Café com o presidente do dia 27 de outubro de 2023
Cerimonial: Senhoras e senhores, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da senhora Janja Lula da Silva, do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Paulo Pimenta: Pessoal, bom dia. Cumprimentar o nosso presidente Lula, Janja, agradecer muito a presença de todos vocês. Nosso encontro aqui, em primeiro lugar, é uma oportunidade de reencontro do nosso presidente Lula com a imprensa.
Mais importante: é essa decisão do presidente de fazer essa cirurgia e a pronta recuperação na fisioterapia para poder mais rapidamente possível estar em condições plenas de voltar a viajar pelo Brasil, nesse conjunto de agendas nacionais e internacionais tão importantes para o nosso país. Estamos todos muito felizes e acompanhando a plena recuperação a cada dia que passa. Ele, se melhorar muito, o Tite vai chamar ele pra poder jogar também.
Segundo lugar, nós estamos aí chegando a 10 meses de governo, governo que tem uma marca muito importante. Sabe que fomos desafiados pelo presidente, no primeiro momento, entregar e trazer de volta para o povo brasileiro um conjunto de políticas públicas, um conjunto de ações do nosso governo, que foram muito importantes em um determinado momento da vida do nosso país, especialmente para a população de baixa renda, para a população mais vulnerável.
Todos esses programas acabaram, de uma forma ou de outra, sendo extintos ou paralisados. O primeiro grande desafio do governo foi retomar esses projetos, esses programas. Todos eles, sem exceção, foram retomados. O último deles foi o Luz para Todos, lá em Parintins. Obviamente, para um programa ser lançado até a população sentir a mudança na sua vida, sentir a chegada do programa na sua cidade, dependendo do programa leva um tempo pra que isso possa acontecer.
Mas nós estamos muito satisfeitos com a capacidade que o governo demonstrou de retomar e devolver esses programas todos. Vocês sabem também da importância do protagonismo, da responsabilidade que o Brasil e o presidente Lula assumiram no mundo nesse último período. Presidente do Mercosul, início de dezembro vamos assumir a presidência do G20, temos a COP. Eu tive a oportunidade de acompanhar o presidente Lula em Nova York, fiquei entusiasmado, impressionado, 50 líderes políticos do mundo pedindo reuniões bilaterais, agenda que nós cumprimos, a importância da manifestação do presidente na abertura do encontro da Secretaria Geral da ONU. Mais recentemente, quando eclodiu essa guerra no Oriente Médio, o Brasil à frente do Conselho de Segurança da ONU. Esforço que o presidente tem feito para que o Brasil possa ser o grande promotor do esforço da paz, e essa extraordinária ação do nosso governo, coordenada pelo presidente Lula, de repatriação dos brasileiros e brasileiras, 1.410 brasileiros, 55 pets, e o esforço que continuamos fazendo, sob coordenação do presidente Lula, ontem foi um dia importante, que a gente possa também encontrar uma saída pra trazer de volta pro Brasil em segurança familiares que estão em Gaza, o avião presidencial está lá, aguardando ansiosamente a possibilidade de trazer de volta os brasileiros e familiares. Então, ali tem uma agenda de muita entrega, uma agenda de muitas realizações.
E estamos felizes, né, com a recuperação do presidente Lula, e hoje a gente vai ter uma oportunidade de o presidente nos falar um pouco sobre tudo aquilo que está acontecendo, mas especialmente para que vocês também possam nos trazer algumas questões, faz tempo que vocês não têm essa oportunidade de estar com o presidente, hoje é uma oportunidade que a gente tem. E, além de tudo isso, nós estamos aqui também no aniversário do nosso presidente, acho que vale uma salva de palmas. É uma distinção aqui, um orgulho para nós, quantos brasileiros e brasileiras gostariam de estar comemorando o aniversário com o presidente? Nós estamos aqui, meio-dia, comemorando o aniversário dele junto com ele. A gente está muito feliz, presidente, de poder estar aqui comemorando esse aniversário junto com o senhor. A palavra está com o senhor.
Presidente Lula: Em primeiro, bom dia às jornalistas aqui presentes, aos jornalistas, não sei se vocês já notaram a novidade do Stuckert, pela primeira vez ele coloca os fotógrafos sentados para tomar café também, significa que os fotógrafos estão sendo tratados de forma humanitária aqui nessa mesa. E eu queria dizer para vocês que eu estou muito feliz de estar completando 78 anos de idade. Eu, quando tinha 30, jamais imaginei que pudesse chegar aos 60, eu tô completando 78 na perspectiva de viver 120. É a meta que eu estou conversando com o Todo Poderoso para que ele permita que eu fique um pouco mais no planeta Terra, até porque nós temos que tentar salvar esse planeta.
A segunda coisa é que eu estou feliz porque eu fiz uma cirurgia, depois passar anos com dores intermináveis, insuportáveis, em que você não tinha posição pra sentar, pra deitar, e eu muitas vezes receoso de me submeter a uma cirurgia, porque eu confesso a vocês, eu tinha medo de anestesia. Eu sempre tive medo de apagar, dormir e não voltar mais. Como eu gosto muito da vida, eu tinha receio. Mas depois dessa cirurgia eu posso dizer pra vocês que esse negócio de anestesia está tão moderno, tão avançado, que ninguém pode ter medo de anestesia. Eu até tava falando com o Guimarães agora, que vai fazer a cirurgia dele amanhã, acho que no Sarah Kubitscheck, eu falei pra ele: “vá tranquilo e não tenha medo da anestesia porque você vai acordar melhor do que dormiu". Tô feliz porque a cirurgia foi aquilo que algumas pessoas me falaram. Durante muito tempo, eu ouvia as pessoas me dizendo: "opera, que vai acabar a dor, opera que vai melhorar, você não vai sentir nada", e eu fiz a cirurgia e saí da operação na sexta-feira, fui para o quarto, e na segunda feira eu tava andando e já subi oito degraus no hospital. Ou seja, numa recuperação que eu não acreditava que pudesse ser tão rápida. Eu tô fazendo fisioterapia. Essa cirurgia leva, segundo o médico que fez essa cirurgia, de seis a oito semanas para eu estar inteiro outra vez. Eu ainda estou proibido de viajar em avião, eu só posso viajar depois das oito semanas. Os médicos ainda têm preocupação de que possa dar trombose, então eu vou me cuidar, e a minha primeira viagem vai ser a viagem para a COP28, nos Emirados Árabes. Depois dos Emirados, eu passo na Alemanha porque tem um debate entre empresários brasileiros e empresários alemães, e eu estou antes de chegar nos Emirados, dia 30, estou pensando em passar na Arábia Saudita para fazer uma apresentação do PAC a empresários e investidores na Arábia Saudita.
E depois, quando retornar ao Brasil, eu vou começar a viajar o Brasil. Ano que vem vai ser o ano inteiro de viagem pelos estados brasileiros, de lançamento de obras do PAC, de inauguração de obras do PAC, de inauguração do Minha Casa, Minha Vida, de inaugurações de escolas técnicas, institutos federais, lançar novas universidades nesse país, porque o Brasil não pode perder a oportunidade de fazer aquilo que é o nosso compromisso. Ou seja, nós precisamos fazer com que o Brasil se transforme definitivamente num país desenvolvido. Nós estamos cansados de ser um país de terceiro mundo, nós estamos cansado de ser um país em vias de desenvolvimento, nós queremos nos transformar num país desenvolvido, por isso que nós vamos fazer todo o possível, fazer todo o investimento que estiver ao nosso alcance, tentar atrair todos os investimentos que puderem vir para o Brasil, para que a gente possa garantir que o Brasil dê um salto de qualidade.
