Pronunciamento do presidente Lula no evento de sanção do Projeto de Lei que institui o Dia Nacional do Maracatu
Gente, vamos colocar ordem na casa aí do Maracatu apenas pelo seguinte: eu queria que vocês soubessem que quando a gente sanciona um Projeto de Lei que transforma uma arte brasileira, uma atividade cultural, numa coisa nobre, numa coisa de compromisso do Estado brasileiro, é importante, Margareth (Menezes, ministra da Cultura), que a gente assuma um compromisso. Mestre Salú [músico, compositor e artesão Manoel Salustiano], é importante.
Porque no Brasil há sempre a compreensão de que tem lei que pega e lei que não pega. Se nós fizemos esse ato hoje, sancionamos uma lei que cria o Dia Nacional do Maracatu, dia 1º de agosto, é importante que o presidente da República, que a ministra da Cultura e que as pessoas que fazem parte do governo, inclusive o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), saibam que nós temos que fazer com que essa lei seja cumprida ao pé da letra.
O que significa isso? Significa que nós precisamos transformar o maracatu numa arte de conhecimento de todo o povo brasileiro. Não é possível que a gente crie o Dia Nacional do Maracatu e somente Pernambuco continue conhecendo a fundo o maracatu ou alguns artistas que, especialmente, num ou em outro lugar, vão criando os grupos de maracatu.
É importante que a gente, Margareth, assuma o compromisso de que, no Dia Nacional do Maracatu, a gente consiga fazer uma festa de caráter nacional que funcione, concomitantemente, em todos os estados, ao mesmo tempo.
O maracatu precisa ser levado para as escolas. O maracatu tem que ser levado para as televisões. Porque a gente assiste a tanta coisa ruim que a gente não gosta, tanta coisa que não tem nada a ver conosco e é nacionalizado. De repente, você vai na cidade mais longínqua de Roraima, na cidade mais longínqua do Amazonas, na cidade mais longínqua de Santa Catarina ou do Rio Grande do Norte e você vê as pessoas cantando coisas e muitas coisas que não têm nada a ver com nós, aprendendo muitas danças que não têm nada a ver com nós e tendo acesso a muitas culturas que não têm nada a ver com nós.
Por que isso? Porque tem alguém financiando, porque tem dinheiro, porque alguém está bancando. E se a gente ficar esperando, Margareth, que apenas os companheiros que praticam o maracatu no mundo inteiro, ou no Brasil inteiro, ou em Pernambuco inteiro, ou na Grande Recife inteira, tenham o dinheiro para se projetar em canais de televisão, em viajar para o país e fazer com que outros estados conheçam o maracatu, a gente vai continuar do tamanho que a gente era.
Então, é importante que a gente tenha clareza que o dia de hoje muda, definitivamente, a compreensão e a visão que a gente tem dessa arte cultural do nosso povo brasileiro, que é o maracatu. Significa que o Estado tem que assumir a responsabilidade de fazer com que isso chegue aonde nunca chegou, que isso seja visto por quem nunca conseguiu ver e que isso seja divulgado na dimensão da lei feita pela companheira Luciana (Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação) e proposta por ela.
É importante que vocês também cobrem do governo. Cobrem. Porque eu vejo muitas festas e muitas coisas do governo que a gente gasta muito dinheiro para financiar artistas, e a gente nunca viu gastar dinheiro para financiar o maracatu. Ou seja, eu sou presidente há 10 anos, eu nunca vi uma festa de maracatu aqui em Brasília, em todas as recepções que a gente fez, a gente nunca convidou o maracatu. Você convida outros artistas.
Uma vez eu tentei trazer aqui os grupos de Pernambuco de dança, sabe, e a gente não consegue porque não tem patrocinador. Então, as pessoas ficam confinadas na sua cidade, ficam confinadas no seu bairro, ficam confinadas no seu mundinho, porque não tem dinheiro para isso.
E agora, querida Margareth, a gente vai ter que arrumar dinheiro, a gente vai ter que arrumar patrocínio para que essa arte chamada maracatu tenha o mesmo apreço e o mesmo respeito, sabe, que tem um rock, que tem um samba, que tem qualquer outro show.
Nós temos que fazer valer a importância da lei, companheira Luciana. Inclusive, o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia pode financiar alguma coisinha para que a gente saia da mesmice, porque, veja, vocês vêm para uma festa, a gente sanciona uma lei, vocês ficaram emocionados e, quando terminar isso aqui, volta à mesmice? Volta à mesmice?
Você não é convidado para fazer um show em um comício em São Paulo, em um ato qualquer. Nunca é convidado. É sempre um cara de São Paulo que é convidado para ir para o Nordeste, as pessoas não transitam. A cultura verdadeira... Eu tinha uma vontade imensa de trazer o carimbó do Pará para que alguém visse aqui no Brasil, o que é o carimbó. A gente não consegue porque não tem patrocinador.
Então, nós temos que mudar, Margareth. Nós temos que mudar. Eu estou vendo você dizer que o Ministério da Cultura voltou, eu estou vendo você dizer que a gente tem dinheiro com a Lei Paulo Gustavo, nós temos o dinheiro da Lei Aldir Blanc, mas, sobretudo, a gente tem que convencer as empresas públicas brasileiras a fazer o que outra empresa privada não quer fazer. Se uma empresa privada não quer financiar um festival de maracatu, a gente precisa arrumar uma empresa pública que possa financiar. O Banco do Brasil, sabe?
A gente pode anunciar, a gente pode fazer esse esforço, e o grande sacrifício que a ministra da Cultura tem é de conversar com o dono, com o presidente do banco, com o presidente da empresa, para dizer que é importante. É importante, tanto quanto a gente patrocinar, sabe, através do Banco do Brasil, um show espetacular do Caetano Veloso e da Bethânia que, quem não viu, vá ver em algum país, porque é muito bonito. Quem ainda não viu, como é que a gente pode patrocinar isso? A gente pode patrocinar um festival de maracatu, a gente pode patrocinar festivais de outras coisas no Brasil que existem, que é uma coisa de respeitabilidade imensa e muito bonita no seu estado e que o Brasil inteiro não conhece.
Então, eu acho que a sanção dessa lei, por mim e com a presença de vocês aqui, é o compromisso que a gente tem, a partir de agora, de vocês não deixarem passar o dia 1º de agosto do ano que vem em branco. Que a gente transforme o 1º de agosto em um Dia do Maracatu para todo o território nacional.
Um beijo, um abraço e parabéns.