Discurso do presidente Lula durante a inauguração da fábrica de celulose da Suzano em Mato Grosso do Sul
Meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Meu querido Eduardo Riedel, governador do estado do Mato Grosso do Sul. Meu amigo David Feffer, presidente do Conselho de Administração da Suzano, e o amigo Beto Abreu, diretor-presidente da Suzano.
Ministra e ministros de Estado: Rui Costa, da Casa Civil; Renan Filho, dos Transportes; Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário; e Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidente da República.
Meu amigo Carlos Brandão, governador do estado do Mato Grosso do Sul, ou melhor, do Maranhão, que o governador do estado do Rio Grande do Sul precisa descobrir o que é que ele está fazendo aqui. Acho que ele veio convencer a Suzano a fazer uma fábrica lá.
Minha querida senadora Soraya [Thronicke]; meu querido companheiro deputado estadual Evandro Lobeca, Camila Jara e Geraldo Resende. Meu caro Márcio Elias Rosa, secretário Executivo do MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços]. Deputados estaduais Zeca do PT, Renato Câmara, Paulo Correia, Gleice Jana, Roberto Hashioka e Pedro Pedrossian.
Companheira Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil; João Alfredo Donizete, prefeito de Ribas do Rio Pardo; Aires Galhardo, vice-presidente executivo de Operações em Celulose, Engenharia e Energia da Suzano; Paloma Vigiani, trabalhadora da Suzano.
Meus amigos e minhas amigas, eu queria começar a minha fala dizendo para vocês que eu sou realmente um brasileiro de sorte e de muita sorte. Não sei se vocês sabem, eu sou torcedor do Corinthians. E o Corinthians, há mais ou menos 30 dias, nós corinthianos estávamos rezando para que o Corinthians saísse da faixa de rebaixamento. Eu já contava que o Corinthians ia ser rebaixado. Qual não é a minha surpresa que eu tenho tanta sorte que o Corinthians agora está disputando a vaga da Libertadores e vai conseguir disputar a Libertadores. E o jogador que eu mais falei mal durante o ano inteiro é o principal artilheiro do Campeonato Brasileiro com 14 gols. Então isso só pode acontecer para alguém que tem muita sorte. Não vai acontecer para um cara que é azarado.
A segunda coisa, companheiros e companheiras, é que eu vinha dizendo para Simone e para o governador no helicóptero que aqui tem gente que faz check-up todo ano. Aqui tem gente que não faz check-up todo ano.
Mas eu queria falar para aqueles que fazem check-up todo ano. Quando vocês vão fazer check-up é porque vocês querem saber uma comparação do check-up anterior. A coisa que dá mais alegria para quem faz um check-up é ouvir o médico pegar o resultado dos exames e falar: “olha, teu colesterol está melhor. Não é isso? A tua glicemia está melhor, o teu coração está maravilhosamente bem”.
E aí, o cara volta para casa feliz da vida quando está melhor. Se der uma notícia ruim é porque ele é um cara de muito azar na vida. Eu digo isso, porque quando eu fui eleito presidente pela terceira vez eu tinha em mente que a gente tinha pegado um país semidestruído.
Vocês possivelmente não tenham noção do que aconteceu com esse país. Eu, às vezes, governador, faço provocação nos estados que eu visito e eu sempre pergunto: eu duvido que alguém consiga me apresentar uma obra estruturante feita nos últimos sete anos no estado do Mato Grosso do Sul. Pelo mais fanático defensor do governo passado, eu duvido que alguém apresente uma obra estruturante feita no estado do Mato Grosso do Sul. Se alguém souber, por favor, levanta a mão e fale o que foi feito de obra estruturante nesse país.
Diferentemente, quando eu tomei posse em janeiro de 2023, a primeira coisa que eu fiz foi convocar os 27 governadores de estado para dizer para eles que eu queria saber quais as três ou cinco obras mais estruturantes do seu estado para que a gente pudesse incluí-las num programa estruturante chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E o governador apresentou as propostas deles como todos os 27 governadores apresentaram as propostas deles.
