto externo, pra convencer o pessoal vir para cá. Veja, a pessoa que vem para cá, muitas vezes, ele sai de Lisboa ou sai de qualquer outro estado, ele vem para São Paulo pra depois voltar pro restante do país. Não. É preciso que a gente tenha lugar para essas pessoas pararem. Quem quiser ir pra Amazônia vai direto para a Amazônia e fica na Amazônia. Quem quiser vir pro Rio, vem direto pro Rio. Não tem sentido o cara ir a São Paulo para depois voltar para Manaus. O cara ir pra São Paulo para depois voltar pra Belém. Não tem sentido. Então, nós precisamos ter em conta o seguinte: uma parte do sucesso do turismo depende da nossa responsabilidade enquanto Governo, enquanto empresários do setor. É feita uma, uma rede hoteleira de qualidade, é preciso melhorar aquilo que for possível.
Marcos Uchôa — A formação das pessoas.
Presidente Lula — É porque o cara que faz turismo, ele quer um pouco de conforto. Você vê ele andando assim no avião de bermuda, todo cheio de mochila, mas ele não é um Zé Ninguém. Ele quer ser tratado com respeito, ele quer ter um lugar para dormir decente, ele quer ter uma comida decente. Ô, Uchôa, é que as pessoas não sabem a riqueza da culinária desse país. Se você for ao estado como o Pará, a riqueza culinária do Pará é de uma exuberância. Pega Minas Gerais, pega a culinária de Minas Gerais, pega a culinária da Bahia. São estados que dão o exemplo ao mundo da diversidade, sabe, da qualidade da comida, da gostosura da comida. Eu, eu se pudesse um dia, eu esperava todo cara que desce no aeroporto dava um torresminho. Sabe aquele torresmo de barriga, aquele que tem um pouquinho de carne. Então eu daria pro cara nunca mais querer sair do Brasil.
Marcos Uchôa — Você quando viaja pelo Brasil, podendo, gosta de comer a comida local?
Presidente Lula — Sempre a comida local. É veja, porque quando você viaja, você experimenta a comida local, senão você não conhece o país. Senão você não conhece o país. Sabe, mesmo fora eu gosto de comer e experimentar o que que tem de especial em cada país. Já fui em restaurante popular na China, quando eu não era presidente. Você come muita coisa que você jamais imaginou comer. Eu fui ao México, eu comi grilo. Grilo frito. Eu jamais imaginei que tinha. Aí, de repente, o cara serve um pratinho com um monte de coisa lá, crocante, não tava vivo, não estava cantando. Eu jamais imaginei que alguém pudesse comer grilo. É como muita gente acha que como é que você vai comer formiga, comer tanajura. Se você for pro Nordeste brasileiro, o lugar que eu mais tenho lembrança é de Campina Grande e João Pessoa, você vai encontrar gente vendendo saquinho de tanajura como se fosse pipoca. Aí você come aquilo. Um, um paulista, um gaúcho, sabe, talvez tenha nojo daquilo. Mas nós...
Marcos Uchôa — Sim, mas quem prova o gosto é bom.
Presidente Lula — Uma vez, uma vez eu no avião eu comprei tripa de porco. Tem gente que, que não gosta. Ninguém sabia. Tinha um monte de gente no avião. A tripa de porco é extraordinária de você comer. Extraordinária. Quando ela tá fritinha, você passa na farinha e come. Mas aí eu dei pra todo mundo, todo mundo gostou. Quando eu falei que era tripa de porco todo mundo achou horroroso comer a tripa de porco. mas, então, o Brasil é isso. O Brasil é muito diverso. As pessoas precisam conhecer o Brasil. Eu, eu acho que aqui internamente, eu falei com o ministro, ele vai apresentar um programa, ele vai tomar posse ainda oficialmente agora, e o que eu quero é que a gente apresente um programa para facilitar a viagem de aposentado, a viagem de trabalhadores, a viagem de empregada doméstica. Nós temos que baratear pras pessoas poderem viajar, porque é isso que dá uma dimensão, sabe, de soberania, de nação para ao nosso povo. É conhecer o nosso país.
Marcos Uchôa — E os números já melhoraram, até esse número, por exemplo, de 43 milhões de pessoas aqui no Brasil viajaram no primeiro semestre. Quinze por cento a mais do que no ano passado. Junho também foi extraordinário, foi um mês muito bom. Quer dizer, ainda com preços ainda altos as pessoas estão voltando a viajar e conhecer o Brasil.