Vocês são jovens e se lembram que quando nós tomamos posse, em janeiro de 2003, havia um temor na sociedade brasileira de que o país estava em crise, de que a economia estava quebrada, de que o Brasil não ia para a frente, que o ex-presidente tinha detonado esse país. Eu, ao invés de assumir e ficar falando mal do governo anterior, eu resolvi fazer aquilo que o governo tem que fazer. Eu não fui eleito para provar que o ex-presidente era incompetente. Eu fui eleito para provar que no nosso mandato a gente vai fazer a coisa com mais competência, e atender aquilo que é a expectativa da sociedade. E a sociedade brasileira, ela não quer muito. Ela quer apenas aquilo que todo mundo quer. Ela quer a tranquilidade, ela quer segurança, ela quer melhoria na qualidade da saúde, ela quer melhoria na qualidade da educação, ela quer ter melhoria na qualidade do emprego, ela quer que seu filho não sofra com baixo nível de escola, que o filho não sofra violência. E é isso que nós vamos tentar construir ao longo desse tempo.
Nestes dez meses de governo, isso aqui não é um balanço, porque eu pretendo fazer uma reunião com vocês antes do final do ano, para prestar um balanço do que aconteceu em todo o período de 2023, e também anunciar o que vai acontecer no ano de 2024.
Então, se preparem que nós vamos ter uma outra reunião antes de fechar o ano para que a gente faça uma prestação de contas daquilo que foi o conjunto do ano de 2023. Eu só quero adiantar para vocês que o fato de eu já ter sido presidente da República durante dois mandatos e de ter trabalhado muito nesse país, eu sei o que é que nós fizemos nos dois primeiros mandatos. Eu queria dizer para vocês que, nesses dez meses, nós já anunciamos mais políticas públicas do que eu anunciei em quatro anos do primeiro mandato.
E por que é que foi fácil anunciar? Porque muita coisa foi recuperar aquilo que já estava funcionando, que foi desestruturado pelo governo anterior e que a gente queria recolocar a casa em ordem, recuperando as políticas. Vocês sabem a quantidade de escolas que estavam paralisadas, obras paralisadas há oito, nove anos, a quantidade de creches que estavam paralisadas, a quantidade de prédio de universidade que estavam paralisadas e tantas outras obras.
Eu poderia dar o número para vocês daqui, para vocês medirem o que é que está acontecendo. Se vocês forem analisar na área do transporte, vocês vão perceber que este ano de 2023, mesmo a gente tendo que aprovar uma PEC da transição, que por si só é um fato sui generis no planeta Terra, alguém começar a governar antes de assumir e nós começamos a governar dois meses antes de assumir, e a PEC da Transição, ela permitiu que a gente tivesse para investimento no setor de infraestrutura, na área de transporte, R$ 23 bilhões, que é muito pouco para um país do tamanho do Brasil. Mas é quatro vezes o que foi investido no mandato do presidente anterior.
Portanto, em 2023, só na área do transporte nós investimos 23 bilhões, contra 20 bilhões que foi investido nos quatro anos anteriores. Se vocês perceberem, e é o que eu pretendo apresentar para vocês esses dados, vocês vão perceber que em todas as áreas a gente vai fazer uma comparação do que foi investido nesse ano, do que foi investido no ano passado e nos anos anteriores para vocês perceberem porque que eu estou otimista. Estou otimista porque essas políticas que já anunciamos elas vão acontecer, não no dia que eu anuncio aqui no Palácio do Planalto. Ela vai acontecer alguns meses depois.
Eu esses dias estava conversando com um especialista na questão da seca na Amazônia, e ele me dizia: "Presidente, já começou a chover na Colômbia. Acontece que essa água que está chovendo na Colômbia vai chegar em Manaus daqui 30 dias e vai terminar de chegar no Pará mais 30 dias". Ou seja, a água que está chovendo agora no estado, no país, na Colômbia e o degelo dos Andes vai permitir que a água chegue no Brasil, no Pará, 60 dias depois. Eu nunca imaginei que o Rio Tapajós pudesse ficar vazio. Eu tive agora, recentemente, no Rio Tapajós. O Rio tem lugar que tem 32 quilômetros de largura. Eu jamais imaginei que aquele rio pudesse secar e secou.
Como o Rio Madeira está com problemas, como o Rio Solimões e tantos outros rios no Acre e em outros estados, numa demonstração de que a natureza não está mais brincando. Ela está avisando e cada vez avisando com mais força, com mais enchente do que o normal no Rio Grande do Sul, com mais furacão, com mais tufão, com maior ventania, com mais seca em alguns lugares, com menos chuva em outros lugares e com mais chuva em outros lugares.
Está avisando: "Ó, cuide de mim porque eu estou ficando saturada desse bicho chamado ser humano. Vocês estão destruindo o mundo que vocês vivem. Então cuidem corretamente de mim que eu vou cuidar de vocês." É por isso que eu estou muito otimista, porque a economia que começou o ano, todo mundo dizendo "ah o Brasil não vai crescer nem 1%. O Brasil vai crescer 0,8%, vai 0,9%".
O Brasil pode crescer 3% este ano. E, se tudo ajudar, pode até quem sabe escorregar para três e alguma coisinha. E obviamente que nós sabemos que o ano que vem se apresenta como um ano difícil por conta da queda do investimento da China, da queda do crescimento da China, do aumento de juro na taxa de juros americanos. Mas eu estava dizendo agora há pouco numa conversa com o Haddad, a gente quando está no governo, é por isso que inventaram o checkup, é para a gente evitar que a doença se prolifere. Então, nós temos consciência do que está acontecendo na economia mundial. Nós temos que atuar agora para evitar que aconteça o que pode acontecer. É como a gente faz, e vocês certamente fazem um checkupzinho todo ano, a cada dois anos, para evitar que sejam pego de surpresa por uma doença que já não tenha mais cura.
Então, nós não vamos ficar parados esperando que as notícias ruins aconteçam. É importante a gente saber notícia com antecedência, para a gente poder trabalhar e para fazer as coisas melhorarem. E eu quero terminar dizendo para vocês o seguinte: nós já chegamos, só para dar o exemplo para vocês, no Mais Médicos, a gente já teve 18.000 médicos no Mais Médicos. Este ano, nós chegamos a 21.000 médicos e a tarefa é chegar a 28.000 médicos no Mais Médicos. E vocês ainda não ouviram nenhuma publicidade do governo, nem eu, nem a ministra, nem ninguém está numa cidade para receber os médicos porque já tem mais de 4.200 municípios que já receberam médicos, médicos que muitas vezes estão chegando a cidades que vão ter médico pela primeira vez, que vão ter uma assistência… E nós ainda vamos lançar uma outra coisa mais importante esse ano que é a gente garantir o acesso ao chamados especialistas para o povo desse país.
Todos vocês sabem que hoje uma pessoa vai numa UPA ou vai numa UBS na sua cidade e faz uma consulta. O médico detecta que tem uma determinada doença, que precisa de um tal de especialista. Pode ser um urologista, pode ser um oftalmologista, pode ser oncologista, pode ser um ortopedista ou qualquer outra coisa. E aí, quando o médico da assistência básica pede essa segunda consulta, aí começa o martírio do povo brasileiro, porque muitas vezes ele tem que esperar o especialista por nove meses, por um ano, por oito meses.