Pela simples ideia de que o estado não é meu, de que o Brasil não é meu e de que o presidente da República não tem obrigação de conhecer todos os problemas em cada estado. E nada melhor do que a gente convidar para dizer o que é necessário na cidade alguém que governe o estado. E foi assim que nós construímos o Programa de Aceleração do Crescimento sem levar em conta qual partido que o governador pertencia, qual a ideologia do governador, que time ele torcia, que religião ele professava. Nós não queremos saber.
Eu só queria saber se ele tinha sido eleito governador do estado e quais eram as obras necessárias para o estado. E, assim, nós construímos o nosso Programa de Aceleração do Crescimento. E, depois, nós fizemos a mesma coisa com os prefeitos porque, habitualmente, um presidente da República ao governar e ao decidir transferir dinheiro para o município, ele transfere para os amigos. Ele transfere para as pessoas do partido dele. Ele transfere para o prefeito que ele tem vocação porque é seu correligionário.
O que é que nós fizemos? Nós fizemos uma coisa chamada PAC Seleções. Nós não escolhemos a cor do partido ou prefeito. Nós anunciamos a quantidade de recursos que a gente tinha e a gente fez um leilão chamado PAC Seleções. Os prefeitos se inscreviam com os seus pedidos e, em função da qualidade dos pedidos, a gente incluía os prefeitos no PAC Seleções.
Eu até conto uma história muito engraçada. Um prefeito da minha cidade, do estado de Pernambuco, o maior adversário que eu tinha no estado nessa reunião levou 164 milhões de reais para fazer obras de encostas, para fazer obras para resolver os problemas das enchentes, e eu disse para ele: prefeitos do PT, vizinhos da cidade deles, não receberam dinheiro. E ele recebeu dinheiro porque, quando a gente governa com seriedade, a gente não leva em conta amigos. Governar não é ter um clube de amigos, governar é trabalhar com muita seriedade e fazer aquilo que as cidades precisam que seja feito, independentemente de quem seja prefeito. E assim está feito. É por isso que nós estamos escolhendo hoje aquilo que foi plantado.
Eu disse ao governador e vou me reunir no dia 19 com todos os meus ministros, não só para fazer a despedida de fim de ano, mas para dizer algumas mensagens para eles. Nós passamos dois anos, do dia 1º de janeiro de 2023 até o dia 31 de dezembro de 2024, reconstruindo o país. Vocês não têm noção da quantidade de escolas que nós pegamos paralisadas. Vocês não têm noção da quantidade de casas do Minha Casa, Minha Vida que foram paralisadas.
Eu, hoje, estou inaugurando conjuntos habitacionais que começaram a ser construídos em 2013 e que simplesmente ficaram paralisados por irresponsabilidade. Porque alguém nesse país inventou que iria criar uma carteira verde e amarela. Porque alguém nesse país inventou que ia fazer cada verde e amarela e eu não vi nenhuma casa verde e amarela, porque no nosso governo as pessoas pintam a casa do jeito que quiser. Pode ser vermelha, pode ser branca, pode ser azul.
Pois bem, o que nós estamos colhendo? Eu sempre digo que a gente só consegue colher aquilo que a gente planta se a gente semear bem, se a gente limpar bem, se a gente adubar bem e se a gente colocar água. É isso que faz a gente ver uma floresta crescer, um pé de soja crescer, um pé de jabuticaba crescer.
Pois bem, eu comecei o ano com o FMI comunicando a mim na cidade de Hiroshima, no Japão, no meio de janeiro de 2023. A diretora-geral do FMI, que deve saber de tudo, menos de economia, ela foi me dizer que a economia brasileira iria crescer em 2023 apenas 0,8%. Eu disse pra ela: minha senhora, a senhora pode conhecer muito do FMI, mas a senhora não conhece do Brasil.
O que aconteceu de fato? Essa semana o IBGE publicou a correção do crescimento do PIB brasileiro que foi de 3,2%. Quatro vezes a mais do que o FMI previu. Agora, outra vez, algumas pessoas do mercado começaram a anunciar e a alardear na imprensa de que a economia brasileira não ia crescer mais que 1,5%. E para nossa bela sorte a economia brasileira vai crescer esse ano 3,5%. E se tomar cuidado pode chegar a 4%. É um dos maiores crescimentos de todos os países do mundo.