Presidente Lula — Todo mundo gosta de viajar, Uchôa. Todo mundo gosta. Se todo mundo pudesse. O Stuquinha [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Secom], por exemplo, você conhece o Stuquinha? O Stuquinha trabalha comigo. Se ele puder, todo sábado ele vai, todo sábado ele vai aí ver a lua. Ele gosta de ver estrela. Ele gosta de ficar fotografando estrela. Aonde tiver uma estrela ele para. Tem hora que até quase ele manda parar o avião pra ele fotografar estrela. Mas, então, nós vamos fazer do turismo, eu diria, uma, uma experiência aprimorada daquilo que nós já fizemos.
Motivar muito o turismo interno e nós precisamos brigar muito. Eu brigo com o Pimenta [Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], não sei se você sabe, muito, porque eu acho que um país do tamanho do Brasil tem que ter uma TV internacional. Não é possível que a gente viaje o mundo, você não vê uma notícia do Brasil. Se você quiser ver uma notícia do Brasil você vê pela Telesur, que é o canal da Venezuela. E um país do tamanho do Brasil, que poderia mostrar a nossa diversidade, o que é o Pantanal, o que é…
Marcos Uchôa — As praias do Nordeste, Foz do Iguaçu, Amazônia, meu Deus, Rio de Janeiro.
Presidente Lula — …As praias do Nordeste. Pode mostrar tudo que você quiser. Então porque a gente não tem um canal. Eu já tentei da outra vez.
Marcos Uchôa — A gente vai fazer, a gente vai fazer…
Presidente Lula — Não deu certo. Eu até tentei fazer um convênio com Portugal. Utilizar a TV portuguesa para a gente ter uma sociedade nela. Não andou. Mas eu acho que agora o companheiro Pimenta vai fazer um esforço especial e se Deus quiser a gente vai ter. É pra mostrar a cara do Brasil lá fora. Não é pra mostrar debate político, não é pra mostrar o governo, não é para mostrar o Congresso. É para mostrar simplesmente o Brasil. Só isso. Mostra o Brasil como ele é, despido, pras pessoas saberem o que significa os Lençóis Maranhenses, o que significa o Delta do Parnaíba.
Marcos Uchôa — É muita coisa, né?
Presidente Lula — Então, tem coisas maravilhosas. Mesmo na cidade o que significa também a gastronomia em São Paulo, diversidade. Porque São Paulo não tem uma comida Paulista muito forte, é só o tutu.
Marcos Uchôa — Tem do Brasil inteiro, do mundo inteiro, na verdade. São Paulo você come comida do mundo inteiro em São Paulo.
Presidente Lula — Do mundo inteiro, do mundo inteiro. Nós temos o Virado à Paulista, mas o problema de São Paulo é que São Paulo tem comida do mundo inteiro. Se você quiser comer chinês, se você quiser comer francês, se quiser comer, sabe, indiana, se você quiser comer do Afeganistão, você encontra em São Paulo.
Então, as pessoas precisam conhecer a atividade cultural de São Paulo porque é uma coisa que muita gente não conhece. Então, eu acho que o Brasil precisa se mostrar ao mundo. O Brasil não é truculento. O Brasil é feliz, o Brasil é alegre, o Brasil é o único país do mundo que o povo conta piadas sobre a sua própria desgraça. O único país do mundo que o cara faz samba do seu sofrimento, gente. É extraordinário. E só nós que não valorizamos isso. Só nós que nós achamos pequeno. Então, eu tô assim. Eu tô, eu tô vivendo essa fase extraordinária. Eu adoro quando eu vejo na televisão alguém falar: "O Lula tem sorte". Então é o seguinte: eu tenho muita sorte mesmo, tenho muita sorte e mais sorte vai ter o Brasil de ter um cara com sorte governando esse país, sabe. Quem quiser é urucubuca, quem quiser urucubaca, quem quiser não é com Lula. Agora se a pessoa quiser otimismo, se a pessoa quiser acreditar.
Ontem, cara, ontem eu recebi a meninada premiada com a medalha de ouro. Teve um que foi o campeão de matemática internacional, cara. Você sabe o que nós vamos fazer? Nós vamos ao Rio de Janeiro anunciar uma faculdade de matemática. Pegar esses gênios que passaram nas Olimpíadas e deixar eles numa faculdade só para aprender matemática. Pegar esses gênios e dar a eles a oportunidade de virarem gênios de verdade, mais ainda, mais ainda. Nós estamos com muitos planos, Uchôa, estamos com muitos planos. As pessoas vão perceber o que vai acontecer nesse país. Esse país, ele vai dar uma guinada. Eu quero que esse país volte, volte a brincar, volte a sorrir. As pessoas não têm que brigar no trânsito. Você saiu no trânsito tem, sabe, um congestionamento, você já fica xingando o cara que tá na frente. Ora, você tem que ter paciência, cara, relaxe, relaxe, sabe.
