Pronunciamento do presidente Lula durante a abertura da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
Não se assustem que eu não vou ler o meu discurso. Isso aqui é apenas para passar uma ideia mais intelectualizada do presidente: um monte de papel. Mas eu queria começar cumprimentando a minha querida companheira Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil], cumprimentar o meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Cumprimentar minhas companheiras e companheiros ministros: Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação; Camilo Santana, da Educação; Nísia Trindade, da Saúde; Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Quero cumprimentar a nossa querida senadora Teresa Leitão, também professora de Pernambuco; o nosso querido companheiro deputado federal Andrés Janones, de Minas Gerais; o nosso querido companheiro Inácio Arruda, secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério da Ciência e Tecnologia; cumprimentar a Mônica Pinto, chefe da Educação da Unicef no Brasil; Elias Monteiro, reitor do Instituto Federal Goiano e presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, por meio de quem cumprimento todos os reitores e reitoras aqui presentes.
Cumprimentar o nosso querido companheiro Décio Lima, presidente nacional do Sebrae; o nosso querido Ricardo Capelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Cumprimentar o companheiro Fabiano Silva do Santos, presidente dos nossos Correios, e parabéns pela entrega das provas do Enem neste final de semana. É porque, quando as coisas saem mal, todo mundo sabe quem é que errou. Quando as coisas saem bem, ninguém sabe quem acertou. Então, meus parabéns aos Correios brasileiro, que volta a cumprir com a sua função de distribuir informações nesse país.
Quero cumprimentar o Felipe Ribeiro, professor do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Eu pensei que você ia trazer pelo menos uma tainha, uma piaba ou uma tilápia aqui. Você não trouxe.
Quero cumprimentar a companheira e o companheiro Laura Medeiros e o violonista Henrique Neto, pela beleza do hino nacional. E quero cumprimentar a nossa querida Andressa Clementino, estudante da Escola Estadual Sérvulo Pereira de Araújo, em Bodó, Rio do Norte, por meio de quem eu cumprimento todos os alunos aqui presentes.
Bem, companheiros e companheiras. Eu, quando vi a Andressa falar e ela confundia a Luciana com o Camilo, e o Camilo com a Luciana, eu fico imaginando como é que ela ficou nervosa, porque todo mundo que vai falar pela primeira vez em público, a gente tem um apagão.
E eu vou dizer, Andressa, que você se saiu melhor do que eu quando eu fui fazer meu primeiro discurso na minha posse do Sindicato dos Metalúrgicos, dia 24 de abril de 1975. Eu fui ler um discurso e eu não consegui ler o discurso de tanto que a minha mão tremia. Foi obrigado um companheiro a segurar a minha mão para que eu pudesse falar. E quando eu terminei de falar, eu fui dar uma entrevista para um companheiro que já morreu, Julinho de Grammont, que era meu assessor de imprensa, mas antes ele trabalhava na Bandeirantes. E quando ele me fez a primeira pergunta, a minha perna tremeu tanto que eu fui obrigado a sentar para poder dar a resposta. Então, eu quero te dizer, se você for comparada a mim, você já é uma exímia oradora nesse país.
Mas, além desse fato, Andressa, o fato de você dizer o que você falou, de onde você é e da sua origem, me dá muito, mas muito mais orgulho, de um dia ter tido a ideia de criar as Olimpíadas nesse país. Eu queria criar as Olimpíadas de Matemática, porque eu achava que a matemática era uma matéria muito difícil para os alunos na educação e eu tinha recebido a professora Suely Druck, que até então era presidente do Impa, e ela me trouxe as pessoas que ganharam medalha de ouro nas Olimpíadas de 2004.
E eu percebi que aquelas crianças, aqueles meninos e adolescentes que ganharam medalha de ouro eram todos de escolas privadas. E, por estranho que pareça, a maioria era do estado do Ceará. E a segunda era do estado do Piauí. E eu fiquei imaginando: Por que não São Paulo? Por que não Minas,?Por que não Rio de Janeiro? Por que não Rio Grande do Sul? Por que em dois estados pobres do Nordeste? E aí eu pensei: bom, e se a gente então levar a Olimpíada da Matemática para as escolas públicas?
