Transcrição do pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do Programa Acredita, em São Paulo
Hoje é um dia para começar agradecendo algumas pessoas. Primeiro, eu quero agradecer à Leila, a presidenta do Palmeiras, porque ela sabe que eu sou corintiano. Aqui está o Adilson Monteiro Alves, presidente da democracia corintiana. Aqui está o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] santista. E ela nos emprestou o salão da Casa de Espetáculos do Palmeiras para que a gente pudesse fazer o maior programa de crédito que esse país já conheceu. Então, obrigado, Leila. Obrigado por suportar alguns corintianos que estão aqui. Da próxima vez será feito no Corinthians. Depois vai ser feito no São Paulo.
Depois nós vamos ver se a União tem um terreno em Santos, para doar para o Santos fazer um estádio na Vila Belmiro, como fizemos para o Flamengo agora. E assim a gente vai integrando o futebol ao desenvolvimento e ao microcrédito. Mas eu queria agradecer ao pessoal do Ministério da Fazenda, ao pessoal do Ministério da Casa Civil, e ao pessoal de cada ministro que está aqui, e ao companheiro Padilha [Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais], que é o nosso organizador político, e ao companheiro Alckmin, que é o nosso militante da indústria de comércio, por elaborar esse plano.
Ou seja, um plano desse não seria aprovado se não houvesse uma unidade de pensamento dentro dos membros do governo para que a gente possa tirar o Brasil da mesmice em que ele sempre fica. O Brasil avança um pouco, daqui a pouco ele desce. Ele avança um pouco, daqui a pouco ele desce. Nós precisamos dar um salto de qualidade definitiva para mudar o padrão. E eu quero, Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda], aproveitar e parabenizar o Congresso Nacional.
É importante que vocês saibam que eu fui eleito presidente da República com um partido que elegeu 70 deputados em 513. Nove senadores em 81. E até agora nós não perdemos uma votação no Congresso Nacional. Graças à capacidade de articulação, graças à volta da civilidade política nesse país em que a gente pode ser adversário, mas a gente não é inimigo. E a gente pode construir, mesmo na adversidade, o bem desse país. Então aqui meus agradecimentos aos deputados federais, aos senadores da República, que mesmo divergindo votaram, contribuindo para que a gente aprovasse isso.
E o agradecimento é a presença do companheiro Trabuco [Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Conselho de Administração do Bradesco]. Me permitam chamá-lo de Trabuco? Porque vocês não sabem, mas se o Trabuco quisesse, ele teria sido o ministro da Fazenda da Dilma, que foi indicado para o segundo turno, mas ele preferiu, certamente porque ganha muito mais, ficar no Bradesco. Porque o salário de ministro não é essas coisas.
E também eu não vi o Josué [Josué Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] , e peço desculpas, Josué, porque se eu tivesse visto você chegar, certamente você estaria aqui na mesa, porque não é possível fazer um gesto, um ato de investimento e o presidente da mais importante federação das indústrias do Brasil não estar aqui na mesa junto conosco. Da próxima vez eu irei reconhecer esse erro e iremos colocar você na mesa.
Mas, queridos companheiros e queridas companheiras, se me permitem chamá-los assim. Eu penso que o que está acontecendo no Brasil hoje é uma demonstração de que, se esse país quiser, a gente pode esquecer todas as mazelas que aconteceram no passado, todas as antipolíticas colocadas em prática nesse país. Esquecer o tempo difícil da fake news e a gente construir um outro país. Isso não depende do Putin, não depende do Biden, não depende do Xi Jinping e não depende do presidente da República.
Depende de cada um de nós acreditar que é possível a gente fazer as coisas diferentes. E o que é que nós estamos fazendo aqui hoje? Vocês sabem que meu mundo é um mundo de fábrica. Eu passei 27 anos dentro de uma fábrica, depois virei dirigente sindical e o mundo do Marinho [Luiz Marinho], do ministro do Trabalho, também é um mundo de fábrica, 30 anos de Volkswagen.
