Transcrição do pronunciamento do presidente Lula durante sanção da Lei do Combustível do Futuro
Se eu tivesse juízo, ao invés de falar, eu pediria um minuto de silêncio para a gente ouvir o barulho da chuva, que vai resolver muitos problemas no nosso país. Mas, como um político não pode ver um microfone, e ainda livre, com tanta gente para ouvir, seria muito ruim se eu não falasse nada. O que eu prometo para vocês é o seguinte: o meu discurso vai ser arquivado porque eu não preciso falar muito depois de tantos empresários que fizeram uso da palavra, depois do nosso ministro, e depois do belo discurso do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Mas uma coisa eu preciso dizer para vocês: essa fotografia de hoje não é uma fotografia qualquer. Eu até pedi para que o meu companheiro [Ricardo] Stuckert [secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual] tentasse tirar uma fotografia de drone, para ver se ele consegue pegar o palanque aqui e pegar vocês aí. Depois eu vou dizer porque essa foto é muito simbólica.
Eu quero… Não vou ler a nominata também, porque a nominata tem pelo menos 30 nomes aqui. Todo mundo é por demais conhecido, não tem sentido eu ficar falando, acabou a eleição, ninguém aqui é mais candidato, só vai ter eleição de 2026, então, vou deixar para ler a nominata para frente.
Mas eu não posso deixar de falar para vocês que eu não sei se tem alguém aqui mais emocionado do que eu. Eu não esqueço nunca o dia que o companheiro Roberto Rodrigues, então, o meu primeiro ministro da Agricultura, entrou no meu gabinete para me dizer que a gente poderia fazer uma revolução nesse país se a gente começasse a produzir biocombustível.
E ele me levou um pacote de mamona. E eu passei a discutir com a Dilma [Rousseff, presidenta do Novo Banco do Desenvolvimento — NDB], que era então ministra de Minas e Energia, a necessidade de a gente tentar transformar aquela ideia numa coisa factível, numa coisa que pudesse ser realizada.
Eu andei o mundo inteiro com pacote de mamona, eu andei o mundo inteiro com pacote de pinhão manso, eu viajei o Brasil para ver e incentivar a plantação de dendê. Eu cansei de viajar com carro feito de plástico, porque era o primeiro sonho da Braskem e da Toyota fazer o primeiro carro verde aqui, não mais tendo nada de petróleo, mas tudo de cana-de-açúcar ou de outra oleaginosa.
Bem, nós fizemos conferências com embaixadores do mundo inteiro, embaixadores da África, e eu tinha muito orgulho de dizer que o Brasil seria insubstituível, que ninguém poderia competir com o Brasil. Não foram poucas as vezes — o Alckmin era governador do estado de São Paulo — a quantidade de empresários japoneses que nós encontramos aqui no Brasil, que queriam fazer investimento. A quantidade de pessoas que queriam discutir conosco. A União Europeia chegou a nos comunicar que, até 2020, toda a gasolina dela teria 10% de etanol. Portugal chegou a anunciar que teria 20%. O Japão chegou a anunciar que tinha 33% de etanol na gasolina, até 2020.
E isso não aconteceu, mas, aqui no Brasil, a gente não parou de trabalhar. A gente começou em 2004, depois em dezembro a gente aprovou a lei criando 2% de biodiesel no óleo diesel, depois nós fomos para 5, depois veio a Dilma, nós fomos, em 2014, aumentando para 6, para 7, para 8. E, agora, nós chegamos a um número mais apreciado, tanto para o produtor quanto para o empresário que vai transformar a nossa matéria-prima no óleo tão desejado.
E por que essa foto é importante? Essa foto é importante, porque aqui falou uma companheira de cooperativa da agricultura familiar. E todos vocês sabem que nós temos pelo menos quase 5 milhões de pequenas propriedades, até 100 hectares, que podem contribuir, enormemente, com a produção de oleaginosa, que pode produzir não apenas alimento, mas pode produzir outra coisa.
Nós tivemos muita celeuma no mundo. Aqueles que eram contra a nossa produção de etanol e a nossa produção de biodiesel diziam que a gente estava utilizando coisas de alimento para produzir combustível, que era um crime. Foi a primeira discussão que eu tive, Dilma, com Fidel Castro, em Mar del Plata, na Argentina, quando ele tentou me convencer que a gente não poderia produzir biodiesel de soja, porque soja era alimento. E eu disse: “Oh, companheiro, o problema é o seguinte, é que no Brasil nós temos muita terra, muita capacidade produtiva, a gente vai produzir sem precisar tirar o alimento do nosso povo, dos nossos animais”.
Cada vez mais a tecnologia está fazendo com que a gente colha, cada vez mais, mais produção, com menos hectares de terra. E o Brasil, graças a Deus, teve uma Embrapa que nos ajudou muito, vocês construíram empresas de pesquisa e o Brasil, hoje, é um modelo para o mundo. Vocês não têm dimensão de como é que eu me sinto hoje olhando para o mundo e dizendo: “O Brasil é o país que vai fazer a maior revolução energética do planeta Terra e não tem ninguém para competir com o Brasil”.
