Pronunciamento do presidente Lula na abertura do Encontro Nacional da Indústria
Transmissão / Canal Gov
Não se assustem, porque essa quantidade de papel aqui não será toda lida. Eu não vou fazer a nominata que o Alban [Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria - CNI] falou, porque seria utilizar metade do meu tempo para falar. Eu só queria cumprimentar, Alban, você pela realização desse encontro extraordinário e cumprimentar os presidentes das federações, os presidentes dos sindicatos aqui presentes, os empresários e os teus convidados aqui presentes.
Especialmente, convidar o companheiro Armando Monteiro, ex-presidente dessa Casa, ex-senador da República e eternamente meu amigo — em função de que eu era muito amigo do pai dele, e que conseguiu criar uma amizade — meu querido Márcio, que agora trabalha na Firjan [Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro], Márcio Fortes. Querido deputado Arnaldo Jardim. Companheiros e companheiras.
Um governo deveria ser medido pelos números que ele apresentar no final de seu mandato. Normalmente, eu sou considerado um presidente de sorte. Quando eu chego no governo, a sorte chega também. Eu queria começar dizendo para vocês que em 1º de janeiro deste ano, as perspectivas de crescimento do Brasil eram as mais pessimistas possíveis.
Em janeiro de 2023, eu fui a Hiroshima, na primeira reunião do G7 e no encontro com a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, ela dizia que o Brasil não passaria de 0,8% de crescimento do PIB. Isso era alardeado pela imprensa brasileira, era alardeado pela Faria Lima e aos poucos a gente foi preparando o Brasil para surpreender o mundo que pensava assim e surpreender muita gente aqui no Brasil que pensava assim e a economia cresceu 2,9%.
Este ano aconteceu a mesma coisa. Os de sempre, os pessimistas de sempre, começaram a dizer que o Brasil ia ter um crescimento no máximo de 1,5%. Porque não havia credibilidade no Brasil, não havia confiança na política fiscal e nós, outra vez, estamos surpreendendo os pessimistas, porque o crescimento certamente ultrapassará 3%.
Eu estou citando esses números porque a economia real, ela sempre pode ser maior do que a economia teórica, do que os discursos fictícios de os chamados especialistas (que de especialista não têm nada, são muito mais especuladores do que especialistas), que estão sempre jogando a economia brasileira para baixo, sempre desacreditando na economia.
Eu, quando o Meirelles [Henrique Meirelles] era meu presidente do Banco Central e o Guido [Mantega] era ministro da Fazenda, eu sempre chamava a atenção deles para que eles não conseguissem olhar apenas a chamada macroeconomia, mas que eles tivessem a sensibilidade de olhar para uma coisa que até então não era muito vista, que era chamada a microeconomia.
Porque, muitas vezes, é a microeconomia que faz a macroeconomia funcionar. E aí eu aprendi, Armando, um discurso de dizer que muito dinheiro na mão de poucos significa concentração de miséria, significa analfabetismo, significa desnutrição, significa desemprego, significa tudo que não presta.
Ao contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa o desenvolvimento mais equânime de uma sociedade. E eu aprendi mais, Armando, possivelmente no tempo em que você era presidente da CNI. Ou seja, muitas vezes o empresário, ao pagar o salário do trabalhador, isso acontece com o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República], isso acontece com a Nísia [Trindade, ministra da Saúde], isso acontece com o presidente do Sesi, isso acontece com você e acontece comigo.
Toda vez que a gente vai pagar o salário para alguém que trabalha para a gente, a gente acha que o salário é muito. Ao mesmo tempo, a gente costuma dizer que a figura mais importante no mundo é o consumidor. Porque é o consumidor que nos dá alegria quando ele compra o nosso produto na loja, na fábrica, no campo.
Então quando a gente for pagar o salário, Armando, daqui para frente você aprenda isso: você olha a pessoa que você está pagando o salário como o seu consumidor. Ele não é apenas seu empregado, ele é o seu consumidor. Porque você tem que estar torcendo para que ele possa comprar o produto que ele está fabricando na sua fábrica, porque é isso que vai fazer a sua fábrica crescer, é isso que vai poder dinamizar a economia.
E eu sempre valorizo muito a chamada microeconomia, porque quando o dinheiro começa a circular, no sistema capitalista não tem outro milagre a não ser esse: o dinheiro precisa circular na mão de muito mais gente para que esse dinheiro possa significar crescimento econômico, distribuição de riqueza e melhoria da qualidade de vida das pessoas. É exatamente isso... é exatamente isso que está acontecendo no Brasil.
Hoje eu vi uma coisa importante aqui na fala do Alban. Foi uma das poucas vezes, nesses últimos 20 anos, que eu vi um empresário falar da indústria sem precisar atacar o agronegócio. Ou seja, porque nós não temos que ver o agronegócio como inimigo. É importante que a gente não veja o agronegócio como uma coisa atrasada.