Na época, com o desdém que a gente sempre ouve quando a gente fala de escola pública ou das coisas públicas, o pessoal dizia para mim: “Não, presidente, os alunos da escola pública não vão se interessar pelas Olimpíadas. Eles não vão se interessar”. Eu falei: “Mas vamos fazer o desafio e vamos testar”.
E veja que coisa engraçada: em 2005, se inscreveram 10 milhões de meninas e meninos da escola pública para fazer as Olimpíadas da Matemática. Em 2006, a gente não pôde fazer nenhuma propaganda, porque era ano eleitoral, a gente não pôde nem colocar um papel na porta da escola convidando os alunos para se inscreverem. Não era ter nome de candidato, não, era só para se inscrever. Nós fomos proibidos pela Justiça Eleitoral. E a resposta foi que se inscreveram 14 milhões de jovens, 4 milhões a mais do que na primeira. Na segunda, na terceira, fomos para 18 milhões de crianças inscritas. Hoje, eu não sei quanto tem, mas deve estar mais ou menos perto disso.
E aí eu tinha pensado: bom, por que só a Olimpíada da Matemática? Por que não a Olimpíada de Português? Porque eu tinha visto que as provas de redação nas escolas era uma prova muito difícil para os alunos nos vestibulares. E por que a gente não pode fazer, sabe, uma Olimpíada de Português? E fizemos a Olimpíada de Português, na primeira inscrição se inscreveram 5 milhões de meninas e meninos.
E aí eu pensei: por que não uma Olimpíada de Ciência? Já que a ciência é uma matéria muito difícil na escola, pelo menos para mim, quando eu estudei, o pouquinho que eu estudei. Ou seja, eu estudei tão pouco que não deu nem tempo de estudar ciência. Mas eu percebi que era uma matéria que a meninada tinha um pouco de medo. E eu falei: por que não criar uma Olimpíada da Ciência para que a gente possa cativar e motivar os meninos a estudarem? Depois eu pensei: por que não fazer uma [Olimpíada] de Física?
Bom, nem tudo que a gente pensou pôde ser implementado. Eu estou vendo aqui os companheiros que eram da UNE naquela época, ou seja, são aqui já, quem sabe, sendo professores. E o dado concreto é que o resultado foi extraordinário, porque, dentre outras coisas, a gente motiva as meninas e os meninos a quererem ir para a escola, a querer estudar, a querer participar. E eu pensei que a gente poderia estar resolvendo um problema crônico da educação nesse país.
E qual é o problema crônico na educação desse país? É que, dependendo do berço que uma criança nasce, dependendo da qualidade do salário do pai ou da mãe, essa criança, não é que ela é mais inteligente do que uma que nasce exatamente o contrário. Essa criança apenas tem mais oportunidade. Ela come as calorias e as proteínas necessárias ao desenvolvimento humano. Ela, se estiver fraco em uma matéria, ela chega em casa, ela tem o pai ou a mãe que estudaram, que fizeram universidade, que pode facilitar a vida discutindo, ensinando eles. Eles podem levantar de manhã e ir para a escola com café, sabe, mais prazeroso. Ela pode, às vezes, ir de ônibus para a escola, ou, às vezes, o pai até levar de carro.
Tudo isso facilita com que algumas pessoas tenham as oportunidades que outras não têm. E quando a Andressa fala que ela é filha do Bolsa Família, eu sei da dificuldade que a família dela sofria para poder garantir que ela estudasse. Eu tenho noção de que ela não tinha as mesmas qualidades que o pai dela e a mãe dela, que não tinham diploma universitário — e nem sei se tinham o diploma primário, porque, no Brasil, 68% da população ainda não completaram o ensino fundamental nesse país.