E ontem eu liguei para o Marinho para dizer para o Marinho: Marinho, toda vez que a gente tiver que anunciar o crescimento do emprego pelo Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], nós sempre falamos assim, criamos 3 milhões de empregos com carteira profissional assinada. É importante a gente lembrar que tem uma parte da sociedade que não quer ter carteira profissional assinada. As pessoas querem trabalhar por conta própria. As pessoas querem ser empreendedoras. As pessoas querem montar um comércio. As pessoas querem montar uma agência de turismo. As pessoas querem fazer um instituto de beleza para ver se faz do meu cabelo e do Alckmin voltar ao que era quando a gente tinha 10 anos de idade ou 14 anos de idade.
Então é preciso que a gente aprenda que mudou o mundo do trabalho no Brasil, não só pelos avanços tecnológicos, mas também pelo avanço da qualidade educacional que o povo brasileiro tinha. Esse país, durante 400 anos, não se preocupou com a formação do nosso povo. A nossa primeira universidade é de 1920. Quando a gente foi fazer a primeira universidade federal, a Argentina já tinha feito a sua reforma universitária em 1918.
Então esse país não acreditava na educação como solução para esse problema. E eu acredito que somente através da educação a gente pode fazer com que esse país seja competitivo do ponto de vista da criatividade, da produtividade, da inovação, dos avanços científicos e tecnológicos. Sobretudo agora que a gente está na era da inteligência artificial.
Então o país tem que ser competitivo, porque o país é grande. É muito grande. Tem 212 milhões de habitantes. A gente não pode ser pequeno. O que é a marca disso aqui hoje? Eu vou dizer uma frase para vocês que eu tenho dito todo santo dia. O que nós estamos fazendo aqui é apenas confirmando a ideia de que é preciso fazer com que o dinheiro circule. O dinheiro não pode ficar concentrado na mão de poucos. O dinheiro precisa circular na mão de muitos, porque é isso que faz a economia funcionar. É isso que faz.
É por isso que eu digo, muito dinheiro na mão de poucos significa o mesmo empobrecimento desse país. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa o que nós vimos aqui no depoimento das pessoas que estão fazendo o seu crédito para o empreendedorismo. Significa todo mundo ter oportunidade.
Eu tenho dito, companheiros, aos empresários, Haddad, que não olhe para o seu trabalhador como o trabalhador. Porque na hora de pagar salário, tudo é muito caro. Você vai pagar salário para o trabalhador, você fala: “nossa, como esse cara ganha bem, R$ 3 mil é muito caro. Como essa mulher ganha bem, R$ 2,5 mil reais é muito caro”. Isso porque a gente está tendo que pagar o salário. Agora, vamos mudar o nosso olhar.
Vamos olhar para essa pessoa que nós pagamos salário como consumidor. Porque, na prática, todos nós que trabalhamos com negócios dizemos o seguinte: a figura mais importante é o consumidor. É isso que nós falamos todo santo dia.
Todo dia o consumidor é a figura mais importante. E o que acontece com aquele que trabalha? Olha, ele trabalha, ele recebe um pagamento, o dinheiro dele, no dia seguinte, começa a voltar. A voltar para o empresário que pagou o salário para ele, porque ele compra o produto que ele fabrica na fábrica, a voltar para o comércio e, sobretudo, a voltar quase 30% para o governo livre de imposto.
Então, a gente não tem que reclamar do dinheiro que a gente paga. A gente tem que dar felicidade de que o dinheiro está circulando. É preciso pouco dinheiro na mão de milhões e milhões de pessoas que a gente acaba com a pobreza em uma semana. Agora, muitas vezes as pessoas deixam de empreender porque faltam R$ 10 mil, porque faltam R$ 15 mil. E alguns têm tanta facilidade de entrar no banco que tem que pegar R$ 1 bilhão, R$ 5 bilhões. Muita facilidade. E outros que precisam de R$ 20 mil, às vezes não conseguem nem chegar no banco.
Por isso, queridos companheiros e companheiras, presidente dos bancos e presidenta dos bancos que falaram, companheiros ministros. Dois publicitários brasileiros muito importantes que já morreram, o Washington Olivetto, que morreu na semana passada, e o Duda Mendonça, que era um dos gênios da publicidade nesse país, eles diziam para mim: " ô Lula, a política só pega quando ela vira assunto de mesa de bar". Um candidato só pega quando ele começa a ser discutido no bar. Uma proposta só pega quando ela começa a ser discutida no bar, na igreja, na missa, no evento, em qualquer lugar.