É importante que a gente tenha consciência da quantidade de tecnologia que tem no grão de soja, que tem no grão de milho. A quantidade de investimentos em genética que tem no frango, que tem na carne de boi, que tem na carne de porco.
Ora, na medida que eles crescem, é importante que a gente aprenda para a gente saber como colocar inovação nos nossos produtos para a gente ser mais competitivo. Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva no deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros, porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul, nem tanto pela questão de dinheiro. Nós vamos fazer, porque eu estou há 22 anos nisso, e nós vamos fazer.
E se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada. Quem apita é a Comissão Europeia. E a Ursula von der Leyen tem procuração para fazer o acordo e eu pretendo assinar esse acordo este ano ainda.
Tirar isso da minha pauta e aproveitar o acordo estratégico que nós fizemos com a China, que é o mais importante acordo de acesso a novas tecnologias que esse país já fez. É o mais importante acordo de acesso à nova tecnologia que esse país já fez, que vai da inteligência artificial à tecnologia espacial. Ou seja, numa demonstração de que o Brasil não quer continuar sendo pequeno, a gente não quer continuar sendo um país em vias de desenvolvimento.
Eu dizia para o Alban: se prepare, Alban, porque o próximo passo nosso é a Índia. Eu quero fazer uma mega reunião empresarial na Índia com muitos empresários brasileiros e uma mega reunião da Índia no Brasil com muitos empresários indianos, para a gente aproveitar a possibilidade de mercados ascendentes, de mercados não viciados, de mercados não carimbados, para que a gente possa colocar a indústria brasileira lá dentro, para que a gente possa fazer parceria com a indústria de inovação que o Brasil tem.
É esse país que tem que dar certo, se ele for pensado assim. Se esse país for pensado pequeno, esse país não vai dar certo, vai ficar sempre pouco, vai ficar sempre crescendo pouco, vai ficar sempre... Há quanto tempo que a gente não cresce? A última vez que esse país cresceu, Armando Monteiro, a última vez que esse Brasil cresceu para valer foi em 2010, quando eu deixei a Presidência da República.
De lá para cá, esse país caiu, caiu, caiu, ele voltou a crescer agora. E por que ele voltou a crescer agora? Porque, para mim, política econômica não é concentração de riqueza, política econômica é distribuição de oportunidades para 210 milhões de habitantes, que tem que ter uma combinação de vários fatores. Não é indústria brigar com o agronegócio, não é indústria brigar com o comércio, não! Nós juntos é que poderemos crescer e fazer a diferença nesse país.
Veja o que aconteceu na América do Sul. Depois que nós deixamos o governo, Alban, você vê que a América do Sul foi um pouco deteriorada. Eu lembro que quando eu cheguei na Presidência, em 2003, a gente tinha um fluxo de comércio com a Argentina de apenas 7 bilhões de reais, e eu lembro que quando eu deixei, em 2010, a gente tinha exatamente 40 bilhões de dólares. Ou seja, numa demonstração de que nós é que temos que acreditar em nós.
E eu quero fazer tudo isso sem brigar com os Estados Unidos. Eu não quero saber se o presidente é o Trump, o Biden ou o Obama, eu quero saber o seguinte: o Brasil tem interesses soberanos, eles têm interesses soberanos, e os nossos interesses têm que convergir. Naquilo que houver diferença, a gente tranca a cara e não faz negócio.
Mas há quanto tempo que eles não investem aqui no Brasil? Há quanto tempo, Arnaldo Jardim, há quanto tempo a indústria automobilística não fazia anúncio de investimento novo? Há muito tempo. Bastou vir a China fazer investimento aqui, eles anunciaram num único mês 130 bilhões de reais em investimento nesse país.
E nós tivemos, num único mês, anúncio de 539 bilhões de reais de investimento na indústria da alimentação, na indústria de papel celulose, em vários outros setores, na indústria de celulose, na indústria de aço, na indústria de tecnologia de informações. Ou seja, na hora que a economia começa a crescer, as pessoas começam a investir.
Esse é o papel do governo: é criar condições para que as pessoas acreditem que as coisas vão acontecer — e as coisas acontecem. Quem é que acreditava nesse país, Arnaldo, você que é deputado há muito tempo, quem é que acreditava nesse país? Que um partido que ganhou a Presidência, com apenas 70 deputados num parlamento de 513, quem é que acreditava que a gente poderia fazer a reforma agrária (fazer a reforma tributária)?
Quem é que acreditava nisso? Quem é que acreditava que a gente pudesse aprovar a PEC da Transição antes de começar a governar? E muitas outras coisas, quem é que acreditava que a gente pudesse aprovar o Arcabouço Fiscal? Vocês percebem que as coisas vão acontecendo, as coisas vão acontecendo porque você estabelece capacidade de conversação.
Quando eu tomei posse, o Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados] era meu inimigo, hoje o Lira é meu amigo; o presidente do Senado, o Rodrigo Pacheco, era meu inimigo, hoje ele é meu amigo. Porque não cabe ao presidente da República escolher quem vai ser o presidente da Câmara ou do Senado, cabe aos deputados.