Então, ou seja, o país, ele fez uma opção, sabe, de ser assim. Então, eu fiquei pensando: o que a gente pode fazer se não a gente ajudar essas pessoas? E a Andressa é o exemplo de que a oportunidade torna as pessoas iguais. A oportunidade, ela prova que ninguém é mais inteligente do que ninguém. Ela prova que, se todos tiverem a mesma oportunidade, tiverem acesso aos mesmos livros, tiverem acesso aos mesmos professores, elas vão se desenvolver por si só, independentemente da origem social.
O que elas precisam é ter do Estado aquele braço que o Estado tem que ter para ajudar aqueles menos favorecidos. Não é que a gente faz opção pelos pobres. Ninguém gosta de ser pobre. O que a gente faz opção é de garantir àqueles que ficaram para trás na educação, na economia, no salário, a gente permitir que eles, pelo menos, consigam subir um degrau, um pouquinho de degrau, a cada ano, para que todo mundo tenha a mesma oportunidade.
E eu fico feliz, Andressa, quando eu vejo você aqui dizer que foi ganha pela Ciência. Eu pensei que eu não gostava de música clássica, e um dia eu fui ganhar um prêmio na Áustria, e eu tive, pela primeira vez a oportunidade, eu era pernambucano, o meu caso era forró, o meu caso era Luiz Gonzaga, era Dominguinhos, ou seja, eu falei: “Meus ouvidos não vão nunca concordar com música clássica”. E aí, eu fui ganhar um prêmio na Áustria e fui assistir, sabe, a um concerto de violino. Eu nunca vi uma coisa tão bonita na vida. E eu descobri que meus ouvidos estavam preparados, também, para ouvir aquilo e gostar daquilo. Então, eu percebi que o que falta é o acesso.
Pois bem, eu tenho muito orgulho da gente já estar na 11ª [21ª] Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Vigésima primeira. Eu tenho aqui para seguir, a Andressa e a Luciana, a gente vai, e veja que eu não falei errado porque não está escrito. Está escrito aqui: 21ª.
Eu fico muito feliz de estar participando disso aqui, porque eu acredito sempre o seguinte: por que o país fez uma opção histórica de não acreditar na educação durante muito tempo? Eu fico me perguntando: por que esse país foi o último país da América do Sul a ter uma universidade federal?
Obviamente, que tinha uma decisão política, tinha uma decisão política de que aqueles que governaram o Brasil, até então, quem era rico, podia mandar seus filhos estudarem em Londres, em Harvard, podia mandar estudar em Sorbonne, podia mandar em Madri, poderia em Coimbra.
E, aos filhos do pobre, restava o direito de que pobre nasceu para trabalhar. E, se nasceu para trabalhar, não precisa estudar muito. Somente, quase, sabe, no começo do século 20, é que então se começou a pensar em formar jovens para o mundo do trabalho. Não para atender a necessidade do jovem, mas para atender a necessidade do mercado de trabalho, da indústria incipiente nesse país.
Então, investir na educação é uma coisa tão absurda que a elite não tenha pensado nisso, porque eles deixaram que um presidente da República, que não tem diploma universitário, fosse o presidente que mais fizesse universidade e mais Instituto Federal nesse país.
Porque a arte de governar é a arte de tomar decisões, é a arte de fazer escolhas, é a arte de você dizer para quem que eu quero governar, quem é que está precisando do Estado, quem mais necessita do Estado. É uma coisa simples, mas que não ensina na universidade. Não ensina.
A política e a sabedoria política é uma coisa que está no berço de cada um de nós. É por isso que eu aprendi muito cedo a não confundir inteligência com o ano de escolaridade. O ano de escolaridade te dá conhecimento e aperfeiçoa o conhecimento. A inteligência é uma coisa que a gente nasce com ela. A gente pode aprimorá-la, a gente pode colocar nela muito conhecimento.