Por quê? Porque não existe convênio com uma rede de especialistas capaz de poder atender a totalidade do povo brasileiro. Então, nós estamos comprometidos, eu quero dizer para vocês, de estabelecer convênio do SUS com a rede de especialistas para que a gente possa garantir a uma pessoa que foi exigido que tivesse acesso a um especialista, para que ela tenha acesso ao tal especialista não é só o presidente da República que tem especialista ou jornalista que pode ter acesso ao especialista. O povo humilde tem que ter acesso a especialista, porque não é possível que a gente não consiga avançar. Uma outra coisa importante que eu quero dizer para vocês para concluir essa abertura, para vocês possam fazer perguntas, é que o Brasil vive um momento tão excepcional do ponto de vista de perspectiva de futuro. É como se, eu recebi essa notícia de um filho que está nascendo no hospital, eu estivesse desempregado e fosse visitar o meu filho. E quando eu chegar no berço do meu filho e dizer pra ele: "Filho, acabei de arrumar um emprego. Vou ganhar um bom salário e eu vou viver bem para o resto da vida, porque eu arrumei um emprego que me garante estabilidade”. Porque é que eu estou fazendo essa comparação? Porque o Brasil tem, nesse século XXI, a partir de 2024, uma possibilidade que poucos países do mundo têm. O que que é essa coisa extraordinária que o país tem? É o potencial que o Brasil tem de entrar no mundo da chamada energia verde e a gente poder produzir mais do que qualquer outro país do mundo, tudo o que é biocombustível, tudo o que é etanol, tudo o que é eólica, tudo o que é solar e tudo o que é de hidrogênio verde, ou seja, o potencial que o Brasil tem de produzir energia e vender para os países ricos que querem comprar. "Eu quero comprar aço verde, eu quero comprar carro verde, eu quero comprar geladeira verde, tudo produzido com energia verde."
Pois o Brasil se apresentará como um berçário a nascer esse novo mundo dos investimentos, que é a chamada a economia verde. Por isso nós vamos para a COP28, com muita força, pra cobrar do mundo. Ontem eu tive uma reunião com o ministro da Agricultura e nós vamos fazer, Pimenta, logo, logo, um lançamento de política de recuperação de terras degradadas. O Brasil tem por volta de 40 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas. E o Brasil pode plantar o que quiser, criar o que quiser, sem precisar derrubar uma única árvore no planeta Terra. Quando a gente falar de descarbonização, quando a gente falar em crédito de carbono, a gente quer falar com autoridade. Quem quiser investir nisso, o Brasil se apresenta com expectativa.
É por isso que o companheiro Alckmin, a partir do momento que eu puder viajar internamente, o companheiro Rui Costa e outros companheiros do governo vão colocar todos os projetos que nós temos sobre energia verde, colocar embaixo do braço e viajar o mundo. Viajar, vender os projetos, vender onde é que tem dinheiro, que tem vontade de fazer investimento em coisas novas, pois o Brasil já garantiu estabilidade social, o Brasil garantiu estabilidade fiscal e o Brasil já garantiu estabilidade jurídica e previsibilidade nas coisas.
Então, quem quiser fazer investimento, esse país se apresenta como o novo berçário dos investimentos e queremos competir com quem quer que seja. Porque nessa área eu acho que o Brasil é imbatível. Nós temos tecnologia de sobra, temos mão de obra de sobra, temos conhecimento para aplicar aqui e lá fora e construir parceria. O que nós queremos é compartilhar a possibilidade de esse país se desenvolver com outros países que querem fazer investimento. Nós queremos construir parcerias. Nós queremos construir parcerias produtivas para que as pessoas não venham com seus fundos aqui apenas explorar a taxa de juro alta. Que ele venha para cá para investir em coisas produtivas, que gere um produto, que gere um emprego, que gere um salário, que gere um dinamismo de crescimento na nossa economia brasileira, que é o que nós estamos precisando.
Eu penso que vocês não se lembram mais quando a economia brasileira cresceu 3%, e é importante lembrar que quando eu deixei a presidência, a economia estava crescendo 7,5%. Vocês não vão se lembrar quando é que ela cresceu 3%. Foi no primeiro mandato, primeiro ano do mandato da companheira Dilma Rousseff, depois nós caímos de três e nunca mais conseguimos subir.
Portanto, nós temos o desafio de fazer a economia crescer. Não adianta ninguém me contar: "não, porque está ruim, porque o juro americano tá ruim", eu não quero saber. Eu quero saber do Brasil. Temos que encontrar a solução aqui, nós temos que ser criativos aqui, nós temos que aceitar desafios aqui. Eu, na minha vida, não aceito a ideia de que tem coisas que são impossíveis.
Quero dizer para vocês que na minha experiência de vida, a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode fazer qualquer coisa, é só querer. E como eu sou um homem motivado a causas, é por isso que eu vou viver muito, porque eu tenho uma causa, e a minha causa chama-se Brasil. A minha causa chama-se povo brasileiro. Eu quero melhorar a educação. Eu quero melhorar a saúde. Quero melhorar o emprego, quero dar oportunidade para que o povo brasileiro sinta o prazer de virar uma sociedade de classe média, uma sociedade de pessoas que pode comprar as coisas, que pode dar um presente para o filho, que pode dar um presente de Natal, que pode viajar de férias. É essa sociedade que eu quero criar.
Eu quero tirar da cabeça das pessoas a ideia de que: "ah não, este governo só pensa no pobre porque ele só gosta de pobre". Não. A ideia não é essa. Eu quero é que o pobre deixe de ser pobre. Afinal de contas, ninguém escolhe ser pobre, ninguém faz opção. Ninguém nasce em berço de ouro e fala "ah, eu estou cansado. Quero virar pobre. Vou dormir na rua de São Paulo." Isso não acontece. As pessoas querem vencer e o papel do governo é dar oportunidade para as pessoas vencerem, para as pessoas crescerem e para as pessoas melhorarem de vida. Por isso que nós vamos investir muito na educação, no ensino integral. Nós vamos criar um fundo de investimento para as crianças do ensino médio. Vamos criar uma bolsa para que os alunos se sintam incentivados a não desistir da escola, que é a maior desistência que um jovem vai na universidade, vai no ensino médio, e ele não vê utilidade. Então, nós queremos dar utilidade. Nós queremos que esse jovem seja motivado a ir e cumprir o ensino médio e entrar numa universidade ou no instituto federal para se autoqualificar, pra esse país melhorar de vida.
Então é com essa cabeça que eu estou aqui em pé, curado. Eu estou chutando 30 chutes por dia com bola. Logo, logo ou o Diniz vai me convocar para a seleção, já que o Neymar se machucou, ou o Corinthians vai precisar de mim para marcar um gol, porque está marcando pouco gol. E enquanto eu não vou jogar, eu vou jogar a política aqui com vocês. Vocês sabem que nós estamos com a responsabilidade de aprovar a política tributária. Eu estou confiante que ela vai ser aprovada. Estou confiante que a gente vai mudar a relação capital e trabalho. Estamos tentando fazer negociação com as empresas de aplicativo para cuidar das pessoas que trabalham com o Uber. Para cuidar das pessoas que trabalham com moto, para cuidar das pessoas que trabalham com bicicleta.
Estamos sobretudo preocupados em não permitir que a juventude brasileira perca a expectativa que o jovem tem que ter. A minha expectativa, quando eu era jovem, era muito pequena. Eu só queria tirar carteira profissional de menor, que tirava aos 14 anos, arrumar um emprego, sabe, ter uma profissão, e jamais imaginei ser presidente da República. Então, o fato de eu ter chegado a presidente da República é um sinal para um jovem que ninguém, ninguém em sã consciência, tem o direito de deixar de sonhar e deixar de acreditar e deixar de ter esperança.