Além desse crescimento, nós temos que levar em conta que só tem importância para uma economia crescer se o resultado da economia for distribuído entre aqueles que produzem riqueza. Obviamente que o David Feffer e o Rafael são donos da Suzano. Obviamente que tem diretor, presidente do conselho, mas a verdade é que quem faz a empresa ficar rica, além dos investimentos, é o trabalho de milhares de pessoas que plantam, que semeiam, que fazem as plantas e daqueles que produzem aqui dentro.
Então essas pessoas têm o direito de participar do resultado do crescimento. É o mínimo que a gente pode fazer, porque se não este país já cresceu 14% na década de 70 quando o Delfim Neto era ministro da Fazenda, e quando a gente foi aferir, o povo estava mais pobre. Porque o crescimento tem que ser distribuído, para que as pessoas possam ter a massa salarial crescendo. E outra coisa que eu tenho sorte é que a massa salarial cresceu 11,9%. É o maior crescimento da massa salarial desde que a gente está medindo.
Além disso, a gente resolveu fazer com que este crescimento seja combinado com o aumento do salário mínimo. E eu tenho dito, David, eu tenho dito sempre, governador, que é importante que o empresário na hora de pagar salário, muitas vezes ele acha que o salário é muito alto. “Puxa vida, eu estou pagando para um soldador muito salário. Eu estou pagando para uma moça que planta ave muito salário. Eu estou pagando para a moça que trabalha no comércio muito salário”.
E eu tenho pedido aos empresários que quando eles olharem os seus trabalhadores para eles não acharem que estão pagando muito, eles têm que olhar o trabalhador como seu consumidor. Porque todo empresário acha que a coisa mais importante na face da terra é o seu consumidor. E se ele ao invés de olhar o pagamento de salário caro, ele tem que entender que aquele salário que ele está pagando vai criar um consumidor que vai comprar o produto que ele fabrica. E quando o trabalhador vai comprar o produto que ele fabrica, o comércio vai vender, a fábrica vai crescer, vai gerar mais emprego e todo mundo ganha. É essa a lógica do sistema capitalista.
E eu tenho dito mais: muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, significa pobreza, significa analfabetismo, significa desnutrição. Agora, o contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, significa que você está permitindo que todas as pessoas tenham acesso a comprar o que comer, a comprar o que vestir, a ter acesso aos bens que ele produz. É essa economia que vai fazer o país dar certo.
Quando vocês veem na televisão a história do mercado reclamando. Aliás, ontem saiu uma pesquisa, governador, que 90% do mercado, daqueles que compõem a Faria Lima, são contra o meu governo. Eu já ganhei 10% porque nas eleições eles eram 100% contra. Então eu já cresci, já ganhei 10% deles. E o que me interessa na verdade? O que me interessa é o resultado do tipo de jabuticaba que você plantou.
Eu vou dizer para vocês uma coisa: eu não voltei a ser presidente da República porque eu precisava ser presidente da República. Eu voltei a ser presidente da República para provar, mais uma vez, que um torneiro mecânico sem diploma universitário tem mais capacidade de governar esse país que todos aqueles que têm vários diplomas de doutores, mas que não tem sensibilidade social. Porque pobre nesse país é tratado como se fosse invisível. Aliás, pobre só é enxergado na época das eleições. Na época das eleições, o pobre é a pessoa que tem mais valor no mundo. Todo mundo vai atrás de pobre, todo mundo pega a criança pobre, todo mundo tira fotografia. Depois que ganha as eleições, desaparece, e os pobres ficam [inaudível].
E eu quero dar visibilidade aos invisíveis e não quero muito, governador, não quero muito. Eu não quero que ninguém perca nada, mas eu quero que todo mundo tenha o mínimo necessário. Está na Constituição, está na bíblia, na declaração de direitos humanos da ONU: todo mundo tem direito a comer três vezes por dia. Todo mundo tem direito a moradia. Todo mundo tem direito a escola de qualidade.