Marcos Uchôa — Presidente, a gente tá tendo o privilégio dessa conversa já há algumas semanas já, mas a gente teve uma ideia de trazer mais gente pra essa conversa, né? Porque tem gente pelo Brasil, às vezes eu estou viajando, pelo aeroporto e as pessoas falam "ah, poxa, eu gostaria de perguntar uma coisa pro presidente, gostaria de falar uma coisinha com ele". E a gente, realmente, vamos abrir pra todo mundo também poder participar de vários lugares do Brasil. A gente tem uma pergunta hoje, foi a primeira vez, e a gente pretende fazer em outros programas também e ter uma pessoa perguntando pro senhor diretamente um assunto. A gente vai ver daqui a pouquinho. Vamos ver?
Renilde Dias — Eu queria saber sobre as escolas, aquelas do tempo integral. Se elas vão continuar ou se vai ampliar mais escolas pra nossas crianças, tá? Eu tenho três filhos e eu preciso sim das escolas em tempo integral, tá bom? Obrigada. Espero que o Lula esteja respondendo mesmo a minha pergunta.
Presidente Lula — Olha, é assim, é assim que deve ser o povo. Olha a cara, olha a alegria. Eu não sei se a companheira assistiu ontem, mas ontem nós fizemos o lançamento da Escola em Tempo Integral. Nós vamos investir R$ 4 bilhões nesse momento, vamos tentar fazer com que 25% das escolas sejam, sabe, de tempo integral. Vamos fazer parceria com os governadores e com os prefeitos porque se a criança ficar o tempo inteiro dentro da escola, ela não só vai aprender as matérias, sabe, mas ela vai também praticar esporte, ela vai ter acesso à cultura, vai ter acesso a prática de esporte, a nadar, alguma coisa. Precisamos criar condições das crianças irem pra escola de forma prazerosa. Eu não sei se você quando era criança, se você ia pra escola de boa vontade ou de má vontade. Porque uma criança sai para a escola, chega na escola, tranca-se numa sala, fica o tempo inteiro, não tem sentido. Então, é preciso que a criança levante de manhã e fale "mãe, pai, eu quero ir pra escola, eu quero ir pra escola".
Você sabe que quando nós criamos as Olimpíadas da Matemática uma grande novidade é que a molecada queria ir pra escola de domingo para aprender matemática, porque a gente tinha dado computador pras crianças. O que essa menina, essa moça tá falando, é essa cara que a gente quer pro povo brasileiro. É que as coisas aconteçam de acordo com as necessidades da sociedade. A escola de tempo integral é uma realidade, é uma realidade. Ela pode ter certeza que ela veio pra ficar e nós vamos fazer muitas, mas muitas escolas nesses próximos três anos, inaugurar escola de tempo integral, algumas escolas terão que ser reformuladas, outras terão que ser totalmente mudadas porque nós queremos que a escola seja um encontro com a felicidade para uma criança.
Marcos Uchôa — E uma tranquilidade para os pais, para a mãe e para o pai que podem trabalhar também sabendo que o filho tá lá na escola, tá aprendendo, se divertindo com os amigos, tá com as professoras. A valorização dos professores é muito importante também, né?
Presidente Lula — Muito importante. Acho que vocês, eu não sei se não ouvi, vocês colocaram o nome dessa moça?
Marcos Uchôa — Renilde, Renilde.
Presidente Lula — Viu, Renilde. O que nós queremos, na verdade, é o seguinte. Não é possível você querer que um professor dê uma aula boa se ele tá dentro de casa com necessidade porque ele ganha mal ou recebe mal, tá com o salário atrasado. É preciso que a gente tenha uma combinação de que o professor tem que ganhar um salário bom. É o professor que cuida dos nossos filhos, que educa os nossos filhos. Então, se você pagar um salário, você pode cobrar dele. O professor tem que entender e olhar o menino como se fosse seu próprio filho, cuidar com carinho, com amor. Às vezes não se preocupar apenas com a matéria, mas se preocupar se a criança tem algum problema, sabe, que não permite que ele vá bem. Sabe, então é esse cuidado, é mudar um pouco o comportamento da escola com o aluno. Por isso é que, que a gente acha que a comunidade tem que participar mais da escola. A comunidade tem que participar. O pai e a mãe têm que saber o que está acontecendo dentro na escola, qual é a qualidade das refeições na escola, qual é a qualidade do lazer que as crianças têm. Porque esse mundo do futuro que nós queremos deixar, sabe, ele tem que ser bem adubado, bem plantado, bem regado, para que as pessoas possam saber que vão colher. E a escola de tempo integral é, efetivamente, uma coisa que vai mudar a vida de novas gerações nesse país.