E eu quero que o Brasil seja um país que dê oportunidade para que as pessoas tenham conhecimento. Eu, quando vejo aqui o Camilo Santana, a Luciana, comparar o nosso grau de escolaridade com a União Europeia, mesmo com o Chile ou com a Argentina, é muita tristeza a gente vê que a gente está atrás. Se a gente for comparar o número de meninos na universidade, de 17 a 24 anos, ou de 17 a 29 anos, a gente está atrás do Chile, proporcionalmente. A gente está atrás da Argentina, proporcionalmente.
Ou seja, qual é o significado disso, se nós somos o maior país da América Latina, temos a maior população, o mais industrializado, o mais rico? Por que isso? Por que se tomou essa decisão de apostar na ignorância? É porque é mais fácil o processo de dominação. É porque é mais fácil o processo de você, sabe, manipular a sociedade.
Então, se pudesse, eu ia criar as Olimpíadas da Política. Porque é necessário fazer as pessoas entenderem que fazer política é tomar decisão. Fazer política é você escolher de que lado você está. Fazer política é você decidir o que é bom para as pessoas e quem é que precisa daquelas decisões.
Porque se não for assim, nós temos presidentes estudados nesse país que chegaram a dizer que o Brasil seria bom se ele fosse governado só para 35% da população. Isso ninguém precisa ser esperto para dizer e muito menos inteligente. Todo mundo sabe que, quando você tem uma quantidade de dinheiro e você atende pouca gente, você pode dar mais dinheiro para as pessoas, em forma de benefício.
Mas quando você resolve integrar todo mundo e colocar todo mundo no bolo para comer, obviamente, que vai diminuir. Vai diminuir a quantidade de pedaços de bolo para cada um. Pode até diminuir a qualidade, porque você precisa fazer o bolo crescer mais para colocar muito mais gente.
E é por isso que eu, desde a minha primeira reunião como presidente do Brasil, em 2003, eu disse: “Nesse governo vai ser proibido utilizar a palavra gasto quando a gente falar em educação. Educação é investimento e o investimento de mais retorno, sabe, que um país pode ter. Nada, nada pode dar mais retorno do que a educação.”
E, sobretudo, Andressa, eu vou dizer para você, para uma menina que está aqui na minha frente. Vou dizer para você: eu tenho duas coisas que eu prezo muito. Primeiro, a educação para todo mundo, ela é importante porque ela te dá mais conhecimento, te prepara para enfrentar a dificuldade, te prepara para arrumar um emprego melhor, até para você escolher o emprego, te prepara para você escolher viajar para um país, querer conhecer outras línguas, outras culturas. A educação permite isso.
E quem está falando para vocês é um presidente que sabe o que é procurar emprego sem formação e procurar emprego com formação. Que sabe o que é procurar emprego com diploma técnico na mão ou procurar emprego quando você não sabe fazer nada e quando te perguntam você fala: “Eu sei fazer de tudo um pouco”. Quem fala assim, não sabe fazer nada.
Então, eu queria te dizer que a minha vocação pelo estudo, a minha obsessão, não é nem educação, a minha obsessão pelo estudo é porque eu não tive. E o fato de eu não ter, eu aprendi com a minha mãe a nunca ficar com raiva das coisas que ela não tinha. A minha mãe, a Janja de vez em quando brinca comigo, ela fala: “hoje não tem, mas amanhã vai ter”.
A minha mãe, mesmo quando ela não tinha comida para colocar na mesa, que tinha oito filhos do lado dela, ela falava: “hoje não tem, mas amanhã vai ter”. E eu nasci com isso na cabeça, eu nasci com isso na cabeça.
Então, a minha obsessão não foi ficar com mágoa, porque eu não aprendi e não cheguei na universidade. A minha obsessão é garantir que o filho de todos os brasileiros, independente da cor, da raça, da religião, do time de futebol, todos, sem distinção, tenha direito a ir para uma universidade, tenha direito a ter uma profissão. E é por isso, e é por isso, que a educação está impregnada na minha cabeça. E também a política. E também a política.