É isso que eu quero construir nesses próximos três anos com vocês e com o povo brasileiro. Muito obrigado pela paciência de me ouvir tanto tempo.
Cerimonial: Bom dia, a gente tem 38 jornalistas, então imagino que a gente deva ter no mínimo 76 perguntas pensadas. Então, a gente vai fazer o máximo possível para distribuir isso e lembrando que tem um embargo de 45 minutos ao fim da entrevista. Então, começar aqui com o Renan. E eu vou anotando aqui os pedidos e o que é possível.
Lula: É uma informação que eu esqueci de dar para vocês, que eu acho muito relevante, porque essa semana passada eu conversei com muita gente sobre a guerra de Israel com o Hamas. Eu comecei falando com o presidente de Israel, e eu falei com o presidente da Autoridade Palestina, depois eu falei com o presidente do Irã, com o presidente da Turquia, com o presidente do Egito, com o presidente dos Emirados Árabes, com o presidente da França, com o Conselho Europeu, com o emir do Qatar.
E ainda tenho que falar com XI Jinping. Tenho que falar com o primeiro ministro Modi, e tenho que falar com o presidente Ramaphosa, e tenho que falar com o presidente Pedro Sanches, que é o presidente da União Europeia, não é para discutir a guerra, é para discutir o acordo comercial Mercosul e União Europeia que nós temos que fazer, enquanto eu sou o presidente do Mercosul, enquanto ele é presidente da União Europeia.
Se nós dois que somos amigos não fizermos um esforço muito grande para fazer esse acordo, eu acho que esse acordo não sairá. Então eu quero tirar do papel esse acordo e mudar a pauta, porque faz 22 anos e meio que a gente fala em acordo e não saiu acordo. Fica um tentando jogar a culpa no outro. Então vamos parar de jogar a culpa, e vamos assumir a nossa responsabilidade e fazer os acordos para que a gente possa dinamizar.
Eu ontem, conversando com o ministro da Agricultura, Pimenta, ele me disse que nesses dez meses do ano nós abrimos 40 novos mercados para as exportações brasileiras. Não é pouca coisa, é muita coisa. E o Brasil pode se preparar que vai ter mais mercado para a gente vender mais coisas e para comprar mais coisas. Pode perguntar, companheiro.
Renan Truffi (Valor Econômico): Boa tarde presidente. Sou Renan Truffi, do Valor Econômico e eu queria aproveitar pra fazer duas perguntas em uma. Se o senhor, quando esteve hoje com o ministro Haddad, se selou o nome dos indicados para o Banco Central, e também queria entender nessa questão da guerra que o senhor tocou. Uma das prioridades claras do seu governo era fazer a moderação da paz na Ucrânia. E, aparentemente, isso não deu certo. Eu queria entender agora qual é a prioridade do senhor, já que, enfim, os dois lados do conflito não parecem querer paz?
Lula: Olhe, primeiro com o companheiro Fernando Haddad. Veja, as coisas vão acontecer no momento que tiver que acontecer. Eu tenho que indicar muita gente esse ano. Não sei se vocês estão acompanhando. Eu tenho que indicar mais alguns ministros do Superior Tribunal de Justiça. Eu tenho que indicar quatro pessoas do Cade. Eu tenho que indicar o procurador geral da República, a procuradora. Eu tenho que deixar o ministro da Suprema Corte. Nesse tempo, eu quis com muita tranquilidade fazer a cirurgia, porque quem tem tempo não tem pressa. Pra mim não é uma novidade indicar alguém, eu vou indicar alguém que eu ache que seja uma pessoa que possa ser indicado na mesma forma que nós temos que indicar pessoas para o Banco Central, que o Haddad vai discutir as pessoas, nós vamos discutir e indicar pessoas que têm maior competência para exercer a função que está exercendo.
Com relação à guerra, a guerra. Todas as conversas que eu tenho como presidente eu faço questão de dizer para eles que eu não tenho experiência de guerra. Até porque a última guerra do Brasil foi com o Paraguai e eu não estava nem pensando em nascer ainda. Mas eu tenho experiência de muitas outras coisas, de greves, de embates dentro do meu partido, fora do partido e eu acho que tem um momento que ninguém quer negociar. O Zelensky acha que vai ganhar, o Putin acha que vai ganhar e ninguém quer negociar. O que é que eu tenho falado? Essa semana falei com o Putin também, falei com Putin, porque, segundo pessoas, o Putin, o Irã, o Catar tem relação com Hamas, com o Hezbollah, e como eu estava preocupado em liberar os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Aliás, vocês viram eu conversando com um brasileiro que estava lá? Conversei com a família dos jovens judeus que foram sequestrados. Como eu estou interessado, eu vou conversar com todo o mundo. Alguém tem que falar em paz. Por falar em paz, a nota que o Brasil fez e foi aprovada nas Nações Unidas "ah, porque a nota do Brasil foi reprovada". Não, ela foi aprovada por 12 de 15 votos, duas abstenções. E é por isso que nós queremos acabar com o direito de veto. Nós achamos que os americanos, os russos, os ingleses, os franceses, os chineses, ninguém tem direito de veto. É preciso acabar o direito do veto. Ou seja, se tiver dúvida, vota. Se a maioria ganha, cumpre-se.
Então, eu vou continuar falando em paz. Vou continuar falando porque eu acredito que é a coisa mais extraordinária para você tentar superar o poder das balas com o poder da conversa. Isso Gandhi ensinou muito a gente. Jesus Cristo ensinou muito a gente. O poder do diálogo é capaz de vencer a bomba mais competente que o ser humano seja capaz de produzir. E é com o poder desse diálogo que eu acho que a gente vai conseguir, em algum momento, sentar na mesa. Eu não posso, como ser humano, a gente ver a quantidade de crianças mortas numa guerra e ninguém assumir a responsabilidade por essas mortes. Cada um se acha o mais inocente e as crianças vão perecendo. Então, ontem eu disse, até para as pessoas, familiares judeus: eu tô feliz de poder tentar ajudar vocês a terem os entes queridos de vocês em casa. Só lamento que eu não possa ter de volta os milhões que já morreram nesse mundo de guerra e não podem voltar mais.
Eu vou continuar porque eu acredito nisso. O Brasil tem um papel relevante, o Brasil é um país que tem uma certa importância política, basta que a gente acredite. E o poder do diálogo, às vezes, você tem que conversar dez vezes, quinze vezes, trinta vezes, para você poder convencer a pessoa de que alguma coisa é boa. Eu continuo acreditando nisso. Continuo acreditando e vou continuar. Só que, agora, ano que vem, eu vou me dedicar a viajar o meu país. Ano que vem, eu vou viajar todos os estados da Federação, vou discutir os problemas com os governadores, com os prefeitos, porque eu preciso consolidar as políticas públicas que nós estamos fazendo.