E muito mais orgulho eu tenho, porque vocês se lembram do que foi a campanha eleitoral. E eu dizia para que todo mundo ouvisse, eu dizia que a gente precisaria garantir no Brasil algumas coisas importantes. O que era que a gente tinha que garantir? Primeiro, a gente precisava garantir estabilidade fiscal nesse país. A gente não pode fazer dívida que a gente não pode pagar. Segundo, a gente precisava garantir estabilidade econômica no país. Terceiro, a gente precisava garantir estabilidade jurídica nesse país. Depois, a gente precisava garantir estabilidade social nesse país. E, depois, a gente precisava trabalhar com muita previsibilidade. A gente não quer pegar ninguém de calça curta à meia noite. A gente quer fazer as coisas à luz do dia, como estamos fazendo agora.
E qual é o outro milagre que aconteceu? Muita gente dizia que a gente não ia poder governar porque a gente tinha um Congresso totalmente adverso. O meu partido só elegeu 70 deputados em 513, só elegeu 9 senadores em 81. Se você for olhar do ponto de vista numérico, você diria: “O Lula está ferrado, ele não vai conseguir governar esse país”.
Mas o que seria da política se não fosse a nossa capacidade de conviver democraticamente na adversidade? Eu nunca vou propor casamento a um deputado ou a um senador. O que eu quero propor a ele são propostas políticas, não pessoais, propostas políticas para garantir que esse país dê um salto de qualidade e a gente possa se olhar no espelho e dizer que a gente, um dia, garantiu que o país será um país altamente desenvolvido, para que esse povo possa melhorar de vida, para que não tenha Bolsa Família para o cara poder ter o que comer, para que a gente não tenha que fazer tanta política assistencial por falta de oportunidade que essas pessoas tiveram.
E nós podemos construir esse país e está provado que o Congresso Nacional já aprovou, na Câmara, uma política tributária que muita gente não acreditava que fosse possível produzir e aprovou. O Arcabouço Fiscal foi aprovado, além do que se aprovou a PEC da Transição para que a gente pudesse governar o país, garantindo o futuro e pagando a dívida de quem deixou a presidência da República.
Ou seja, eu prometi para vocês que eu ia trazer esse país à civilidade. Eu ia trazer esse país à civilidade, cada um de nós tem que fazer a sua obrigação. O governo governa, o Legislativo legisla e o poder Judiciário julga. Se cada um fizer isso, esse país não terá problema, esse país não terá crise, e a democracia brasileira estará garantida pro resto da vida.
Chega de mentira nesse país, chega de fake news, chega de inventar coisa que não vai acontecer. Vamos trabalhar com a realidade. A semana passada, em Nova Iorque, eu chamei as três empresas de rating para conversar com eles. Eu acho que nunca tinha um presidente da República chamado empresas de rating, aquelas empresas que fazem avaliação para dar investimento grande para o nosso país.
E eu queria saber com quem que vocês conversam no Brasil? Com quem que vocês conversam para avaliar? Porque ninguém nunca me procurou. Nunca ninguém me procurou. Vocês conversam com quem? Se lê editorial de jornal, nunca vai dar uma nota boa para o governo. Se for conversar só com um adversário que pensa no curto prazo, também não vai ter nota. Não é consultado nenhum trabalhador, e eu só queria saber: me contem com quem vocês conversam para fazer avaliação do Brasil, porque, hoje, tem pouquíssimo país com a estabilidade que tem o Brasil. Tem pouquíssimo país com crescimento que vai chegar a 3,5% este ano, do que o Brasil.
Alguns dizem que é sorte, eu digo que é muito trabalho, é muita dedicação desses ministros. Foi muita competência da Câmara e do Senado, em votar as coisas que nós precisamos. Eu não conhecia o presidente do Senado, eu tinha pouca relação com o Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados], mas isso não me impede, da forma mais civilizada e democrática, de conversar para construir as coisas.
Nós conseguimos aprovar, no ano passado, em Nova Delhi, com o presidente Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América] e com o primeiro-ministro da China, o primeiro compromisso de fazer uma revolução na questão energética no mundo. Nós assinamos um documento, e o Brasil vai sair na frente porque o Brasil tem vocês, empresários, que tem capacidade de produzir, que tem capacidade de pesquisar, nós temos uma Embrapa. Nós temos um monte de gente preparado para a gente não ficar dependendo de ninguém.
E vai depender de nós, porque quando a gente cria uma matriz energética e a gente vai oferecer ao mundo, aumenta a nossa responsabilidade. A gente não mais faz o que a gente quer, a gente faz o que todo mercado precisa que a gente faça, porque eles serão o nosso consumidor. Qual é o país do mundo que tem condições de competir com o Brasil? Me mostre, pegue o mapa do mundo, chegue em casa hoje e olhe: qual é o país do mundo que pode competir com o Brasil em energia eólica, em energia solar? Qual é o país que pode disputar conosco em energia hídrica? Qual é o país que pode disputar conosco em hidrogênio verde?