Porque se a gente tivesse uma educação de qualidade, com a formação, sabe, do ser humano corretamente, a gente não via nascer, nesse país, o negacionismo que nós vimos nascer nos últimos tempos na política brasileira. Não víamos nascer. Porque é impressionante o resultado, inclusive, das eleições para prefeito agora, sabe, a projeção de candidatos que não diziam lé com cré, a não ser falar bobagem, a não ser ofender, a não ser contar mentira, a não ser falar as mais, sabe, bobagem… E o povo terminou acreditando nessas pessoas e votou em alguma dessas pessoas.
Por que falta o quê? Falta política. Falta discutir política nas universidades. Falta discutir política na escola. Falta discutir política na fábrica. Porque a política é quase como o ar que a gente respira. Ora, eu dizia, quando eu era candidato: “Eu admito que um cara não vote em mim para ser deputado e vote num outro que tenha parecido comigo, da mesma classe social, com o mesmo compromisso”. Mas o cara não votar em mim, para ir votar no seu patrão, que ele passou o ano inteiro brigando, alguma coisa está errada. Alguma informação não chegou nessa pessoa.
Porque eu, no mínimo, quando eu voto, eu dizia agora, ultimamente, que era o seguinte: escolher um candidato, alguma coisa, é como escolher um padrinho para o seu filho. Quando você escolhe um padrinho para a sua filha ou para o seu filho, o que você quer? Uma pessoa de extrema confiança, uma pessoa que você conheça e uma pessoa que você sabe, num infortúnio qualquer da tua vida, essa pessoa vai cuidar do teu filho, ou vai ajudar a cuidar do teu filho.
É assim que a gente escolhe um padrinho ou uma madrinha. Eu nunca vi ninguém escolher o pior inimigo para ser padrinho ou madrinha. O cara que eu odeio, o cara que eu não gosto. Não. É sempre uma pessoa que a gente gosta, que a gente tem apreço. Ora, mas se você faz isso para escolher um padrinho, ora, por que você não faz o mesmo para cuidar da tua família, que é o caso do prefeito?
Porque o prefeito cuida da tua família, ele cuida da rua, ele cuida da escola, ele tem que cuidar do transporte coletivo, ele tem que cuidar do lazer, ele tem que cuidar das coisas que a cidade tem que oferecer. É simples assim. Mas uma coisa tão simples é tão difícil, porque tem coisa que você vê totalmente irracional.
E aí, eu acho que a educação é a base para isso e tem que ser uma boa educação. Uma boa educação, porque se a pessoa tiver uma boa educação, o homem vai ser um cara cuidadoso, ele vai ser um cara, sabe, que não fala tanta bobagem, que sabe respeitar o direito dos outros, que sabe que o limite da democracia é não ocupar o espaço dos outros. Tudo isso vai acontecer.
E para a mulher? O que significa a educação para a mulher? Eu tenho dito que a educação para a mulher significa a coisa mais sagrada que uma pessoa tem que ter: a independência. A independência. Uma mulher com profissão, com emprego garantido e com salário, ela não vai aceitar ter do lado dela uma pessoa para conviver que ela não gosta, que maltrate ela, que ofenda ela, que não ajude ela nas coisas de casa.
Ela não vai viver com alguém por causa de um prato de comida ou porque paga o aluguel. Ela vai viver com gente que ela queira viver. Ela vai fazer a opção de ser feliz. Ela vai querer viver tranquilamente, porque, muitas vezes, a gente vê que as pessoas, por necessidade financeira, ficam suportando um traste dentro de casa. É um traste, porque eu aprendi que a minha mãe: um homem que levanta a mão para bater na mulher, a mão dele deveria cair. Porque não é para isso que a gente mora junto com uma pessoa.
Então, Andressa, eu fico feliz quando eu vejo uma menina, filha do Pé-de-Meia, filha do Bolsa Família e filha de uma família nordestina que, certamente, você já estudou mais do que o teu pai, você já estudou mais do que a tua mãe, você vai arrumar um emprego, vai ganhar mais do que o teu pai, do que o teu mãe. Eu quero que você ganhe muito mais. Eu quero que você ganhe muito mais, porque eu não quero que você vá para o Bolsa Família. Eu não quero que você vá para o Pé-de-Meia. Eu quero que você ajude a ganhar bem, a pagar o imposto que tem que pagar, para, com a tua capacidade, a gente ajudar a cuidar de outras pessoas que têm mais necessidade.