Tereza Cruvinel (Brasil 247): Bom dia, presidente. Tereza Cruvinel do Brasil 247. Parabéns pelo seu aniversário, feliz nova idade. Presidente, nós estamos assistindo a um avanço crescente do Poder Legislativo sobre atribuições do Poder Executivo. Uma crescente apropriação de prerrogativas, um fortalecimento inédito do Poder Legislativo no Brasil. Nós vimos, nas últimas horas, o senhor entregar a Caixa Econômica Federal para garantir votos para a agenda econômica na Câmara, mas nós vimos, também, o Senado rejeitar a indicação do nome que o senhor indicou para a Defensoria Pública da União. Temos visto dificuldades com propostas legislativas do governo ou aprovação de propostas como o Marco Temporal, contrariando o próprio Supremo Tribunal Federal. E, agora, um litígio contra o próprio Supremo Tribunal Federal lá no Senado. Minha pergunta é: como o senhor pretende administrar esse avanço crescente do Poder Legislativo em relação ao futuro do seu governo? Qual é o limite das negociações ou concessões às formas do Legislativo para garantir a governabilidade?
Lula: Ô, Tereza, primeiro, o que você está assistindo, na verdade, é um exercício da democracia em sua total plenitude. O Congresso Nacional existe para isso. O Congresso Nacional não é um espaço em que as pessoas digam amém para tudo aquilo que o governo quer. Você tá lembrada, Tereza, que eu fui constituinte. Naquela constituinte, o Ulysses Guimarães era presidente do parlamento e era presidente da Constituinte. E o PMDB tinha eleito trezentos e seis constituintes e vinte e três governadores. O Sarney era presidente da República e o Sarney rebolava muito para aprovar as coisas. Você tá lembrada que até se diminuiu o mandato do Sarney de seis para cinco anos. É esse o papel do parlamento. O papel do parlamento não é para dizer amém ao Poder Executivo, não. Eu fui deputado e eu acho que é importante que o parlamento se autorrespeite. Que o parlamento queira fazer as coisas e que a gente tenha a capacidade de, nessa intervenção na relação com o parlamento, a gente convencer aquilo que é importante para o Executivo e aquilo que é importante para o parlamento. Eu não vejo nisso nenhum problema. Eu vejo isso como uma coisa própria da democracia em um país democrático. Mais difícil, por exemplo, é você ver o que acontece na Espanha. Nós estamos já, as eleições terminaram há quase três meses e ainda não se conseguiu montar governo porque tem uma divergência de meio a meio no país. Coisa que nós não temos aqui. A gente foi eleito, foi eleito uma base e, dessa base, uma parte dela já está apoiando o governo e vai ser assim. O fato deles não terem aprovado o Igor para a Defensoria Pública, possivelmente, eu tenha culpa. Porque eu tava hospitalizado e não pude conversar com ninguém a respeito dele. Não pude sequer avaliar se ele seria votado ou não. Lamento profundamente. Não sei com quantos senadores ele conversou, não sei se ele conversou com os líderes do governo, mas eu estou dizendo para vocês: possivelmente eu tenha culpa de ter sido internado no dia 29 e não ter falado com nenhum senador a respeito dele. E, quando a gente indica alguém, a gente avalia muito o momento da votação para saber se ele vai aprovar ou não. E tinha setenta e quatro votos no quórum, o nosso pessoal achou que ia ser tranquilo e não foi tranquilo. Paciência. Eu vou ter que indicar outro e vou ter que ter mais cuidado de conversar com quem vota, que não sou eu, são os senadores da República. Eu não vejo nisso um problema. A segunda coisa, eu não vejo nenhum problema, eu, de vez em quando, vejo matérias escritas e há um problema de vício. É que quando a gente estabelece uma tese, a gente não abre a mão dessa tese. Veja, eu não fiz negociação com o centrão. Eu não converso com o centrão. Vocês nunca me viram fazendo reunião com o centrão. Eu faço conversa com partidos políticos que estão legalizados, que elegeram bancadas. E que, portanto, são com eles que eu tenho que conversar para estabelecer o acordo que eu tenho que fazer. Eu fiz um acordo com o PP, com os Republicanos. Acho que é direito deles exigir do governo de que eles gostariam de ter um espaço no governo, indicaram uma pessoa que já esteve na Caixa, já foi da Caixa, já teve no governo da Dilma, já foi do Ministério das Cidades. Uma pessoa que tem currículo para isso. E ele, junto, tem mais de cem votos. E eu precisava desses votos para continuar o governo. Afinal de contas, faltam três anos para terminar o meu mandato. Ainda mais que três anos: três anos e dois meses. Então, como o governo precisa do parlamento e não é o parlamento que precisa do governo, é importante a gente ter humildade de sentar para conversar em momento de adversidade também. A gente não vive só de aplausos. A gente não vive só de coisas boas que a gente quer. Eu lembro que o Obama foi presidente dos Estados Unidos oito anos e ele quase não conseguiu aprovar nenhum projeto no Congresso. Eu tô vendo a dificuldade que o Biden está tendo nos Estados Unidos, apesar de ter sido senador 32 anos. Então, eu estou muito tranquilo. Eu fui eleito para governar o país. Para governar o país eu tenho que ter relação com a Câmara e com o Senado e eu preciso levar em conta as demandas deles, que eles não são obrigados a falar e fazer tudo que eu quero. Por isso, é importante a gente construir formas de conversação. E vocês sabem que eu nasci, na minha vida política, conversando. Eu conversava nas primeiras greves que eu fiz no ABC, eu ia para o palanque, na porta da fábrica, e dizia: "é 100% ou nada". Com o tempo, eu percebi que a gente ficava sem nada. Então, em vez de 100% ou nada, ou seja, entre cem e nada, tem tantos números que a gente pode negociar e eu aprendi, na prática, a ter mais flexibilidade para negociar. E nós temos que negociar cada coisa que a gente quer aprovar. É bom que seja assim. Porque o Congresso Nacional, por mais que a gente queira colocar dúvidas, por mais que a gente diga que é conservador, o Congresso Nacional é a cara do povo brasileiro no dia do voto. No dia do voto, era aquilo que estava na cabeça do voto pela quantidade de informações que ele recebeu. Certo ou errado, foi aquilo. Então, a gente vai ter que se preparar para mudar nas próximas eleições. O presidente da República não pode pedir o impeachment de deputado. Deputado pode pedir o impeachment de presidente da República. Tem que saber que negociar faz parte da governança de um país democrático como o Brasil.
Lisandra Paraguassu (Agência Reuters): Boa tarde, presidente. Presidente, o senhor se envolveu na questão da Ucrânia e, agora, na questão do Hamas e de Israel. Parte da sociedade diz que o governo não estava condenando o Hamas o suficiente. Então, estava com uma posição parcial. Eu queria que o senhor desse qual é a sua posição com relação a isso e saber também o que que você acha que o Brasil pode fazer, pode influenciar, para tentar que se chegue a uma trégua naquele local. E se tem notícias dos brasileiros que ainda estão em Gaza e como é que avançou essa negociação para a retirada deles de lá.