Marcos Uchôa — Voltar a qualidade. Eu estudei em escola pública numa época que realmente escola pública era muito boa, depois foi piorando, piorando, e foi empurrando a classe média pra escola particular.
Presidente Lula — Esse é o problema. Toda vez que a gente tentar universalizar um programa qualquer, você tem que saber se você tem uma coisa que atende 10 e tem uma boa qualidade. Se você aumenta pra 20 ou você aumenta o recurso ou cai a qualidade se você aumenta para mil. Então, quando se universalizou o ensino fundamental nesse país, ou seja, não se cuidou de colocar mais dinheiro para educação para que a gente pudesse construir coisas como foi construído em São Paulo. O CEUS, que a Marta [Suplicy, ex-prefeita de São Paulo] fez, em que a criança estava numa escola, tinha piscina, tinha quadra, tinha teatro, tinha computador. Então, aquilo pra criança era um paraíso, ir pra escola era uma coisa fantástica pra criança, não era uma tortura, sabe. Diferente da minha infância, que eu ainda sou do tempo da palmatória. Palmatória e reguada. Régua, aquela régua de um metro de madeira, qualquer brincadeira que fazia tomava uma reguada na cabeça, a gente ficava. Então, como a gente evoluiu muito, a sociedade evoluiu, então, cuidar da criança na escola, tornar a escola prazerosa é a nossa obrigação. A obrigação do Estado, governo federal, governo estadual, governo municipal, os professores e a própria família que mora na comunidade. O que nós precisamos é parar com a mania de achar que a responsabilidade é só de alguém. A responsabilidade pode ser mais de alguém, mas ela também de todos nós.
Marcos Uchôa — Os pais têm que participar
Presidente Lula — Qual é a participação que eu tenho. Você que é pai, você já foi na escola do seu filho? Você já sabe qual é a qualidade da escola? Você já conversou com os professores? você sabe o que ele almoça? Se você não faz isso, meu caro, você não sabe a situação que seu filho tá vivendo. É importante acompanhar.
Tem uma propaganda que diz o seguinte, do Duda Mendonça [publicitário falecido], nosso saudoso Duda Mendonça: “Ser pai não é só participar. Não é só ser pai, é importante participar.” Então, a gente tem que participar da vida da comunidade da gente. Sabe, a escola é o lugar mais importante na comunidade. É lá que a gente vai dizer o quê uma criança pode ser. Se ela será uma criança que vai ser um gênio, sabe, quantos gênios a gente pode ter nesse país, quantas pessoas importantes podem ser formadas, pessoas que estão viajando pra fora porque não têm oportunidade aqui dentro. Nós vamos garantir oportunidades aqui dentro. Nós vamos formar os nossos gênios aqui. Então, eu só queria dizer: tenha certeza absoluta que quando chegar dezembro de 2026 eu quero conversar com vocês e vocês vão ter orgulho do país que vocês estarão recebendo.
Marcos Uchôa — Presidente, pra encerrar essa conversa de hoje, a gente, também uma das boas notícias é que tá se prevendo um recorde de produção de carne no Brasil. Trinta milhões de toneladas vão chegar de produção de carne no Brasil, um recorde incrível. A picanha vai ficar mais barata, mais gorda, né?
Presidente Lula — Você falou em carne, o Brasil já é muito tempo o primeiro produtor de proteína animal do planeta. Mas eu queria tocar num outro assunto que não é carne. Eu falar do IBGE. Eu pensei que você ia me perguntar, você não perguntou e eu mesmo vou me perguntar. Primeiro é o seguinte: não é aceitável as pessoas tentarem criar uma imagem negativa de uma pessoa da qualificação do Marcio Pochmann. O Marcio Pochmann é um dos grandes intelectuais deste país, é um rapaz extremamente preparado, sabe, e esse rapaz eu escolhi ele porque eu confio na capacidade intelectual dele. Ele é um pesquisador exímio.
