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Minha visita de Estado ao Japão é o ponto alto das comemorações de 130 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Japão. Relações diplomáticas que nós celebramos neste ano de 2025.
Trago comigo uma expressiva delegação de ministros, parlamentares, empresários e sindicalistas. Fomos recebidos ontem com imenso carinho pelo Imperador Naruhito e pela Imperatriz Masako. Hoje mantive uma reunião muito produtiva com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba.
Decidimos realizar encontros periódicos a cada dois anos, refletindo o grau de ambição do relacionamento Brasil e Japão. Assinamos dez acordos com o governo japonês. Outros 80 instrumentos de cooperação foram firmados por entidades subnacionais, universidades, institutos de pesquisa e empresas.
Adotamos o plano de ação da parceria estratégica e global, com iniciativas concretas para revitalizar nosso intercâmbio. Cuidar dos 211 mil brasileiros que residem no Japão é um tema prioritário. Reiterei ao primeiro-ministro a importância do reforço do ensino do idioma japonês para a inclusão das 30 mil crianças e adolescentes brasileiros no ensino público.
Concordamos que o comércio bilateral de 11 bilhões de dólares não corresponde ao tamanho de nossas economias. Nossa meta é superar os 17 bilhões de dólares registrados em 2011. O fórum empresarial realizado nesta manhã ampliou os horizontes para a cooperação com o setor privado.
Espero lançar negociações de um acordo com o Japão durante a presidência brasileira do Mercosul no próximo semestre. A compra de aeronaves da Embraer por empresas japonesas demonstra a capacidade de nossa indústria. A recente decisão de incrementar o uso de biocombustíveis no transporte e na aviação no Japão abre espaço para trabalhar juntos pela transição energética.
A descarbonização é um caminho sem volta e é perfeitamente compatível com o objetivo de segurança energética.
Não faltam oportunidades no Brasil.
Nos últimos dois anos, superamos expectativas e crescemos acima de 3%.
Há poucos dias, apresentei projetos de lei para assegurar que o sistema tributário deixe de penalizar os mais pobres. Estamos gerando renda e reduzindo desigualdade. No pavilhão do Brasil na Exposição Mundial de Osaka, apresentaremos ao mundo o nosso potencial.
Japão e Brasil seguirão trabalhando juntos em medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima, combate ao desmatamento e prevenção de desastres naturais. Saúdo a adesão japonesa à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que lançamos no G20 e que facilitará a atuação conjunta na promoção da segurança alimentar e nutricional do mundo. O Japão também se tornou o primeiro país asiático a contribuir para o Fundo Amazônia.
O Brasil está convocando todos os líderes mundiais a participar do mutirão global da COP30 contra a mudança de clima, apresentando NDCs ambiciosas e alinhadas com a meta de 1,5°C. A NDC brasileira reduz até 2035 as emissões de gases de efeito de estufa de 59% a 67% em comparação aos níveis de 2005. O primeiro-ministro e eu concordamos que a sustentabilidade, a paz e a democracia são essenciais para o futuro do planeta. O extremismo, o discurso de ódio e as notícias falsas solapam instituições e fomentam a intolerância.
Na Ucrânia, sempre defendi que todas as partes interessadas participem das negociações em prol de uma paz duradoura. Por isso, o Brasil e outros países emergentes criaram um grupo de paz.
A situação no Oriente Médio exige respostas urgentes da comunidade internacional. A recente violação do cessar-fogo em Gaza soma-se a uma sequência de afrontas ao direito humanitário.
2025 será um ano-chave para o multilateralismo. Precisamos nos unir em torno dos interesses comuns da humanidade e na COP30 em Belém, na Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento em Sevilha e na Cúpula do G20 em Joanesburgo.
Por fim, expus ao Primeiro-Ministro que a defesa do multilateralismo será tema central da Cúpula do BRICS que o Brasil sediará no Rio de Janeiro.
Primeiro-Ministro Ishiba,
gostaria de dizer à imprensa brasileira e à imprensa japonesa que essa viagem nossa ao Japão, ela cria um novo marco de responsabilidade e de grandeza na relação Japão-Brasil.
Nós entendemos que o mundo atravessa uma situação política difícil, uma situação econômica complicada e muita insensibilidade na relação política entre os Estados.
Protocolos como o de Kyoto não foram cumpridos, acordos como o de Paris não foram cumpridos e alguns países já desistiram. Nós estamos vendo os países que simbolizavam a ação democrática sofrendo o risco de desestabilização pela função e participação da extrema-direita.
Nós vimos o que está acontecendo na Europa, que era uma parte do mundo que só vivia em termos de tranquilidade. E hoje, depois da guerra da Ucrânia, o que nós estamos assistindo é a Europa voltar a se preparar para comprar armas, para investimento em seu armamento. Nós estamos vendo com muita seriedade o fim do cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde muitas pessoas já foram mortas e essa semana nós tivemos a tristeza de ver um brasileiro que foi preso na prisão em Israel.
Por tudo isso, primeiro-ministro, a relação Brasil-Japão ganha uma nova dimensão. O Japão é um país democrático. O Japão é um país desenvolvido do ponto de vista econômico, do ponto de vista científico e do ponto de vista tecnológico.
O Brasil é um país que acompanha a passos largos a necessidade de se desenvolver, de investir em educação, de investir em ciência e tecnologia, de investir em pesquisa, porque nós temos consciência de que não há possibilidade de um país crescer, de um país se desenvolver e de um país ficar rico se não houver um maciço e forte investimento em educação.
E nós queremos aprender com o Japão e queremos colocar em prática no Brasil todos os avanços científicos e tecnológicos que o Japão obteve nesses últimos anos. E é com essa pretensão que eu volto ao Brasil, para dizer ao povo brasileiro que nós reforçamos a nossa relação com o Japão, que nós queremos aumentar o nosso comércio, que nós queremos vender e queremos comprar, que nós queremos fazer parcerias entre a indústria japonesa e a indústria brasileira, que nós queremos que o Japão adote, sabe, no Brasil, a perspectiva da produção do etanol, do hidrogênio verde e do combustível renovável.
Nós temos certeza absoluta de que o Brasil será quase que o carro-chefe da transição energética nesse século XXI. Nós temos um potencial que poucos países do mundo têm. E nós queremos contar com a expertise japonesa, com a tecnologia japonesa, com o investimento japonês, para que o Brasil no século XXI deixe de ser um país simplesmente emergente ou em vias de desenvolvimento e o Brasil se transforme definitivamente num país desenvolvido do ponto de vista tecnológico e científico, num país desenvolvido do ponto de vista da competência, de competitividade da sua indústria e num país desenvolvido do ponto de vista da qualidade de vida do povo brasileiro.
É por isso que nós fizemos uma reforma agrária robusta. É por isso que nós estamos investindo em educação. É por isso que nós estamos investindo em infraestrutura. O maior investimento já feito pelo Brasil em infraestrutura, em ferrovias, estradas, portos, aeroportos e hidrovias. Com investimento de um trilhão e setecentos bilhões de reais. E é com essa perspectiva que eu saio do Japão, para dizer não apenas aos nikkeis brasileiros, mas dizer ao povo brasileiro que a relação entre Brasil e Japão mudou de patamar e que nós queremos, tanto para o Japão quanto para o Brasil, melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro e do povo japonês.
Liberdade para o Japão e para o povo brasileiro. Democracia para o Japão e para o povo brasileiro. Não protecionismo para o Japão e para o povo brasileiro.
Mais liberdade, mais desenvolvimento, mais investimento e mais crescimento. É isso que eu desejo para o Japão e para o Brasil.
Muito obrigado.