Lula: Olha, eu acho que a posição do Brasil é a mais clara e nítida possível. O Brasil fez até uma nota para que nenhum companheiro ou companheira da imprensa brasileira tivesse dúvida sobre o comportamento do Brasil. Primeiro, o Brasil só reconhece como organização terrorista aquilo que o Conselho de Segurança da ONU reconhece. E o Hamas não é reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU como organização terrorista, porque ele disputou eleições na Faixa de Gaza e ganhou. O que que nós dissemos? É que o ato do Hamas foi terrorista. Nós dizemos isso em alto e bom som: que o ato do Hamas foi terrorista. Que não é possível fazer o ataque, matar inocentes, sequestrar gente, da forma que eles fizeram. Não é possível. Sem medir as consequências do que acontece depois. Porque agora o que nós temos é a insanidade também do primeiro-ministro de Israel, querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, que lá tem mulheres, tem crianças. Que são as grandes vítimas dessa guerra. E aí a minha preocupação com os brasileiros. Por isso é que nós fizemos questão de colocar os aviões brasileiros à disposição de trazer quem estava lá. Não importa saber quem era e, agora, eu estou com o avião presidencial, o avião reserva, no Cairo, já há uma semana, esperando que o presidente do Egito e que o presidente de Israel façam um acordo para liberar a fronteira para passar os estrangeiros que querem voltar para seu estado nacional. Essa é a posição do Brasil e a posição do Brasil, ela foi extraordinária, reconhecida e elogiada por todo mundo nas Nações Unidas. Eu vi uma manchete aqui no jornal dizendo que a proposta do Brasil é rejeitada. Não é verdade, é mentira. Não foi rejeitada, tinha 15 votos em jogo. Ela teve 12, duas abstenções e um contra. Como é que ela pode ter sido rejeitada? Ela foi vetada por causa de uma loucura que é o direito de veto concedido aos cinco países titulares do Conselho de Segurança da ONU, que eu sou totalmente, radicalmente, contra. Isso não é democrático, não sei se vocês viram, essa semana, os Estados Unidos veta a Rússia, a Rússia veta os Estados Unidos, Estados Unidos veta a Rússia, a Rússia veta os Estados Unidos. E veja que nós tivemos dois votos de países que tinham direito de veto: da China e da França. Tivemos duas abstenções de pessoas que tinham direito de veto: Rússia e Inglaterra. E os americanos assumiram a responsabilidade pelo que fizeram. Paciência. Mas a posição nossa é clara. É muito clara: Todas as guerras não têm apenas um lado culpado ou mais culpado. Todo mundo sabe: o Brasil fez uma crítica veemente, igualzinho está na carta da ONU. Nós condenamos a Rússia de ter invadido o território ucraniano. Ponto pacífico, está explícito no comportamento do Brasil. Mas isso não significa que eu sou obrigado a me colocar do lado da Ucrânia para guerrear. Não. Eu quero me colocar do lado daqueles que querem pedir paz. É difícil? É. Mas, se não for assim, a gente não consegue. Se todo mundo quiser só fazer guerra, só fazer guerra, só fazer guerra, sabe? Porque, antigamente, quando tinha uma guerra, os soldados iam nas cruzadas, para um campo de batalha, e aí era soldado matando soldado. Mas, agora, não. Agora o cara fica de longe jogando foguete, não sabe na cabeça de quem vai cair, não sabe quem vai morrer. E o que a gente vê são prédios que levaram anos para ser construídos, pontes que levaram anos para ser construídos, casas que levaram anos, destruídos. E quem vai reconstruir aquilo? Será que as pessoas estão virando desumanas? Será que as pessoas estão perdendo sensibilidade, que não vê o sofrimento daquele povo? E é por isso que o Brasil está fazendo esforço. Nós não deixaremos um único brasileiro ficar em Israel ou na Faixa de Gaza. Nós vamos tentar buscar todos, porque esse é o papel do governo brasileiro. E já conversei. Se eu tiver informação, "olha, Lula, tem o presidente de tal país que é amigo do Hamas". É para esse que eu vou ligar. "Ô, cara, fala para o Hamas libertar o refém, porra". Fala pro cara libertar os reféns, pra que ficar com inocente lá detido? Liberta. Tem gente que precisa de remédio pra tomar. Tem gente que tem asma. Liberta os reféns. E também falar para o governo de Israel: liberta os presos, liberta os sequestrados. Que coisa que é essa? Abre a fronteira para sair os estrangeiros que queiram sair. Tem brasileiro a um quilômetro da fronteira, gente. A um quilômetro da fronteira. Ontem eu falei com brasileiro que foi pro casamento da irmã e, três dias depois, começou a guerra. Ele está lá e tem a mãe e duas irmãs que ele quer trazer, mas que são palestinas. Eu falei: "traga". Traga que quando chegar aqui no Brasil a gente legaliza a vida deles aqui. Estamos aguardando que o governo de Israel e o governo do Egito façam um acordo. Então, nós temos muita clareza na nossa posição. É por isso que eu queria dizer para vocês: tem poucos países levado a sério como tem sido levado o Brasil nessas posições. Poucos. Eu faço questão de dizer para todo mundo: esse país não tem contencioso com todo mundo, nem com a Alemanha, que meteu 7 a 1 na gente na Copa do Mundo feita aqui no Brasil, eu tenho contencioso. Eu quero um dia poder ganhar de 8 a 0, mas eu vou esperar. Então, esse é o papel de um país grande como o Brasil. Ô, gente, eu queria que vocês olhassem o mapa do Brasil e vejam o seguinte: o Brasil tem fronteira com todos os países da América do Sul, exceto Chile e Equador. São 16.800 quilômetros de fronteira, são mais 8.000 quilômetros de costa marítima. A gente não tem um conflito. A gente vive em paz. De vez em quando a gente bate boca, porque latino-americano gosta de falar muito, mas nada mais do que isso. Eu lembro quando as pessoas queriam que eu fosse duro com o Evo. E eu dizia: "Por que eu vou ser duro com o Evo?". Eu não consigo imaginar um metalúrgico de São Bernardo brigando com um índio boliviano. Eu queria brigar com o Bush. O Bush não queria brigar, foi meu parceiro, foi uma figura extraordinária na relação comigo. Por que é que eu vou brigar com o Evo? Porque é que eu vou brigar com o Uruguai? Com o Paraguai? Eu não quero briga. O Brasil é muito grande, o Brasil é muito importante. O Brasil tem que ser generoso. O Brasil tem que ser generoso na relação, porque é esse país de paz que nós queremos construir. Que é uma contradição com os cinco países do Conselho de Segurança. São os cinco países do Conselho de Segurança que fabricam armas, são os cinco países do Conselho de Segurança que vendem armas e são os cinco do Conselho de Segurança que fazem guerra. É a contradição. Por isso é que nós queremos mudar o Conselho de Segurança. Queremos que entrem vários países. Nós temos o G4, nós queremos que entre o Japão, que entre o Brasil, que entre a Alemanha, que entre a Índia. Pode entrar a Nigéria, pode entrar o Egito, pode entrar o México, pode entrar a Argentina. O que nós queremos é democratizar o Conselho de Segurança da ONU, porque, hoje, ele vale muito pouco. É importante lembrar que foi um brasileiro que criou. É importante lembrar que foi o Oswaldo Aranha que presidiu, em 1947, a sessão da ONU que criou o Estado de Israel. Portanto, a ONU agora deveria ter coragem de assegurar a criação do Estado Palestino. Para viver em paz, harmonicamente. É isso que nós queremos e disso o Brasil não abre mão.
Leandro Fortes (Diário do Centro do Mundo): Bom dia, presidente, sou o Leandro Fortes, do Diário do Centro do Mundo. Presidente, muito bom dia, parabéns pelo seu aniversário. A questão da tutela militar, ela se potencializou muito a partir dos eventos de 8 de janeiro. Na verdade, antes com aqueles acampamentos feitos em frente aos quartéis, normalmente aqui, no caso do quartel general de Brasília, que explicitou a posição das Forças Armadas, principalmente do Exército, em um movimento golpista. Essa é uma questão que está, que já vem sendo discutida, e claro, os eventos de 8 de janeiro demonstraram que isso (inaudível) contornos de tragédia. Alguns militares já foram indiciados pela CPI do 8 de janeiro no Congresso e há uma discussão permanente sobre o que fazer com os militares brasileiros. Então, eu lhe pergunto: o governo tem alguma estratégia ou pensa numa estratégia nacional de defesa que faça uma intervenção na formação dos militares brasileiros, nas escolas militares, para retirá-los, tirar esse enorme contingente de servidores públicos que estão congelados na guerra fria, na doutrina de segurança nacional, no anticomunismo, no golpismo. Há uma estratégia do governo para se fazer isso, para se intervir na formação dos praças e oficiais brasileiros? E o senhor acha que a reconstrução, a reformatação da Comissão Nacional da Verdade pode ajudar nisso?