É por isso que nós aprovamos um programa chamado Pé-de-Meia que está colocando na escola no ensino médio mais de 3 milhões e meio de adolescentes que estavam desistindo da escola para poder trabalhar em casa. E nós resolvemos assumir a responsabilidade de fazer um programa e colocar um pagamento para que esse jovem não desista da escola. Porque se ele desistir, a vida dele não terá mais sentido. A gente vai encontrar com eles no narcotráfico. A gente vai encontrar com eles no crime organizado. E se tiver que investir em escola, eu vou investir, porque é mais barato do que investir na construção de cadeia para cuidar de bandido.
Obviamente que tem gente que não gosta disso porque tem gente que só ele quer ganhar. As pessoas não se importam que tenha gente comendo 5 vezes por dia e tem outro que passe 5 dias sem comer. As pessoas não se importam que eles possam viajar o mundo inteiro fazendo férias e outro que não consegue sair da cidade que ele mora. As pessoas não se contentam de que é importante a gente cuidar das pessoas que mais necessitam do Estado.
E é esse país que eu vou entregar, como entreguei em 2010. É importante que a gente não esqueça o que aconteceu em 2010. Em 2010, eu entreguei a economia crescendo 7,5% ao ano. A maior geração de emprego da história desse país e o maior crescimento de salário desse país. Eu vou entregar outra vez. É por isso que nós temos hoje a menor taxa de desemprego da história desse país: 6,2% de desemprego é quase pleno emprego. Nós vamos entregar outra vez.
Nós vamos entregar a economia crescendo, o povo consumindo e o mercado reclamando e nós vamos entregar as empresas que investem na produção fazendo como você, David, fazendo investimento concreto porque o que importa é isso. O que importa é isso. De vez em quando, eu ouço dizer: “presidente, mas o agronegócio não gosta do senhor”.
Ele não gosta de mim por outras razões. Ele pode não gostar de mim pela cor da minha pele, pela minha origem, mas se for por conta de dinheiro, nunca o agronegócio recebeu de qualquer governo a quantidade de recursos que recebe do meu governo. Nunca, nunca.
Bem, é só ver o que está acontecendo com a agricultura familiar, é só ver o que está acontecendo com o pequeno e médio empreendedor, é só ver o que está acontecendo com o pessoal que trabalha com o Uber. Ou seja, porque a minha lógica econômica é que o dinheiro tem que circular. O dinheiro tem que circular na mão de todo mundo. Se o dinheiro não circular, ele vai ser concentrado num banco fazendo especulação, e o povo passando fome aqui nessa cidade ou em qualquer outra cidade. É esse o país que nós precisamos construir para construir uma classe média, para construir pessoas que tenham a chance que teve a companheira, que com o esforço dela estudou, se formou engenheira e está aqui vivendo.
Nós precisamos criar condições para todas as pessoas terem a vontade delas e a oportunidade delas. Sobretudo pessoas negras e, mulheres, que são tratadas como se fossem cidadãs de segunda classe. Eu quando entrei no carro ali, quando eu fui parar para tirar a fotografia eu falei para o David e falei para o diretor da empresa: quantas mulheres!
E eu fico muito feliz que as mulheres, quando têm chance, elas aprendem a entrar no mercado de trabalho. Lamentavelmente, os homens ainda não aprenderam a entrar na cozinha para ajudar a companheira a fazer as tarefas de casa, no cuidado dos filhos, no cuidado da família.
É importante que a sociedade civilizada e humanizada que a gente quer criar é um compartilhamento entre parceiros. Não é esse negócio do homem ficar sentado na televisão: “amor, me entrega uma cerveja, me traz não sei das quantas. Amor, pega as minhas cuecas. Amor, pega minha toalha”. Levanta e pega. Você não é aleijado. Levanta e pega, e deixa a companheira descansar.
É esse país humanizado, é esse país solidário, é esse país muito mas muito humanitário que eu quero entregar quando terminar o meu mandato.
Parabéns a Suzano. Parabéns aos trabalhadores da Suzano. Parabéns aos convidados. E até outro dia, se Deus quiser. Um abraço.