Declaração do presidente Lula à imprensa após receber alta hospitalar no Hospital Sírio-Libanês
Isso aqui não é uma entrevista. Isso aqui é apenas uma sessão de agradecimento. De agradecimento, primeiro, a Deus, que tem tomado conta de mim de forma muito generosa.
Cuidou de mim quando eu tive o câncer, que eu tratei aqui nesse hospital em 2012. Cuidou de mim quando eu fiquei sobrevoando o aeroporto da Cidade do México durante cinco horas para poder ter tempo de pousar e esvaziar o tanque do avião, que foi um momento muito delicado, não apenas na minha vida, mas na vida de todas as pessoas que estavam no avião.
Acho que Deus foi muito generoso ao cuidar de mim quando eu caí um tombo no banheiro. E eu faço questão de explicar de viva-voz. Eu não estava cortando a unha do pé. Eu estava cortando a unha da mão.
Eu não estava em pé. Eu estava sentado. Eu já tinha cortado a minha unha, já tinha lixado a minha unha. Quando eu fui guardar o estojo, eu, em vez de levantar e abrir a gaveta, eu tentei afastar o meu bumbum do banco. O banco era redondo, acabou. O meu bumbum não levitou e eu caí.
E bati com a cabeça na hidromassagem e fez um estrago razoável. E eu, graças a essa turma de médicos que está aqui, eu outra vez me recuperei. A única surpresa que eu tive é que eu achei que eu estava curado.
Depois da última tomografia, depois da quinta tomografia, eu achei que estava totalmente curado. Achei que já podia fazer tudo. Voltei a fazer esteira. Voltei a fazer musculação. E eu não estava totalmente preparado para voltar a fazer o exercício.
E fui normal. Viajei para o Rio de Janeiro. Participei do acordo da União Europeia com o Mercosul. Era uma questão de honra fazer o acordo, porque eu tinha dito para a companheira Ursula von der Leyen que, se não fizesse o acordo, eu não ia participar mais de acordo.
Era preciso fazer. E conseguimos fazer o acordo. Voltei para o Brasil tranquilamente, bem.
Fui numa homenagem feita para a Janja na sexta-feira. E estava bem. Passei bem no sábado. No domingo, eu fui no Torto [Granja do Torto, casa de campo oficial da Presidência da República]. A Janja fez um arroz à carreteira de primeiríssima qualidade. Na segunda-feira, eu levantei e comecei a sentir uma leve dor de cabeça.
Lá no domingo, eu estava sentindo a dor de cabeça. E eles tinham me alertado. Qualquer problema de dor de cabeça, você comunica a gente.
E a Janja perguntava para mim: “você está com dor de cabeça?”. Eu achava que eu não estava com dor de cabeça, porque, como eu tomei banho na piscina e tomei sol, eu achei que era um problema do sol. Fui para casa no domingo, estava razoavelmente bem.
Na segunda-feira, eu acordei sentindo algumas coisas estranhas. Algumas coisas estranhas nos meus passos. A dor de cabeça continuou. Eu ainda continuava achando que era por causa do sol.
Quando foi no final da tarde, eu mandei chamar a doutora Ana [Ana Helena Gremoglio, médica do presidente] no meu gabinete e disse para ela que eu estava sentindo umas coisas estranhas.
Eu estava sentindo meus passos mais lerdos. Eu estava com os olhos vermelhos. Eu estava com muito sono. A toda hora, eu abria a boca e falei para ela: acho que é bom a gente ir no médico.
E quando eu fui no médico, seis horas da tarde, que, os companheiros [falha na transmissão] tomografia que foi feita, sabe, em tempo real para eles, eles ficaram assustados e pediram para mim vir urgente para São Paulo. Como eu achava que eu estava curado, eu confesso a vocês que eu fiquei um pouco assustado pelo volume de crescimento da quantidade de líquido na minha cabeça.
Eu fiquei preocupado. E com a urgência que eles pediram para eu vir para cá, nós decidimos vir rápido. Lamentavelmente, o meu avião não estava em Brasília, estava no Rio de Janeiro.
Eu tive que esperar o avião vir do Rio de Janeiro para me pegar. E quando chegamos aqui, eu nem sei em quanto tempo eles demoraram para fazer a cirurgia, que foi abrir a cabeça, foi tirar o líquido, foi jogar muito soro na minha cabeça e foi para tirar o líquido.
E eu, graças a eles, graças a Deus, graças, sabe, à Janja, e graças aos enfermeiros que trabalharam, às pessoas que cuidaram de mim, sabe, à Mônica, que está me voltando a ensinar a comer aos 80 anos, porque eu preciso comer devagar, eu preciso respirar para comer, eu estou aqui inteiro
Aquele casal que está lá, o André e a esposa dele, que cuidaram de mim de forma extraordinária, a Andriele Rezende e o André, que cuidaram de mim todo dia que eu fiquei aqui. Então, eu estou voltando para casa agora tranquilo, certo de que eu estou curado e que eu preciso apenas me cuidar. Eu não posso fazer esteira numa velocidade de atleta, que eu não sou atleta.
Eu preciso parar de fazer musculação um tempo, eu preciso ficar pelo menos uns 60 dias mais ou menos tranquilo, mas posso voltar a trabalhar normal. Eu vou apenas ficar com cuidado até em casa, na quinta-feira, aqui em São Paulo, vou fazer a última tomografia e depois eu vou voltar a trabalhar.