Se a gente fizer isso, este país vai ser um país justo, vai ser um país solidário, um país fraterno. Eu tenho muito orgulho, para os professores que estão aqui, o resultado das Olimpíadas de Matemática é que a gente inaugurou, no Rio de Janeiro, a Faculdade da Matemática. Ou seja, são 400 vagas, com direito à moradia, com direito ao almoço e à janta, para os principais gênios da matemática, das Olimpíadas, que vão ser selecionados para que a gente não deixe mais nossos gênios irem embora estudar no exterior e ficarem lá.
Não, nós queremos que ele fique no Brasil, estude no Brasil e seja gênio para o Brasil. E isso pode acontecer, Luciana. Isso pode acontecer. Isso pode acontecer na Ciência. Basta que a gente encontre um governador ou um prefeito, como fez o Eduardo Paes [prefeito do Rio de Janeiro], que nos ofereceu um prédio.
Se passar alguém nesse país oferecendo um prédio para a gente fazer uma faculdade de Ciência, para os caras virarem gênios, para fazer uma faculdade de Física, pode ficar certo o que a gente vai fazer. Porque, se não tem dinheiro hoje, a gente vai arrumar para a gente fazer desse país um país grande, um país independente, um país soberano, um país que ande de cabeça erguida pela qualidade do seu povo. E nós sabemos que tudo isso resulta...
Não é que eu sou contra exportar soja, sou contra exportar minério de ferro, não. Maravilhoso que a gente exporta, até porque na soja hoje tem muita tecnologia. Nos nossos animais têm muita tecnologia, muita genética. A gente não pode desmerecer esses produtos. Mas eu quero que esse país se transforme num país exportador de conhecimento, exportador de inteligência, com muito mais valor agregado, com muito mais recursos e com muito mais significado para o bem-estar de cada família e do povo brasileiro.
Por isso, querida Luciana, meus parabéns. Por isso, meu querido Camilo, meus parabéns pelo acordo que vocês fizeram, pelos protocolos que vocês assinaram. E a vocês, cientistas desse país. Vocês sabem que todo cientista é chamado de louco. Todo. Todo cientista, porque a Ciência é uma coisa maluca, porque você pesquisa, pesquisa, pesquisa, pesquisa e, de repente, não dá nada. Mas o não dar nada, o não dar nada, já é um ganho para a pesquisa. Você não saberia se ia dar nada se você não pesquisa. Você não saberia.
Então, no Brasil, não se gosta de investir em pesquisa. Não se gosta porque, às vezes, o resultado é negativo. Quando, na verdade, quando, na verdade, esse país tem que investir mais em pesquisa, mais em pesquisa, não tem problema que não dê resultado, mas tem que investir em pesquisa.
E nós, até outro tempo, eu fui na China, essa foi uma lição que eu tive na China. Aqui no Brasil, a gente tinha a tese de que um cientista, um pesquisador, ele fazia a sua tese, a sua pesquisa e o resultado ficava para ele, ele queria colocar na gaveta. Eu sou dono dessa pesquisa, essa pesquisa é minha, aqui ninguém mexe. Eu descobri que, na China, o cara pesquisava, fazia as suas teses, e ele colocava as teses para as empresas transformarem aquela tese em um produto, em alguma coisa que fosse do interesse de todos para fazer crescer a economia. Então, eu quero cientista para produzir conhecimento para todos os 210 milhões de brasileiros, para o mundo inteiro.
Por isso, eu quero dizer para vocês: enquanto eu for presidente da República, me faltam dois anos e um mês e meio ainda, a educação será tratada com respeito, com dignidade e com muito amor, porque a educação é a base da garantia da nossa soberania.
Um beijo no coração de todos vocês e parabéns.