Lula: Olhe, primeiro eu acho que a palavra intervenção não é a mais correta. O que nós estamos fazendo é tentando mostrar para a sociedade brasileira que o militar não é melhor do que civil e civil não é melhor que militar. Que os dois são brasileiros, pois todos estão subordinados a uma Constituição. Cada instituição tem a sua função e o que nós queremos é que as Forças Armadas cumpra sua função constitucional, que estabelece o papel das Forças Armadas. É isso. Tem que cuidar da segurança desse país, tem que cuidar do nosso espaço aéreo, do nosso espaço geográfico e cuidar do nosso povo. E defender o Brasil contra possíveis inimigos externos. É esse o papel das Forças Armadas. É isso que nós queremos que eles cumpram. O que aconteceu, recentemente, com o 8 de janeiro, foi um desvio pela existência de um governante que sabia fazer tudo, menos governar. Que achava que poderia utilizar as instituições como instrumento dele para fazer política. Que não tinha nada de republicano na cabeça dele. O que é que nós estamos fazendo? Veja, primeiro, eu, essa semana, tive uma reunião com os três comandantes das Forças Armadas e com companheiro José Múcio para discutir uma participação dele no Rio de Janeiro. Eu não quero as Forças Armadas nas favelas, brigando com bandido. Não é este o papel das Forças Armadas e, enquanto eu for presidente, não tem GLO. Eu fui eleito para governar esse país e vou governar esse país. Agora, o que eu determinei é que a Aeronáutica pode reforçar o policiamento nos aeroportos, é que a Marinha pode reforçar o policiamento nos portos brasileiros, porque, nos aeroportos, as drogas e as coisas que são contrabandeadas são em quilos, nos navios são em toneladas. Em toneladas. São contêineres com 30, 40 toneladas. Então, é preciso que a Marinha tenha essa disposição. Foi feito um acordo com o ministro da Justiça com o ministro da Defesa e com o governo do Estado. Nós vamos ajudar. Nem a Polícia Federal tem que fazer o papel que é o papel da polícia do estado. A Polícia Federal tem que ajudar investindo em inteligência, detectando as pessoas e prendendo as pessoas. Mas a gente não vai fazer nenhuma intervenção, como já foi feita pouco tempo atrás, em que se gastou uma fortuna com o Exército no Rio de Janeiro e que não resolveu nada. Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos tiram férias. Quando termina a intervenção, eles voltam. Então, nós não queremos isso. Nós queremos a polícia estadual, a Guarda Nacional vai ajudar, a Polícia Rodoviária Federal vai ajudar, a Polícia Federal vai ajudar, o Exército vai ajudar dentro dos limites das Forças Armadas. E nós vamos tentar estabelecer esse papel. Nós temos uma PEC no Congresso Nacional, vocês devem estar acompanhando uma PEC que o militar que quiser entrar na política, ele entre, mas deixe as Forças Armadas. Ele não pode entrar na política, perde as eleições e volta para dentro da caserna, muito mais político do que militar. Então, ele tem uma escolha. Ele tem uma escolha. Se ele quiser ser candidato, ele renuncie ao posto dele e vai ser candidato. Não tem nenhum problema. Mas, enquanto militar, a gente vai tentar assegurar que ele não faça a disputa política. A carreira militar é nobre, o país precisa de uma Forças Armadas competente, preparada, bem armada e muito, muito disposta a não permitir que a gente seja invadido por nenhum inimigo. É isso que eu quero para as Forças Armadas. É por isso que, ainda no meu primeiro mandato, em 2010, a gente aprovou a estratégia de defesa no Congresso Nacional, que é o que funciona até hoje. A relação é muito boa com os militares. A gente não pode ficar julgando os militares pela loucura do que aconteceu no dia 8 de janeiro. Aquelas pessoas vão ser punida exemplarmente. Vão ser julgados pela Justiça Civil. Não vai ser julgado pela Justiça Militar, porque o crime não foi militar. O crime foi cível, político. É assim que a gente vai levar. O que eu quero é contribuir para recuperar a credibilidade das instituições brasileiras. Quero recuperar a instituição Poder Executivo, a instituição Poder Legislativo, respeitar a Suprema Corte, respeitar as outras instituições, Ministério Público, Polícia Federal. Porque somente com muita respeitabilidade, cada um cumprindo a sua função, esse país vai dar certo. Quando um deputado se mete a ser juiz e quando um juiz se mete a ser deputado, as coisas tendem a não dar certo. Cada um no seu lugar dará muito mais certo.
Delis Ortiz (TV Globo): Presidente, bom dia. Que tudo se faça novo na sua vida, nesse aniversário.
Lula: Eu nasci para cabecear, e não o cara que vai bater escanteio.
Delis Ortiz (TV Globo): Eu levanto, o senhor corta. O senhor tinha na equipe três mulheres que foram indicadas no começo do governo, assumiram, mas por causa dessa negociação que o senhor não abre mão, elas foram retiradas, saíram do governo e não foram substituídas por homens, por mulheres. As vagas estão sendo trocadas. Mulheres por homens. Essa é uma pergunta. A da Serrano, agora, recentemente, que, inclusive, divulgou uma nota dizendo que é preciso mudar esse jeito de fazer política. Criticando. Essa é uma pergunta. A outra que eu não posso deixar de fazer.
Lula: Isso não é pergunta, isso é uma afirmação verdadeira.
Delis Ortiz (TV Globo): Então, o que o senhor faz com essas vagas que foram substituídas? A outra, continuando, no tema vaga. PGR e Supremo Tribunal Federal vão ficar para 2024, já que o senhor não tem pressa e nós já estamos no fim do ano?