O papel do presidente é conviver com quem é presidente e estabelecer conversas para aprovar aquilo que é de interesse do Estado brasileiro. Esse é o milagre da política brasileira, esse é o milagre do que está acontecendo nesse Brasil hoje, esse é o milagre do G20.
Nunca, Armando Monteiro, nunca antes na história desse país a gente conseguiu concentrar tantos chefes de Estados importantes num único espaço. Do mesmo lado, a Índia, os Estados Unidos, a China, a Alemanha, a França, a Indonésia, a Malásia, o Vietnã. Foram 41 chefes de Estado que participaram do G20 e fizemos o mais importante G20 nesse país, da história do G20, por conta de uma coisa chamada credibilidade que esse país está adquirindo.
E esse ano temos o BRICS, e esse ano temos a COP, e em cada evento desses a gente tem que mostrar competência, maturidade e mostrar as coisas que a gente está fazendo. Qual é o país no mundo que tem capacidade de disputar com o Brasil na questão da transição energética? Qual é o país do mundo que pode oferecer a possibilidade eólica, solar, biodiesel, hidrogênio verde? Qual é? OU etanol... Qual é o país que pode competir com o Brasil? Então são essas coisas que nós temos que colocar no nosso discurso, na nossa sala, para a gente falar de forma positiva do Brasil, qual é a explicação da taxa de juros estar do jeito que está hoje?
Nós estamos com a inflação controlada; a economia está crescendo; o menor nível de desemprego desde 2012, quando ele começou a ser medido; o maior aumento da massa salarial. Ou seja, então, se a gente pensar de forma positiva, não há retrocesso nesse país.
Mas se a gente ficar pensando em manchetes de jornais, por gente que vocês nem sabem se tem capacidade de escrever o que escreve, a gente não anda. Eu adquiri o hábito de não me deixar levar por notícia ruim, eu adquiri o hábito de definir o que eu quero na vida, é por isso que eu digo que eu quero viver 120 anos.
E vou chegar lá, Gilmar, vou chegar lá, porque quando tem uma causa, quando a gente tem uma causa, a gente está em busca dessa causa, a gente vai onde a gente quiser. E eu não vejo nenhum motivo, não vejo nenhum motivo, eu trouxe até um discurso escrito, mas acabei não lendo o meu discurso. Mas eu não vejo nenhum motivo para as pessoas estarem desacreditadas. Eu não vejo nenhum motivo para as pessoas estarem pessimistas, porque o mundo só pode dar certo se a gente quiser dar certo.
Eu fui ao encontro dos prefeitos do G20, e eu dizia que um país é um coração, mas quem é a artéria daquele coração são as prefeituras. Se elas não estiverem bem, o Estado não está bem, o governo não está bem. Se o povo não está bem, o país também não está bem. Se a indústria não está produzindo, o país não está bem. Nós chegamos a 85% da nossa capacidade produtiva. Há quanto tempo a gente não chegava a isso?
Então, eu quero que vocês olhem o país a partir do dia 1º de janeiro de 2023. Não olhem o país a partir de 1950, não olhem o país a partir de 1940. Olhem o país a partir do 1º de janeiro de 2023, vejam o país que vocês tinham e vejam o país que vocês estão tendo. Na agricultura, nós já abrimos mais de 195 mercados em apenas dois anos, mais de 195 mercados em apenas dois anos. E depois que a gente for para o Japão, em março, Alban, se prepare, porque nós temos que levar muitos empresários para o Japão.
Depois que a gente for para o Japão a gente vai passar no Vietnã, também levar muitos empresários, porque a nossa balança comercial com o Vietnã são 6 bilhões de dólares, é mais do que alguns países europeus. Então o Brasil não precisa ficar preso à sua história, aos países que nos colonizaram, nós temos que procurar mercado novo, nós temos que procurar espaço novo. O mundo é uma competição, comércio é uma competição, comércio é uma guerra.
Nenhum país do mundo falará bem dos nossos produtos, nenhum país do mundo falará bem da nossa indústria, nenhum país do mundo falará bem do nosso agronegócio. Somos nós que temos que falar! E somos nós que temos que vender. E nós já provamos isso e vamos terminar provando.
Eu quero, companheiros, me permitam para terminar, eu quero dizer para vocês uma coisa, vocês nunca vão me ouvir falar alguma coisa, se o empresário gosta de mim ou não gosta de mim, o Armando sabe disso.
Em quantas reuniões que eu tive com o empresário e dizia: eu nunca vou perguntar se o empresário vota em mim, porque ele pode não votar, nunca. Agora eu quero que o empresário saiba, eu nunca vou governar para o meu eleitor, eu vou governar para esse país. E vocês fazem parte desse país. E se vocês estiverem bem, o povo tem que estar bem. E se o povo estiver bem, o país está bem. É esse país que eu quero que vocês me cobrem dia 31 de dezembro de 2026, quando terminar o meu mandato.
Até lá, vamos trabalhar, gente. Um abraço.