Eu tenho reunião ministerial para fazer até o final do ano, eu tenho que decidir se eu venho no Natal dos catadores de material reciclável aqui, que eu faço todo ano em São Paulo, e vou passar, sabe, não vou para a praia, vou passar o Natal em casa, vou passar o ano-novo em casa e vou tentar obedecer de forma muito, muito, eu diria, com respeito às orientações do médico, eu sou muito disciplinado, doutor Marcos, eu sou muito disciplinado. Eu nunca penso que vou morrer, mas eu tenho medo, então eu preciso me cuidar, e a disciplina, eu sei me cuidar muito bem.
Então é isso que aconteceu comigo, eu só fui tomar ciência da gravidade do que aconteceu comigo depois da cirurgia, na segunda-feira, na terça-feira à noite, o doutor Marcos [Marcos Stávale, neurocirurgião] foi conversar comigo, junto com o Tuma [Rogério Tuma, neurologista], junto com o Zé Guilherme [José Guilherme Caldas, radiologista vascular], junto com o Kalil [Roberto Kalil Filho, cardiologista], junto com a doutora Ana [Ana Helena Gremoglio, médica do presidente], e me contaram a gravidade do que aconteceu comigo.
Ou seja, eu só fui ter noção da gravidade já depois da cirurgia pronta, depois da cabeça estar nova, doendo ainda, porque o trabalho ortopédico para mexer numa cabeça também não é fácil, mas eu estou tranquilo, me sinto bem, vocês sabem que eu reivindico o direito de viver até 120 anos, porque quem vai viver 120 anos já nasceu, e eu acho que eu tenho o direito de reivindicar que seja eu.
Então eu tenho muita expectativa, e, sinceramente, eu sou um cara muito disciplinado para fazer as coisas, eu tenho um compromisso muito grande com esse país. Quando eu voltei a ser presidente, eu disse para vocês que a minha maior vontade era trazer o Brasil de volta à normalidade, à normalidade democrática, fazer voltar a funcionar o respeito entre as pessoas, fazer voltar o respeito entre as instituições, que cada um cumpra com o seu papel, cada macaco no seu galho, tudo ficará resolvido nesse país.
E eu voltei para dizer que nós vamos fazer um grande governo, nós plantamos até agora, recuperamos tudo o que tinha que recuperar, vocês sabem a quantidade de coisa que estava desmontada nesse país, porque, na verdade, o Brasil não teve um governo de 2019 a 2022, o Brasil teve uma praga de gafanhoto que resolveu destruir os valores nesse país, o respeito à democracia, o respeito às instituições, o respeito à governabilidade desse país.
E eu quero, dia 31 de dezembro de 2026, entregar esse Brasil mais alegre, esse Brasil sem fome, esse Brasil com mais emprego, esse Brasil com mais respeito, esse Brasil sem fake news, esse Brasil sem mentira.
E quem quiser pregar o ódio e a mentira, que procure outro planeta para viver, porque aqui no planeta Terra e no Brasil não há direito.
Como eu sei que vocês vão perguntar, mas não estava prevista a resposta, eu tenho muita paciência. O que aconteceu essa semana com a decretação da prisão do general Braga [Walter Souza Braga Netto, militar da reserva, ex-ministro da Defesa], eu vou demonstrar para vocês que eu tenho mais paciência e sou democrático.
Eu acho que ele tem todo o direito à presunção de inocência. O que eu não tive, eu quero que eles tenham. Todo o direito e todo o respeito para que a lei seja cumprida.
Mas se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente. Esse país teve gente que fez 10% do que eles se fizeram e que foi morto na cadeia. Então, não é possível a gente aceitar o desrespeito à democracia, não é possível a gente aceitar o desrespeito à Constituição e não é possível a gente admitir que, num país generoso como o Brasil, a gente tenha gente de alta graduação militar tramando a morte de um presidente da República, tramando a morte de seu vice e tramando a morte de um juiz que era presidente da Suprema Corte Eleitoral.
Então, eu quero que vocês saibam, estou voltando com muita tranquilidade, tenho muito trabalho para fazer, eu tenho um compromisso com esse país, eu tenho um compromisso com o povo brasileiro e eu quero deixar a Presidência da República do mesmo jeito que eu deixei em 2010, de cabeça erguida, consciente de que esse país estará muito melhor.
Espero contar com os trabalhos extraordinários dessa equipe de saúde. Porque eu posso dizer para vocês que, na verdade, eles me trataram como se fosse, não um paciente, sabe? Mas me trataram como se fosse um irmão.
Eu fui tratado com muito carinho, apesar das dores que eu estou sentindo na minha cabeça. Eu pus um chapéu para vocês não verem, o curativo que o doutor Marcos acabou de fazer agora. Eu não quero que vocês vejam, porque eu sou um cara teoricamente bonito, mas, na prática, minha cabeça está me deixando um pouco feio.
Então, carinho, muito obrigado, obrigado. Obrigado, Zé, obrigado, Marco, obrigado, Ana, sabe? E obrigado, Janjinha, que ela não é médica, mas é quem cuida especialmente de mim. Obrigado ao Stuckert [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual], que todo dia me enche o saco.
“Presidente, o senhor não está bem. Presidente, o senhor tem que ir no médico”. E agradecer às pessoas que rezaram, às pessoas que ficaram pedindo a Deus para eu sarar.
E aquele que também tenha ódio, está perdoado. Porque eu estou aqui vivo, inteiro, com mais vontade de trabalhar. Eu vou dizer para vocês uma coisa que eu dizia durante a campanha.
Tenho 79 anos, tenho energia de 30 e tesão de 20 para construir esse país. É esse Lula que volta inteiro para cuidar do Brasil. Muito obrigado, gente.
Que Deus abençoe vocês também.