Pronunciamento do presidente Lula em cerimônia de assinatura de acordo para descentralização da gestão de hospitais federais no RJ
Eu já há muito tempo, eu disse à companheira Nísia [Trindade, ministra da Saúde] que era preciso que a gente tratasse com muito respeito os hospitais federais do Rio de Janeiro. Já que é para ter hospital, que ele seja um hospital de excelência. Que ele seja um hospital motivo de orgulho para qualquer brasileiro que, estando no Rio de Janeiro, precise de um socorro médico.
E não era possível a gente continuar vendo hospitais desfalcados de funcionários, desfalcados de funcionamento de sala de cirurgia. Eu lembro que no Hospital Bonsucesso nós temos cinco UTIs paralisadas. Eu lembro que nós temos 300 leitos abandonados, além de pronto-socorro que não funciona. Ou seja, isso está nas costas do Governo Federal.
Então, se o Governo Federal não tem condições, que a gente procure um jeito melhor de administrar. Você sabe que o Rio de Janeiro é um estado tão privilegiado, que os outros 26 estados da Federação se queixam muito. "Por que o Rio de Janeiro tem seis Hospitais Federais e não tem nos outros estados da Federação?". É a mesma forma, você veja, o governador de Brasília [Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal] ficou irritado, porque, na nova coisa que a gente quer fazer do dinheiro, a gente tirou, sabe, o IPCA, e colocou apenas o... Porque não era possível ele receber mais do que os outros estados. Aliás, já é o estado que recebe mais, se comparado a qualquer outro estado. Então, aos poucos, a gente vai tentando fazer esse país voltar à normalidade.
O que é voltar à normalidade? É tratar todo mundo com o mesmo respeito. Fazer com que todo estado tenha a mesma possibilidade de se desenvolver. Vocês estão percebendo que, para a surpresa dos descréditos aqui, você veja que, o PIB de 2023, não foi 2.9[%], foi 3.2[%]. O PIB de 2024 não será o 1,5%, como o mercado previa, vai ser 3,5%.
E a gente vai fazer um esforço muito grande para continuar fazendo as coisas acontecendo nesse país, independentemente daqueles que querem trabalhar contra. Eu sempre digo o seguinte: governar é como plantar uma árvore ou plantar uma rosa. Você só vai ser medido pela sua competência quando você estiver colhendo o que você plantou.
Se você mentiu, se você contou inverdades, você não vai colher. Você não vai colher. Então, o que nós queremos é mostrar que as coisas vão acontecer neste país. Vão acontecer porque eu defini, na minha cabeça, uma máxima: uma máxima que algumas pessoas não gostam. É a máxima de dizer que muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, significa empobrecimento, significa prostituição, significa desnutrição infantil. Ao contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o inverso. Significa a sociedade comer mais, significa a sociedade trabalhar mais, significa a sociedade ter aquilo que é um direito de todo mundo ter.
Este dia eu fiz uma reunião aqui, Eduardo [Paes, prefeito do Rio de Janeiro], com os atacadistas do Brasil e a grande reclamação era que falta mão de obra. E, veja que absurdo: falta mão de obra no momento em que a gente tem o menor índice de desemprego da história desse país.
Agora, o pessoal costuma jogar a culpa no Bolsa Família, porque tem sempre alguém a ser culpado, e o culpado é o pobre. Então, o pessoal joga a culpa em cima do Bolsa Família, o pessoal joga a culpa nos aposentados do INSS, o pessoal joga a culpa no BPC. Tudo coisas que nós estamos fazendo com a maior delicadeza possível. A gente não quer ir para as páginas dos jornais punindo alguém que não pode ser punido.
A gente quer fazer um levantamento fidedigno. A gente vai fazer com que todas as pessoas façam o levantamento da sua situação real. Aqueles que têm direito vão continuar recebendo. Aqueles que estão de forma ilícita vão parar de receber. Esse é o preço que a gente paga por ser sério. Eu disse para os empresários: o que é importante a gente lembrar é que hoje o trabalhador não quer mais trabalhar como ele trabalhava antigamente. O cara não quer mais trabalhar 48 horas e ter um chefe enchendo os pacotes dele o dia inteiro. O cara quer ficar, sabe, em home office, o cara quer ficar trabalhando menos horas, o cara quer trabalhar de Uber, o cara quer trabalhar na entrega de comida. E ele não quer trabalhar para ganhar R$1.900. É preciso a gente pensar que as pessoas querem mudar de padrão. Os caras querem ficar mais tempo em casa, os caras querem cuidar mais da família.
E também o pessoal, sabe, os empresários, precisam perceber que mudou os tempos e nós vamos então evoluir para que a gente possa construir um mundo de trabalho mais moderno do que a gente herdou de Getúlio Vargas [ex-presidente da República]. É importante lembrar que tudo isso vem de 1943. Então, o que nós queremos é aperfeiçoar esse mundo de trabalho.