Lula: Não. Veja, deixa eu te dizer uma coisa: eu, às vezes, lamento profundamente não poder indicar mais mulheres do que homem no governo. Acontece que, quando você estabelece uma aliança com um partido político, nem sempre esse partido tem uma mulher para indicar. Mas isso não quer dizer que eu não possa, no governo, tirar homens e colocar mulher. Eu ainda posso trocar muita gente. Eu só estou com dez meses de mandato. Eu posso ter uma maioria de mulheres, não tem problema. Apenas as circunstâncias da indicação do cargo é que o partido não tinha mulher para indicar. E se bem que eu pedi para fazer um esforço para indicar mulher. Eu lamento, porque o que eu quero fortalecer no governo é passar a ideia de que a mulher veio para a política para ficar. É isso que eu quero passar. Então você pode ter certeza que ainda vai ter mais mulher no governo e em outros cargos, porque é uma disposição política minha de fazer isso. Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e ele não tem mulher, eu não posso fazer nada. A segunda coisa, não é que eu não tenho pressa. Eu tenho pressa, mas eu precisava fazer uma cirurgia. Eu estava, há 14 meses, com uma dor insuportável. Eu já não tinha mais paciência, eu chegava aqui, de manhã, já com humor muito azedo. As pessoas tinham medo de falar bom dia para mim, porque eu levantava doendo, eu vinha para cá doendo, sentava doendo. Em cada reunião eu ficava fazendo careta. Então, eu falei: "eu vou me cuidar para poder ficar de bom humor". Então, agora, eu não vou esperar o final do ano. Eu posso escolher amanhã, a semana que vem, depois de amanhã. É um direito meu de escolher, e eu vou escolher. Eu vou escolher as pessoas certas, adequadas para o lugar certo, em função da circunstância política que eu tenho que levar em conta a realidade política, não posso fechar os olhos e não enxergar que eu tenho que mandar um nome para ser aprovado pelo Senado. Eu tenho que escolher um procurador que tenha noção do papel, do que é um procurador do Estado. Procurador não pode ser procurador e fazer política. Ele tem que cumprir um papel sério do que é o procurador. Não fazer pirotecnia, não perseguir ninguém. É isso que eu quero. Eu vou indicar. Logo, logo, vocês vão saber que eu vou indicar. Eu vou indicar um procurador-geral ou uma procuradora. Vou indicar um ministro ou uma ministra. Eu vou indicar ao Cade, eu vou indicar mais gente e com muita tranquilidade. Eu não estou apavorado, não tenho pressa, não quero... Eu recebo muita sugestão, sabe? Nessas horas, como eu já fui presidente oito anos, eu tenho, na hora de indicar, sentar com a minha consciência e contar muitas vezes até dez, para indicar a pessoa que seja a mais correta possível, para cumprir a função de uma instituição do Estado. Eu não quero um amigo, eu não quero amigo. Eu quero alguém que seja sério, alguém que seja responsável. Porque eu não quero cometer nenhum abuso. Portanto, eu não tenho que escolher alguém que seja amigo meu. Eu tenho que escolher alguém que seja competente para a função e eu vou escolher. Quem sabe eu termine o meu governo com muito mais mulher no governo, porque, quando chegar o ano que vem, quando chegar em 2026, muita gente pede pra sair para ser candidato. Outros pedem pra sair para ser candidato a prefeito. Eu vou ter que ir preenchendo os cargos. É isso que vai acontecer. Eu tenho um compromisso programático de indicar mais mulher. Eu tenho um compromisso programático. Eu gostaria. Para mim é muito incômodo, eu sofro muito quando tenho que tirar uma figura como Ana Moser. Quando tenho que tirar a Maria Rita. É muito ruim, é muito desagradável. A única que eu não tirei foi a do Turismo, porque a do Turismo, ela trocou de partido quando ela não poderia ter trocado de partido. Mas, mesmo assim, eu fico chateado. Fico chateado e eu espero que o tempo me dê tempo para que eu possa corrigir um possível erro que eu tenha cometido de não indicar mulher para esses cargos.
Mariana Holanda (Folha de São Paulo): Presidente, ainda na seara de Supremo, queria perguntar para o senhor, objetivamente, o que o senhor acha do nome de Flávio Dino, que tem sido colocado como preferencial. Se o senhor teme uma reação do Senado ao nome dele, uma resistência, já que o Senado tem se colocado com um pouco de dificuldade com o Governo Federal. E eu queria também saber se o senhor acha que a meta fiscal, ela já é considerada irreal do ano que vem, porque o senhor falou que vai ser um ano difícil economicamente. Então, se o déficit zero, ele é irreal, ou se a gente ainda pode contar com isso? Obrigado.
Lula: Olha, se eu falar para você o que eu penso do Flávio Dino, eu tenho medo que a manchete do jornal seja "Lula tem preferência por Flávio Dino". Então, deixa eu falar: eu tenho em mente algumas pessoas da mais alta qualificação política desse país. Tem várias pessoas, não tem apenas um. E, obviamente, que eu sou obrigado a reconhecer que o Flávio Dino é uma pessoa absolutamente qualificada do ponto de vista do conhecimento jurídico, altamente qualificada do ponto de vista político. E é uma pessoa que pode contribuir muito. Mas eu fico pensando: aonde que o Flávio Dino será mais justo e melhor para o Brasil? É na Suprema Corte ou no Ministério da Justiça? Aí tem outra pessoa que eu fico pensando: "onde ele será mais justo? No lugar que ele está ou na Suprema Corte?". Isso é uma dúvida que eu tenho e que eu vou conversar com muita gente ainda até a hora de escolher, que está chegando a hora de escolher. Mas eu vou escolher a pessoa certa. Eu tive o prazer de indicar. Acho que eu fui o presidente que mais indicou ministro da Suprema Corte. Nunca pedi nenhum favor para eles. Nunca pedi para votar alguma coisa a meu favor, porque eu não escolho com o critério da amizade, de votar um amigo para quando eu precisar, ele votar em mim. E eu não quero isso. Pode? Pode. Pode tudo. Pode ser mulher, pode ser homem, pode ser negro, pode ser negra. Mas eu tenho, com muita tranquilidade, porque eu já tenho um acúmulo de experiência na indicação de gente. Mas eu vou ter, não posso fugir muito tempo, eu tenho que indicar. Agora que eu estou 100% recuperado, está chegando a hora de tomar uma decisão. Então, logo, logo, vocês vão saber quem é que eu vou indicar.
Cerimonial: Pessoal, a gente vai ter que encerrar. São 13h da tarde.
Lula: Deixa eu dizer para vocês uma coisa. Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai cumprir. O que eu posso te dizer é que ela não precisa ser zero. O país não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país. Então, eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que ele sabe que não vai ser cumprida. Então, eu sei da disposição do Haddad. Sei da vontade do Haddad. Sei da minha disposição. Quero dizer para vocês que nós, dificilmente, chegaremos à meta zero. Até porque eu não quero fazer corte de investimento em obras. E se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que que é? 0,25%, o que que é? Nada. Absolutamente nada. Então, nós vamos tomar a decisão correta e nós vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil.
Cerimonial: Obrigado, pessoal!
Lula: Eu quero agradecer a vocês, mais uma vez. Dizer para vocês que esse tipo de entrevista é muito bom e, ao mesmo tempo, muito difícil, porque não dá para todo mundo fazer a pergunta. Você hão que convir que, também, a gente não pode ficar o dia inteiro respondendo pergunta. A única coisa que eu quero é assumir o compromisso com vocês que, antes de terminar o final do ano, eu vou fazer um outro café da manhã para fazer a prestação de contas de tudo que aconteceu no nosso governo. Aonde que a gente encontrou dificuldade, o que que a gente pôde fazer, o que a gente fez, porque é assim que nós vamos governar esse país. Prestando contas à sociedade brasileira. Obrigado, gente, tenham um bom dia.
Eu pensei: "A imprensa está tão boa da cabeça que eu vou chegar lá e vai ter um monte de presente na mesa”. Não vi um. Ver se alguém se lembra de me dar um presente.
Importante dizer para vocês: eu resolvi não fazer nada nesse aniversário. Só os meus filhos vão participar, em casa, comigo, porque o mundo está mais para triste do que para alegria. Eu, sinceramente, cada vez que eu vejo uma foto daquelas crianças lá na Faixa de Gaza, eu fico com o coração partido como ser humano. Então não é motivo para fazer festa.
Mas eu quero agradecer a vocês, obrigado. Stuckert, eu não sei se vai dar foto, porque eu tenho um problema ainda que eu não estou 100%. Eu ainda vou levar. Eu estou com a quarta semana, eu vou precisar de seis semanas para ficar totalmente recuperado. Então eu queria só me despedir de vocês dizendo que o ‘Stuckinha’ poderia fazer uma foto daqui pra lá e pegar todo mundo.