Ou seja, nós só temos que ter vontade de ser grande, nós só temos que ter vontade de vencer, nós só temos que ter autoestima. Porque se a gente tiver, a gente faz. E eu estou muito feliz, porque a economia está razoável. A taxa de juros ainda é a mais alta, mas ela haverá de ceder, nós temos a inflação controlada, nós temos a massa salarial crescendo, nós temos o emprego crescendo, nós temos leis para proteger os empreendedores individuais, o pequeno e médio empresário, tudo já está feito.
Eu tenho dito para os meus ministros: “Agora é a época da colheita. Nenhum ministro pode inventar mais nada. Chega. Agora é a hora da gente colher, já plantamos, já regamos e agora é a hora da gente colher — e colher bem”. Porque eu quero deixar a presidência da República, outra vez, com esse país crescendo, com esse país respeitado no mundo inteiro, com esse país invejado pelo mundo inteiro, pela nossa capacidade de fazer essa revolução energética que nós estamos fazendo.
Então, eu não esqueço do gesto do Roberto Rodrigues, eu não esqueço da dedicação da presidenta Dilma, eu não esqueço da vontade de muitos empresários. Eu fui aqui, em Quixadá, fazer empresa de produzir biodiesel, usina. Eu fui, em Montes Claros, fazer de girassol. Eu fui na Bahia lançar plantação de dendê. Eu fui, no Pará, em associação da Petrobras e da empresa de Portugal. Tudo isso um pouco que parou.
E, quando eu voltei, eu falei: “Sabe de uma coisa? No nosso governo, as coisas não vão parar, porque eu não voltei pra brincar, eu não voltei pra xingar ninguém, eu não voltei para trabalhar com angústia e com raiva de alguém, eu voltei para provar que esse país tem jeito, e esse jeito depende de nós, depende de cada um de nós”.
Eu, quando vi a companheira da cooperativa falar aqui, e depois um monte de empresários falou, eu fiquei pensando: por que que não é possível a convivência democrática entre os pequenos produtores e o agronegócio? Por que que nós temos que ser inimigos? Por que que alguém tem que fazer queimada que vai prejudicar os empresários sérios desse país? Quem for sério sabe que está sendo prejudicado por alguém irresponsável, que resolve fazer fogueira com a floresta para matar a nossa fauna.
Todos vocês sabem. E todos vocês sabem que a União Europeia está ameaçando a gente de que vai colocar queimada na mesa de negociação. E nós estamos dizendo: “Não coloque, não coloque, porque nós estamos preservando mais do que vocês já preservaram em qualquer momento da história”. Nós já diminuímos o desmatamento, no ano passado, em 51% na Amazônia; esse ano em 47% e estamos vivendo o período mais seco desse país. Só o Pantanal, é a seca mais brava em 73 anos. E a Amazônia, a maior seca em quase 50 anos. E se a gente for responsável e as pessoas não acreditarem que é responsabilidade do governo municipal, do governo estadual ou do Governo Federal, a gente consegue fazer esse país ser o espelho a ser seguido por todos os países do mundo.
Eu quero terminar, primeiro, Alexandre [Silveira, ministro de Minas e Energia], dando os parabéns pelo trabalho. Dizem que o Alexandre é tinhoso, dizem que o Alexandre gosta de uma boa briga. E eu acho que, muitas vezes, a gente tem que brigar.
Eu só queria dizer pra vocês uma coisa, pra encerrar a minha fala: eu, quando eu olho pro empresário, quando eu olho pro trabalhador, como o Moisés que está aqui, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, eu não quero outra coisa a não ser que todo mundo viva em paz. Eu sempre digo pro empresário: “Quando você olhar pro seu trabalhador, não olhe só pro trabalhador, lembre-se que ele é consumidor seu. Então, não ache ruim o salário que você paga pra ele, porque esse salário vai voltar pra você. Ele vai entrar diretamente numa loja, ele vai comprar o que você produz, ele vai entrar num armazém, ele vai comprar pra comer o que você produz”.
Então, se a gente olhar o povo brasileiro do jeito carinhoso que a gente tem que olhar, porque eu não me conformo de ver gente dormindo na rua, eu não me conformo de ver 733 milhões de habitantes, no planeta Terra irem dormir sem ter o que comer se a gente produz alimento suficiente pra todo mundo. Eu não me conformo com a guerra da Rússia com a Ucrânia, eu não me conformo com a chacina que Israel está fazendo na Faixa de Gaza e agora a invasão no Líbano. Ou seja, nós já trouxemos, hoje, mais 220 libaneses pro Brasil e vamos trazer todos que quiserem vir.
O mundo não precisa de guerra, o mundo não precisa de mentira, o mundo não precisa de fake news, o mundo precisa de trabalho, o mundo precisa de harmonia, o mundo precisa de investimento. E é isso que eu tô vendo nessa fotografia aqui. Nós começamos a trabalhar. Vocês acreditaram. E, hoje, a sanção dessa lei é uma demonstração de que nenhum de nós tem o direito de continuar não acreditando que esse país pode ser uma grande economia. Porque esse país tem tudo pra crescer, o que precisa é que tenha governantes à altura das necessidades e das aspirações do povo brasileiro.
Boa sorte pra todos nós e que o Brasil se transforme na economia que todos nós sonhamos. Um abraço!