E aí, Eduardo, quando eu vejo a questão da saúde no Rio de Janeiro… O Rio de Janeiro não é um hospital que cuida só do Rio de Janeiro, porque é um estado que recebe muito turista, é um estado que recebe gente de fora, gente de dentro. Então, é preciso que a gente tenha, pelo menos, naquilo que é o mais elementar que as pessoas vão ter, uma saúde respeitosa. Eu estou brigando com a companheira Nísia, há dois longos anos, porque eu quero entregar na saúde pública, o Mais Especialistas.
Eu tenho dito para a Nísia: companheira Nísia, o povo já não quer mais a primeira consulta. A primeira consulta ele já tem garantida pelas políticas de saúde estadual, municipal e do SUS. O povo agora quer a segunda consulta. Ou seja, ele vai no médico, o médico diz que tem um outro problema qualquer e manda ele procurar o chamado especialista. Esse chamado especialista demora 10 meses, nove meses, oito meses. Se a gente pudesse parar o relógio e mandar a doença esperar, a gente não consegue.
Então, nós precisamos garantir que esse povo tenha a segunda consulta e, ao mesmo tempo, nós precisamos garantir o efeito da segunda consulta. É que, quando ele vai fazer a segunda consulta, vem o pedido dos exames, vem o pedido do Pet Scan [exame de imagem indicado para investigar alguns tipos de câncer], vem o pedido da ressonância magnética, sabe, que demoram mais 10 meses e a gente não pode pedir para a doença esperar.
Então, todo o trabalho que nós estamos tentando montar é para que a gente, antes de terminar o mandato, a gente possa comunicar ao povo brasileiro, ainda este ano, que eles vão ter o Mais Especialistas.
Porque o cara não quer ir no médico para provar que ele está doente, ele já sabe que ele está doente, é por isso que ele vai no médico. Ele, também, não vai no médico para pegar a receita, sabe, ele não vai no médico. O que ele precisa é o seguinte: é ir no médico e sair do médico com a perspectiva de que ele vai ser curado. Eu vou ter acesso a todas as formas de tratamento que for possível. É por isso, Eduardo, que nós estamos depositando fé na sua... Primeiro, o grau de companheirismo que nós temos na relação política. Segundo, o grau de competência de gestor.
E, logo, logo, a gente vai para cima do Quaquá [Washington Quaquá, prefeito eleito de Maricá/RJ] para ele fazer Maricá tratar melhor do que o Rio de Janeiro, sabe? Então, pois é, mas o Quaquá é rico, mas eu preciso de projetos bons para fazer investimentos. Então, nós vamos levar alguns projetos para o Quaquá. E eu vi que você já trouxe até um prefeito novo aqui. Você já foi atrás do prefeito de Uberlândia? Você já está em campanha, cara?
É campanha para melhorar a saúde. Na verdade, ele te convidou aqui para ele aprender com você o que você está fazendo para a saúde do governo.
Nós temos muita coisa para fazer. Nós temos muita coisa para fazer. Eu tenho dito, Eduardo, que acabou, no meu mandato, a época de plantio. Nós já fizemos tudo o que nós tínhamos que fazer para consertar o que a gente recebeu e para plantar o que a gente tem que entregar.
Então, a partir do dia 1º de janeiro, Eduardo, aqui, a gente não tem mais nenhum projeto novo. A gente só tem de fazer colheita daquilo que foi plantado.
E, certamente, a gente vai colher coisas boas no Rio de Janeiro. A gente vai colher boas na Bahia, porque o Rui [Costa] é o chefe da Casa Civil, é da Bahia. Então, está sempre sobrando um projetozinho na Bahia. Sabe, Sergipe também sobra muito projeto.
E a coisa mais importante, gente, que nós vamos deixar é se a gente conseguir, ao terminar o mandato, que a gente tenha uma relação civilizada entre a sociedade brasileira. Eu digo sempre: ninguém precisa gostar de ninguém. Ninguém precisa torcer para o Flamengo ou para o Corinthians. Ninguém precisa ser evangélico, ou católico, ou qualquer outra profissão [religião]. O que nós queremos é que as pessoas aprendam a respeitar a liberdade dos outros serem o que eles quiserem ser.
Se a gente conseguir isso e, sobretudo, respeitar o resultado eleitoral, que ninguém fique tramando golpe, que ninguém fique desacreditando na urna, que ninguém fique inventando, nós já teremos cumprido uma missão extremamente importante nesse país.
O que eu prometo a vocês, no Rio de Janeiro, é que a gente não vai, junto com o Eduardo, entregar apenas uma cidade do Rio melhor. A gente quer entregar um estado melhor, e a gente quer entregar um Brasil melhor, porque o povo está necessitando disso.
Por isso, obrigado, Nísia. Obrigado, Eduardo. E bom trabalho para vocês.