Agora, algumas pessoas que, possivelmente, sabe, queriam ir pra lá ficam colocando, colocando dúvida sobre a idoneidade do Marcio Pochmann. Eu queria dizer ao povo brasileiro que o Marcio Pochmann, se tiver 10 pessoas da mais alta, 100% idônea nesse país, uma é o Marcio Pochmann. Queria só dizer isso. E dizer o seguinte: a Simone Tebet [ministra do Planejamento e Orçamento] sabe que o Marcio Pochmann é o meu escolhido há muito tempo atrás, e com toda clareza ela ponderou que era importante terminar o Censo. Fez o Censo, terminou o Censo. Agora o Marcio Pochmann vai tomar posse como, sabe, presidente, diretor do IBGE. Mas os fascistas tão dizendo “ah, mas ele vai manipular dado a favor do governo”. Falar uma coisa pra vocês, gente. Quem tem uma história nesse país, como a que vocês me ajudaram a construir, não vai precisar manipular dados para poder fazer as coisas nesse país. Quanto mais verdadeiro for os dados, melhor pra quem governa. Quem gosta de dados mentirosos caiu fora. Quem gosta de mentira caiu fora. Quem gosta de fake news caiu fora. O que nós queremos são os dados do jeito que eles são, como foram apurados, com a maior clareza e com a maior realidade. Por isso, eu quero dizer pra você, Uchôa. O Marcio Pochmann é um homem 100% íntegro.
Marcos Uchôa — E pensar, pensar diferente não é um problema. Você vê, a Simone Tebet tem uma cabeça, o Haddad tem outra cabeça e os dois estão funcionando muito bem juntos. Não tem porque o Marcio Pochmann não se inserir nessa conversa de uma maneira.
Presidente Lula — E depois é o seguinte, ele é um técnico qualificado, que tem consciência política desse país. Altamente respeitado intelectualmente. Ou seja, bom, qualquer pessoa que eu indicasse ia levantar coisa. E eu quero só te dizer o seguinte: que a Simone não tem nada a ver com isso. A Simone é uma, uma das coisas boas que aconteceu no meu governo. Ela é de muita qualidade, de muita seriedade e de muito compromisso com esse país. Portanto, se alguém tá, tentaram, tentaram até inventar briga porque o Lula passou por cima da Simone, o Lula atropelou. Primeiro, um presidente nunca atropela. O presidente faz o que tem que fazer. Mas eu não atropelaria porque não é o meu jeito de fazer política. Eu converso uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, quantas vezes for necessário para fazer as coisas e fazer bem certa, de acordo com o conjunto das pessoas que trabalham comigo. E todo mundo sabe que eu penso assim. Eu não tenho política pessoal do Lula ou de ministro. A política é toda do governo. A política é toda do governo. Nós produzimos a política junta, nós anunciamos a política junta. E nós fazemos ela juntos. É isso que vai acontecer.
Por isso eu queria que o povo brasileiro se preparasse, dia 11, nós vamos ao Rio de Janeiro lançar o PAC. Agora, antes do PAC, nós vamos a Belém fazer o grande encontro, o primeiro encontro que vai reunir os oito chefes de estado da América do Sul, que têm floresta amazônica; mais os dois Congos, que têm grande floresta na África; e mais o primeiro-ministro, o ministro da Indonésia, que vem porque é o país que tem mais floresta na região asiática. Então, nós vamos fazer esse encontro para começar a elaborar uma proposta para a COP-28, que será no final do ano, nos Emirados Árabes.
Vai participar muita gente, não é uma coisa só de governo. Vai ter o encontro popular. Mais de cinco mil pessoas estão participando, de tudo quanto é jeito, do movimento popular, de intelectuais, de cientista, de pesquisador, de ambientalista. Ou seja, é todo mundo dando palpite para que depois a gente construa uma coisa que seja sólida para apresentar ao mundo. Nós vamos cuidar do nosso planeta. Essa é a mensagem. Nós vamos cuidar do nosso planeta. Quem não acredita que as coisas estão ficando feia é só acompanhar o que está acontecendo no mundo. Chove muito aonde não chovia, faz seca demais aonde não fazia, faz calor demais aonde só fazia frio. Faz frio demais aonde fazia calor. Ou seja, nós somos, enquanto seres humanos, a única espécie capaz de destruir o habitat que a gente mora. Então, como eu não quero destruir, porque eu já disse que eu quero viver 120 anos, eu vou tratar de cuidar do planeta Terra junto com vocês.
Marcos Uchôa — E nós vamos estar junto com o presidente na terça-feira que vem lá de Belém, no Pará, exatamente nessa Cúpula da Amazônia, que a gente espera que traga um resultado muito bom pro Brasil e pro planeta todo de uma maneira geral. Valeu, pessoal, muito obrigado por nos assistir.