E nós precisamos transformar o Acredita em assunto de mesa de bar. É preciso as pessoas saberem que existe o programa e é preciso criar em cada banco os meios necessários para atender as pessoas. As pessoas não podem... Quem sabe, seja obrigado a criar no Sebrae ou no Apex, um 190, um número qualquer, para as pessoas se queixarem se forem no banco e não conseguirem o dinheiro.
É preciso que a gente faça isso, porque muitas vezes a gente aprova um crédito e o que acontece com o crédito? Eu vou dar um exemplo para vocês. Quando a gente faz acordo, acordo com um pequeno e médio agricultor, normalmente a gente faz um acordo e tem uma coisa chamada abate. O cara deve 40, a gente abate 20 e ele paga só 20.
O que é que nós descobrimos nesse dia, minha querida presidenta do Banco do Brasil? O que é que nós descobrimos nesse dia? Nós fizemos para o Rio Grande do Sul uma política de salvação do estado do Rio Grande do Sul. Aqui eu posso dizer com todas as letras: nunca antes na história do país o Governo Federal se jogou tanto de corpo e alma para ajudar um estado como nós fizemos com o Rio Grande do Sul. E nós aprovamos milhões e milhões de créditos.
Aí aquele cara que ia no banco pegar dinheiro, chegava lá, ele tinha, há 10 anos atrás, feito uma dívida. Pagou a dívida e teve um abate. Aquele abate não o deixava ele como se fosse um cara que tivesse liquidado o seu problema. Não podia emprestar dinheiro porque tinha uma dívida, que era o abate que ele recebeu de presente do Governo. Então é importante que a gente leve muito a sério. Nós estamos criando uma política de crédito para fazer esse país dar um salto de qualidade.
Vamos proibir que a burocracia atrapalhe funcionar o Acredita. Porque se não, as pessoas passam a ir no banco e a xingar a gente. "Falaram tão bonito, o Haddad falou tão bonito, o Alckmin foi tão simpático, o Décio falou tanto, o Wellington [Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] estourou o tempo, e não está saindo".
Pelo amor de Deus, gente. Eu queria até pedir para a imprensa: pelo amor de Deus, acompanhe essas coisas que nós anunciamos aqui. Acompanhe. Porque se não houver o acompanhamento, pode não funcionar. E aí a gente passa como uma pessoa desacreditada ao olhar das pessoas que necessitam. Então, quando a gente anuncia, a gente demorou para aprovar. A gente começou a discutir em abril, tinha mais de 19 ministros na mesa, todos os bancos públicos, e a gente só conseguiu aprovar a lei na semana retrasada.
Foram praticamente seis meses para a gente aprovar. Agora que está aprovado, está tudo bonitinho, todo mundo aqui disse que tem dinheiro, vocês viram. Não fui eu que disse. Todo mundo que vem aqui: “tem dinheiro, tem dinheiro, tem dinheiro, tem dinheiro”. Agora que, pelo amor de Deus, que esse dinheiro apareça de verdade para as pessoas poderem vencer na vida. É um apelo que eu faço. É que esse dinheiro apareça.
Então, companheiros, para mim é um dia muito feliz. Primeiro dessa notícia no estádio do Palmeiras. Leila, eu não sei se você foi convidada, mas se você estivesse aqui, eu ia te dar um abraço, porque um corintiano e um palmeirense se abraçando significa que a gente pode acreditar na civilidade humana. Significa que a gente pode acreditar na convivência democrática e na diversidade.
Segundo, avisar uma coisa para vocês importante, que eu pedi para o Haddad avisar, mas ele esqueceu. Que é o seguinte: vocês viram o apagão que está tendo em São Paulo. E ontem eu pedi para o Haddad, pedi para a Casa Civil trabalharem, porque nós vamos fazer para a cidade de São Paulo o mesmo que nós fizemos para o Rio Grande do Sul.
As pessoas que tiveram prejuízos por conta do apagão. As pessoas que perderam geladeira, as pessoas que perderam, inclusive, a sua comida que estava na geladeira, as pessoas que perderam, o pequeno comerciante que perdeu alguma coisa, nós vamos estabelecer uma linha de crédito para que as pessoas possam se recuperar e viver muito bem.
Eu não quero saber de quem é a culpa. Eu quero saber quem é que vai dar a solução. E nós queremos encontrar a solução.
Um abraço, gente, que Deus nos abençoe e até o próximo encontro, se Deus quiser.